Por que Bolsonaro pode
permanecer no Poder? Algumas Observações
Por Klaus Scarmeloto
No ritmo que estamos não me
alegro nem um pouco em dizer isto, e sim, neste contexto, é de se desejar o
contraditório mais fundamentado, mas, ao que parece, Bolsonaro poderá ter mais
um mandato via eleitoral ou prorrogado à deriva golpista.
Em primeiro, na democracia burguesa quem decide não somos nós
da classe trabalhadora, são os empresários, grandes fazendeiros e outros
poderes: imperialismo americano, exército, monopólios de comunicação, etc. E
por isso, Bolsonaro pode, sim, permanecer no poder.
Quero estar errado quanto a
isto, e pode ser que eu esteja, afinal, estamos lidando com uma ciência humana,
não? Mas, mesmo desejando estar enganado, devo alertar: a derrota de Bolsonaro
não está garantida! Estamos diante de um cenário caótico sobre o qual a vantagem
do campo petista em pesquisas diante de um péssimo governo, por si só, não será
suficiente. Vamos aos fatos:
Bolsonaro mostrou uma
capacidade que parecia morta: a de se recompor com as forças políticas. O
presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu dias atrás Nestor Forster,
nosso diplomata a serviço da casa, embaixador Brasileiro nos EUA. Não é papel
do Presidente dos EUA receber um diplomata, a menos que ele queira negociar
algo estritamente político [1]. Nestor Forster no passado havia recomendado a
Bolsonaro que não reconhecesse Joe Biden porque acreditava na vitória de Trump
na suprema corte, e com as viradas em estados como Geórgia [2]. A Atitude de
Bolsonaro e Forster em relação ao apoio a invasão do capitólio levou Thomas
Shanon, um diplomata norte-americano, ex-subsecretário do Departamento de
Estado para o Hemisfério Ocidental, a afirmar que a postura de Bolsonaro era
imperdoável [3]. Mas, pelo visto, a relação entre Forster e Biden na casa
Branca constitui um indício de que a redenção e o perdão virão.
Por que Biden receberia
Forster e estaria disposto a conversar, ele próprio, com o representante
Brasileiro ligado a Trump? Por um motivo simples: Bolsonaro foi a Rússia pouco
antes da guerra da Ucrânia. Putin, que percebeu a questão das intenções de
Bolsonaro com toda a clareza, fez um rito de humilhação sobre o Presidente do
Brasil: o fez reconhecer toda a importância dos soldados soviéticos mortos na
segunda guerra e os protocolos de segurança pós-covid, coisas que ele sabia que
Bolsonaro detestava. Mas, ele também sabia que a aproximação de Bolsonaro
visava, em partes, além de vender o sistema nuclear nacional, “causar ciúmes
nos EUA”, assim como Putin sabia que a OTAN não pararia sua expansão e nem a
Ucrânia desistiria diplomaticamente da OTAN, o que ocasionou a situação de
guerra no oriente. A guerra começa e Bolsonaro continua ambíguo nos
posicionamentos sobre o assunto, menos seu filho, Eduardo Bolsonaro, que sempre
foi mais ligado organicamente aos ucranianos e aos nazistas da Ucrânia[4]. A
Guerra pressionou a Rússia a fazer suas transações internacionais em rublo,
além de nacionalizar uma parte importante das multinacionais que pisaram lá
desde a queda da URSS, levou a uma leve perda da hegemonia do dólar no velho
continente e no mundo, forçando o tigre de papel a olhar com mais carinho a
amante abandonada com o cálice da tolice: Bolsonaro. Todo o alinhamento de
Bolsonaro com a Rússia enfraquecerá com a visita de Forster a Biden. Ficou
muito claro aos EUA que era necessário mostrar afeto por sua amante, a
prostituta que busca um lugar na besta-fera: Bolsonaro. Isto ocorre porque com
a hegemonia mundial prejudicada, os EUA não podem se dar ao luxo de perder
ainda mais hegemonia.
Assim, Bolsonaro e sua gangue
aguardam um carinho mais forte de Biden para tomarem a mesma posição dos
militares brasileiros e saírem de cima do muro.
Enquanto isso, uma parte da
esquerda tem a ilusão de que controla os democratas e que eles não poderiam
fechar com o antigo aliado de Trump, é um ledo engano, compartilhado
excessivamente por vários partidos, ganhando adeptos no PT e no PSOL[5][5].
Lembremos do que diz Marx no segundo capítulo
de o capital: os proprietários de mercadorias agem como Fausto, personagem de
Goethe, cujo princípio é ação e não o pensamento. Todos eles entregam seu poder
a “besta”, como diria Marx, numa alusão a forma simbólica do sistema
capitalista: o dinheiro [6][6]. É neste ínterim que nossa classe governante,
como é tradicional, prostitui-se se debruçando sobre a cabeça da besta, e usa o
inimigo da babilônia para lembrar ao predador que ela também tem o direito de
ter amantes: o urso. Mas, tudo indica que o urso nunca teve uma chance real com
a meretriz. Como é tradicional, em vez de aproveitar a fraqueza dos EUA pra crescer,
nossa classe governante segue com tesão na submissão.
Sobre o mercado Financeiro e o
tesão na submissão, Maria Cristina Fernandes publicou um artigo no jornal o
valor, falando sobre o posicionamento de uma parte das famílias do Itaú, que
farão o impensável, apoiarão, veja quem: nosso presidente Bolsonaro. Esses
familiares do Itaú, puxam boa parte da mídia com eles [7]. Lembremos que em
2018, ao contrário dos controladores que governam o Bradesco, a família Itaú
soltou apoio a Haddad [8].
A recomposição de Bolsonaro
não para por aí. Seu Saldo de deputados na janela partidária fez do PL, partido
alugado pelo Bolsonaro, o maior partido no parlamento, a porca de Bolsonaro
está mais gorda que a do a PP e dos Republicanos.
A falida CPI do MEC, que ao
contrário da CPI da COVID, não arranha em nada a imagem de Bolsonaro, uma das
razões é bem simples: o povo é cristão e não adianta combater esse problema da
forma errada, muitos acharão perfeito ter “representantes de deus” no comando
da educação. Aproveitando-se do fato, Bolsonaro fez os senadores retirarem as
assinaturas, o que significa que após a bolada dividida na câmara, tudo
terminará em caviar.
O nosso querido Merdal
(conhecido pelo vulgo merval), segue normalizando Bolsonaro na sua coluna do
Globo, todos estão aceitando os péssimos hábitos e a falta de etiqueta do
presidente Bolsonaro.
Bolsonaro faz aliança com
Braga Neto de vice e promete trazer os militares para outro patamar. A solução
para direção da Petrobrás agradou a Faria Lima, o BTG em particular. Análise do
Dieese em relação aos números do IPCA divulgados pelo IBGE demonstram que os
preços dos combustíveis continuam puxando a altíssima inflação no país. A culpa
é do Bolsonaro, que mantém o Preço de Paridade de Importação e promove o
desmonte da Petrobrás e sua privatização. Nenhuma dessas soluções muda o fato
de que “os preços dos combustíveis continuam sendo as principais fontes de
pressão da inflação no Brasil e prejudicam, sim, o bolso da população, que paga
cada vez mais caro por produtos e serviços básicos e também sofre com o
desemprego e com a falta de reajustes no salário mínimo”, afirma o
coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, ao
se deparar com a análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) em relação ao números do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE”[9].
Enquanto isso tudo acontece
escancaradamente, Lula segue jogando com as forças políticas e não busca, em
momento algum, outros meios de fazer campanha. Fez a esquerda entubar o
Alckmin. E, infelizmente, teremos de reconhecer, isto pode ser sim o estopim de
um novo golpe em caso de vitória do ex-metalúrgico, embora a questão central do
PT com Alckmin não se trata de trazer, tão somente, alguém moderado para
indicar que o petismo não quer nenhum radicalismo, mas sim retirar ervas
daninhas do estado mais rico do país. A razão central da chapa é, pela
primeira vez, colocar as mãos na unidade federada de São Paulo, o que pode não
funcionar. Em tese, com São Paulo e o Brasil nas mãos seria possível
reestruturar toda economia nacional e embora haja risco de golpe, o PT pensa
que não haverá adesão popular.
Você toca um ponto importante: Lula de novo coloca
conspiradores e golpistas em lugar de onde conspiram, mas ameniza logo a
seguir. Se é erva daninha, tem que ficar no lugar onde é mais perigosa?
Em compensação os
recalcitrantes da esquerda liberal pisam no acelerador do liberalismo e seu
antimachismo, antirracismo, e antilgbtqi de mercado, o que se convencionou
chamar de pautas identitárias, quando não se limitam a “pobretologia”, a pautas
construídas por Soros, banco mundial e companhia. Quando muito falam algo sobre
revogar a reforma trabalhista, mas se calam em relação à macroeconomia,
questões fiscais e privatizações. Mesmo assim, a burguesia está se recompondo
rapidamente com Bolsonaro, pois a terceira via foi pro buraco. Os EUA
entenderam isso, por isso as sinalizações ao Bolsonaro aumentaram.
O Fim da candidatura de Moro
foi uma encomenda diretamente dos EUA, ele o decidiu após voltar de viagem de
lá, o fez a serviço da companhia. Também ocorre agora as cassações das merdas
do MBL, estes mereciam o fuzilamento, mas não devemos ser ingênuos, crer que,
no Brasil, prisões de políticos se devem as suas tipificações jurídicas é uma
inocência. Portanto, há incautos que acreditam que as prisões de políticos são
motivadas pelos crimes cometidos. A prisão ou cassação do MBL visa fortalecer
Bolsonaro [10].
Um outro fator relevante no
processo eleitoral é que Bolsonaro saiu na frente da guerra de narrativas,
manda e desmanda nas redes sociais. Por isso, segura 30% do eleitorado.
Enquanto isso, de seus concorrentes, apenas CIRO GOMES aprendeu a usar o
YOUTUBE, no entanto, não diz nada que se aproveite. Lula patina,
e o PT enfia no buraco milhões de reais de fundo partidário e potenciais de
canal com uma assessoria mal orientada na melhor das hipóteses ou vendida na
pior. A verdade é que o nome de Lula seria o suficiente pra ultrapassar
Bolsonaro nas redes se quisesse.
Ciro
Gomes fala de um projeto de nação, do nacional-desenvolvimentismo e isso
deveria ser levado mais a sério.
Jogar parado é caminhar para derrota. Eleição
não se decide só no voto, se decide no movimento político e o PT tem
meios para acelerar a queda do bolsonarismo e não o faz. Acenar pro
mercado e etc não está fazendo efeito. Ou caímos para cima do povo com campanha
pesada aproveitando todos os erros do governo, inflação, desemprego, aumento
exponencial da miséria, ou a derrota é certa. A abstenção eleitoral pode matar
esquerda, como ocorreu em 2018. Por outro lado, a luta de massas não se fará
sem alianças, que não implicam o abandono do programa revolucionário, apenas
recuos necessários para o avanço futuro.
Nesse ponto fiquei totalmente sem entender, pois para
mim é bastante evidente não só que o PT não teve como evitar o surgimento dessa
extrema-direita, como efetivamente ele e ela se retroalimentam. A
social-democracia mais uma vez abriu alas para o fascismo.
É preciso também ressaltar que
mesmo em caso de vitória do PETISMO, não há uma garantia de possibilidade de
governo, o fato de Bolsonaro ter se recomposto com tantos setores da burguesia
faz o risco do ataque a manutenção do governo.
O que podemos fazer diante
disto? Primeiro entender a questão no seu liame teórico e depois estabelecer
uma estratégia e tática adequada. Afinal, sem teoria revolucionária, não há
prática revolucionária. Portanto, daqui em diante mostrarei o que faziam os
revolucionários do marxismo-leninismo diante de um contexto similar. 5 são os
pontos a se pensar para o momento:
Faltou falar da conjuntura brasileira, pois estamos
com trinta anos de derrotas para a classe trabalhadora, inclusive no governo do
PT, onde continuaram a ocorrer privatizações, por exemplo.
1- É preciso entender que a
crítica ao petismo, possui pontos de virada necessários e não devem desaparecer
sob hipótese alguma, afinal a maior base eleitoral do país e da classe
trabalhadora está sob hegemonia do PT. A luta de massas e nas ruas se faz
necessária. Não há como fugir da necessidade de criticar o PT, nem como também
só o criticar sem dialogar com vossas forças que concentram massas de milhões
de trabalhadores.
Para o
PT, toda crítica é traição.
2 - Não devemos rebaixar o
programa comunista pautado na aplicação da teoria de Marx, Engels, Lenin,
Stálin, Mao, Enver Hoxha, Ho Chi Minh, Giap, Kim il Sung, Nkrumah, Fidel, Che e
outros grandes revolucionários na tentativa de dialogar com forças não comunistas
que mobilizam os trabalhadores, como o petismo. No entanto, uma aliança
para desempate eleitoral neste momento histórico é necessária, e sim o
desempate tem que ser feito o quanto antes, uma vez que os demais partidos além
do PL e PT não tem chance, e nada disso significa abrir mão de um programa
revolucionário. É preciso medir como fazer alianças, a manutenção do
programa e apoio crítico em uma conjuntura onde se tem um governo que quer se
tornar cabo para uma ditadura fascista. Nada disso seria no caso recriminado
pelo programa dos clássicos citados no parágrafo.
Você sabe que não há projeto em jogo, o PT fará um
governo neoliberal como o anterior, com privatizações, etc. Por que o
desempate? Por que a pressa? É claro que se aliar a eles é abrir mão de
programa revolucionário. Ou seria colocar esse programa apenas de boca, como
aliás coloca-se nos congressos do PT muita retórica de esquerda, enquanto a
prática é neoliberal, privatista, repressora no campo, etc.
O PT nesse ponto de alianças não age de forma alguma
como se estivéssemos nos tornando uma ditadura fascista. Mesmo tendo sofrido a
deposição pela via parlamentar em 2016, sempre aliou-se ou colocou em locais
estratégicos quadros de direita ou de extrema-direita quando foi conveniente e
oportuno. O grande problema é que esses quadros organizaram-se, voltaram-se
contra o PT e buscaram um governo de direita puro sangue.
3 - A tática eleitoral não
deve ser a única tática, mas deve ser a principal aqui, por mim
abordada, porque embora frágil, é a única que, nos próximos
meses, mobilizará toda a população brasileira. Embora não seja
uma garantia de enfraquecimento do Bolsonarismo, que é a pior expressão da
classe dominante nacional e internacional, nem toda a população brasileira está
mobilizada e disposta a se engajar em outras táticas, tais como as
manifestações que devem prosseguir, mas que neste momento não vão gerar atenção
de todos sem um fato extraordinário...
É falso dizer isso, uma vez que a população já notou
que eleição muda pouco ou nada. Note a repetição da tática eleitoral como a
única. Aliás, tem sido, nos últimos trinta anos, a única tática da esquerda, a
tática que ela privilegia. E isso não tem nos impedido de sofrer derrota após
derrota. A última, mais acachapante, foi a volta dos militares ao poder via
voto, revertendo a derrota moral que obtiveram após vinte anos de regime
militar.
4 - Ao fazer a aliança
exclusivamente eleitoral e quem sabe, sindical, e de alianças para eleições
futuras se houver com base no apoio a Lula nesta eleição, os partidos
comunistas não precisam abandonar outras táticas como as clandestinas, as lutas
de ruas e etc. A falta de adesão do petismo a uma ou outra tática colocada
pelos comunistas não deve interferir na aliança eleitoral, é infantilidade
querer que o aliado aja em tudo como os comunistas.
O aliado age de forma diametralmente oposta aos
comunistas. Além de disseminar trotsquismo, forma extremamente nociva,
sofisticada e de difícil combate de anticomunismo, o aliado faz campanha com
base na moderna mercadologia, ou seja, a coisificante venda de mercadorias,
manipulando emoções, o que é altamente deseducativo, podendo redundar em
assassinato de militantes por militantes de extrema-direita. A analogia com
briga de torcidas parece altamente estimulada, bem como a retórica do “pai dos
pobres”. O aliado deseduca as massas e a militância ao mesmo tempo. E em grau
bastante alto.
5 - Nossa estratégia é a
elaboração da tomada do poder a longo prazo, por meio de todos os tipos de luta
possíveis, e isto nas obras dos clássicos Lênin, Stálin e Mao, principalmente,
chama-se guerra popular prolongada.
O prazo aqui será longuíssimo mesmo, pois
o que se tem até agora é participação rebaixada ao lado de aliados altamente
perniciosos e anticomunistas. Há o privilégio persistente de uma tática única,
a eleitoral. O aliado traz não só o trabalhismo, mas também o sistema petucano
falido e mistura-nos nesse balaio de gatos, onde seremos vistos pelo povo como
farinha do mesmo saco e repudiados novamente como em 2013. Os partidos ligados
ao estado são aparelhos eleitorais e pior, são escola de oportunismo, ou têm
agido como tal.
Por fim, tratemos agora
de provar porque essas alianças são bastante plausíveis e necessárias, até
do ponto de vista teórico, e não rejeitados pela doutrina comunista
revolucionária, que dispensamos dizer que se trata do marxismo-leninismo e suas
variantes.
Eu acredito que tem de se levar em conta a conjuntura
brasileira e ela foi pouco exposta aqui. Há pressa em querer aprovar essas
alianças. Conforme a conjuntura, os bolcheviques boicotavam eleições. Eu creio
que é possível liberar a militância para votar nulo ou votar nesse frente, uma
vez que não há disputa de projeto e votar em Lula será votar em Alckmin, um
neoliberal ligado a Opus Dei, ou seja, lhe dará autoridade, por tabela.
Do Abstrato ao Concreto, da
Teoria Revolucionária a Prática
Em termos teóricos, mais
precisamente nos termos pensados por Mao Zedong, podemos dizer que Bolsonaro se
rearticulou com três setores: A Burguesia Burocrática, que compõe os setores
ligados a classe governante, a burguesia compradora que se traduz na classe que
vive das exportações, importações e comércio de câmbio, embora uma parte
significativa dessa classe nunca tenha saído totalmente do apoio ao
Bolsonarismo: os latifundiários. O setor que constitui a classe do mercado
financeiro é que agora volta-se totalmente para Bolsonaro, e, por fim, graças a
isto, consegue retomar a articulação com o elo superior do sistema
imperialista, este setor se divide entre o capital monopolista internacional e
a burguesia compradora. Lembrando que a tríade: burguesia compradora,
burocrática e capital monopolista internacional, nunca se desarticulam, exceto
se se consegue converter uma delas por força da luta em burguesia-nacional
[11]. E isto acontece porque constantemente ocorre a fusão de interesses neste
momento do elo superior do sistema imperialista, da burguesia compradora e
burocrática com o capital monopolista estrangeiro. A escassa burguesia
nacional, e a baixa do movimento trabalhador são a principal causa que permitem
este tipo de rearticulação complexa. A economia nacional, portanto, só piora.
Podemos dizer que para cada número positivo aumentam-se quatro negativos. A
despeito disso, o movimento sindical está paralisado e longe de poder agora
exercitar uma pressão que impeça esse processo-chave, isto dependerá de no
longo prazo fazer avançar a consciência de classe. A menos que algo muito forte
e produtivo aconteça, que vaze algum podre da classe governante que seja
intolerável para todos, que demonstre o ódio direto ao povo, esta consciência
terá de ser ascendida aos poucos.
O PT educou sua militância no sentido de detestar os
tucanos, apontados como entreguistas e agentes dos USA. No entanto, ao tomar um
notório exemplar deles como vice, nem consegue por isso conquistar a máquina
tucana em São Paulo –Alckmin não é mais desse partido –e obriga a militância a
desaprender o que aprendeu.
O sindicalismo petista da CUT não parou nem sequer uma
fábrica no tempo em que Lula esteve preso. É tigre de papel. Na greve geral
chamada em 2016, teve somente sucesso em chamar para a greve o funcionalismo
público, fracassou totalmente em outros setores.
É necessário aceitar um fato
que se impõe sobre nós: a sociedade brasileira possui uma consciência de classe
não desenvolvida plenamente para combater o capital e, sobretudo, para se opor
ao sistema imperialista. Nos termos de Marx e Engels, nosso proletariado é,
majoritariamente, uma classe em si e não para si. Por consequência disto, nosso
escasso movimento revolucionário, fragmentado em diversos partidos, grupos ou
círculos comunistas, não é potencialmente apoiado pelas massas, levando a
dificuldade de implantação de estratégias e táticas que vão além da defensiva de
direitos por meio de alianças com setores não comunistas e recuos no momento
presente. Trata-se de um contexto de retrocesso revolucionário ou progressista.
Este contexto, conforme veremos, fora vivenciado de igual modo por Marx,
Engels, Lênin e Stálin. Nosso movimento revolucionário brasileiro é escasso
porque foi liquidado em batalha durante a ditadura civil-militar de 1964-1985,
portanto, encontra-se em reconstrução em grupos, partidos e círculos pequenos.
Nosso contexto nacional é deveras diferente do quadro nos momentos de ascensão
revolucionária como, por exemplo, no começo do século XX com a revolução de
outubro e ao fim da segunda guerra, período que, posteriormente, chegou a
contabilizar mais de um terço do planeta vivendo sob o socialismo, outra parte
no chamado “Estado de bem estar social” que, àquela altura, servia como um
reflexo da concorrência capitalista com o chamado bloco socialista[12], hoje
quase inexistente e, por fim, o chamado terceiro mundo que ainda amargava.
Vivemos também, no Brasil, em um momento de completo refluxo ou descenso do
movimento revolucionário nacional sem condições momentâneas de se
realizar a chamada luta legal-ilegal. Não quero dizer que este tipo de
luta é impossível, pois não é, só não temos um desenvolvimento desta forma de
luta por enquanto porque, no século XXI, o fortalecimento das potências do
sistema imperialista criou algumas dificuldades que, somadas a eliminação de
nossa tradição militar comunista na época da ditadura civil-militar de
1964-1985, exigem uma nova forma de se fazer este tipo de operação. Não podemos
abordar plenamente neste texto a questão, mas, certamente, serão objeto de
assunto em outra oportunidade.
Verificou-se que, nas manifestações de 2013, grupos
marxistas como o PCB e o PSTU são legalistas ao extremo, recusam-se até mesmo a
aceitar que alguém pule uma catraca. Repudiam também as ações diretas dos
anarquistas, exigindo sua expulsão das manifestações. Há não só a não
aplicação, mas a recusa ativa da luta ilegal quando outras organizações a
praticam, mesmo que seja queimando uma estátua.
Marx e Engels, e a aliança
tática com o Partido democrático
No livro “a miséria da
filosofia”, Karl Marx e Friederich Engels afirmam que os indivíduos só formam
verdadeiramente uma classe quando assumem a consciência da sua condição e se
comprometem na luta comum. Marx e Engels chamam uma classe que alcançou essa
consciência de “classe para si”; ao contrário, quando tal consciência não
existe, as classes constituem apenas uma “classe em si”, incapaz de expressar
reivindicações políticas coletivas. “A dominação do capital criou para essa
massa uma situação comum, interesses comuns. Por isso, essa massa é já uma
classe diante do capital, mas não o é ainda para si mesma”[13]. Esta condição
ainda é forte em nossa classe trabalhadora e isto significa que ela ainda não
está organizada na luta para superar essa condição e se tornar uma classe que
luta por si própria, o que sem acontecimento extraordinário não pode mudar,
afinal é “Na luta de que, só assinalamos algumas fases, essa massa reúne-se,
constitui-se em classe para si mesma. Os interesses que defende tornam-se
interesses de classe. Mas a luta de classe com classe é uma luta política”[14].
Possivelmente, por uma extensão do fato de que é necessário, no decorrer da
luta, determinado nível de racionalidade para obter a consciência de classe,
pode-se dizer o mesmo da consciência de classe da pequena e média burguesia
nacional, não só o proletariado se sabota sob a influência dos aparelhos
hegemônicos privados, ideológicos de estado e dos meios de produção das emoções
e da autofobia[15], este processo afeta também os semiproletários tanto na
escala descendente(lumpesinato) quanto na escala ascendente(pequena burguesia e
média burguesia nacional).
Em uma sociedade onde a
consciência de classe não atingiu ainda a maturidade ideológica necessária para
combater as forças do capital, cuja classe proletária está em si ainda, a
aliança com setores não proletários torna-se fundamental, ainda que feita com
críticas. Já no Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels indicavam a
tática a ser prescrita pelos trabalhadores e comunistas alemães perante a
revolução que se avizinhava. Afirmavam os pais do socialismo científico: “Na
Alemanha, o partido comunista luta de acordo com a burguesia, todas as vezes
que ela age revolucionariamente, contra a monarquia absoluta e a propriedade
rural feudal”. Insisto dizer, sem ressalvas, a luta por uma atividade política
simultânea com a burguesia não se faz por meio de ocultar nossas bandeiras e
críticas às posições vacilantes de vossos aliados que, por natureza, são
conciliadores, volúveis e sem firmeza, seja na defesa dos próprios interesses,
seja na defesa daqueles que admitem como aliados. Nesta época histórica, os
mentores do Manifesto comunista disputavam uma encarniçada controvérsia sobre
as tendências “excessivamente radicais” que saltavam sobre o território
europeu, inclusive no interior da própria Liga Comunista[16].
Na Alemanha a corrente aventureira e, por
isto, “excessivamente radical”, que se autoproclamava como o “verdadeiro
socialismo”, direcionava os seus golpes irresponsavelmente aos liberais, às
liberdades democráticas burguesas, mesmo quando a contradição principal se
apresentava claramente contra os retrógrados defensores da monarquia, alegavam
eles que os trabalhadores não deveriam fazer parte dessas iniciativas que nada
poderia lhes dar. Estes posicionamentos, supostamente extremistas, eram úteis
aos interesses da monarquia absolutista e do conservadorismo feudal alemão, por
este motivo, Marx e Engels travaram duras batalhas contra esta
irresponsabilidade. Fazendo um paralelo com o presente: os ataques
concentrados no petismo, sua inserção no quadro de inimigo principal, levam ao
mesmo problema, ou seja, são úteis ao bolsonarismo. Do mesmo modo que igualar o
petismo ao bolsonarismo, gera força ao bolsonarismo. E isto ficará mais
evidente conforme aprofundaremos no texto que se segue, conforme se explora os
paralelos entre o passado e o presente e a forma como agiram os revolucionários
em um contexto similar ao nosso:
Aqui aderiu-se totalmente ao modo de pensar petista,
que sempre acusa a todos que o criticam pela esquerda de fazer o jogo da
direita, enquanto eles mesmo fazem o jogo da direita da forma mais arriscada
possível, ao praticarem o programa da direita, colocarem quadros em postos em
que podem avidamente conspirar, como no caso de Alckmin, que, com certeza,
repetirá Temer.
O bolsonarismo e o petismo ocupam o mesmo sistema
político, PSL e PT estão aliados em várias pequenas cidades Brasil afora, no
Paraná uma pequena cidade em que foram chapa única, há até mesmo candidato a
vereador que reivindica Bolsonaro e Lula.
Aproximá-los é muito importante para que possamos notar
que compartilharam do mesmo programa econômico, ou seja, efetivamente são
neoliberais que querem gerir a situação atual do país, ou, como disse Brizola,
acotovelam-se para ver quem vai aplicar o programa neoliberal.
Igualmente, fica muito pouco evidente, nesse contexto,
que Lula é um político de direita e neoliberal. Jones Manoel, do PCB,
recentemente qualificou-o de “centro democrático”. Nem isso podemos garantir.
Ele mesmo, Lula, denominou-se liberal recentemente. No entanto, historicamente,
já elogiou publicamente o ditador Médici e até Hitler, sem que tenha feito uma
retratação e mostrado que entende corretamente o que é fascismo.
Igualmente, Lula, ao ser perguntado se é leninista,
respondeu que não, que era um torneiro mecânico. NÃO HÁ INGENUIDADE NESSA
RESPOSTA. Lula quis dizer que o leninismo NÃO É OPERÁRIO, NÃO É UM PENSAMENTO
OPERÁRIO E SIM LIBERAL. No entanto, ele sabe muito bem que ele é liberal e o
pensamento leninista é operário, ele sabe, mas julga-o perigoso, por isso ele
precisa esconder, dissimular, confundir.
Arnaldo Jabor, no auge das privatizações do governo FHC,
advertiu que se não aceitássemos essas privatizações vende-pátria, teríamos de
nos entender com uma ditadura militar neoliberal. É exatamente isso que está
aparecendo no horizonte agora. Igualmente, o PT sempre ameaçou que, se o
criticássemos pela esquerda, teríamos de enfrentar a seguir um grupo bem mais à
direita, daí sugeria que nós os aceitássemos como mal menor. O bolsonarismo,
nesse sentido, retroalimenta o petismo.
Para o
petista, toda crítica a eles é traição, mas eles comportam-se como os inimigos
com as nossas bandeiras. O que é pior, o inimigo declarado ou o inimigo oculto,
escondido, traiçoeiro, sob as nossas bandeiras???
No decorrer de setembro de
1847, criticando os “socialistas verdadeiros”, Marx os respondia da seguinte
forma: “O proletariado não se pergunta se o povo é um assunto de primeira ou de
segunda ordem para o burguês (…). A questão consiste em que lhes proporciona
mais meios para a conquista de seus próprios fins: o regime político de
dominação da burocracia ou o regime ao qual aspiram os liberais, de dominação
da burguesia. Basta comparar a situação do proletariado (…) para convencer-se
de que a dominação da burguesia não só põe nas mãos do proletariado armas
completamente novas para a luta contra a mesma burguesia, mas também lhes cria
uma situação totalmente nova: seu reconhecimento como partido”[17] (CLAUDIN,
1985:36). Assim, também advogamos que a dominação sob o regime petista
não possui comparação com a realizada pelo governo bolsonarista. O
regime petista, ainda que pouco, proporciona mais meios para a conquista
dos fins proletários do que o governo bolsonarista, ainda que possua
seu caráter conciliador e burguês. Basta comparar a situação do proletariado
nos dois regimes, no petismo e no bolsonarismo, para nos convencer de que
no petismo temos de alguma forma meios de colocar mais poder nas mãos do
proletariado, permitindo sua organização social e um pouco mais reconhecimento
como classe. A repressão em si foi menor. Em outra conjuntura seria
inaceitável colocar o governo petista em defesa, mas enquanto o bolsonarismo
puder ser enfraquecido pelo petismo, devemos defender aliança com o PT.
Nos anos petistas esses meios parecem não ter sido
efetivos ou acontecido. O bolsonarismo não é enfraquecido pelo petismo. Lula,
ao ser solto, assanhou as hostes bolsonaristas, chamando-as para o confronto. A
deposição de Dilma, prisão de Lula e ascensão da extrema-direita bolsonarista
mostrou como o petismo funciona, para a classe trabalhadora, como uma anemia. O
poder nas mãos do proletariado não existe, nem ele mostra-se organizado e
reconhecido enquanto classe.
A atuação de Lula, um líder burguês liberal, em tudo é
adversa a criação de consciência entre a classe trabalhadora brasileira. Atua
como um conciliador de capital e o trabalho, disseminando liberalismo, frases
tolas e deseducação entre a classe trabalhador, tipo pernicioso que é.
Depois
de dezesseis anos de petismo, não havia rádios, jornais e televisões simpáticas
à nossa causa, quase não tínhamos como resistir. O governador baiano do PT
mostrou-se praticamente um bolsonarista no PT, foi o governador que mais criou
escolas cívico-militares, projeto bolsonarista de colocar militares para
gerenciar escolas, repetindo o gerenciamento militarizado de todo o estado que
cresceu desde 2016.
A reação primeira ao bolsonarismo nas ruas partiu de
torcidas organizadas de futebol como a democracia corintiana e não dos partidos
marxistas ou do PT, para se ter uma ideia da situação real onde estamos.
Por fim, o PT desmobilizou o “fora Bolsonaro”, uma vez
que o bolsonarismo lhes é útil num certo sentido, pois apagou a memória de seus
escândalos de corrupção, memória que, se vencerem, será prontamente reativada,
bem como os processos contra o Lula e outros gestores do partido.
Eles igualmente sabem que educaram o povo no sentido de
pedir impeachment a cada escândalo de corrupção, essa estratégia voltou-se
contra eles e que viverão isso novamente num possível governo Lula, por isso
quiseram cortar o ciclo. Ao mesmo tempo mostram que querem Bolsonaro como
adversário. Podem assim chantagear todos os movimentos sociais com a retórica
do: “ou eu ou o fascismo”.
Para os pais do socialismo
cientifico, a união do proletariado e os setores da burguesia liberal, que,
naquele contexto, organizavam-se no partido democrático, era fundamental:
sobretudo devido a condição desorganizada e incipiente da consciência
proletária no período. Em outubro de 1847 escreveria Engels: “onde a democracia
não tenha sido conquistada, os comunistas e os democratas lutam lado a lado, e
os interesses dos democratas são também os interesses dos comunistas. Até esse
momento as divergências de ambos partidos têm um caráter puramente teórico (…)
sem prejuízo algum para as ações comuns” (CLAUDIN, 1985:38)[18]. Nossa
democracia brasileira segue frágil, e onde a democracia segue fraca, devemos
nos colocar ao lado temporário e tático das forças que querem defendê-la,
já que nosso interesse comum se refere existência, e, portanto, nossa ação deve
ser comum.
As tais forças querem defendê-la pragmaticamente,
enquanto convêm, mas podem também abrir mão dessa defesa, se for conveniente,
note que Lula, quando achou conveniente, defendeu a ditadura militar do período
Médici.
Igualmente, Lula defendeu Hitler pelo “fogo de fazer as
coisas” e não pelas ideias, quando achou CONVENIENTE POSAR DE ANTI-AMERICANO,
quando tudo indica que naquele período pode ter visitado os USA, ligando-se ao
sindicato americano AFL/CIO. A biografia O Sapo e o Príncipe, de Paulo
Markun, analisa uma viagem para o Japão realizada por Lula nesse período (final
dos anos 70). Supomos, no entanto, que tenha sido uma viagem aos USA onde
aprimorou seu liberalismo pró-imperialismo americano, algo que ele nunca deixou
de ser.
No
entanto, as coisas que Hitler queria fazer, como guerra de conquista e
perseguição a judeus e comunistas, não são nada admiráveis. Não posso admirar
com traficante pela eficiência e pelo fogo com que destrói a vida dos viciados.
Fazer o mal apaixonadamente, servir à burguesia apaixonadamente, queimar judeus
e comunistas no fogo de fazer coisas não pode ser admirado e o senhor que disse
isso não deve ser elogiado, de forma alguma, como “centro democrático” do
Brasil.
No período posterior a
Revolução de fevereiro, na França cresceram substancialmente as discordâncias
no seio dos movimentos revolucionários alemães emigrados, residentes em Paris.
Uma parte postulava a organização de uma “legião revolucionária” para tomar a
Prússia e libertá-la do jugo feudal e absolutista. Marx e Engels contrariaram
fortemente esta ideia e diziam que os revolucionários deveriam retornar
sozinhos a Alemanha ou se juntarem à luta do proletariado francês que estava
próximo a realizar a sua própria revolução. Foi aí que, sem pestanejar, os
esquerdistas do período, passaram a acusa de covardia e traição à revolução e
de “dedicarem-se a ensinar economia política aos operários quando se tratava de
ensinar-lhes o manejo das armas” (CLAUDIN, 1985:81)[19].
Outra ação de Marx e Engels
foi entrar na Associação Democrática de Colônia para fortalecer o seu setor de
esquerda, que era constituída por diversos sujeitos radicais da burguesia
liberal, da pequena burguesia e do jovem proletariado alemão. Isto lhes custou
diversas e duras críticas da parte de membros aventureiros da Liga Comunista.
Foram chamados de traidores, e acusados de capitular sobre o Programa que eles
mesmos elaboraram: o Manifesto do Partido Comunista [20].
Marx introduziu uma proposição
para agregar ativamente as eleições e apoiar os candidatos democráticos.
Novamente duras provas de relutância por parte de representantes da Associação
Operária de Colônia e, também, da própria Liga Comunista foram realizadas. Em
uma das ocasiões, aconteceu em reuniões da Associação, no decorrer de janeiro
de 1849, Marx rebateu às críticas dos esquerdistas:
“não se trata, por agora, de
atuar no plano dos princípios e sim de nos opormos ao governo, ao absolutismo e
ao regime feudal, o que está ao alcance de simples democratas, e dos que se
chamam liberais, que tão pouco estão satisfeitos (…) com o atual governo. É
preciso tomar as coisas como elas são. Posto que, no momento, é preciso opor-se
o mais possível ao absolutismo atual, uma vez estando claro que nas eleições
não se pode levar o trunfo de nossas posições de princípio, o senso comum exige
que nos unamos a outros partidos, igualmente de oposição, para impedir a
vitória de nosso inimigo comum, a monarquia absoluta” (CLAUDIN, 1985:190)[21].
Engels representando tanto a
si mesmo quanto o falecido velho Marx, posteriormente, em 1884, justificaria e
defenderia as mesmas posições tomadas em 1848, o que significa que o Marx
maduro e o Engels maduro continuavam a pensar naquele posicionamento para situações
como a que viveram e que são similares a nossa. Assim Engels disse:
“Os operários alemães tinham
que conquistar, antes de tudo, os direitos que lhes eram indispensáveis para se
organizarem de modo independente, como partido de classe. (Por isso) quando
fundamos na Alemanha um grande periódico, nossa bandeira não podia ser outra
senão a bandeira da democracia; porém uma democracia que destacava sempre, e em
cada caso concreto, o caráter especificamente operário que ainda não podia
estampar de uma vez para sempre em seu estandarte. Se não houvéssemos procedido
desse modo, se não houvéssemos aderido ao movimento, incorporando-nos àquela
ala que já existia – que era a mais progressista e que, no fundo, era uma ala
proletária, para impulsioná-la para frente –, não nos teria sobrado outro
remédio senão pormo-nos a predicar o comunismo em algum jornalzinho local e
fundar, em vez de um grande partido de ação, uma pequena seita. Porém o papel
de pregadores no deserto não nos caía bem; havíamos estudado demasiado bem os
utopistas para cair nisso. Não era para isso que havíamos traçado nosso
Programa”.[22]
Marx e Engels, repugnariam, a
pensar a partir do comentário acima, o que faz uma parte significativa do
movimento comunista atual que, por seu sectarismo exacerbado, mesmo diante de
alguém com confesso grau de fascismo[23], negam a possibilidade de aliança
tática contra um pensamento que, entre outras coisas mais, quer ressuscitar a
monarquia, voltar aos tempos do racismo científico e que, portanto, em caso de
vitória, poderá ganhar fôlego para a proposta.
Avaliando o comportamento da
esquerda comunista atual, percebemos que a estrutura atual do pensamento de
esquerda, em geral, não apenas ignora os pais do socialismo científico, mas
seus continuadores mais proeminentes. E infelizmente, esta tendência sectária e
formadora de seitas, não é mais exclusividade do Trotskismo, encontrando
adeptos nos defensores de “Lênin e Stálin”, no “Maoismo” e no “Hohxaismo”.
Lênin o esquerdismo, a luta
parlamentar e a questão das Frentes únicas
A nós, que pretendemos tornar
realidade o Leninismo, ainda que com nossas características próprias, cabe
apenas fugir do sectarismo apresentados pelas aplicações de alguns segmentos de
nosso movimento. Por isto, devemos ter em mente um resumo das posições de Lênin
sobre a questão de quando e como se aliar com setores não comunistas. Isto pode
ser traduzido no apoio a setores liberais da burguesia como contra as forças
mais reacionárias. Sobre isso Lênin disse:
"Desde 1905 os bolcheviques
defenderam sistematicamente a aliança da classe operária com os camponeses
contra a burguesia liberal e o czarismo sem negar-se nunca, ao mesmo tempo, a
apoiar a burguesia contra o czarismo (na segunda fase das eleições ou nos
empates eleitorais, por exemplo) e sem interromper a luta ideológica e política
mais intransigente contra o partido camponês revolucionário-burguês, os
"social-revolucionários", que eram denunciados como democratas
pequeno-burgueses que falsamente se apresentavam como socialistas."[24]
Nada indica que nosso
contexto, exista segunda fase de fato para as eleições, uma vez que todas as
pesquisas científicas e prévias indicam votos apenas a LULA e BOLSONARO. Negar
isso, seria negar em partes a ciência.
Além disso, o rol citado por
Lênin acima é meramente exemplificativo, isto significa que, dessa forma, a
lista segue em aberto para que outros casos sejam inseridos no referido rol a
depender da conjuntura concreta de cada país, sendo este rol passível de interpretação.
Se Lênin quisesse esgotar a questão teria afirmado, taxativamente, que tal
aliança seria possível “apenas” naqueles casos. Por outro lado, Lênin também
não diz que contra o czarismo só podemos nos aliar com a "pequena
burguesia", isto é, com os semiproletários, assim ele está se referindo a
burguesia no sentido amplo do termo. Um outro exemplo parecido para Lênin se
refere ao Partido Trabalhista Britânico. Este partido sempre guardou
semelhanças programáticas com o partido dos trabalhadores. Lênin afirmava que
Henderson, dirigente do partido trabalhista, era centenas de vezes mais
intragável que os mencheviques, tratava-se de um deplorável adorado da segunda
internacional. No entanto, Lênin foi bem enfático em relação a aliança com ele
contra Churchill:
“os comunistas ingleses devem
participar do parlamentarismo, devem ajudar a massa operária de dentro do
parlamento a ver na prática os efeitos do governo dos Henderson e dos Snowden,
devem ajudar os Henderson e Snowden a derrotarem a coalizão de Lloyd George e
Churchill. Proceder de outro modo significa dificultar a marcha da revolução,
pois se não se produz uma modificação nas opiniões da maioria da classe
operária, a revolução torna-se impossível; e essa modificação se consegue
através da experiência política das massas, e nunca apenas com a propaganda. A
palavra de ordem: “Avante sem compromissos, sem desviar-se do caminho!” é
claramente errada, se quem a propala é uma minoria evidentemente impotente de
operários que sabe (ou, pelo menos, deve saber) que dentro de pouco tempo, no
caso de, Henderson e Snowden triunfarem sobre Lloyd George e Churchill, a
maioria perderá a fé - em seus chefes e apoiará o comunismo (ou, em todo caso,
adotará uma atitude de neutralidade e, em sua maioria, de neutralidade
simpática em relação aos comunistas). É a mesma coisa que se 10.000 soldados se
lançassem ao combate contra 50.000 inimigos no momento em que é necessário
“deter-se”, “afastar-se do caminho”, e até concertar um “compromisso” para
esperar a chegada de um reforço prometido de 100.000 homens, que não podem
entrar em ação imediatamente. É uma infantilidade própria de intelectuais e não
uma tática séria da classe revolucionária.”[25]
De acordo com o raciocínio de
Lênin, naquele momento, erguer Henderson, derrubaria, tanto ele quanto
Churchill. E Lênin classificava Henderson do seguinte modo: “reacionário
irrecuperável”. Se olharmos criticamente, o mesmo raciocínio se aplica ao PT,
uma vez que ambos os partidos são de origem social-democrata e com os mesmos
desvios, só há uma diferença conjuntural, é bem possível que Bolsonaro seja
muito pior ao povo brasileiro que Churchill era para o povo inglês.
Outro tipo de aliança que
Lênin constantemente se refere e até de maneira cronológica, se faz presente na
união e conciliação temporária com os inimigos secundários: nisto inclusive os
setores, pequeno burgueses e etc. Assim ele prossegue:
"Em 1917, os bolcheviques
constituíram, por pouco tempo, um bloco político formal com os
"social-revolucionários" para as eleições da Duma. Com os
mencheviques, estivemos formalmente durante vários anos, de 1903 a 1912, num
partido social-democrata único, sem interromper nunca a luta ideológica e
política contra eles como portadores da influência burguesa no seio do proletariado
e como oportunistas."[26]
É preciso lembrar que o
programa dos mencheviques por vezes cedia apoio aos cadetes, a burguesia da
monarquia constitucional e liberal. Lênin sabia disso, no entanto, mesmo de
posse dessa informação, ele buscou alianças quando foi necessário. Lênin
continua sua exposição que mais tarde inspirará as frentes únicas e populares:
"Durante a guerra
assumimos uma espécie de compromisso com os "kautskistas", os
mencheviques de esquerda (Martov) e uma parte dos "socialistas-revolucionários"
(Chernov, Natanson). Assistimos com eles às conferências de Zimmerwald e
Kienthal e lançamos manifestos conjuntos, mas nunca interrompemos nem atenuamos
a luta política e ideológica contra os "kautskistas", contra Martov e
Chernov. "[27]
Pois bem, não se pode ter
dúvidas, que o contexto acima é muito semelhante ao que antecede a segunda
guerra. Mesmo depois da implantação da transição para o socialismo Lênin
continuou acreditando na validade dos blocos de conciliação temporária,
evidentemente que não sem travar a luta ideológica ou liberdade de crítica,
assim ele diz:
"No momento da Revolução
de Outubro fizemos um bloco político, não formal, mas muito importante (e muito
eficaz) com o campesinato pequeno-burguês, aceitando na íntegra, sem a mais
leve modificação, o programa agrário dos social-revolucionários, isto é,
contraímos um compromisso indubitável para provar aos camponeses que não nos
queríamos impor e sim chegar a um acordo com eles."[28]
Um processo contra o desenvolvimento nacional
é posto em prática por parte da burguesia brasileira que, cada vez mais, assim
como o próprio proletariado, principalmente após o fim da lei de reserva de
mercado, definha-se e volta a ser um projeto e não uma classe organizada, como
definiu Lênin, em sua obra o desenvolvimento do capitalismo na Rússia[29].
Essencialmente o fundamento de
Lenin afirma que a reforma da década de 1860, na Rússia, foi uma reforma de
tipo capitalista. O capitalismo ali ainda era incipiente, e após a reforma
houve uma transformação social que levou parte do campesinato e dos produtores
manufatureiros a se transformar em burguesia. Ele explica substancialmente que
as condições para o capitalismo precisaram ser criadas antes que as relações de
trabalho capitalistas pudessem existir, o que significa que tanto o
proletariado quanto a burguesia nacional tiveram de ser projetadas antes de
existirem. Essa compreensão avançou muito após a revolução de outubro. É
preciso, portanto, que os dois projetos sejam criados e as condições para tal
também.
Foi pensando nisto, na criação
de um projeto proletário e anti-imperialista que, em seu “relatório sobre as
questões nacionais e coloniais no II Congresso da Internacional Comunista,
Lenin enfatizou a importância primordial de fazer ”a distinção entre nações
oprimidas e nações opressoras”. Ele acreditava que nisso residia a diferença
fundamental entre a Internacional Comunista, por um lado, e a Segunda
Internacional e a democracia burguesa, por outro. Visto deste ângulo, Lenin
apontou: “A Internacional Comunista deve entrar em uma aliança temporária com a
democracia burguesa nos países coloniais e atrasados, mas não deve se fundir
com ela, e deve preservar incondicionalmente a independência do movimento
proletário, mesmo em sua forma mais rudimentar”[30]. Stalin desenvolveu esta
brilhante teoria de Lenin sobre as peculiaridades da revolução nos países
coloniais e semicoloniais. Ele apontou claramente a dupla tarefa de oposição ao
feudalismo e oposição ao imperialismo no movimento revolucionário do povo chinês,
com ênfase no “aguçamento da luta contra o imperialismo”[31]. Ele concluiu
assim que uma aliança com a burguesia nacional era permitida sob certas
condições. Ou seja, tanto Lênin quanto Stálin, depois Mao Zedong e o restante
do leninismo nos autorizam a uma política de alianças e apoios táticos, desde
que não se perca de vista o projeto revolucionário normalmente de médio ou
longo prazo.
A tática de frente única, que
aparece na obra de Lênin a partir de 1921, foi um dos contributos oriundos da
evolução do bolchevismo e do desenvolvimento de seu método que, desta vez,
transgrediu as barreiras nacionais russas, sendo proposto como tática aplicável
a depender das circunstâncias concretas e, posteriormente, ganha o Status de
princípio do marxismo-leninismo. Pode-se dizer que em “o esquerdismo doença
infantil do comunismo”, Lênin deu diversas demonstrações de que os princípios
da frente única e de suas alianças com setores não comunistas, reformistas, e
até mesmo com a burguesia, são práticas reiteradas pelos comunistas russos há
tempos. É preciso perceber que este pensamento original é dialético porque
embora seja único, sua inovação deriva de uma interpretação bastante ortodoxa
das obras de Marx e Engels conforme vimos anteriormente. Uma frente única é uma
aliança de grupos distintos contra seus inimigos comuns, evocando
figurativamente a unificação de frentes geográficas anteriormente separadas
e/ou a unificação de exércitos anteriormente separados em uma frente. O nome
muitas vezes se refere a uma luta política e/ou militar realizada por
revolucionários ou grupos que desejaram frear os interesses da máxima burguesia
que se encontra no elo superior do sistema imperialista. Com o tempo, a ideia
ganhou abrangência e amplitude na aplicação segundo o qual a aliança depende de
alguns fatores em especial: o critério subjetivo: o nível de consciência de
classe do povo pouco desenvolvido pra apoiar a revolução. O critério objetivo:
o baixo poder e tamanho débil do partido ante as massas, isto é, a falta de
poder para vencer o inimigo na correlação de forças sem necessidade de
alianças. E, por fim, o critério conjetural: estarmos em um período de fluxo ou
refluxo do movimento revolucionário. Por fluxo revolucionário devemos entender
a ascensão do movimento revolucionário qualitativa e quantitativamente. E por
refluxo revolucionário entendemos o extremo oposto: um quadro de derrotas das
organizações revolucionárias e suas forças que podem levar a autofobia e outros
problemas já trabalhados. Por estes três critérios é que se determina a
amplitude das frentes e a abrangência dos aliados.
De início, a mais aceitável
política de frente única continha, de acordo com Lênin, disposições para a ação
“conjunta com os trabalhadores da Segunda Internacional proposta por vários
partidos comunistas da Internacional Comunista e introduzida por Zinoviev,
Radek e Bukharin”[32]. Assim, “Esta última deve ser dirigida dentro de dois
dias para estabelecer claramente esta linha em um projeto de resolução a ser
circulado entre os membros do Politbureau”[33]. Lênin assim preconiza “que o
camarada Bukharin seja dirigido a escrever e mostrar ao Politbureau um artigo
resumindo a experiência do P.C.R. na luta dos bolcheviques contra os
mencheviques e os blocos entre eles”[34].
O Contexto histórico no qual
este esboço foi escrito, insere-se “em conexão com a discussão do Politburo em
1º de dezembro de 1921, sobre a questão da tática de uma frente operária
única”[35]. Sem dúvida, as “propostas de Lenin foram adotadas. Eles formaram a
base das teses do Executivo do Comintern “Sobre a Frente Única dos
Trabalhadores e a Atitude para com os Trabalhadores da II, e da Segunda
Internacional um e meio, além da Internacional de Amsterdã, bem como os
Trabalhadores que Apoiam as Organizações Anarco-Sindicalistas”[36]. Sobre as
observações de Lenin sobre as teses, pode-se verificar a página 368 do volume
42 das obras completas de Lênin. A obra também foi publicada em vários outros
periódicos e revistas[37] [38]. Posteriormente Lênin repete o mesmo raciocínio
deste texto em outro[39].
Ao trabalhar a questão da
conciliação com os reformistas Lênin estipulou uma série de Políticas a serem
consideradas.
“A lista de questões a serem
tratadas na reunião deve ser considerada de antemão e elaborada de acordo com
cada uma das partes participantes da reunião. De nossa parte, devemos incluir
nesta lista somente perguntas que tenham relação direta com a ação conjunta
prática das massas trabalhadoras e que abordem assuntos reconhecidos como
indiscutíveis na declaração oficial à imprensa de cada um dos três
participantes. Devemos explicar longamente as razões pelas quais nos limitamos
a tais questões, no interesse de uma frente unida. No caso da fraternidade
amarela levantar questões de política, como nossa atitude em relação aos
Mencheviques, a questão da Geórgia, etc., devemos adotar estas táticas: 1)
declarar que a lista de questões só pode ser elaborada por decisão unânime dos
três participantes; 2) declarar que na elaboração de nossa lista de questões
fomos guiados exclusivamente pelo desejo de unidade de ação das massas
trabalhadoras, unidade que poderia ser alcançada imediatamente mesmo sob
diferenças políticas profundas existentes; 3) declarar que concordamos
plenamente com questões como nossa atitude para com os Mencheviques, a questão
da Geórgia e quaisquer outras questões levantadas pelos membro da Segunda
internacional e Segunda e Meia Internacional, desde que concordem que as
seguintes questões sejam levantadas: 1) a atitude renegada das Segunda
internacional e Segunda e Meia Internacional ao Manifesto de Basiléia; 2)
cumplicidade desses mesmos partidos no assassinato de Luxemburgo, Liebknecht e
outros comunistas da Alemanha através dos governos burgueses que esses partidos
apoiam; 3) atitude semelhante desses partidos ao assassinato de revolucionários
nas colônias pelos partidos burgueses que as Segunda internacional e Segunda e
Meia Internacional apoiam, etc. , etc.
Devemos preparar previamente uma lista, destas e outras questões semelhantes e
também preparar previamente teses e palestrantes sobre várias questões
importantes desta natureza.”
Devemos encontrar ocasião para
declarar oficialmente que consideramos as Segunda internacional e Segunda e
Meia Internacional apenas como participantes inconsistentes e vacilantes de um
bloco com a burguesia mundial contrarrevolucionária, e que concordamos em
participar de uma reunião na frente unida, a fim de alcançar uma possível
unidade prática de ação direta por parte das massas e para expor o erro
político de toda a posição das Segunda internacional e II Segunda e Meia Internacional , assim como
estes últimos concordaram em participar de uma reunião conosco, a fim de
alcançar a unidade prática da ação direta das massas e expor o erro político de
nossa posição.
Lênin[40]
Lênin em momento algum disse
que era necessário conciliar com os programas ou ideias dos reformistas ou
abandonar a crítica, no entanto, não resta dúvidas de que ele via a necessidade
da aliança para a revolução nos demais países com os reformistas, sem que isto
o fizesse cair a reboque.
Em outra ocasião, ainda sobre
as frentes únicas, Lênin colocou uma questão fundamental: segundo o qual as
ações práticas que visam um avanço ou progresso para os trabalhadores, devem
evitar ofensas morais desnecessárias que, embora cabíveis, poderiam colocar em
risco a aliança. Em uma carta para Molotov, Lênin disse as seguintes palavras:
Proponho as seguintes emendas
ao projeto de resolução enviado por Zinoviev a respeito da participação do
Comintern na conferência planejada de todos os partidos de trabalhadores do
mundo. Após as palavras: "unidade de ação entre as massas de trabalhadores
que poderia ser alcançada imediatamente, apesar das diferenças políticas
fundamentais", as frases seguintes devem ser eliminadas até as palavras:
"que as massas operárias exigem unidade de ação". A frase que começa
com estas últimas palavras deve ser reformulada da seguinte forma: "os
trabalhadores conscientes da classe, que estão perfeitamente conscientes destas
diferenças políticas, contudo, junto com a grande maioria dos trabalhadores,
desejam e exigem unidade de ação em questões práticas mais urgentes e próximas
aos interesses dos trabalhadores. Não pode haver dúvidas sobre isso agora na
mente de qualquer pessoa conscienciosa" e assim por diante.
Minha segunda emenda é que a
frase começa com as palavras: "todas as questões controversas a serem
evitadas e questões que não estão abertas a discussão a serem trazidas à
tona" deve ser emendada como segue: "e embora adiando por um tempo as
questões mais controversas e trazendo em foco as menos controversas, ambos os
lados, ou melhor, as três organizações internacionais que participam da
conferência, naturalmente contarão com a vitória final de seus pontos de
vista".
Minha emenda principal visa
eliminar a passagem que chama os líderes da Segunda internacional e Segunda e
Meia Internacional de cúmplices da burguesia mundial. Você pode chamar um homem
de "idiota", mas é absolutamente irracional arriscar destruir um caso
de tremenda importância prática para dar a si mesmo o prazer extra de
repreender malandros, a quem estaremos repreendendo mil vezes em outro lugar e
hora. Se ainda houver pessoas na reunião ampliada do Executivo que não
compreenderam que a tática da frente unida nos ajudará a derrubar os líderes da
Segunda internacional e Segunda e Meia Internacional, essas pessoas deveriam
ter um número extra de palestras e palestras populares lidas para eles. Talvez
seja necessário ter um panfleto especialmente popular escrito para eles e publicado
em francês, digamos, se os franceses ainda não entenderam a tática marxista.
Finalmente, era melhor adotar esta resolução, não por unanimidade, mas por uma
maioria (aqueles que votaram contra, nós faríamos um curso especial, completo e
popular de esclarecimento) do que correr o risco de estragar um caso prático em
prol de alguns jovens políticos que amanhã estarão curados de sua desordem
infantil.
Lênin[41]
Algumas das posições de Lênin
sobre as frentes únicas, sugerem que seu tempo de existência só pode se
realizar em um período de longa duração, podendo durar até depois da própria
revolução. O objetivo tático a ser conquistado com essa política de aliança
consiste em: “atrair massas de trabalhadores para a luta contra o capital,
mesmo que isso signifique fazer repetidas ofertas aos líderes das Segunda
Internacional e da Segunda e Meia Internacional para travar essa luta em
comunhão” [42]. Neste sentido, as frentes podem ser, em sua amplitude,
restritas, ou ainda, extintas:
“Quando a maioria dos trabalhadores
estabelecer sua representação de classe, isto é, a representatividade
soviética[43], e não apenas como uma delegação “nacional geral” (isto é, em
comum com a burguesia). Derrubando o domínio político da burguesia, então as
táticas da frente unida, naturalmente, não podem exigir cooperação com partidos
como o dos Mensheviques (o POSDR") e o S.R.s (o "Partido dos
Socialistas-Revolucionários"), pois estes se revelaram opositores do poder
soviético. A influência sobre as massas da classe trabalhadora sob o domínio
soviético tem que ser estendida não buscando cooperação com os Mencheviques e
S.R.s, mas da maneira mencionada acima.[44]
Como se vê acima, Lênin
considera que a tática de frente única, deve durar até depois da revolução,
ainda que sem cooperação com os partidos citados. O Critério para o fim da
aliança, seria a falta de apoio dos aliados ao poder proletário já instaurado.
É notório que no período de
alianças, Lênin afirma que é necessário não incutir medo nos trabalhadores que
ainda apoiam os reformistas e revisionistas. Assim ele diz:
A crítica à política da
Segunda Internacional e da Segunda e Meia Internacional deve agora ter um
caráter um pouco diferente, a saber, esta crítica (especialmente em reuniões
com a presença de trabalhadores que apoiam a Segunda Internacional ou a Segunda
Internacional e meio, e em folhetos e artigos especiais escrito para eles) deve
tender a ser de natureza esclarecedora, feita com particular paciência e
meticulosidade, de modo a não assustar esses trabalhadores com palavras duras,
e trazer para eles as contradições irreconciliáveis entre as palavras de
ordem que seus representantes adotaram em Berlim (por exemplo, a luta contra o
capital, a jornada de oito horas, a defesa da Rússia soviética, a ajuda aos famintos)
e toda a política reformista[45].
No entanto, é importante
ponderar algumas questões: Lenin avisou que era uma ilusão supor que
trabalhadores poderiam ganhar o poder por meios parlamentares. Este foi um dos
principais problemas entre ele e os revisionistas de sua época, ou seja, o fato
de que Kautsky e companhia abriram mão do projeto revolucionário. No entanto, o
oportunismo e os programas ruins do revisionismo não justificam, segundo Lenin,
a falta de participação nas eleições ou a alianças pontuais com estes setores,
declarações de voto, apoio eleitoral e etc. Para o maior revolucionário do
século XX, enquanto não se tem forças para dissolver o parlamento burguês é
nosso dever atuar nele tanto dentro como fora. Lênin dizia:
“Enquanto não tivermos força para dissolver o
parlamento burguês, devemos atuar contra ele de fora e de dentro. Enquanto um
número considerável de trabalhadores — não só os proletários, mas também
semiproletários e pequenos camponeses — tenham fé nos instrumentos democrático-burgueses
de que se serve a burguesia para enganar os operários, devemos denunciar esse
engano precisamente da tribuna que as camadas atrasadas de operários e, em
particular, das massas trabalhadoras não proletárias, consideram como a tribuna
mais importante e mais autorizada. Enquanto os comunistas não tiverem força
para tomar o poder do Estado e fazer com que só os trabalhadores elejam as suas
sovietes contra a burguesia, enquanto a burguesia disponha do poder estatal,
convocando às eleições as diferentes classes da população, temos o dever de
participar nas eleições para realizar a agitação entre todos os trabalhadores,
e não exclusivamente entre os proletários. Enquanto no parlamento burguês
enganem os operários, ocultando, com frases sobre a «democracia», as fraudes
financeiras de todo o género de subornos (em nenhum lugar a burguesia pratica
com tanta amplitude, como no parlamento burguês, o suborno demasiadamente
«sutil» de escritores, deputados, advogados, etc.), os comunistas têm o dever
de desmascarar sem descanso o logro, de desmascarar toda a mudança de posição
dos Renner & Cia., cada vez que se coloquem ao lado dos capitalistas contra
os operários. Fazer este trabalho de desmascaramento da própria tribuna desta
instituição que supostamente expressa a vontade do povo, mas que de facto serve
para encobrir a burla do povo pelos ricos. É precisamente no parlamento que as
relações entre os partidos e fracções burguesas assumem maior relevo e refletem
as relações entre todas as classes da sociedade burguesa. Por isso, justamente
no parlamento burguês, dentro dele, devem os comunistas esclarecer ao povo a
verdade sobre a atitude das classes frente aos partidos, sobre a atitude dos
latifundiários perante os jornaleiros, dos camponeses ricos perante os camponeses
pobres, do grande capital frente aos empregados e pequenos proprietários,
etc.”[46]
Estratégia e Tática em Lênin,
Stálin e Mao: a Revolução por Etapas
Há tempos alerto que devemos
nos ater aos princípios leninistas de confecção de alianças ou de apoio
eleitoral puro e simples. Isto deriva do fato de que em qualquer conjuntura é
impossível vencer todos os inimigos do proletariado de um só golpe, é preciso
fazê-lo por etapas. Lênin afirmava: "O proletariado deve levar a termo a
revolução democrática unindo a si a massa dos camponeses, para esmagar pela
força a resistência da autocracia e paralisar a instabilidade da
burguesia"[47].
É preciso compreender a ideia
proposta por Lênin e reiterada por Stalin de que a revolução se faz em etapas.
Inicialmente, principalmente no Brasil, “essa ideia foi ignorada. Ao menos até
meados de 1928, quando se passou a discuti-la com mais afinco. Mas, mesmo
quando adotada, entendeu-se a mesma de forma deficiente. A leitura de que era
necessário passar por uma etapa de revolução burguesa para apenas depois
realizar a revolução socialista era uma leitura mecânica”[48]. Não se
compreendeu no Brasil dos anos 20 e 30 que “Passar pela etapa” não explica com
que forças sociais[49]. Normalmente, confundem-se “duas questões completamente
diferentes: a nossa participação numa das fases da revolução democrática e a
revolução socialista”[50].
É por isto que “Só os mais
ignorantes podem não tomar em consideração o carácter burguês da revolução
democrática [...] só os mais cândidos otimistas podem esquecer como as massas
operárias conhecem ainda pouco os fins do socialismo e os métodos para o
realizar”[51]. E no Brasil esta é a realidade.
Assim, segundo a ideia proposta por Lênin, “Quem quiser chegar ao
socialismo por outro caminho que não seja o da democracia política, chegará
inevitavelmente a conclusões absurdas e reacionárias, tanto no sentido
econômico como no político”[52]. A luta que Lênin se propõe a colocar, sem
esquecer dos objetivos totais, faz-se não pelo cumprimento imediato do programa
máximo, o comunismo, mas aos poucos, em fases. Ele afirma:
“Se num momento determinado
alguns operários nos perguntarem porque não realizamos o nosso programa máximo,
responderemos indicando-lhes como estão ainda longe do socialismo as massas do
povo impregnadas de espírito democrático, como se encontram ainda pouco
desenvolvidas as contradições de classe, como estão ainda desorganizados os
proletários. Tentai organizar centenas de milhares de operários em toda a
Rússia, difundir entre milhões a simpatia pelo vosso programa! Experimentai
fazer isso, não vos limitando a frases anarquistas sonoras mas ocas, e vereis
imediatamente que alcançar esta organização, difundir esta educação socialista,
depende da realização mais completa possível das transformações
democráticas.”[53]
Há diversas passagens na obra
de Lênin que se recusa por completo a ideia do chamado “antietapismo”. Ou seja,
a ideia de que a Transição pode ser direta para o Socialismo, sem a necessidade
de se efetivar as tarefas democrático-burguesas:
Das premissas de que a
revolução democrática ainda não é de modo algum socialista, de que não
«interessa» só e exclusivamente aos não-possidentes, de que as suas raízes
profundíssimas se encontram nas necessidades e nas exigências inelutáveis de
toda a sociedade burguesa no seu conjunto, destas premissas nós tiramos a
conclusão de que a classe avançada deve estabelecer as suas tarefas
democráticas com tanto maior audácia, deve formulá-las com tanto maior precisão
até ao fim, apresentar a palavra de ordem direta de república, propagandear a
ideia da necessidade do governo provisório revolucionário e de esmagar implacavelmente
a contrarrevolução. E os nossos contraditores, os neo-iskristas, deduzem destas
mesmas premissas a conclusão de que não há que formular até ao fim as
conclusões democráticas, de que entre as palavras de ordem práticas se pode
prescindir da de república, de que se pode não propagandear a ideia da
necessidade do governo provisório revolucionário, de que se pode qualificar de
vitória decisiva mesmo a resolução de convocar a assembleia constituinte, de
que se pode não defender a palavra de ordem de combate à contrarrevolução como
nossa tarefa ativa, mas afogá-la numa alusão nebulosa (e formulada erradamente,
como veremos mais adiante) ao “processo de luta recíproca”. Esta não é uma
linguagem própria de políticos, mas sim de ratos de arquivo![54]
Segundo Lênin é de interesse
de todas as classes e grupos oprimidos que se leve a termo toda a revolução
democrática. Com base na realidade que via na Rússia, ele teria escrito:
Os marxistas estão
absolutamente convencidos do carácter burguês da revolução russa. Que significa
isto? Isto significa que as transformações democráticas no regime político e as
transformações econômico-sociais, que se converteram numa necessidade para a
Rússia, não só não implicam por si o minar do capitalismo, o minar da dominação
da burguesia, mas, pelo contrário, desbravarão pela primeira vez realmente o
terreno para um desenvolvimento vasto e rápido, europeu e não asiático, do
capitalismo e, pela primeira vez, tornarão possível a dominação da burguesia
como classe. [...] Mas, disto, não decorre, de forma alguma, que a revolução
democrática (burguesa pelo seu conteúdo econômico-social) não seja de enorme
interesse para o proletariado. Disto não decorre, de maneira nenhuma, que a
revolução democrática não possa processar-se tanto de uma forma vantajosa
principalmente para o grande capitalista, para o magnate financeiro, para o
latifundiário «esclarecido», como de uma forma vantajosa para o camponês e para
o operário.[55]
Como já foi afirmado, o
proletariado deve tomar a frente do processo da revolução não importando qual é
a sua etapa.
A própria situação da
burguesia, como classe na sociedade capitalista, gera inevitavelmente a sua
inconsequência na revolução democrática. A própria situação do proletariado,
como classe, obriga-o a ser democrata consequente. A burguesia, temendo o
progresso democrático que ameaça fortalecer o proletariado, volta os olhos para
trás. O proletariado nada tem a perder a não ser as suas cadeias, mas, com a
ajuda da democracia, tem todo o mundo a ganhar. Por isso, quanto mais
consequente for a revolução burguesa nas suas transformações democráticas tanto
menos se limitará ao que é vantajoso exclusivamente para a burguesia. Quanto
mais consequente for a revolução burguesa tanto mais garantirá as vantagens do proletariado
e do campesinato na revolução democrática.
O marxismo ensina o
proletariado não a ficar à margem da revolução burguesa, não a ser indiferente
a ela, não a entregar a sua direção à burguesia, antes pelo contrário, a
participar nela do modo mais enérgico, a lutar do modo mais decisivo pela
democracia proletária consequente, para levar até ao fim a revolução.[56]
Nenhuma revolução, pode se
efetivar só de vanguarda proletária. É contra este apelo que em parte Lênin se
dirige quando afirma:
Além disso, a tomada do poder
(mesmo parcial, episódica, etc.) pressupõe evidentemente a participação não só
da social-democracia e não só do proletariado. Isto é devido a que não é
somente o proletariado que está interessado na revolução democrática e que participa
ativamente da mesma. Isto é devido a que a insurreição é «popular», como se diz
no início da resolução que examinamos, que nela participam também “grupos não
proletários” (expressão da resolução dos conferencistas sobre a insurreição),
isto é, também a burguesia. [...] Uma das objeções contra a palavra de ordem da
“ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato” consiste
em que a ditadura pressupõe a “unidade de vontade” (Iskra, n.º 95), e a unidade
de vontade entre o proletariado e a pequena burguesia é impossível. Esta
objecção é inconsistente, porque se baseia numa interpretação abstrata,
“metafísica”, da noção de “unidade de vontade”. A vontade pode ser única num
sentido e não ser única noutro. A ausência de unidade nas questões do
socialismo e na luta pelo socialismo não exclui a unidade de vontade nas
questões da democracia e na luta pela república. Esquecer isto significaria
esquecer a diferença lógica e histórica entre a revolução democrática e a
socialista. Esquecer isto significaria esquecer o carácter da revolução
democrática como sendo de todo o povo: se é de todo o povo significa que há
«unidade de vontade», exatamente na medida em que esta revolução satisfaz as
necessidades e as exigências de todo o povo. Para além dos limites da
democracia, nem sequer se põe a questão da unidade de vontade entre o
proletariado e a burguesia camponesa. A luta de classes entre eles é
inevitável, mas, no terreno da república democrática, esta luta será a luta
popular mais profunda e mais vasta pelo socialismo. A ditadura revolucionaria
democrática do proletariado e do campesinato tem, como tudo no mundo, o seu
passado e o seu futuro. O seu passado é a autocracia, o regime de servidão, a
monarquia, os privilégios. Na luta contra este passado, no combate à
contrarrevolução, é possível a “unidade de vontade” do proletariado e do
campesinato, pois existe unidade de interesses.[57]
Uma das questões contra a
palavra de ordem da “frente popular contra o fascismo/bolsonarismo”, do mesmo
modo que na questão abordada por Lênin acima, salienta que a aliança, com
setores não proletários, presume a “unidade de vontade” e de “ação” entre o
proletariado e os setores não proletários de centro esquerda da burguesia.
“Isto seria, por princípio, impossível”, é o que argumenta parte da esquerda.
Esta colocação é vacilante, visto que se estrutura numa leitura antidialética
e, logo, “metafísica”, da noção de “unidade de vontade e ação”. A vontade e a
ação podem ser únicas por um lado e não serem por outro. É claro que o PT, e as
forças antibolsonaristas, não podem compor a unidade nas questões do socialismo
e na luta pelo socialismo, mas isto não exclui a unidade de vontade e ação nas
questões da defesa da democracia, ainda que burguesa, e na luta pela manutenção
da república, da defensiva de direitos e eleitoral. Perder isto de vista
significaria esquecer a diferença lógica histórica entre as tarefas
democráticas necessárias para, no longo prazo, avançar a revolução democrática
e, depois, para a revolução socialista. Esquecer isto, pujando ao sectarismo,
significaria esquecer que, no Brasil, sequer existiu uma revolução
democrático-nacional, e que o caráter da revolução democrática como sendo de
todo o povo: significa que todo o povo participa numa “unidade de vontade”,
precisamente na medida em que esta revolução satisfaz as necessidades e as
exigências de todo o povo. Para além dos limites da democracia, nem sequer se
põe a questão da unidade de vontade entre o proletariado e a burguesia. A luta
de classes entre eles é inevitável, mas, no terreno da república democrática,
esta luta será a luta popular mais profunda e mais vasta pelo socialismo, que
não será alcançada se o bolsonarismo permanecer no governo.
Lênin afirmava, e devemos
fazer o mesmo, que não “se deve nunca esquecer, nem por um instante, a
inevitabilidade da luta de classe do proletariado pelo socialismo, mesmo contra
a burguesia e a pequena burguesia mais democráticas e republicanas”[58].
Segundo Lênin isto não é sequer questionável. “Daí decorre a necessidade
absoluta de que a social-democracia tenha um partido próprio, independente e
rigorosamente de classe. Daí decorre o carácter temporário da nossa palavra de
ordem de “bater juntamente” a burguesia, o dever de vigiar rigorosamente “o
aliado, como se fosse um inimigo”[59], etc. “Tudo isto não oferece também a
menor dúvida. Mas seria ridículo e reacionário esquecer, ignorar ou
menosprezar, por causa disso, as tarefas essenciais do momento, mesmo que sejam
transitórias e temporárias”. E é este entendimento de agora que falta no juízo
de boa parte dos comunistas na nossa conjuntura. “A luta contra a autocracia”,
a nossa é o bolsonarismo, “é uma tarefa temporária e transitória dos
socialistas, mas ignorar ou menosprezar em qualquer medida esta tarefa equivale
a trair o socialismo e a servir a reação”[60]. E é justamente a serviço da
reação que estão todos aqueles que são contra uma frente neste momento
histórico e contra o voto no único candidato com capacidade de derrotar nas urnas
a família Bolsonaro. “A ditadura revolucionária democrática do proletariado e
do campesinato é indiscutivelmente apenas uma tarefa transitória e temporária
dos socialistas, mas ignorar esta tarefa na época da revolução democrática é
abertamente reacionário”[61].
É bom recordar uma carta de
Engels a Turati, na qual Engels advertia o chefe dos reformistas italianos que
não embaralhasse a revolução democrática e a socialista no mesmo jogo de
cartas. A revolução próxima na Itália — escrevia Engels referindo-se à situação
política da Itália em 1894 — será pequeno-burguesa, democrática, e não
socialista.
O Partido Socialista da Itália
é obviamente muito jovem e, considerando toda a situação econômica, muito
fraco, para poder esperar uma vitória imediata do socialismo. (...)
No caso de um sucesso mais ou
menos pacífico, haverá uma mudança de ministério e os republicanos
"convertidos" chegarão ao topo; no caso de uma revolução, a república
burguesa triunfará.
Qual deve e deve ser a atitude
do Partido Socialista diante dessa situação? As táticas que, desde 1848,
trouxeram o maior sucesso aos socialistas são as recomendadas pelo Manifesto
Comunista: o movimento como um todo... Eles lutam pela consecução dos objetivos
imediatos, pela efetivação dos interesses momentâneos da classe trabalhadora,
mas no movimento do presente eles também representam e cuidam do futuro desse
movimento".
Consequentemente, eles
participam ativamente de todas as fases do desenvolvimento da luta entre as
duas classes, sem perder de vista que essas fases são apenas alguns passos
preliminares para o primeiro grande objetivo: a conquista do poder político
pelo proletariado como meio para uma nova organização da sociedade. Seu lugar é
ao lado daqueles que lutam pela conquista imediata de um avanço, que é ao mesmo
tempo do interesse da classe trabalhadora. Eles aceitam todos esses passos
políticos ou sociais progressistas, mas apenas como parcelas. Por isso,
consideram cada movimento revolucionário ou progressista um passo adiante na
consecução de seu próprio fim; e é sua tarefa especial levar outros partidos
revolucionários cada vez mais longe e, no caso de um deles ser vitorioso,
proteger os interesses do proletariado. Essas táticas, que nunca perdem de
vista o último grande objetivo final, preservam-nos, socialistas, das decepções
a que os outros partidos menos clarividentes, sejam eles republicanos ou
socialistas sentimentais, que confundem o que é apenas uma mera etapa com o
objetivo final de o avanço, deve inevitavelmente sucumbir.
Apliquemos o que foi dito à
Itália.
A vitória da pequena
burguesia, em processo de desintegração, e do campesinato, talvez leve ao poder
um ministério de republicanos "convertidos". Isso nos dará sufrágio
universal e maior liberdade de movimento (liberdade de imprensa, de organização
e de reunião) – novas armas que não devem ser desprezadas.
Ou nos trará a república
burguesa, com o mesmo povo e algum mazzinista ou outro entre eles. Isso
ampliaria ainda mais a liberdade e nosso campo de ação, pelo menos por enquanto.
Assim, a vitória do movimento
revolucionário que se prepara não pode deixar de nos fortalecer e nos colocar
em condições mais favoráveis. Devemos cometer o maior erro se nos abstivermos
de simpatia por ela ou se em nossa atitude para com as partes "relacionadas"
nos limitarmos apenas a críticas negativas. Pode chegar um momento em que seja
nosso dever cooperar de maneira positiva. Que momento poderia ser esse?
Sem dúvida, não nos compete
preparar diretamente um movimento que não seja estritamente um movimento da
classe que representamos.[62]
Segundo a Teoria de Marx e
Engels, mais tarde sustentada a exaustão por todos os Leninistas, atuam contra
o velho regime, o feudalismo: 1) a grande burguesia liberal; 2) a pequena
burguesia radical; 3) o proletariado. A primeira não luta por mais do que uma
monarquia constitucional; a segunda, pela república democrática; o terceiro,
pela revolução socialista. É claro que ambos, neste raciocínio, estão se
referindo a classe para si. É evidente também que esta teoria em partes se
encontra obsoleta, uma parte significativa da grande burguesia liberal,
encontra-se a disputar o elo central do sistema imperialista e uma parte do
mundo feudal de fato já se foi. No entanto, no interior da grande burguesia
liberal há contradições que devem ser exploradas. A confusão entre a luta
pequeno-burguesa por uma revolução democrática completa e a luta proletária
pela revolução socialista constitui, para um socialista, uma ameaça de
bancarrota política. Esta advertência de Marx é, perfeitamente, justa. Mas,
precisamente por essa razão, a palavra de ordem de “comunas revolucionárias” é
errada, uma vez que as comunas que se conhecem na história confundiam
precisamente a revolução democrática e a socialista[63].
Quando se cogitava expulsar
certos grupos de democratas da revolução de 1905-1907, Lênin se insurgiu contra
alegando que seria inviável o fazê-lo naquela etapa da revolução.
“Ainda consideramos as
opiniões dos socialistas-revolucionários como revolucionárias-democráticas e
não socialistas. Mas por causa de nossos objetivos militantes, devemos marchar
juntos, mantendo plenamente a independência do Partido, e o Soviete é, e deve
ser, uma organização militante. Expulsar democratas revolucionários dedicados e
honestos em um momento em que estamos realizando uma revolução democrática
seria absurdo, seria loucura”[64].
Como qualquer coisa
tradicional que, dialeticamente, serve ao progresso e é levado a diante: a
ideia de etapas da revolução apresenta, como vimos acima, sua origem nos pais
do socialismo científico. No bolchevismo, sua expressão mais aprofundada veio
primeiro com Lênin, mais fortemente entre 1905-1917, e depois com Stálin,
sistematicamente nos fundamentos do Leninismo, no capítulo “Estratégia e
Tática”. No volume 9 das obras completas de Lênin o termo aparece 194[65]
vezes, já no volume 10 o termo aparece
97[66] vezes, nos volumes que se seguem o termo continua a aparecer, com a
mesma definição: a necessidade de se converter a revolução democrática em
socialista.
No decurso do movimento
revolucionário na Rússia, as divergências entre, por um lado, os bolcheviques,
por outro, os mencheviques e Trotsky, acentuaram-se. Em 1905, como contrapeso à
linha revolucionária de Lênin e à sua teoria da transformação da revolução
democrática-burguesa em revolução socialista, Trotsky desenvolveu a sua famosa
teoria sobre a “revolução permanente”, teoria que, de resto, tinha tomado do
pseudo-marxista alemão Parvus, que depois se tornou chauvinista e agente do
imperialismo alemão. Esta teoria aventureirista, que negava o papel dirigente
do proletariado face ao campesinato e afirmava que este último era incapaz de
se aliar à classe operária para a lute contra a autocracia, ameaçava de morte a
revolução russa. Esta teoria semeava a divisão na frente comum das forças
motrizes da revolução, afastava da luta revolucionária as inumeráveis massas do
campesinato russo, condenava a classe operária ao isolamento na luta
revolucionária e servia assim a causa da reação. Segundo Lênin: “Trotsky comete
um erro fundamental: não vê o carácter burguês da revolução e não compreende
como se operará a passagem desta revolução à revolução socialista. Deste erro
fundamental derivam erros parciais, que Martov repete reproduzindo e aprovando
certas passagens de Trotsky”[67]. Já na fase da revolução socialista, sobre
isto Lênin concluiu:
Depois de ter levado a cabo a
revolução democrática burguesa juntamente com o campesinato em geral, o
proletariado da Rússia passou definitivamente à revolução socialista, quando
conseguiu cindir o campo, atrair a si os seus proletários e semiproletários,
uni-los contra os kulaques e a burguesia, incluindo a burguesia camponesa.
Se o proletariado bolchevique
das capitais e dos grandes centros industriais não tivesse sabido unir em seu
redor os camponeses pobres contra o campesinato rico, então ter-se-ia assim
demonstrado que a Rússia “não estava madura” para a revolução socialista, então
o campesinato teria continuado a ser “um todo”, quer dizer, teria continuado
sob a direção econômica, política e espiritual dos kulaques, dos ricos, da
burguesia, então a revolução não teria saído dos limites da revolução
democrática burguesa. (Mas mesmo isto, diga-se entre parênteses, não teria
demonstrado que o proletariado não devia tomar o poder, pois só o proletariado
levou efetivamente até ao fim a revolução democrática burguesa, só o
proletariado fez algo de sério para aproximar a revolução proletária mundial,
só o proletariado criou o Estado soviético, o segundo passo, depois da Comuna,
em direção ao Estado socialista.) [68]
Em total concordância com a
teoria de Marx, Engels e Lênin, Stálin prosseguiu defendendo que a revolução é
marcada por fases ou etapas:
“A estratégia consiste em
fixar, numa determinada etapa da revolução, a direção do golpe principal do
proletariado, em elaborar um plano correspondente de disposição das forças
revolucionárias (reservas principais e secundárias) e em lutar pela execução
desse plano durante todo o curso dessa etapa da revolução.”[69]
“Só no caso de vitória completa da revolução
democrática o proletariado não se encontrará de mãos atadas na luta contra a
burguesia inconsequente, só neste caso não se «diluirá» na democracia burguesa,
mas imprimirá a toda a revolução a sua marca proletária ou, mais exatamente,
proletário-camponesa”[70]. Esse princípio de Lênin: a derrota dos inimigos por
etapas pode ser visto nos textos de Stálin "Fundamentos do Leninismo"
e "Questões do Leninismo". Em fundamentos e questões do Leninismo
Stalin segue a mesma sorte:
"o método da greve geral
constante não pode ser aceito pelo proletariado, porque teoricamente é
inconsistente (vide a crítica de Engels), é perigoso na prática (pode
desorganizar a marcha normal da vida econômica do país, pode deixar vazias as
caixas dos sindicatos) e não pode substituir as formas parlamentares de luta,
que constituem a forma principal da luta de classe do proletariado. "[71]
Stalin diz o mesmo sobre a
questão da insurreição como único método, e prega a combinação dos métodos.
"Os problemas relativos
aos grandes conflitos de classes, à preparação do proletariado para as batalhas
revolucionárias, aos meios para conquistar a ditadura do proletariado não
estavam, então, segundo parecia, na ordem do dia. A tarefa reduzia-se a utilizar
todos, os caminhos de desenvolvimento legal para formar e instruir os exércitos
proletários, a utilizar o parlamentarismo tendo-se em conta uma situação em que
o proletariado assumia e, segundo parecia, devia assumir o papel de oposição.
Não creio que seja necessário demonstrar que em semelhante período e com uma
tal concepção das tarefas do proletariado não podia existir nem uma estratégia
completa, nem uma tática bem elaborada. Havia pensamentos fragmentários, ideias
isoladas sobre tática e estratégia, mas não havia nem tática nem
estratégia."[72]
A Semelhança do contexto de 1907-1912 da
Rússia com o Brasil atual, não é pequena. Atualmente, questões mais urgentes
impedem que coloquemos plenamente a questão estratégica e tática, até que
esteja derrotado ou enfraquecido o Bolsonarismo. Na época de Stálin os
bolcheviques tiveram dificuldades similares. Stálin afirma:
"No período de 1907-1912,
o Partido foi obrigado a passar a uma tática de retirada, porque nos achávamos
diante de um descenso do movimento revolucionário, de um refluxo da revolução,
e a tática não podia deixar de levar em conta este fato. Em relação com isto,
mudaram tanto as formas de luta quanto as formas de organização. Ao invés de
boicote à Duma, participação na Duma; ao invés de ações revolucionárias
abertas, extraparlamentar, discursos e trabalho na Duma; ao invés de greves
gerais políticas, greves econômicas parciais, ou simplesmente calma. É claro
que o Partido devia nesse período, passar à atividade clandestina, enquanto as
organizações revolucionárias de massas eram substituídas por organizações
legais, culturais, educativas, cooperativas, de ajuda mútua, etc.."[73]
No momento histórico em que
vivemos, é necessária a mesma retirada do qual Stálin se refere no período de
1907-1912, passamos por um refluxo da possibilidade revolucionária, de modo que
os partidos comunistas existentes, e o movimento comunista como um todo, não
são fortes o suficiente para inverter o quadro, situação no qual o lançamento
de pequenas candidaturas, o boicote ou voto nulo conduzirá a mesma
problemática: o fortalecimento do bolsonarismo. Neste sentido, é mais viável o
apoio a Lula do que seguir no isolamento e invisibilidade. É verdade que
possíveis esquerdismos brasileiros estão mais longe do efeito desastroso que
ocorreu na França recentemente onde a desunião levou Le pen ao segundo turno.
Por isto é importante o alerta sobre as alianças que Stalin realiza:
"Antes, a questão
nacional era considerada de modo reformista, como uma questão isolada,
independente, sem relação com a questão geral do poder do capital, da derrubada
do imperialismo, da revolução proletária. Admitia-se tacitamente que a vitória
do proletariado na Europa era possível sem uma aliança direta com o movimento
de libertação nas colônias, que a questão nacional e colonial podia ser
resolvida em surdina, "automaticamente", à margem da grande via da
revolução proletária, sem uma luta revolucionária contra o imperialismo. Hoje,
este ponto-de-vista contrarrevolucionário deve ser considerado como
desmascarado. O leninismo provou, e a guerra imperialista e a revolução na
Rússia o confirmaram, que a questão nacional só pode ser resolvida em relação
com a revolução proletária e sobre a base desta; que o caminho do triunfo da
revolução no Ocidente passa através da aliança revolucionária com o movimento
anti-imperialista de libertação das colônias e dos países dependentes. A
questão nacional é parte da questão geral da revolução proletária, parte da
questão da ditadura do proletariado."[74]
Como se viu, Stálin coloca
claramente que apenas sob a ditadura do proletariado, ou sob sua hegemonia é
que devemos cogitar a rejeição de aliança com outras classes não proletárias e
seus representantes. Mesmo assim nos primeiros 5 anos da revolução de outubro a
tática de alianças ainda foi necessária, como vimos Lênin afirmar. É claro que
não é este o nosso caso, estamos mais para a proximidade do refluxo
revolucionário do que do fluxo revolucionário. Neste caso, a tática se ocupa
das formas de luta e das formas de organização do proletariado, da sua
substituição, da sua coordenação. Numa determinada etapa da revolução, a tática
pode mudar várias vezes, segundo os fluxos e refluxos, o ascenso ou o descenso
da revolução. Esse é o pensamento de Stálin, se estabelecemos o objetivo de
chegar ao poder, devemos eliminar quem vai mais nos dificultar esse processo:
no caso brasileiro o bolsonarismo. No entanto, se há fluxo revolucionário como
foi em 1917, nenhum apoio deve ser dado a qualquer governo social-democrata ou
não comunista, o que não é o nosso caso, infelizmente. A tática muda segundo os
fluxos e refluxos revolucionários: este é um princípio universal enquanto
existir o imperialismo. Em 1936, com críticas, Stálin apoiou Roosevelt e o
PCUSA seguiu pela mesma direção, a ideia deste apoio lembra claramente o apoio
de Lênin a Henderson do Partido Trabalhista inglês, conforme veremos. Abaixo
segue o discurso de Sam Darcy do PCUSA sobre o apoio de Stálin e Dimitrov a
Roosevelt:
Claro, a questão mais
importante levantada aqui é a aplicação da frente única contra o fascismo,
particularmente nos Estados Unidos. Esta questão está rapidamente vinda à tona
hoje, enquanto o imperialismo dos EUA se prepara para se engajar em uma 'guerra
sem fim' em um esforço para manter seu status como a única superpotência do
mundo, ao mesmo tempo em que restringe, se não elimina, os direitos
democráticos. Dimitrov em seu discurso no Congresso do Comintern de 1935
sugeriu que os trabalhadores nos EUA formassem um Partido dos Trabalhadores e Agricultores
como uma forma adequada de frente única contra o fascismo. No entanto, sob a
influência de Darcy, com o acordo de Foster e Browder, bem como de Dimitrov e
outros membros importantes do Comintern, e também de Stalin, o CPUSA pediu
apoio a Franklin D. Roosevelt nas eleições presidenciais de 1936. É importante
notar que esse apoio foi realizado naquela época com fortes críticas públicas
de muitas das políticas de Roosevelt[75].
E foi assim no decorrer da
ascensão do fascismo que se necessitou fortalecer a política de alianças. Uma
frente popular, tática adotada a partir do 5º congresso da Internacional,
significa qualquer coalizão de partidos da classe trabalhadora e de outra
classe, incluindo os liberais e social-democratas, unidos pela defesa das formas
democráticas contra um ataque fascista. O Argumento da internacional pode ser
encontrado no sétimo congresso que tem completo em inglês no marxists.org[76].
O documento citado é extenso e
com mais de 45 menções sobre esse assunto. Nesta oportunidade não se pode
destrinchá-lo por completo, mas o que se tem em comum é o fato de que se fazia
necessário o apoio temporário a governos antifascistas. E a contribuição de
Dimitrov sobre o assunto se encontra em sua obra “Unidade da classe operária
contra o fascismo” que deve ser lida integralmente porque é uma das mais
brilhantes aplicações do Leninismo.
O nazifascismo reunia em torno
de si todo o antigo czarismo. Na verdade, em certo sentido, embora modernizado
militarmente, o nazifascismo era a força mais reacionária, com as ideias mais
conservadoras e radicais, não atoa se chamava "terceiro reino". Como
costuma dizer o professor Wilson do Nascimento Barbosa, "os direitos
sociais e "socialistas", no sistema nazifascista, só se podem aplicar
a “raça pura", ao resto, aplica-se o feudalismo a servidão e escravidão.
Wilson Barbosa diz isso em sua aula sobre o General Giap no youtube[77]. Se não
derrotarmos Bolsonaro e sua tropa imediatamente, é cada vez mais certo que isto
nos aguarda, e não se trata de alarmismos, e sim de uma vontade que se tornará
mais próxima do possível porque ele está se fortalecendo novamente e se
articulando.
A partir do contexto
vivenciado pelos bolcheviques no pré-revolução e, posteriormente, durante a
formação das frentes únicas e populares, e da explicação que se segue, Stalin
buscou demonstrar como a estratégia e a tática consistem em identificar o inimigo
principal a ser isolado e enfraquecido durante uma etapa da revolução. Este
entendimento deve ser aplicado a nós contra o bolsonarismo. No momento atual
brasileiro este inimigo principal é o bolsonarismo e por detrás dele estão,
ainda que em conflito: o mercado financeiro, o judiciário, os militares e o
latifúndio. Uma vez que tal inimigo, ou seu conjunto, esteja isolado,
enfraquecido, ou tenha assumido formas radicalmente diferentes, estaria
terminada uma etapa importante para podermos vislumbrar um avanço para o
movimento operário que signifique um salto qualitativo da nossa possibilidade
de avançar na revolução proletária de maneira mais profunda, o que se torna
difícil num momento de ofensiva tão grande quanto o que é trazido pelo
Bolsonarismo e num momento de enfraquecimento e crise tão grande do movimento
operário ou revolucionário. Ou seja, a etapa, para o marxismo-leninismo, é “um
período de conjunção de forças, da composição de um arco de aliança, para
derrubar um inimigo em comum. Estratégia é a arte de identificação do inimigo e
dos aliados possíveis e de estabelecer o caminho de menor custo para
derrotá-lo”[78], neste momento, enfraquecer o bolsonarismo significaria,
portanto, lutar pelo voto no candidato mais forte: Lula. Ainda que seja necessário
criticá-lo e dizer ao movimento operário quais os limites do projeto lulista,
bem como frisar que a solução final será sempre a revolução.
Em nosso contexto nacional, a
condição de dependência, a falta de industrialização, a falta de nacionalização
da economia e a consequente dominação imperialista tem uma significativa
colocação nesse debate. No entanto, as proporções de dependência são
diferentes, mesmo entre países que pela divisão internacional do trabalho,
estão em condições próximas. Portanto, a semifeudalização e semicolonização,
bem como, o lugar no sistema imperialista, não podem ser uma medida de valor
exata para todos os países, logo, o nível de práticas dos países capitalistas
são diferentes, uns são mais agressivos, praticam um maior número de ações
predatórias do que outros. É possível, portanto, entender que esses conceitos
podem ser mais ou menos profundos a depender da condição concreta de cada
nação. Do mesmo modo há países em que o desenvolvimento desigual é menos
acentuado, mas não deixam de se enquadrar na categoria de países semicoloniais
e semifeudais, por exemplo, o Brasil.
Nosso país vem sofrendo
inúmeros retrocessos ao longo dos tempos, mas é significativo o avanço nas
nossas forças produtivas nacionais que se iniciam a partir de 1930 e que se
perderam quase totalmente a partir de 1964, ganhando fôlego final antes do
afogamento atual na época de Geisel, e, por fim, com o desenvolvimento do
pré-sal e do submarino nuclear antes do golpe de 2016. O Brasil, segundo Boris
Koval teve o início de uma revolução burguesa em 1930 que não completou a
chamada etapa democrático nacional de novo tipo, devido ao sufocamento das
massas realizados pelos burgueses e pequeno-burgueses que dirigiram o
processo[79], essa característica trouxe algum desenvolvimento econômico e suas
superestruturas segundo o mesmo autor. Tivemos a criação das universidades, da
Petrobras, hidroelétricas, as empresas de saneamento, o direito ao voto
feminino, a consolidação das leis trabalhistas, documento que unificou todas as
leis criadas ao longo dos tempos que são reflexos de lutas dos trabalhadores e
camponeses. Isso nos deu alguns direitos e a existência de uma democracia
burguesa frágil, assim, ganhamos parlamentos, e gestões executivas que podem
ser disputadas, muito diferente da China, antes de 1949, que só soube o que
eram essas noções temporariamente durante a primeira e a segunda Frente Unida e
que foram interrompidas diversas vezes, fosse pelo inimigo interno, fosse pelo
inimigo externo.
Mao, embora tenha dito que “os
capitalistas têm 'parlamentos' para aprovar leis que protegem os capitalistas e
prejudicam o proletariado”, em 1921[80], completa afirmando que devemos
“convocar um parlamento verdadeiramente democrático e eleger um governo
genuinamente democrático que executará políticas genuinamente democráticas”[81]
e assim afirma em 1937 que “Quando a paz interna for alcançada e a cooperação
estabelecida entre as duas partes — Kuomitang e PCCh —, mudanças terão que ser
feitas nas formas de luta, organização e trabalho que adotamos quando a linha
era a de manter um regime antagônico ao do Kuomintang. Serão principalmente
mudanças de formas militares para formas pacíficas e de formas ilegais para
formas legais. Não será fácil fazer essas mudanças e teremos que aprender de
novo. A reciclagem dos nossos quadros torna-se assim um elo fundamental”[82].
Sobre as condições econômicas
da China e a luta legal, Mao afirma:
“A China é diferente,
entretanto. As características da China são que ela não é independente e
democrática, mas sim semicolonial e semifeudal, que internamente não tem
democracia, mas está sob opressão feudal e que nas suas relações externas não
tem independência nacional, mas é oprimida pelo imperialismo. Segue-se que não
temos nenhum parlamento para fazer uso e nenhum direito legal de organizar os
trabalhadores em greve”[83].
Isto significa, portanto, que
o nível de dependência da China era maior do que a do Brasil, sendo que o
Brasil, apesar de semicolonial e, com restos semifeudais, ainda assim é um
pouco mais independente do que era a china de Mao, por isso, temos um
parlamento, temos sindicatos e meios de organizar greves. Portanto, é nosso
dever ocupar esses espaços, por isso, Mao afirma que nos locais em que há
existência desses elementos, sugere que “é tarefa do partido do proletariado
nos países capitalistas educar os trabalhadores e fortalecer-se durante um
longo período de luta legal”[84].
Assim podemos ver que em
comparação ao Brasil atual, temos um desenvolvimento pouco mais acentuado nos
direitos e formas de luta. Por isso, no mesmo sentido, Mao diz:
“Para liderar o proletariado e
o povo trabalhador na revolução, os partidos marxistas-leninistas devem dominar
todas as formas de luta e ser capazes de substituir rapidamente uma forma por
outra, à medida que as condições de luta mudam. A vanguarda do proletariado
permanecerá inconquistável em todas as circunstâncias somente se dominar todas
as formas de luta - pacífica e armada, aberta e secreta, legal e ilegal, luta
parlamentar e luta de massa, etc. É errado recusar o uso de formas
parlamentares e outras formas legais de luta quando elas podem e devem ser
usadas. Entretanto, se um partido marxista-leninista cair no legalismo ou
cretinismo parlamentar, confinando a luta dentro dos limites permitidos pela
burguesia, isto inevitavelmente levará à renúncia à revolução proletária e à
ditadura do proletariado”[85].
Uma das razões centrais para o
PCCh não participar de parlamentos na China antes da revolução de 1949, ou da
luta legal, era o fato de que se não criminalizados por Chiang Kai-Shek, o eram
pelos estados fantoches do Japão e, antes disso, pelos senhores da guerra, e
isso não se cessou plenamente após a vitória da china na Segunda Guerra. Nos
parlamentos das áreas controladas por Chiang Kai-Shek, foram mantidos na
ilegalidade os membros do PCCh. Após o fim da guerra, isto obrigou a não
participação nos parlamentos de Chiang Kai Shek e uma nova retomada da guerra
civil. No entanto, dispendia o PCCh grande energia a essa empreitada, nas Obras
Escolhidas, Volume 2, página 17, temos um exemplo:
“Mobilizar o povo inteiro.
Levantar a proibição dos movimentos patrióticos, libertar os presos políticos,
anular o '‘decreto de Emergência para Lidar com ações que ameaçam a República’'
[3] e o '‘regulamento de Censura da Imprensa’', [4] conceder status legal a
organizações patriotas existentes, estender estas organizações entre os
trabalhadores, camponeses, empresários e intelectuais, armar o povo para
autodefesa e para operações de apoio ao exército. Em uma palavra, dar liberdade
ao povo para expressar seu patriotismo. Por sua força combinada, o povo e o
exército vai lidar com um golpe fatal para o imperialismo japonês. Além de
dúvida, não pode haver vitória em uma guerra nacional sem a confiança nas
grandes massas do povo. Tomemos o aviso da queda de Abyssinia. [5] Ninguém que
seja sincero em travar uma guerra resoluta da resistência pode se dar ao luxo
de ignorar este ponto.”[86]
É digno de nota que a
composição da segunda Frente Unida, após o sequestro de Chiang Kai Shek, levou
a luta a uma constante dentro do PCCh.
Isto se refere ao “Projeto de
Resolução do Comitê Central do Partido Comunista da China sobre a Participação
do Partido Comunista no Governo” que foi elaborado em 25 de setembro de 1937. O
texto completo diz como se segue.
(1) A situação atual na guerra
anti-japonesa requer urgentemente um governo de frente unida representando toda
a nação, pois só assim o governo pode efetivamente liderar a guerra
revolucionária nacional anti-japonesa e derrotar o imperialismo japonês. O
Partido Comunista está pronto para participar em um tal governo, ou seja,
assumir responsabilidades administrativas no governo direta e oficialmente e
desempenhar um papel ativo no mesmo. Mas um tal governo ainda não existe. O que
existe hoje ainda é o governo da ditadura de partido único de Kuomintang.
(2) O Partido Comunista da
China pode participar do governo somente quando é transformado de uma ditadura
de partido único do Kuomintang em um governo de frente unida de toda a nação,
ou seja, quando o presente governo do Kuomintang (a) aceitar os fundamentos do
Programa de Dez Pontos para Resistir ao Japão e Salvar a Nação proposto pelo
nosso partido e promulgar um programa administrativo de acordo com o mesmo; (b)
começar a mostrar por meio de ações a sinceridade de seus esforços para
realizar este programa e alcançar resultados definitivos; e (c) permitir a
existência legal das organizações partidárias comunistas e garantir ao Partido
Comunista liberdade para se mobilizar, organizar e educar as massas.
(3) Antes que o Comitê Central
do Partido decida participar do Governo Central, os membros do Partido
Comunista não devem, como regra, participar em qualquer governo local ou em
qualquer conselho ou comitê administrativo vinculado aos órgãos administrativos
do governo, central ou local. Pois tal participação só obscureceria as
características distintivas do Partido Comunista, prolongar a ditadura do
Kuomintang e dificultar bastante do que ajudar no esforço de criar um governo
democrático unificado[87].
A China de Mao, precisava
ainda completar uma revolução burguesa (interrompida por Chiang Kai-shek com o
massacre de Xangai e o fim da grande expedição) e, consequentemente, um
parlamento, o que definitivamente só foi realizado de maneira 100% estável após
a revolução de 1949 que completou a revolução burguesa, a etapa democrático
nacional de novo tipo e levou ao início da revolução socialista. Assim, Mao diz
no Volume 1 das Obras Escolhidas, nas páginas 268, 269, 276.
Declaramos: assim que uma
república democrática unificada for criada para toda a China, as Áreas
Vermelhas se tornarão uma de suas partes componentes, os representantes do povo
das Áreas Vermelhas participarão do Parlamento de toda a China, e o mesmo
sistema democrático será criado nas Áreas Vermelhas como em outras partes da
China. (…)
Um conselho de defesa nacional
e uma assembleia nacional desse tipo não têm nada em comum com o congresso de
toda a China para resistência ao Japão e para a salvação nacional - o conselho
de defesa nacional - e a república democrática chinesa e seu parlamento que
nosso partido propôs. (…)
A assembleia nacional deve ser
um parlamento eleito por sufrágio universal e o órgão supremo de autoridade da
república democrática da China. (…)[88]
No mesmo documento, na página
289 do mesmo volume, vemos:
“Por que colocamos tanta
ênfase em uma assembleia nacional?” Porque é algo que pode afetar todos os
aspectos da vida, porque é a ponte da ditadura reacionária para a democracia,
porque está ligada à defesa nacional, e porque é uma instituição jurídica.
Recuperar Hopei oriental e Chahar do norte, combater o contrabando, [8] opor-se
à “colaboração econômica”, [9] etc., como muitos camaradas propuseram, é
bastante correto, mas isso complementa bastante do que de qualquer forma entra
em conflito com a luta pela democracia e uma assembleia; o essencial ainda é a
assembleia nacional e a liberdade para o povo.[89]
Isso significa que a LUTA
LEGAL tinha importante significado para o jovem Mao. Durante a Segunda Guerra
Sino-japonesa, houve a segunda Frente Unida e a possibilidade de um sistema
conjunto. Mao deu grande valor a essa forma de luta novamente:
Esperamos que, juntamente os
líderes patrióticos de todos os partidos e grupos políticos e de todas as
classes sociais e com todo o povo patriótico, eles assumam resolutamente a
responsabilidade de dar continuidade à causa revolucionária do Dr. Sun e se
lancem na luta para expulsar os imperialistas japoneses e salvar a nação
chinesa da subjugação, para conquistar direitos democráticos para o povo, para desenvolver
a economia nacional da China e libertar a grande maioria de seu povo de seus
sofrimentos, e para trazer à existência a república democrática da China com um
parlamento e um governo democráticos. O Partido Comunista Chinês declara a
todos os membros do Kuomintang: se vocês realmente fizerem isso, nós os
apoiaremos resolutamente e estaremos prontos para formar com vocês uma sólida
frente revolucionária unida como a do grande período revolucionário de 1924-27
contra a opressão imperialista e feudal, para isso é a única maneira correta
hoje de salvar a nação da subjugação e garantir sua sobrevivência.[90]
No entanto, devemos assumir
que Mao Tsé-tung e o PCCh foram extremamente precavidos nessa defesa e estavam
preparados para abrir mão dela. Mao Tse-tung em “A Questão da Independência e
Iniciativa Dentro da Frente Unida”[91], que fez parte de seu discurso de
conclusão na mesma sessão, afirmando que era extremamente importante para todo
o Partido dedicar-se à organização da luta armada do povo contra o Japão, a
sessão decidiu que as zonas de guerra e a retaguarda do inimigo deveriam ser os
principais campos de trabalho do Partido e repudiou as ideias errôneas daqueles
que depositaram suas esperanças de vitória nos exércitos do Kuomintang e que
teriam confiado o destino do povo às lutas legais sob o reacionário domínio do
Kuomintang. Este problema foi tratado
pelo camarada Mao Tse-tung em “Problemas de Guerra e Estratégia”[92], que
também fez parte de sua conclusão do discurso na sessão.
Assim podemos e devemos
criticar a falta de organização para uma luta além da institucional, mas, não
se pode fazer disso um motivo para nas atuais circunstâncias boicotar a possível
luta legal, realizar campanhas e lançamentos de candidatos sem expressão que
sequer trarão ganhos na luta contra o inimigo principal e boicotar apoios
táticos aos únicos setores que tem uma chance real de vencer o bolsonarismo,
ainda que se faça necessário, e insisto nisso, criticar constantemente os
aliados. Está demonstrado suficientemente que 3 dos maiores revolucionários de
todos os tempos, não veriam problemas na participação nas eleições no nosso
contexto, haja vista que temos essa condição, e não estamos ainda
criminalizados como acontecia constantemente com o PCCh nos anos de 1930.
Em toda década de 1930, e nos
anos que antecederam a segunda guerra, podemos observar que era mais vital
ainda as políticas de alianças, e por quê? Porque a burguesia monopolista e com
certa retroatividade feudal começa agredindo as chamadas colônias e
semicolônias para, por etapas, agredir os países europeus e retroagir aquilo
que de bom trouxe a revolução de outubro. Com isto, eles procuravam rompimento
com a democracia burguesa, sim, a burguesia queria uma ditadura aberta, uma
restauração da política quase feudal ou semifeudal, quase igual ao que o clã
bolsonaro quer aqui que ainda seria pior do que fora a ditadura militar.
Se nos anos 1920 as frentes
únicas teriam o condão de se infiltrar no movimento operário ainda não
revolucionário, ou seja, nos meandros da classe em si, para a partir disto se
inserir em sua órbita e contaminá-la com a teoria revolucionária, levando-a a
classe para si, nos anos 30 as frentes populares apenas refinaram ainda mais
este entendimento:
Lembrando
a resposta de Pannekoek a Lênin:
Para começar: os
operários e. em geral, as massas trabalhadoras da Europa Ocidental estão
totalmente sob a dependência ideológica da cultura burguesa, das concepções
burguesas e, em conseqüência, do sistema representativo e do parlamentarismo
burguês, da democracia burguesa, num nível muito mais alto que os operários da
Europa Oriental.
Entre nós a ideologia
burguesa tomou conta de toda a vida social e, em conseqüência. também da vida
política, peneirando profundamente na cabeça e no coração dos operários. E
neste quadro que foram educados, cresceram, e isto já há muitos séculos. Eles
estão saturados pelas concepções burguesas.
O mesmo se pode dizer do proletariado brasileiro: estão
altamente dependentes da ideologia burguesa, acreditam que Lula irá resolver os
problemas para eles. Lula também é alguém que trabalha ativamente para divulgar
e disseminar concepções burguesas entre a classe trabalhadora e camponesa. Fora
que acreditam na democracia burguesa, no parlamentarismo.
Aliás, você também parece, no fundo, querer acreditar que
há saída para o fascismo de mercado bolsonarista através do sistema
representativo, de eleições, o obstáculo verdadeiro seria a esquerda! A vitória no primeiro turno faria
as armas bolsonaristas darem flor, as milícias sumiriam, dançaríamos juntos em
paz, como no final de um filme da Disney. Pacificados, os bolsonaristas
admitiriam sua derrota moral, e, entre lágrimas, cederiam a cadeira
presidencial, arrependidos.
"A frente popular diferia
das frentes únicas dos anos de 1920 porque a primeira incluía os partidos
social-democratas, ao contrário da última. Por isso, os programas tinham de ser
amplos o suficiente para serem aceitos pelos partidos social-democratas, o que
levou a acusações por parte dos trotskistas e de outros de que os programas
eram burgueses. Mas a razão para incluir os partidos social-democratas nas
frentes populares tinha sido bem explicada por Campbell, importante dirigente
do PCInglês no período dos anos 1930:
A China não é um bom exemplo para a sua linha de
raciocínio. Você quer que as alianças ainda no primeiro turno sejam efetivas
para evitar um banho de sangue, mas a história da China mostrou que as alianças
e a frente não foram efetivas para evitar o banho de sangue de Chiang Kai Shek
nos comunistas.
"As lições da revolução
de 1917, e do período revolucionário subsequente na Europa, pertencem ao
capital básico da classe operária, e negligenciá-las é cometer suicídio
político. Mas aquelas lições não podem ser aplicadas nos presentes dias, a
menos que se levem em conta as diferenças da situação de hoje quando comparada
com aquela de 1917-20..." (p. 316). "Em 1917 até 1920, o capitalismo
estava defendendo a democracia parlamentar contra o impulso da revolução socialista,
procurando estabelecer a democracia soviética. Hoje, o capitalismo, para
manter-se. está buscando subverter e destruir a democracia parlamentar e
dissolver os órgãos da classe operária. Defender a democracia em 1917-20 era
defender o capitalismo contra a revolução."[93]
Mas, mesmo essa diferença
histórica, não era uma pedra angular na linha de raciocínio de Lênin uma vez
que ele mesmo falou em ajudar a burguesia anticzar, que na prática é o mesmo
que ajudar a burguesia na luta antifascista, gostem ou não. E ainda recomendou
não apenas o voto nos trabalhistas ingleses, mas uma militância concomitante do
Partido Comunista Inglês no seio do partido trabalhista, com filiações diretas,
o que pode ser visto no texto: “Speech On Affiliation To The British Labour
Party”, Lênin diz:
“A nossa resolução diz que
somos a favor da filiação na medida em que o Partido Trabalhista permite
suficiente liberdade de crítica” (...). Os camaradas Gallacher e Sylvia
Pankhurst não podem negar isso. Eles não podem refutar o fato de que, nas
fileiras do Partido Trabalhista, o Partido Socialista Britânico goza de
liberdade suficiente para escrever que certos líderes do Partido Trabalhista
são traidores; que esses antigos líderes representam os interesses da
burguesia; que eles são agentes da burguesia no movimento operário. Eles não
podem negar tudo isso porque é a verdade absoluta. Quando os comunistas gozam
de tal liberdade, é seu dever aderir ao Partido Trabalhista se levarem em
devida conta a experiência dos revolucionários em todos os países, não apenas
da revolução russa (pois aqui não estamos em um congresso russo, mas em um que
é internacional). O camarada Gallacher disse ironicamente que no presente caso
estamos sob a influência do Partido Socialista Britânico. Isso não é verdade; é
a experiência de todas as revoluções em todos os países que nos convenceu.
Pensamos que devemos dizer isso para as massas. O Partido Comunista Britânico
deve manter a liberdade necessária para expor e criticar os traidores da classe
trabalhadora, que são muito mais poderosos na Grã-Bretanha do que em qualquer
outro país. Isso é facilmente compreensível. O camarada Gallacher está errado
ao afirmar que, ao defender a filiação ao Partido Trabalhista, vamos repelir os
melhores elementos entre os trabalhadores britânicos. Devemos testar isto pela
experiência. Estamos convencidos de que todas as resoluções e decisões que
serão adotadas por nosso Congresso serão publicadas em todos os jornais
revolucionários socialistas britânicos e que todos os ramos e seções serão
capazes de discuti-las. Todo o conteúdo de nossas resoluções mostra com clareza
cristalina que somos representantes das táticas revolucionárias da classe
trabalhadora em todos os países e que nosso objetivo é lutar contra o velho
reformismo e o oportunismo. Os eventos revelam que nossas táticas estão de fato
derrotando o antigo reformismo. Nesse caso, os melhores elementos
revolucionários da classe trabalhadora, que estão insatisfeitos com o lento
progresso que está sendo feito - e o progresso na Grã-Bretanha talvez seja mais
lento do que em outros países - virão todos até nós. O progresso é lento porque
a burguesia britânica está em condições de criar melhores condições para a
aristocracia trabalhista e assim retardar o movimento revolucionário na
Grã-Bretanha. É por isso que os camaradas britânicos devem se esforçar, não
apenas para revolucionar as massas - eles estão fazendo isso esplendidamente
(como o camarada Gallacher demonstrou), mas ao mesmo tempo devem se esforçar
para criar um verdadeiro partido político de classe trabalhadora. O camarada
Gallacher e a camarada Sylvia Pankhurst, que já falaram aqui, ainda não
pertencem a um partido comunista revolucionário. Essa excelente organização
proletária, o movimento dos Shop Stewards, ainda não aderiu a um partido político.
Se você se organizar politicamente, descobrirá que nossas táticas se baseiam
numa compreensão correta dos desenvolvimentos políticos das últimas décadas, e
que um verdadeiro partido revolucionário só pode ser criado quando absorve os
melhores elementos da classe revolucionária e usa todas as oportunidades para
combater os líderes reacionários, onde quer que eles se mostrem. [94].
Com isso temos material
teórico o suficiente que resumem bem a posição do Leninismo em um contexto
próximo do nosso, que serve tanto para casos de ofensivas revolucionárias como
em caso de defensiva proletária (que é o que o Brasil vive), e por meio de
aplicação criativa afirmo que no cenário Bolsonaro contra Lula devemos ajudar
Lula. Como no cenário burguesia contra czarismo, ou Henderson contra Churchill.
As referências acima servem para saber como agir diante da eleição em 2022 ou
em qualquer uma com cenário semelhante. É importante lembrar que esta é uma
eleição apenas formalmente com segundo turno, há uma polarização que se reflete
nas redes e nas pesquisas que inviabiliza os ganhos de se disputar eleição com
candidaturas pequenas como os comunistas do Brasil estão em partes pretendendo
fazer. Ademais, se se considera Bolsonaro um fascista, não há outra alternativa
a não ser derrubá-lo em aliança com as forças democráticas, e impedir que ele
se torne um fascista governando uma ditadura a seu serviço, que sempre fora seu
plano.
Nada disso significa abrir mão do programa
revolucionário ou aderir ao reboquismo. Ninguém em sã consciência
prega adesão acrítica ao petismo ou qualquer força que possa vencer nas urnas
Bolsonaro. Também não fazemos nesta empreitada uma defesa do programa petista.
Na prática, sim, significa abrir mão do programa
revolucionário a não ser como retórica.
O livro "esquerdismo
doença infantil do comunismo" e o livro "os comunistas nas
eleições" são apenas resumos que nos auxiliam no momento a seguir em
frente no cenário que vivemos. Resumindo o raciocínio geral de Lênin: O
Programa do inimigo secundário pode variar, para mais ou para menos a esquerda,
mas se o inimigo é secundário, numa eleição direta contra o representante do
inimigo principal, apoia-se o secundário. Discutir o programa dos reformistas
para questão do apoio não é tão relevante, chegando a ser quase irrelevante por
uma razão: tanto reformas quanto revoluções precisam de poder militar-popular
para serem aplicadas, por isto, na falta de poder de fogo para realização do
projeto, haverá capitulação ou golpe contra o grupo em questão. É certo que sem
poder de fogo nas mãos, de apoio militar-popular, quem chegar ao governo será
consumido por duas posturas: a capitulação ou deposição por meio de um golpe. A
lição que se impõe, no entanto, reside justamente na agressão que o inimigo
principal causará ao trabalhador em proporção, e não importa o que se diga,
Bolsonaro é comprovadamente mais agressor que Lula, isso é fato público e
notório. Mesmo que Lula fale, por exemplo, em transformar a caixa
econômica federal em empresa de economia mista, cabe lembrar que guedes quer a
caixa econômica totalmente privada.
O que tem ocorrido é que Lula está falando nisso
como preparação para a privatização, AGINDO COMO APOIADOR INDIRETO DE BOLSONARO
E GUEDES. Ele tem feito esse papel muito bem. Lula prosseguirá nesse programa.
Por que devemos apoiar?
Sobre a capitulação do programa de Lula, ou de
qualquer programa reformista, é necessário algumas ponderações:
A “Carta ao povo Brasileiro”,
que hoje é constantemente um sinônimo de capitulação, sempre será escrita
enquanto os que chegarem ao governo não acumularem forças o suficiente para
barrar os inimigos principais do Brasil e, portanto, chegarem ao poder de fato.
Resumindo, chegar ao governo não é o mesmo que chegar ao poder, e fora do
poder, tudo é ilusão, como diria Lênin.
Quem são os principais
inimigos do povo brasileiro e dos revolucionários?
Reitaramos: as cúpulas de
liderança hegemônica dos militares, do judiciário, do latifúndio, e, por fim,
do mercado financeiro.
Sobre o poder, um exemplo recente de alguém
que chegou ao governo, mas não ao poder é nosso vizinho Pedro Castillo.
Infelizmente, Castillo foi saudado e muito comemorado pela esquerda como algo
que iria para além da social-democracia, ou do lulismo e agora todos sabem que
nada disso é verdade. Castillo é a prova viva de que não basta chegar ao
Governo, é necessário chegar ao poder. O Governo Castillo, que pode cair a
qualquer momento, não controla minimamente o parlamento e as demais forças
sociais do país, e também não tem um apoio popular-militar profundo. Castillo
chegou ao governo com ajuda de um partido até certo ponto
"leninista", depois disso, foi obrigado, para manter o pouco poder, a
ceder e abrir mão da carta programática do partido que o elegeu. Embora eu não
seja do grupo que defende o boicote eleitoral, tenho como certo que ninguém
fará a diferença sem poder de fogo nas mãos: porque para dar um passo real, é
preciso ter força. Para cumprir uma tática, é preciso prescrever com quais
forças ela se fará, é necessário treino, formação ideológica e física, do
contrário, é impossível não ficar resumido aos termos de Marx: “a uma dúzia de
programas” e ideais que exigem muito poder para serem viabilizados.
A história está cheia de
exemplos que nos mostram ou a relativização de programas, a famosa capitulação,
ou a derrota mesmo por meio de um golpe, que acontece sempre quando os
governantes não tem de fato poder nas mãos para mudanças radicais e nem apoio maciço
para tal. O que todos chamam no petismo de capitulação na verdade se trata de
uma questão óbvia dada a correlação de forças. Desde que o partido foi criado,
nunca foi construída a força necessária para cumprir partes do próprio programa
do partido, como, por exemplo: a reforma agrária. Talvez por uma questão de
influência da ideologia burguesa? Sim, também, mas, em suma, por aqui,
diferente da Venezuela, não há muitas provas de apoio militar ao governo de
LULA, e sem este tipo de apoio não se pode avançar de fato e isto é válido para
qualquer projeto político.
Uma outra situação
interessante a se avaliar, aconteceu antes, no final da década de 1940 e antes
em 1935, o movimento comunista nacional de diferentes formas foi derrotado por
não acumular força. Em 1935 o levante não conseguiu realizar o cercamento das
principais forças do governo Vargas, nem se aliar com os setores progressistas
internos que almejavam a queda de Vargas. Em 1947 a situação foi diversa, o
Partido Comunista do Brasil alcançou enorme inserção no seio do povo brasileiro
sob a legalidade. Mais de 200 mil filiados, grande peso na intelectualidade, e
grandes bancadas no legislativo, impressionantes trabalhos em centros
operários. Tudo isto foi, do dia para a noite, por água abaixo no golpe de
Gaspar Dutra. Sem preparar-se seriamente, os comunistas foram parados pelo
general Gaspar Dutra. As organizações comunistas do período e militantes
progressistas próximos, não foram preparados pela direção do partido para
combater e foram massacrados — preparação que, atualmente, não é cogitada pelas
enormes dificuldades do presente. Os reacionários e o poder burguês não é do
tipo que deixa para o futuro o que pode liquidar imediatamente, esta é uma
lição que deve ser aprendida por todos nós.
Não estou equiparando o reformismo e os
revolucionários em termos de ideias, estou apenas dizendo qual a consequência
lógica da falta de força e poder para derrotar um inimigo em todas as esferas:
a capitulação (a carta ao povo brasileiro) ou a derrota (o fracasso do legítimo
e necessário levante de 1935 e a infeliz derrota contra Gaspar Dutra em 1947).
Em ambos os casos, por diferentes razões obviamente, faltou poder para
implantação de um projeto. E não adianta fazer uma análise moral dos fatos,
para se apresentar como alternativa, o verdadeiro revolucionário reconhece a
força do inimigo e seus limites. Atualmente, a força do latifúndio, que é terra
sem lei, dos militares, do mercado financeiro e do judiciário, é bastante
articulada: todos vão entregar cedo ou tarde seu apoio a bolsonaro, podem até
se manifestar e prender um bolsonarista aqui, outro ali, reclamar que eles não
sabem usar talheres, mas não vão apostar num ex-metalúrgico que já deitou
debaixo de tratores e já perdeu o dedo em acidente de trabalho, por mais
experiência em capitulação que ele tenha ou demonstre.
A derrota destes setores, pode
ser feita, mas não é possível na ordem do dia e acontecerá quando, no futuro,
qualquer grupo revolucionário conseguir recursos, e tiver um setor de inteligência
com coragem para acumular as forças necessárias, nas sombras, e treinar
arduamente para superar o inimigo em todas as esferas. A meu ver os primeiros a
serem derrotados e cercados devem ser os setores armados, públicos e privados.
A derrota destes faria os demais capitularem, exceto o mercado financeiro que
fugiria. Agora como derrotá-los? Eu só vejo poucas alternativas, fazer a
inversão do plano lyote[95] que se traduz na plantação de sementes no interior
desses grupos para que se tornem árvores boas daqui um tempo, e, paralelamente,
construir sorrateiramente força equivalente militar, humana, política,
jurídica, econômica e etc.
Mas, tudo isto ficará mais
difícil de se alcançar com bolsonaro no poder e, por isto, ainda que não seja o
meu projeto, ou o projeto de um mundo emancipado, faz parte dele o apoio ao
Lula este ano.
Mesmo que Lula não recupere
muitos dos feitos bolsonaristas, é certo que ele não vai continuar o
bolsonarismo e o modelo anterior de governo é a evidência que o prova. E não bastará
ter de defende-lo nesta eleição, será necessário cobrar e pressionar o
cumprimento de medidas que melhorem o país, mas, ao mesmo tempo, defende-lo da
tentativa de golpes advindos dos inimigos principais.
Por conseguinte, uma vez que o inimigo secundário
sai vitorioso totalmente, e desde que o inimigo principal (o bolsonarismo, o
mercado financeiro, o latifundio, o judiciário e os militares) esteja derrotado
ou muito enfraquecido, neste contexto hipotético, seria um erro não derrotar o
novo inimigo: o antigo inimigo secundário que se tornou principal por força da
luta dialética de classes.
No entanto, é fundamental para todos nós
denunciarmos o fato: o PT teve todo o período de pandemia para contratar uma
assessoria que aumentasse sua participação em redes e atacar o coração do
bolsonarismo: os mais de 600.000 mortos, e a tentativa bolsonarista de lucrar
em cima das mortes por COVID com a super faturação por meio da vacina indiana,
algo ultrajante que nem Paulo Maluf ousou fazer. No entanto, nada disso foi
feito. O Petismo se acomodou com o resultado das pesquisas, e com a nostalgia
dos tempos de LULA, e agora segue se arriscando de perder a eleição.
É preciso em caso de vitória
do Lula, criar mecanismos que cobrem o resultado programático de reformas sobre
as ações de Temer e Bolsonaro, sem, no entanto, querer derrubar o governo e
conciliar com os interesses militares, do latifúndio e do mercado financeiro,
pelo menos até que estes inimigos estejam depostos. Infelizmente, mesmo em caso
de vitória do LULA, insisto em repetir, ele terá um governo frágil, que terá de
ser defendido diante destes ataques vindo da classe burguesa: os militares, o
judiciário, a imprensa, o latifúndio e o mercado financeiro, porque não podemos
repetir 2016, sob hipótese alguma.
A queda de Bolsonaro e do
Bolsonarismo é uma condição de sobrevivência. Não há como falar em reconstrução
do movimento revolucionário, reconstrução de um partido comunista
revolucionário, se este mal não for ao menos enfraquecido. Estes passos
descritos acima, apesar de inconclusivos, são os possíveis nortes táticos
necessários e recuados que possibilitarão muitos passos adiante. Ou
enfraquecemos o bolsonarismo, ou o Brasil em breve se tornará o elo mais
destruído pelo sistema imperialista mundial e, neste cenário, ficará muito mais
difícil criar a força revolucionária real.
Devemos crer nas promessas de
Lula sobre a reforma trabalhista, e todas as demais?
Não exatamente. Lula fará o
que sua força real, seu poder de fato, permitirem, e com um congresso cada vez
mais reacionário, com forças do mercado financeiro, agronegócio e latifúndio
lhe rangendo os dentes, com militares e um vice proto-golpista louco para
assumir, é improvável que ele consiga governar. No entanto, Lênin quando
recomendava o voto em Henderson não tinha intenções reais de promover seu
programa e suas ideias, nem que ele solucionasse os problemas. Ele queria, além
de facilitar o trabalho do partido comunista britânico colocando alguém um
pouco mais conciliador, fazer com que as massas perdessem aos poucos sua ilusão
com o reformismo porque ele sabia que os erros de Henderson permitiriam isso.
Portanto, duas eram as funções: a primeira colocar um governo menos nocivo ao
partido, as massas, e a segunda colocar um governo que, com seu verniz de
esquerda reformista, tirasse das massas a ilusão do reformismo. As
citações anteriores a obra esquerdismo demonstram isto com toda a clareza.
Na prática, você alinhava citações revolucionárias,
mas repõe todas as ilusões reformistas e eleitorais e depois quer que as massas
desistam delas...por mágica???
Desde o título você parece convencido que cabe a nós
escolher o presidente, se Lula ou Bolsonaro. Hora, hora, cabe é à burguesia
esta escolha na democracia burguesa, cabe muito pouco a nós. E ela tem toda uma
conjuntura a favor dela: imperialismo americano, judiciário, latifúndio,
monopólios de comunicação, funcionários da “segurança pública” (exército e PMs)
estão bem alinhados e nessas estruturas a esquerda é praticamente
insignificante, para ganhar espaços nelas há muitos obstáculos, a direita
praticamente aparelhou-os todos. A nós, que escolhemos boicotar, ao que
escolhemos pequenas candidaturas como as do PCB, fica cabendo o papel de
apoiadores indiretos de Bolsonaro, ENQUANTO O PAPEL DO PT DE RETROALIMENTAR
BOLSONARO É MUITO MINIMIZADO.
Não é preciso ter bola de cristal para saber que um novo
governo do PT, não seria recebido pela extrema-direita como derrota moral e sim
assanharia seus militantes armados para a violência da mesma forma como a
derrota de Trump fez com que o Pentágono fosse invadido e um banho de sangue
ocorresse. O novo governo do PT não fará as reformas e sim aplicará neoliberalismo,
ao mesmo tempo em que atiçará contra a esquerda essas hordas fascistas armadas.
A Direita no mundo tem combatido a esquerda
reformista com força, tem aproveitado também para combater a esquerda
revolucionária, afirmando que os reformistas são Inrrustidos revolucionários
que a qualquer momento vão se revelar. O Fato de afirmarem no Brasil que
o PT é comunista, não é uma coincidência é uma forma de combater de um só golpe
todos os inimigos.
Tem também sido uma forma muito boa para o PT de
esconder a repressão, conciliação e privatizações que ele pratica. Como te
disse, o bolsonarismo retroalimenta o PT. Ele não preocupa-se ativamente em
desmentir isso, pelo contrário, capricha no berreiro de esquerda, enquanto bota
ovos para a direita.
A amplitude das chamadas
frentes depende da amplitude revolucionária popular. Quanto maior a amplitude
revolucionária popular, menor a amplitude das frentes e alianças. Quanto mais a
consciência de classe, menor é a frente a ser estabelecida. Quanto maior o poder
militar do povo, menor é a frente a ser estabelecida. Sem resolver estas
pendências a esquerda que lutar pelo voto nulo, boicote eleitoral, estará
necessariamente apoiando a reeleição de Bolsonaro.
Bolsonaro procura meios de instalar um golpe
militar no Brasil e revogar as eleições deste ano. A nossa democracia burguesa
está tão frágil quanto as democracias burguesas da década de 1930 golpeadas das
pelo nazismo. Os partidos comunistas não possuem força sobre as massas, força
militar e institucional para conter uma união de todos os setores da burguesia.
O Golpe Bolsonarista é uma possibilidade na ordem do dia, lembremos que o Clube
militar, cuja composição é formada por militares da reserva e aposentados,
apoia integralmente Bolsonaro, e algumas de suas ideias reverberam nas forças
atuantes hoje. O Caso Daniel Silveira demonstrou isto. E atualmente a
declaração de Braga Neto nos demonstra a mesma coisa.
Portanto, Bolsonaro deve ser combatido em
todos os meios possíveis: eleitoralmente por meio do apoio ao candidato mais
forte: lula, negociando em troca do apoio postos institucionais, mas,
principalmente, negociar espaços nos sindicatos do pt, chamar manifestações e
greves nos sindicatos dominados pelo petismo, que possuem força para chamar uma
greve geral. Ao contrário disso o que tem feito a esquerda? Tem apoiado
Bolsonaro indiretamente, ou pela tática de boicote ou pelo lançamento de
candidaturas inexpressivas. Não devemos reduzir o petismo a uma falsa
equivalência contra o Bolsonarismo, este tem sido um fator decisivo a guiar a
esquerda no caminho esquerdista, como diria Lênin. Na verdade, a diferença de
Bolsonaro para Lula está evidente: Bolsonaro não tentará a conciliação de
classes! Ele simplesmente governará para uma classe só. Isto, além de mais
nocivo aos trabalhadores, o é para os comunistas também. Quanto as questões
teóricas que norteiam o raciocínio desta inclinação tática: ela está
extremamente fundamentada nas citações anteriores. E, infelizmente,
gostem ou não, não existe outra interpretação possível para nosso cenário:
quem não concorda com a tática proposta, no futuro será lembrado como
apoiador indireto do pior governo que este país já teve em toda sua história.
Podemos também acusar o PT de fazer isso, apoiar
Bolsonaro indiretamente, quando, por exemplo, desmobilizaram as manifestações
do Fora Bolsonaro e seus parlamentares não assinaram seu pedido de impeachment.
Você alinhava muita citação revolucionária, mas a análise
da conjuntura deixa muito a desejar. Você saiu do PT, mas o PT não saiu de
você.
Muitas citações revolucionárias não fazem com que seu
pensamento tenha efetivamente superado a linha de pensamento do PT, que
sobrenada Lênin, Mao, etc. Elas acabam fazendo o papel de glacê, por baixo você
prossegue com o pior da prática/teórica do PT.
Esse
pensamento pernicioso possibilitou, por exemplo, que a militância petista
investisse ameaçando agredir e até matar Rita Von Hunty, professora que
declarou voto no PCB no primeiro turno.
Sua
linha de raciocínio volta-se fortemente contra a esquerda que não concorda com
o hegemonismo do PT, alimenta a tensão dentro da própria esquerda, o que divide
e causa dissensões entre nós. O combate contra a esquerda antipetista ganha
incrível destaque, é ressaltada mais do que o combate ao bolsonarismo e ao
petismo, que sempre são postos em campos opostos, não são vistos como
participantes do mesmo sistema político.
A
denúncia do papel repressor do governo PT no campo, com sua aliança com
latifundiários predatórios, por exemplo, foi totalmente posta de lado.
[1] Compilado de notícias
sobre o assunto, pode ser visto em
https://www.google.com/search?q=nestor+forster+visita+biden&oq=nestor+forster+visita+biden&aqs=chrome..69i57j33i160.11724j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8
[2] Compilado de Notícias
sobre o assunto pode ser visto em:
<https://www.google.com/search?q=nestor+forster+recomenda+bolsonaro+que+n%C3%A3o+reconhe%C3%A7a+biden&oq=nestor+forster+recomenda+bolsonaro+que+n%C3%A3o+reconhe%C3%A7a+biden&aqs=chrome.0.69i59.11239j0j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8>
[3] Sobre Thomas Shanon, ver:
https://www.poder360.com.br/lava-jato/ex-embaixador-mostra-visao-dos-eua-sobre-lava-jato-e-projeto-de-poder-do-pt/.
[4] Compilado de Notícias
sobre o asunto pode ser visto em: <https://www.google.com/search?q=eduardo+bolsonaro+ucrania&ei=CyJbYtjGI7vD5OUPzLSgwAw&ved=0ahUKEwiY-PShsZn3AhW7IbkGHUwaCMgQ4dUDCA4&uact=5&oq=eduardo+bolsonaro+ucrania&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAMyBQgAEIAEOgsIABCABBCxAxCDAToECC4QQzoLCC4QgAQQxwEQowI6CAgAEIAEELEDOg4ILhCABBDHARCjAhDUAjoRCC4QgAQQsQMQxwEQ0QMQ1AI6BAgAEEM6BwguELEDEEM6CwguEIAEELEDENQCOggILhCABBCxAzoLCC4QgAQQsQMQgwE6BQguEIAEOgsILhCABBDHARCvAToGCAAQFhAeSgQIQRgBSgQIRhgAULcFWLMjYPgkaANwAHgAgAGMAYgByRaSAQQxLjI0mAEAoAEBwAEB&sclient=gws-wiz>
[5] Ligação de Sanders, na
época em que Sanders já estava com os democratas, com Boulos: <
https://revistaforum.com.br/global/2020/2/2/boulos-comemora-favoritismo-de-sanders-um-socialista-no-corao-do-imperio-68499.html
>. Soros liga os democratas a Hadddad:
https://www.reddit.com/r/brasilivre/comments/adxdn2/haddad_george_soros_%C3%A9_um_megainvestidor/
[6] MARX, K. O CAPITAL. São
Paulo: BOITEMPO, 2012. Pag 130. Disponível em:
https://elahp.com.br/download/marx-karl-o-capital-vol-i-boitempo/.
[7] Sobre o racha na família
itaú, ver: https://tribunahoje.com/noticias/politica/2022/04/14/101606-itau-unibanco-racha-e-metade-apoia-lula-metade-apoia-bolsonar
[8] Sobre o apoio a HADDAD em
2018, ver: <item anterior>
[9] Sobre a política
desastrosa de bolsonaro com a petrobras ver: < https://www.aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/7641-precos-dos-combustiveis-continuam-sendo-os-viloes-da-inflacao
>
[10] Cassação de Arthur do
Val,
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/04/13/interna_politica,1359591/aprovada-a-cassacao-de-arthur-do-val.shtml.
[11] Sobre os diferentes
setores da Burguesia, ver: <
http://www.commonprogram.science/documents/The%20National%20Bourgeoisie%20in%20the%20Chinese%20Revolution.pdf>
[12] Otto von Bismarck, o
estadista prussiano do século XIX, de bigode espesso, é mais conhecido por sua
busca pela unidade alemã. Mas sua criação do primeiro estado de bem-estar do
mundo é um legado igualmente notável.
Ironicamente, foi o medo do
socialismo que o fez fazer isso. Especificamente, Bismarck estava preocupado
com o crescente poder de um movimento operário liderado pelo Partido Social
Democrata, que ele rotulou de reichsfeinde, ou inimigos do império.Sun Yat-Sem
nos conta essa história brilhantemente: O socialismo sempre foi originariamente
ligado estreitamente à democracia e ambos se desenvolveram simultaneamente.
Mas, por que as ideias democráticas na Europa provocaram as revoluções
democráticas, enquanto que a propagação das teorias socialistas não provocara
revoluções econômicas? Porque o nascimento do socialismo, na Alemanha,
coincidiu com o regime de Bismarck. Outros estadistas certamente empregariam a
força política para esmagar o socialismo, porém Bismarck escolheu outros
métodos, ele sabia que o povo alemão era esclarecido e que as organizações
trabalhistas haviam sido firmemente estabelecidas. Se tentasse a supressão do
socialismo pela força política, agiria em vão. Bismarck já se manifestara a
favor do exercício do controle absoluto por parte de uma autoridade
centralizada. Quais os métodos que empregou para tratar com os socialistas? O
Partido Socialista advogava reformas sociais e a revolução econômica. Bismarck
sabia que não podiam ser suprimidas mediante a força política, e, assim, pôs em
efeito uma espécie de socialismo de Estado como um antídoto contra o programa
dos socialistas marxistas. As estradas de ferro, por exemplo, são um meio vital
de comunicações e uma indústria fundamental em qualquer nação, essencial para o
desenvolvimento de outras indústrias. Antes da construção da Estrada de Ferro
Tientsin-Pukow, Chihli, Shan-tung e o Norte do Kiangsu eram regiões
extremamente pobres. Depois da construção dessa ferrovia, as regiões ao longo
de seu leito tornaram-se muito produtivas. Antes da construção da Estrada de
Ferro Peiping-Hankow, Chihli, Hupeh e Honan eram regiões estéreis, porém,
depois da construção da estrada, essas províncias tornaram-se bastante
prósperas. No tempo em que Bismarck tomou as rédeas do governo na Alemanha, a
maior parte das estradas de ferro da Grã-Bretanha e da França eram de propriedade
da classe abastada, todas as indústrias da nação tornaram-se monopólio da
classe privilegiada, e começaram a aparecer os inúmeros males decorrentes de
uma distribuição desigual da riqueza. Bismarck não quis que tais condições
surgissem na Alemanha, e, assim, pôs em prática um socialismo de Estado.
Colocou todas as estradas de ferro do país sob a posse e controle do Estado e
todas as indústrias sob a administração do Estado. Fixou as horas de trabalho e
estabeleceu pensões para a velhice e seguros de acidentes no trabalho. Essas
medidas figuravam nos programas de reforma, que o Partido Socialista estava
tentando executar. Bismarck, com sua grande visão, tomou a dianteira e empregou
o poder do Estado para executá-las. Além do mais, empregou os lucros das
estradas de ferro, bancos e outras empresas exploradas pelo Estado para a
proteção dos trabalhadores, o que naturalmente os contentou. Antes disso, todos
os anos, várias centenas de trabalhadores costumavam emigrar da Alemanha,
porém, depois que a política econômica de Bismarck foi posta em prática, não só
deixaram os trabalhadores alemães de emigrar como também grande número de
operários de outros países passaram a imigrar para a Alemanha. Bismarck
enfrentou o socialismo, antecipando-o e tomando precauções contra ele, em vez
de desferir um ataque frontal. Por meios invisíveis, provocou a dissolução das
questões pelas quais o povo estava lutando. Quando não havia mais nada por que
o povo lutar, as revoluções deixaram de irromper. Esse foi o método ardiloso pelo
qual Bismarck resistiu à democracia. [1] A principal obra de Sun Yat-sem,
contendo todos os principais princípios, fora publicada pela lendária e saudosa
editora Calvino, que aqui referenciamos na tradução feita diretamente do
original chinês: YAT-SEN, Sun. Princípios do povo. Rio de Janeiro: Editorial
Calvino Limitada, 1944. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/sun-yat-sen/1924/03/index.htm. Acesso em: 18
nov. 2019.
[13] MARX, K; F. Miséria da
Filosofia. Disponível em< https://www.gepec.ufscar.br/publicacoes/livros-e-colecoes/marx-e-engels/a-miseria-da-filosofia.pdf/view
>
[14] Idem. Ibidem.
[15] Sobre a autofobia na
esquerda ver Losurdo em:<
https://www.marxists.org/portugues/losurdo/2017/04/06.htm>. Sobre a produção
de Emoções e a classe dominante ver:
https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/31615/losurdo-producao-das-emocoes-e-novo-estagio-do-controle-da-classe-dominante
[16] MARX,K; ENGELS, F. O
Manifesto do Partido Comunista. Pag. 20. Disponível em:
https://www.portalabel.org.br/images/pdfs/manifesto-comunista.pdf
[17] CLAUDIN, Fernando. Marx y
la Revolución de 1848. Siglo Veintiuno, 1985.PAG. 36.
[18] IDEM. PAG. 38.
[19] IDEM. PAG. 81.
[20] BUONICORE, A. Marx e
Engels e a revolução de 1848. Pag. 20. Disponível em: https://vermelho.org.br/2018/02/09/marx-e-engels-e-a-revolucao-alema-de-1848.
[21] CLAUDIN, Fernando. Marx y
la Revolución de 1848. Siglo Veintiuno, 1985.PAG. 190.
[22] MARX, K; ENGELS; F. Obras
Escolhidas. Volume 3. São Paulo Editora Alfa Ômega. Pag. 146.
[23] Não se pode mais ter
dúvidas quanto ao fascismo de Bolsonaro:
http://institutobrasilisrael.org/noticias/noticias/no-inicio-ficavamos-chocados-e-indignados;
https://www.brasildefato.com.br/2021/08/17/vinculo-de-bolsonaro-com-neonazismo-e-claro-e-concreto-diz-professora-que-achou-carta-em-site;
https://br.noticias.yahoo.com/bolsonaro-ja-citou-parente-que-lutou-por-hitler-apos-encontro-com-nazista-web-retoma-o-video-152334918.html;
https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/onze-vezes-em-que-o-bolsonarismo-flertou-com-o-nazismo/;
https://theintercept.com/2021/07/28/carta-bolsonaro-neonazismo/;
[24] LÊNIN, I. Esquerdismo
Doença Infantil do Comunismo. Disponível em:
<https://pcb.org.br/portal/docs/esquerdismo.pdf>
[25] IDEM.
[26] Idem.
[27] Idem.
[28] IDEM.
[29] LÊNIN, I. O
Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia. Disponível em:
<https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1899/dcr8iii/iii8ii.htm>
[30] LÊNIN, I. Draft Theses on National and
Colonial Questions For The Second Congress Of The Communist International:
https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1920/jun/05.htm
[31] STÁLIN, J. Revolução
Chinesa e Tarefas da Internacional Comunista. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/stalin/1927/05/24.htm
[32] LÊNIN, V, I. Draft
Decision of the Politbureau of the C.C., R.C.P.(B.) on the Tactics of the
United Front. Acesso em 15 de maio de 2020. Disponível no site:
<https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1921/dec/01b.htm>
[33] Idem. Ibidem.
[34] Idem. Ibidem.
[35] Idem. Ibidem.
[36] Idem. Ibidem.
[37] Idem. Ibidem.
[38] Camarada Zinoviev, Eu li
o rascunho das teses e não tenho nenhuma objeção. O parágrafo sobre a história
do bolchevismo deve ser amplificado e parcialmente modificado. É incorreto
dizer que houve uma divisão somente em 1910. Deve-se afirmar que as cisões
formais com os MENCHEVIQUES na primavera de 1905 e em janeiro de 1912 se
alternaram com a unidade parcial e a unidade de 1906 e 1907, seguidas da de
1910 não só por causa das vicissitudes da luta, mas também sob a pressão do
posto e do arquivo, que exigiram testes de verificação através de sua própria
experiência. Acho que isto deveria ser declarado mais explícita e concretamente
em uma página. LÊNIN, V, I. Remarks to the Theses on a United Front. Disponível
em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1921/dec/06.htm. Acesso em
março de 2022.
[39] LÊNIN, V, L. Letter to
Members of the Politbureau of the C.C., R.C.P.(B.) with Proposals on The Draft
Directives of the Comintern Executive for the Comintern Delegation to the
Conference of the Three Internationals. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/lenin/1922/mes/frente-unica.htm. Acesso em
21 de Março de 2022.
[40] LÊNIN, V, I. Letter to N.
I. Bukharin and G. Y. Zinoviev. Disponível em: <https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1922/feb/01a.htm>.
Acesso em 20 de março de 2022.
[41] LÊNIN, V, I. Letter to
Members of the Politbureau of the C.C., R.C.P.(B.) with Remarks to The Draft
Resolution for the First Extended Plenary Meeting of the Comintern Executive on
Participation in a Conference of the Three Internationals. Disponível em:
<https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1922/feb/23.htm>. Acesso em
20 de março de 2022.
[42] LÊNIN, V, I. XI Congresso
do PCR(B.).7 de março a 2 de abril de 1922. Proposta ao Projeto de Resolução
sobre o Relatório da Delegação RCP(B.) no Comintern. Disponível em:
https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1922/mar/27a.htm. Acesso em março
de 2022.
[43] Aqui o termo “soviética”
refere-se a órgãos de representação dos trabalhadores ou os conselhos
operários. Trata-se da pressuposição que todo processo revolucionário deve
criar um órgão com função deliberativa dos interesses da classe trabalhadora.
[44] Idem a nota número 37.
[45] Lênin, V, I. NOTES ON THE HISTORY OF THE R.C.P. Disponível
em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1921/dec/01c.htm. Acesso em 9
de outubro.
[46] LÊNIN, I. Os Comunistas e as Eleições.
Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/08/15.htm>
[47] Lênin, V, I. Duas Táticas
da Social-democracia na Revolução Democrática. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/taticas/cap05.htm>. Ver
também Stálin em os fundamentos do Leninismo sobre estratégia e tática.
[48] COSENZA, A. Um Partido
Duas Táticas. Disponível em:
<https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-21082013-111540/pt-br.php>.
[49] Idem. Ibidem.
[50] LÊNIN, V,I. Duas Táticas
Da Social-Democracia Na Revolução Democrática. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/taticas/cap01.htm#i1>
[51] Idem. Ibidem.
[52] Idem. Ibidem.
[53] Idem. Ibidem.
[54] LÊNIN, V,I. Duas Táticas
Da Social-Democracia Na Revolução Democrática. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/taticas/cap01.htm#i1>.
Acesso em 2 de março de 2021.
[55] LÊNIN, V,I. Duas Táticas
Da Social-Democracia Na Revolução Democrática.
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/taticas/cap01.htm#i1>
[56] Idem. Ibidem.
[57]LÊNIN, V,I. Duas Táticas
da Social Democracia na Revolução Democrática. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/taticas/cap04.htm>. Acesso
em 21 de março de 2022.
[58] Idem. Ibidem.
[59] Idem. Ibidem.
[60] Idem. Ibidem.
[61] Idem. Ibidem.
[62] ENGELS, F. Letter to
Filippo Turati In Milan. Acesso em 21 de Março de 2022. Disponível em:
<https://www.marxists.org/archive/marx/works/1894/letters/94_01_26.htm>.
[63]Idem. Ibidem. LÊNIN, V,I.
Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática. Acesso em 25 de
dezembro de 2021. Disponível em:
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/taticas/cap01.htm#i1>.
[64]LÊNIN, V,I. Our Tasks and
the Soviet of Workers’ Deputies. Disponível em: <
https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1905/nov/04b.htm>. Acesso em 25
de dezembro de 2021.
[65]LÊNIN, V,I. Collected
Works.Volume 9. Acesso em 25 de dezembro de 2021. Disponível em:
<https://www.marxists.org/archive/lenin/works/cw/pdf/lenin-cw-vol-09.pdf>.
[66]LÊNIN, V,I. Collected
Works. Volume 10. Acesso em 25 de dezembro de 2021. Disponível em:
<https://www.marxists.org/archive/lenin/works/cw/pdf/lenin-cw-vol-10.pdf>.
[67] LÊNIN, V, I. O objetivo
da luta do proletariado na nossa revolução. Acesso em:
<https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/trotsky/02.htm>.
[68]LÊNIN, V, I. A Revolução
Proletária e o Renegado Kautsky. Acesso em:
<https://www.marxists.org/portugues/lenin/1918/renegado/cap08.htm>.
[69] STÁLIN, J. Fundamentos do Leninismo e em
torno das Questões do Leninismo. Disponível em:
<https://docero.com.br/doc/nn5v1v5>. PAG. 75.
[70] Idem. Ibidem.
[71] Idem. PAG. 16.
[72] Idem. PAG. 73.
[73] Idem. PAG. 77.
[74] Idem. Pag. 64.
[75] DARCY, S. Dimitrov, Stalin e as eleições
presidenciais de 1936 nos Estados Unidos. Disponível em: <
https://www.revolutionarydemocracy.org/rdv9n1/darcy.htm >
[76] Quinto Congresso da
Internacional Comunista:
<https://www.marxists.org/.../documents/volume3-1929-1943.pdf>.
[77] Sobre isso, ver:
https://www.youtube.com/watch?v=2tladb7cdpI
[78] COSENZA, A. Um Partido
Duas Táticas. Disponível em: <
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-21082013-111540/pt-br.php>
[79] BORIS KOVAL, A história do proletariado
brasileiro: 1857 a 1967. São Paulo. Alfa Ômega. Pag. 241.
[80] ZEDONG, M. Selected Works
Volume 6. Disponível em:
https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-6/mswv6_06.htm
[81] ZEDONG, M. Selected Works Volume 1.
Disponível em: <
https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-1/mswv1_14.htm
>.
[82] ZEDONG, M. Selected Works
Volume 1. Pag. 19. Disponível em
https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-1/mswv1_14.htm.
[83] ZEDONG, M. Works Selected
Volume 2: Problemas da Guerra e Estratégia. Disponível:
<https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-2/mswv2_12.htm
>
[84] Idem. Ibidem.
[85] [48] PCCH. THE POLEMIC ON
THE GENERAL LINE OF THE INTERNATIONAL COMMUNIST MOVEMENT. Pag. 19. Disponível
em
<http://web.archive.org/web/20190427202648/http:/marx2mao.com/Other/PGL65.pdf>
[86] ZEDONG, M. Selected Works Volume 2.
Disponível em: https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/sw-in-pdf/sw-flp-1965-v2.pdf
. Pag. 17.
[87] Idem. Pag. 72.
[88] ZEDONG, M. Selected Works
Volume 1. Pag. 268, 269, 276. Disponível em:
https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/sw-in-pdf/sw-flp-1965-v1.pdf
[89] Idem. Pag. 289.
[90] Idem. Pag. 261.
[91] ZEDONG, M. THE QUESTION
OF INDEPENDENCE AND INITIATIVE WITHIN THE UNITED FRONT Disponível em: <
https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-2/mswv2_11.htm>
[92] [55] ZEDONG, M. Works
Selected Volume 2: Problemas da Guerra e Estratégia. Disponível:
https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-2/mswv2_12.htm
.
[93] [56] Harpal BRAR.
Leninismo vs Trotskysmo capitulo sobre a guerrra cvil espanhola.
https://pdfcoffee.com/trotskyism-or-leninism-by-harpal...
[94] [57] “Speech On
Affiliation To The British Labour Party”
https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1920/jul/x03.htm#fw6
[95] Cumpre lembrar o esforço
que o imperialismo fez para manter seus agentes no partido soviético e no
Estado. Isso é demonstrado nas memórias do ex-chefe da 5ª Diretoria do KGB,
General F.D. Bobkov "Como os traidores foram preparados". Bobkov pode
ser compreendido de diferentes maneiras, no entanto, as informações registradas
pelo general são valiosas. Bobkov recordou que os chefes da Lubianka chegaram a
um acordo com os serviços secretos ocidentais para minar o sistema soviético
por dentro. Seu codinome é: Plano Lyote. O conjunto documental que prova atesta
a questão leva o nome do general francês que lutou na Argélia e plantou árvores
nas estradas argelinas para que em décadas crescessem à sombra para os
franceses descansar. No mesmo fundamento, o plano dos imperialistas foi
arquitetado para fertilizar um estrato que atuará com força no momento do golpe
antissoviético. O Ocidente criara um estrato orientado para ele, não só entre a
intelectualidade. E atualmente, esse é o princípio das guerras frias ou
híbridas. O capital mundial estava ciente de que ele e seus cúmplices não
podiam declarar abertamente sua intenção de restaurar o capitalismo. Do
contrário, a sociedade, percebendo a natureza antipopular de suas intenções, os
rejeitaria instantaneamente. A esse respeito, em um memorando secreto da
inteligência americana, a tarefa foi definida para conseguir a restauração do
sistema burguês sob o pretexto de uma luta para melhorar o socialismo.
Portanto, tratava-se de “não apenas pregar o antissoviético e o anticomunismo,
mas também cuidar das mudanças positivas nos países socialistas”. F. D. Bobkov
também escreveu sobre o encontro de delegações de órgãos de segurança do Estado
dos países da comunidade socialista, realizado em Havana em 1974. Segundo ele,
todos ficaram chocados com o discurso do chefe do serviço de contraespionagem
da Tchecoslováquia, Molner. Tendo advertido que “o inimigo está procurando
força dentro de nossos estados”, ele acrescentou que “o perigo real virá quando
as pessoas no poder cooperarem com o inimigo”. Segundo o chefe do serviço de
contraespionagem da Tchecoslováquia, “os métodos de sua reaproximação com o
inimigo podem ser diferentes. Pode ser um desejo de garantias de fortalecimento
da própria posição no poder, uma convicção fraca na cosmovisão socialista”. Por
exemplo, ele lembrou como na Tchecoslováquia, durante o tempo de Dubcek, os
líderes do estado “se cobriram com juramentos de lealdade às ideias de Marx e
Lênin”. Nesse caminho, como sabemos, os inimigos do socialismo em nosso país
fizeram uma ação suja sob o pretexto de se esforçarem para "melhorar"
o sistema soviético. Assim, durante a "perestroika" de Gorbachev, foi
declarada oficialmente a intenção de "renovar" o socialismo, de fazer
a transição para suas formas mais "democráticas". No entanto, sabemos
o que realmente se passava nas mentes de Mikhail Gorbachev, Alexander Yakovlev
e outros. Pelo menos as figuras acima mencionadas afirmaram retrospectivamente
que usaram sua própria filiação ao partido para destruir o sistema socialista
soviético. Discursos demagógicos semelhantes tentaram atrair trabalhadores e
Trotskistas nas décadas de 1920-1930. Em palavras, eles declararam sua intenção
de se opor à suposta “burocratização” e por uma “genuína democracia operária”.
SCARMELOTO, K. A ATUALIDADE DE STÁLIN. CIÊNCIAS REVOLUCIONÁRIAS: SÃO PAULO.
2021. PAG. 69
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