Miguel
Gontijo: Um Amor que Nunca se Acabou
Nesse novembro de 2022, a Escola
Estadual Miguel Gontijo fez setenta e três anos, embora suas atividades tenham
iniciado efetivamente em 15/04/1950. Lembro-me que, quando vim trabalhar em Bom
Despacho em 2001, encontrei o político Hugo Gontijo, filho do construtor do
ginásio e também político. Dr. Miguel Marques Gontijo era médico e foi vice de
Dr. Cisalpino. Em sua homenagem temos o hospital, o colégio Miguel Gontijo e
uma rua.
Eu e Hugo Gontijo fomos tomar uma
cerveja no que eram, então, o bar e sebo Sabor e Saber, cantinho da
Roberta do professor Tadeu (que falta que faz!). A cidade continua sem ter um
espaço semelhante, aberto para música, artistas locais, livros. Eu cheguei a
dar uma palestra sobre tropicalismo lá, passando cenas de um especial de
Caetano Veloso na Rede Manchete em 93 (quando ele fez cinquenta anos),
com cenas do musical Opinião com Maria Betânia, etc.
Quando
contei que era da área de Letras e Filosofia, ele contou-me que redigiu a letra
de uma música junto ao um compositor. E ele passou a recitar a canção para mim.
Eu vivia o fim de um amor com a hoje minha amiga Luciene Guimarães e fiquei
profundamente emocionado. A canção falava de um brinde com copos de vinho e
outras imagens muito bonitas. Ela me lembrava Flor de Lis do Djavan: “E
foi assim que eu vi o nosso amor na poeira...poeira. Morto na beleza fria de
Maria...e o meu jardim da vida, ressecou, morreu. Do pé que brotou Maria, nem
Margarida nasceu”. E de repente, ao terminar de recitar, Hugo perguntou-me:
“qual o nome que você dá para essa canção”? Eu pensei e disse: “Um Amor que Se
Acabou”. Pasmo, Hugo ficou calado alguns momentos e respondeu: “mas esse é o
nome dela...”
Não muito tempo depois, esse outro
Gontijo perdeu uma filha pequena em circunstâncias trágicas, entrou em
depressão e deixou-se morrer.
Naquele
tempo em que trabalhei na Escola Estadual Miguel Gontijo, a sombra de um outro
grande professor de Filosofia ainda pairava lá: a do professor “Coió”. O
professor, muito culto, virou folclore. Na época em que a informação era
restrita, o professor de Filosofia trazia para a sala de aula jornais em inglês
e em francês. Curiosamente, eu também lembro desses jornais, tais como New
York Times, Le Monde, bastante caros, eram embrulhados em plástico e
eles para mim eram vistos um como objeto de desejo em livrarias chiques da
Savassi em Belo Horizonte. Esse tempo, o vento levou!
O vento levou também o professor
Coió. Anos depois, tive a honra de lecionar ao lado de seu filho, um professor
de Português morto muito prematuramente, para tristeza de todos. “Coió”, como o
professor Majela, deixou muitas memórias e virou folclore, por assim dizer.
Minha mãe tem grande carinho, ainda pelo professor Magela. Meu pai também
repete histórias a seu respeito, um verdadeiro mito. Meu primo Roberto Queiroz
lembra de histórias muito curiosas sobre “Coió”. O grande mestre não enxergava
bem. E, sabendo disso, os alunos colocaram uma bola com boné no fundo da sala.
O professor de Filosofia aproximou-se e leu um sermão para o aluno (contra o
uso do boné), mas de repente viu que estava enganado e eram as famosas palavras
ao léu. Roberto contou-me também que pegou carona em seu velho carro. Lá dentro,
como o professor entretinha-se com uma fazenda, havia também terra e até uma
plantinha brotando, já com ramos verdes, ao pé do banco de trás, o que tornava
o ambiente do carro do professor um aspecto um tanto quanto surrealista.
Em criança, eu brinquei na praça do
Miguel Gontijo nos fins de semana. As praças da cidade tinham brinquedos que
rodavam, escorregadores, jardins com espaço de areia onde as crianças
brincavam. Onde há aquela curiosa “corcova” na praça da escola Miguel Gontijo
havia um jardim de areia onde fazíamos castelos, etc. Nessa época, para vocês
terem ideia, fascinavam-me os trilhos da estrada de ferro atrás da rodoviária
que ainda, muitos anos depois dela desativada, ainda estavam ali. E a
rodoviária era aquele pequeno prédio antigo onde estava a sede da Assem.
Segundo o diretor Ronaldo Lúcio, a
Escola Estadual Miguel Gontijo foi construída graças aos praças do quinto
batalhão, o “Machado de Prata” atuou ali também, ajudou a construir pedra por
pedra o sonho do ginásio realizado pelo Dr. Hugo Gontijo (ele era médico).
Uma vez encerrada a fase na UNIPAC,
passei a trabalhar em escolas locais, esporadicamente, até conseguir a
efetivação na Escola Wilson Lopes do Couto. Gostei muito da experiência na
escola Miguel Gontijo. A equipe do Miguel Gontijo teve um grande papel na
consolidação da universidade local: grandes professores saíram dessa escola,
bem como Samira Araújo, que atuou nos dois ambientes, tais como também a Vera
do Azul, o competentíssimo Jackson e muitos mais. E o Miguel Gontijo, continua,
com o tempo integral, na vanguarda da educação em nossa cidade.
Parabéns à Escola Miguel Gontijo e a
toda equipe pelos 73 anos! Que esse amor, que reencontrei no filho de Dr. Hugo
Gontijo, nunca se acabe!
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