terça-feira, 21 de maio de 2024

Karl Marx: "Símon Bolívar"

Karl Marx: "Símon Bolívar" Simón, o “Libertador” da Colômbia nasceu em 24 de julho de 1783 em Caracas e morreu em San Pedro, perto de Santa Marta, em 17 de dezembro de 1830. Descendia de uma das famílias mantuanas, que na época da dominação espanhola constituíam a nobreza criolla na Venezuela. Conforme um costume dos americanos abastados da época, foi enviado para a Europa com a tenra idade de 14 anos. Da Espanha passou para a França e residiu durante alguns anos em Paris. Em 1802 casou-se em Madri e regressou à Venezuela, onde sua esposa faleceu repentinamente de febre amarela. Depois desse acontecimento, transferiu-se em seguida, pela segunda vez, para a Europa e assistiu em 1804 a coroação de Napoleão como imperador, também estando presente quando Bonaparte cingiu a coroa de ferro da Lombardia. Em 1809 retomou à sua pátria, e apesar das insistências de seu primo José Félix Ribas, recusou-se a aderir à revolução que estoura em Caracas a 19 de abril de 1810. Porém, posteriormente a este acontecimento, aceitou a missão de ir à Londres para comprar armas e negociar a proteção do governo britânico. O Marquês de Wellesley, na época Ministro das Relações Exteriores, aparentemente lhe deu boa acolhida, mas Bolívar não obteve mais que a autorização de exportar armas pagando à vista e pagando pesados tributos. Quando regressou de Londres, retirou-se para a vida privada, até que em setembro de 1811 o general Miranda, então comandante em chefe das forças insurretas de mar e terra, persuadiu-o a aceitar o posto de tenente-coronel no Estado-Maior e o comando de Puerto Cabello, a principal praça forte da Venezuela. Quando os prisioneiros de guerra espanhóis, que Miranda enviava regularmente a Puerto Cabello para mantê-los presos na cidadela, conseguiram atacar de surpresa a guarda e a dominaram, apoderando-se da cidadela, Bolívar, embora os espanhóis estivessem desarmados, enquanto ele dispunha de uma forte guarnição e de um grande arsenal, embarcou precipitadamente à noite com oito dos seus oficiais, sem informar o que ocorria às suas próprias tropas, chegou ao amanhecer a La Guaira, e de lá se retirou para a sua fazenda de San Mateo. Quando a guarnição se inteirou da fuga do seu comandante, abandonou ordenadamente a praça, que foi logo ocupada pelos espanhóis sob o comando de Monteverde. Este acontecimento inclinou a balança a favor da Espanha e forçou Miranda a subscrever a 26 de julho de 1812, por incumbência do Congresso, o tratado de La Victoria, que submeteu novamente a Venezuela ao domínio espanhol. Em 30 de julho chegou Miranda a La Guaira, com a intenção de embarcar num navio inglês. Enquanto visita o coronel Manuel Maria Casas, comandante da praça, encontrou-se com um numeroso grupo, no qual estavam dom Miguel Pefía e Simón Bolívar, que o convenceram a ficar, pelo menos uma noite, na residência de Casas. As duas da madrugada, encontrando-se Miranda dormindo profundamente, Casas, Pefía e Bolívar se introduziram em seu quarto com quatro soldados armados, se apoderaram precavidamente de sua espada e de sua pistola, despertaram-no rudemente, ordenando-lhe que se levantasse e se vestisse, após o que foi agrilhoado e entregue a Monteverde. O chefe espanhol remeteu-o para Cádiz, onde Miranda, acorrentado, morreu depois de vários anos de cativeiro. Este ato, para cuja justificação recorreu-se ao pretexto de que Miranda havia traído o seu país com a capitulação de La Victoria, valeu a Bolívar o especial favor de Monteverde, a tal ponto que quando o primeiro solicitou seu passaporte, o chefe espanhol declarou: “Deve-se atender o pedido do coronel Bolívar, como recompensa pelo serviço prestado ao rei da Espanha com a entrega de Miranda”. Autorizou-se assim que Bolívar embarcasse com destino a Curazao, onde permaneceu seis semanas. Em companhia do seu primo Ribas se transferiu logo para a pequena república de Cartagena. Antes de sua chegada a Cartagena havia fugido para lá uma grande quantidade de soldados, ex-combatentes que estiveram sob a ordem do general Miranda. Ribas lhes propôs empreender uma expedição contra os espanhóis na Venezuela e a reconhecer Bolívar como comandante em chefe. A primeira proposta teve uma acolhida entusiasmada; à segunda houve resistência, ainda que finalmente aceitassem, com a condição de que Ribas fosse o lugar-tenente de Bolívar. Manuel Rodriguez Torias, o presidente da república de Cartagena agregou aos 300 soldados assim recrutados para Bolívar outros 500 homens sob o comando de seu primo Manuel Castillo. A expedição partiu no começo de janeiro de 1813. Produzindo-se divergências entre Bolívar e Castillo sobre quem tinha o comando supremo, o segundo se retirou subitamente com seus granadeiros. Bolívar, por sua vez, propôs seguir o exemplo de Castillo e regressar a Cartagena, mas, no final, Ribas pôde persuadi-lo a prosseguir, ao menos a rota até Bogotá, onde tinha então, sua sede o Congresso de Nova Granada. Foram ali muito bem acolhidos, apoiados de mil maneiras e o congresso os promoveu ao posto de generais. Depois de dividirem seu pequeno exército em duas colunas, marcharam por diferentes caminhos para Caracas. Quanto mais avançavam, mais reforços recebiam; os cruéis excessos dos espanhóis desempenhavam o papel de recrutadores para o exército da independência. A capacidade de resistência dos espanhóis estava alquebrada; de um lado porque três quartas partes de seu exército se compunham de nativos, que em cada encontro passavam para o lado inimigo; do outro devido à covardia de generais como Tízcar, Cajigal e Fierro, que na menor oportunidade abandonavam suas próprias tropas. De tal sorte ocorreu que Santiago Mariño, um jovem sem formação, conseguiu expulsar das províncias de Cumaná e Barcelona os espanhóis, ao mesmo tempo em que Bolívar ganhava terreno nas províncias ocidentais. A única resistência séria opuseram-na os espanhóis contra a coluna Ribas, que derrotou o general Monteverde em Los Taguanes e obrigou-o a refugiar-se em Puerto Cabello com o resto de suas Tropas. Quando o governador de Carácas, general Fierro, teve notícias de que Bolívar se aproximava, enviou-lhe emissários para propor capitulação, que foi assinada em La Victoria. Porém Fierro, tomado por um pânico repentino e sem aguardar o regresso de seus próprios emissários, fugiu secretamente à noite e deixou mais de 1.500 espanhóis à mercê do inimigo. A Bolívar se tributou então uma entrada apoteótica. De pé, em um carro de triunfo, puxado por doze donzelas vestidas de branco e enfeitadas com as cores nacionais, escolhidas entre as melhores famílias de Caracas, Bolívar, com a cabeça descoberta e agitando um pequeno bastão na mão, foi levado em meia hora desde a entrada da cidade até sua residência. Proclamou-se “Ditador e Libertador das Províncias Ocidentais da Venezuela” — Mariño havia adotado o título de “Ditador das Províncias Orientais” — criou a “Ordem do Libertador”, formou umm corpo de tropas escolhidas que denominou sua guarda pessoal e se rodeou da pompa própria de uma corte. Porém, como a maioria de seus compatriotas, era incapaz de qualquer esforço de grande envergadura, e sua ditadura degenerou logo em uma anarquia militar, na qual os assuntos mais importantes ficavam em mãos de favoritos, que arruinavam as finanças públicas e depois recorriam a meios odiosos para reorganizá-las. Deste modo, o recente entusiasmo popular se transformou em descontentamento, e as dispersas forças do inimigo dispuseram de tempo para reorganizar-se. Enquanto no começo de agosto de 1813 Monteverde estava trancado na fortaleza de Puerto Cabello, e ao exército espanhol só restasse uma estreita faixa de terra no noroeste da Venezuela, apenas três meses depois o Libertador havia perdido seu prestígio e Caracas se achava ameaçada pela súbita aparição, em suas vizinhanças, dos espanhóis vitoriosos, sob o comando de Boves. Para fortalecer seu poder cambaleante, Bolívar reuniu, em 1º de janeiro de 1814, uma junta, constituída pelos vizinhos de Caracas mais influentes, e manifestou-lhes que não desejava suportar mais tempo o fardo da ditadura. Hurtado de Mendoza, por seu lado, fundamentou em um prolongado discurso “a necessidade de que o poder supremo se mantivesse nas mãos do general Bolívar até que o Congresso de Nova Granada pudesse se reunir e a Venezuela unificar-se sob um só governo. Aprovou-se esta proposta e desta forma a ditadura recebeu um reconhecimento legal. Durante algum tempo se deu continuidade à guerra contra os espanhóis, sob a forma de escaramuças, sem que nenhum dos contendores obtivesse vantagens decisivas. Em junho de 1814, Boves, depois de concentrar suas tropas marchou de Calabozo até La Puerta, onde os dois ditadores, Bolívar e Mariño haviam juntado suas forças. Boves encontrou-as ali e ordenou que suas unidades as atacassem sem demora. Após uma breve resistência, Bolívar fugiu para Caracas, enquanto que Mariño escapulia para Cumaná. Puerto Cabello e Valença caíram nas mãos de Boves, que destacou duas colunas (uma delas sob o comando do coronel González) rumo a Caracas, por rotas distintas. Ribas tentou conter em vão o avanço de González. Depois da rendição de Caracas a este chefe, Bolívar evacuou La Guaira, ordenou aos barcos ancorados no porto que zarpassem para Cumaná e se retirou com o resto de suas tropas para Barcelona. Após a derrota que Boves infligiu aos insurretos em Arguita, em 8 de agosto de 1814, Bolívar abandonou furtivamente suas tropas nesta mesma noite, para dirigir-se apressadamente, e por atalhos até Cumaná, de onde, apesar dos irados protestos de Ribas, embarcou de imediato no navio “Bianchi”, junto com Mariño e outros oficiais. Se Ribas, Paez e os demais generais houvessem seguido os ditadores na sua fuga, tudo se teria perdido. Tratados como desertores em sua chegada em Juan Griego, ilha Margarita, pelo general Arismendi, que exigiu sua partida, levantaram âncoras novamente até Carúpano, sendo ali recebidos de maneira análoga pelo coronel Bermúdez, se fizeram ao mar rumo a Cartagena. Ali, afim de coonestar sua fuga, publicaram uma memória de justificação, recheada de frases altissonantes. Havendo-se juntado Bolívar a uma conspiração para derrubar o governo de Cartagena, teve que abandonar essa pequena república e seguir viagem até Tunja, onde estava reunido o Congresso da República Federal de Nova Granada. A província de Cundinamarca, neste tempo estava à testa das províncias independentes que se negavam a subscrever o acordo federal neogranadino, enquanto Quito, Pasto, Santa Marta e outras províncias ainda se achavam em mãos espanholas. Bolívar, que chegou a 22 de novembro de 1814 em Tunja, foi designado, pelo Congresso, comandante­em-chefe das forças armadas federais e recebeu a dupla missão de obrigar o presidente da província de Cundinamarca a que reconhecesse a autoridade do Congresso e a marchar depois para Santa Marta, o único porto de mar fortificado granadino – ainda em mãos dos espanhóis. Não apresentou dificuldades o cumprimento do primeiro encargo, posto que Bogotá, a capital da província rebelde carecia de fortificações. Embora a cidade tivesse capitulado, Bolívar permitiu que seus soldados, durante 48 horas, a saqueassem. Em Santa Marta o general espanhol Montalvo, que dispunha somente de uma fraca guarnição de 200 homens e de uma praça forte em péssimas condições defensivas, tinha contratado um barco francês para assegurar sua própria fuga; os vizinhos, de seu lado, enviaram uma mensagem para Bolívar participando-lhe que, nem bem aparecesse, abririam as portas da cidade e expulsariam a guarnição. Mas, em vez de marchar contra os espanhóis de Santa Marta, tal como lhe havia ordenado o Congresso, Bolívar deixou-se arrastar por seu ódio contra Castillo, o comandante de Cartagena, e atuando por sua própria conta conduziu suas tropas contra esta última cidade, parte integrante da República Federal. Rechaçado, acampou em La Popa, uma colina situada aproximadamente a um tiro de canhão de Cartagena. Como bateria colocou um pequeno canhão, contra uma fortaleza munida com umas 80 peças. Passou logo do assédio ao bloqueio, que durou até começo de maio, sem mais resultados do que a diminuição de seus efetivos, por deserção ou doença, de 2.400 para uns 700 homens. Neste meio tempo, uma grande expedição espanhola, comandada pelo general Morillo e procedente de Cádiz, chegou à ilha de Margarita, em 25 de março de 1815. Morillo destacou de imediato poderosos reforços para Santa Marta e pouco depois suas forças se apoderaram de Cartagena. Antes, porém, em 10 de maio de 1815, Bolívar havia embarcado com uma dúzia de oficiais em um bergantim artilhado, de bandeira britânica, rumo a Jamaica. Uma vez chegado a este ponto de refúgio, publicou uma nova proclamação, em que se apresentava como a vítima de alguma facção ou inimigo secreto e defendia sua fuga dos espanhóis como se fosse uma renúncia ao comando, efetuada em benefício da paz pública. Durante sua permanência de oito meses em Kingston, os generais que havia deixado na Venezuela e o general Arismendi na ilha Margarita apresentaram uma tenaz resistência às armas espanholas. Mas depois que Ribas, a quem Bolívar devia seu renome, caísse fuzilado pelos espanhóis após a tomada de Maturin, ocupou seu lugar um homem de condições militares ainda mais relevantes. Não podendo desempenhar, por sua qualidade de estrangeiro, um papel autônomo na revolução sul-americana, este homem decidiu entrar a serviço de Bolívar. Tratava-se de Luis Brion. Para prestar auxílio aos revolucionários, viajara de Londres, rumo a Cartagena, com uma corveta de 24 canhões, equipada em grande parte às suas próprias custas e carregada de 14.000 fuzis, e de uma grande quantidade de outros apetrechos. Havendo chegado demasiado tarde e não podendo ser útil aos rebeldes, rumou até Los Cayos, no Haiti, onde muitos emigrados patriotas haviam fugido depois da capitulação de Cartagena. Nesse ínterim Bolívar se havia transladado também para Porto Príncipe, onde, em troca de sua promessa de libertar os escravos, o presidente do Haiti, Pétions, lhe ofereceu um grande apoio material para uma nova expedição contra os espanhóis da Venezuela. Em Los Cayos se encontrou com Brion e outros emigrados e, em uma junta geral, propôs a si mesmo como chefe de uma nova expedição, sob a condição de que até a convocató-ria de um Congresso Geral ele reuniria em suas mãos os poderes tanto civil como militar. A maioria tendo aceito esta condição, os expedicionários lançaram-se ao mar em 16 de abril de 1816 com Bolívar como comandante e Brion na qualidade de almirante. Em Margarita, Bolívar conseguiu ganhar Arismendi para sua causa, o comandante da ilha, quem havia repelido os espanhóis a tal ponto que a estes só restava um único ponto de apoio. Pampatar. Com a promessa formal de Bolívar de convocar um congresso nacional na Venezuela tão logo se apoderasse do país, Arismendi reuniu uma junta na catedral de Villa del Norte e proclamou publicamente Bolívar como chefe supremo das Repúblicas da Venezuela e Nova Granada. Em 31 de maio de 1816, desembarcou Bolívar em Carúpano, porém não se atreveu a impedir que Mariño e Piar se afastassem dele e efetuassem, por sua própria conta, uma campanha contra Cumaná. Debilitado por esta separação e seguindo os conselhos de Brion, velejou rumo a Ocumare (de la Costa), onde chegou a 3 de julho de 1816 com 13 barcos, dos quais somente 7 estavam artilhados. Seu exército se compunha tão somente de 650 homens, que aumentaram para 800 com o recrutamento de negros, cuja libertação havia proclamado. Em Ocumare divulgou um novo manifesto, em que ele prometia “exterminar os tiranos” e “convocar o povo para que designe seus deputados no congresso. Ao avançar em direção a Valença, topou, não distante de Ocumare, com o General espanhol Morales, à testa de 200 soldados e 100 milicianos. Quando os caçadores de Morales dispersaram a vanguarda de Bolívar, este, segundo testemunha ocular, perdeu “toda presença de espírito e, sem pronunciar palavra, num instante voltou atrás e fugiu, desabaladamente, para Ocumare, atravessou o povoado, a toda pressa, e chegou até a baía próxima, saltou do cavalo, entrou num bote e subiu a bordo do “Diana”, dando ordem a toda esquadra de que o seguisse até a pequena ilha de Bonaire, deixando todos seus companheiros privados de qualquer auxílio. As reprovações e exortações de Brion o induziram a reunir-se com os demais chefes na costa de Cumaná; entretanto, como o recebessem inamistosamente, e Piar o ameaçasse submetê-lo a um conselho de guerra por deserção e covardia, sem demora rumou para Los Cayos. Após meses e meses de esforços, Brion finalmente conseguiu persuadir a maioria dos chefes militares venezuelanos – que sentiam a necessidade de que houvesse um centro, ainda que fosse apenas nominal – de que chamassem uma vez mais Bolívar como comandante-em-chefe, sob a condição expressa de que convocaria o Congresso e não se imiscuiria na administração civil. Em 31 de dezembro de 1816, Bolívar chegou a Barcelona com armas, munições e apetrechos proporcionados por Pétion. Em 2 de janeiro de 1817 Arismendi juntou-se a ele e no dia 4 Bolívar proclamou a lei marcial e anunciou que todos os poderes estavam em suas mãos. Porém, 5 dias depois, Arismendi sofreu um contratempo em uma emboscada que lhe armaram os espanhóis, e o ditador fugiu para Barcelona. As tropas se concentraram novamente nesta localidade, onde Brion enviou-lhe tanto armas como novos reforços, de tal maneira que logo Bolívar dispôs de uma nova força de 1.100 homens. Em 5 de abril, os espanhóis tomaram a cidade de Barcelona e as tropas dos patriotas recuaram até a Casa de Misericórdia, um edifício situado fora da cidade. Por ordem de Bolívar cavaram-se algumas trincheiras, porém de maneira inadequada, para defender de um ataque sério uma guarnição de 1.000 homens. Bolívar abandonou a posição na noite de 5 de abril, após comunicar o coronel Freitas, a quem delegou o comando, que buscaria tropas de reforço e voltaria em breve. Freitas recusou uma oferta de capitulação, confiando na promessa e depois do ataque foi degolado pelos espanhóis, junto com toda sua guarnição. Piar, um homem de cor originário de Curazao, concebeu e pôs em prática a conquista da Güiana, com o apoio do almirante Brion e suas canhoneiras. Em 20 de julho, com todo o território livre dos espanhóis, Piar, Brion, Zea, Mariño, Arismendi e outros convocaram, em Angostura, um congresso das províncias e puseram chefiando o executivo um triunvirato; Brion, que detestava Piar e se interessava profundamente por Bolívar, já que no êxito deste havia posto em jogo sua grande fortuna pessoal, conseguiu que se designasse Bolívar como membro do triunvirato, apesar da sua ausência. Ao inteirar-se disto, Bolívar abandonou seu refúgio e se apresentou em Angostura, onde, estimulado por Brion, dissolveu o congresso e o triunvirato e substituiu-os por um “Conselho Supremo da Nação”, do qual se nomeou chefe, enquanto que Brion e Francisco Antonio Zea assumiram, o primeiro a seção militar, o segundo a seção política. Todavia, Piar, o conquistador da Guiana, que outrora havia ameaçado submeter Bolívar a um conselho de guerra por deserção, não poupava sarcasmos contra o “Napoleão dos recuos”. Bolívar, por sua vez, aprovou um plano para eliminá-la. Sob as falsas imputações de haver conspirado contra os brancos, atentado contra a vida de Bolívar e aspirado ao poder supremo, Piar foi submetido a um conselho de guerra presidido por Brion; condenado à morte, foi fuzilado em 16 de outubro de 1817. Sua morte encheu Mariño de pavor. Plenamente consciente de sua própria insignificância, ao não poder contar com a ajuda de Piar, Mariño, em uma carta abjetíssima, caluniou publicamente seu amigo vitimado, se lamentou de sua própria rivalidade com o Libertador e apelou para a inesgotável magnanimidade de Bolivar. A conquista da Guiana por Piar havia dado uma reviravolta total na situação, a favor dos patriotas, pois só esta província lhes proporcionava mais recursos que as outras sete províncias venezuelanas juntas. Daí todo o mundo confiar em que a nova campanha anunciada por Bolívar, em uma nova proclama, conduziria à expulsão definitiva dos espanhóis. Este primeiro boletim, segundo o qual as pequenas partidas espanholas, cujos soldados buscavam pasto para os cavalos ao retirarem-se de Calabozo, eram “exércitos que fugiam ante nossas tropas vitoriosas”, não tinham por objetivo dissipar tais esperanças. Para fazer frente a 4.000 espanhóis, que Morillo ainda não havia podido concentrar, dispunha Bolívar de mais de 9.000 homens, bem armados e equipados, abundantemente providos com todo o necessário para a guerra. Não obstante, em fins de maio de 1818, Bolívar havia perdido umas doze batalhas e todas as províncias situadas ao norte do Orenoco. Como dispersava suas forças, numericamente superiores, estas sempre eram batidas em separado, Bolívar deixou a direção da guerra em mãos de Páez e seus demais subordinados e se retirou para Angostura. A cada derrota se seguia outra, e tudo parecia encaminhar-se para um descalabro total. Neste momento extremamente crítico, uma conjunção de acontecimentos fortuitos modificou novamente o curso das coisas. Em Angostura, Bolívar encontrou Santander, natural de Nova Granada, que lhe solicitou elementos para uma invasão neste território, já que a população local estava pronta para levantar-se em massa contra os espanhóis. Bolívar satisfez, até certo ponto, este pedido. Neste ínterim, chegou da Inglaterra uma forte ajuda sob forma de homens, navios e munições, e oficiais ingleses, franceses, alemães e poloneses afluíram de toda parte para Angostura. Finalmente o doutor (Juan) Germán Roscio, consternado com a estrela decadente da revolução sul-americana, fez sua entrada em cena, conseguiu a aprovação de Bolívar e o induziu a convocar, para 15 de fevereiro de 1819, um congresso nacional, que a sua única menção, demonstrou ser suficientemente poderosa para por em pé um novo exército de aproximadamente 14.000 homens, com o qual Bolívar pôde novamente passar à ofensiva. Os oficiais estrangeiros aconselharam-no que desse a entender que projetava um ataque contra Caracas para libertar a Venezuela do jugo espanhol, induzindo assim Morillo a retirar suas forças de Nova Granada e concentrá-las para a defesa daquele país, após o que Bolívar devia se dirigir subitamente para oeste, unir-se às guerrilhas de Santander e marchar sobre Bogotá. Para executar este plano, Bolívar saiu em 24 de fevereiro de 1819 de Angostura, depois de designar Zea presidente do Congresso e vice-presidente da república durante sua ausência. Graças às manobras de Páez, os revolucionários bateram Morillo e La Torre em Achaguas, e os teriam aniquilado completamente se Bolívar houvesse somado suas tropas às de Páez e Mariño. De todo modo, as vitórias de Páez, tiveram como resultado a ocupação da província de Barinas, deixando livre assim a rota para Nova Granada. Como aqui tudo estava preparado por Santander, as tropas estrangeiras, compostas fundamentalmente por ingleses, decidiram o destino de Nova Granada graças às vitórias sucessivas alcançadas em 1º e 23 de julho e 7 de agosto na província de Tunja. Em 12 de agosto, Bolívar entrou triunfalmente em Bogotá, enquanto os espanhóis, contra os quais se haviam sublevado todas às províncias de Nova Granada, se entrincheiraram na cidade fortificada de Monpós. Depois de deixar funcionando o congresso granadino e o general Santander como comandante-em-chefe, Bolívar marchou até Pamplona, onde passou mais de dois meses em festejos e saraus. Em 3 de novembro chegou a Mantecal, Venezuela, ponto que havia fixado aos chefes patriotas para que se lhes reunissem com suas tropas. Com um tesouro de 2.000.000 dólares, obtidos dos habitantes de Nova Granada, mediante contribuições forçadas, e dispondo de uma força de aproximadamente 9.000 homens, um terço dos quais eram ingleses, irlandeses, hanoverianos, e outros estrangeiros bem disciplinados, Bolívar devia fazer frente a um inimigo privado de toda classe de recursos, cujos efetivos se reduziam a 4.500 homens, duas terças partes dos quais eram nativos e mal podiam, portanto, inspirar confiança aos espanhóis. Tendo se retirado Morillo de San Fernando de Apure em direção a São Carlos, Bolívar o perseguiu até Calabozo, de modo que os dois Estados-Maiores inimigos se encontravam apenas a dois dias de marcha um do outro. Se Bolívar houvesse avançado com resolução, só suas tropas européias teriam bastado para aniquilar os espanhóis. Porém preferiu prolongar a guerra cinco anos mais. Em Outubro de 1819, o Congresso de Angostura havia forçado a renúncia de Zea, designado por Bolívar, e elegeu em seu lugar Arismendi. Assim que recebeu esta notícia, Bolívar marchou com sua legião estrangeira sobre Angostura, pegando desprevenido Arismendi, cuja força se reduzia a 600 nativos, deportou-o para a ilha Margarita e investiu novamente Zea em seu cargo e dignidades. O Dr. Roscio, que havia fascinado Bolívar com as perspectivas de um poder central, persuadiu-o a proclamar Nova Granada e Venezuela como “República da Colômbia”, a promulgar uma constituição para o novo Estado — redigida por Roscio — e a permitir a instalação de um Congresso comum aos dois países. Em 20 de janeiro de 1820, Bolívar se encontrava de regresso a San Fernando de Apure. A súbita retirada de sua legião estrangeira, mais temida pelos espanhóis do que um número dez vezes maior de colombianos, deu a Morillo uma nova oportunidade de concentrar reforços. De outro lado, a noticia de que uma poderosa expedição, sob as ordens de O’Donnell, estava prestes a partir da Península, elevou o abatido ânimo do partido espanhol. Apesar de dispor de forças folgadamente superiores, Bolívar achou uma forma de nada conseguir durante a campanha de 1820. Enquanto isso, chegou da Europa a noticia de que a revolução na ilha de Leon havia posto violento fim à programada expedição de O’Donnell. Em Nova Granada, 15 das 22 províncias haviam aderido ao governo da Colômbia, e aos espanhóis só lhes restavam a fortaleza de Cartagena e o istmo de Panamá. Na Venezuela, 6 das 8 províncias se submeteram às leis colombianas. Esse era o estado de coisas quando Bolívar deixou-se seduzir por Morillo, e entrou com ele em conversações que tiveram por resultado, em 25 de novembro de 1820, a celebração do convênio de Trujillo, pelo qual se estabelecia uma trégua de seis meses. No acordo de armistício não figurava uma única menção sequer à República da Colômbia, apesar de que o congresso havia proibido, expressamente, a conclusão de qualquer acordo com o chefe espanhol se este não reconhecesse previamente a independência da república. Em 17 de dezembro, Morillo, ansioso por desempenhar um papel na Espanha, embarcou em Puerto Cabello e delegou o comando supremo para Miguel de Latorre; em 10 de março de 1821, Bolívar escrever a Latorre participando-lhe que as hostilidades se reiniciariam dentro de um prazo de 30 dias. Os espanhóis ocupavam uma sólida posição em Carabobo, uma aldeia situada aproximadamente na metade do caminho entre San Carlos e Valencia; porém, em vez de reunir ali todas as suas forças, Latorre só havia concentrado sua primeira divisão, 2.500 infantes e uns 1.500 cavalarianos, enquanto que Bolívar dispunha de aproximadamente 6.000 infantes, entre eles a legião britânica, integrada por 1.100 homens, e 3.000 llaneros (habitantes da planície) a cavalo, sob o comando de Páez. A posição do inimigo pareceu tão imponente a Bolívar, que propôs a seu conselho de guerra a realização de uma nova trégua, idéia que, no entanto, seus subalternos repeliram. À frente de uma coluna constituída fundamentalmente pela legião britânica, Páez, seguindo um atalho, envolveu a ala direita do inimigo; frente esta bem executada manobra, Latorre foi o primeiro dos espanhóis a fugir em disparada, não se detendo até chegar a Puerto Cabello, onde se trancou com o resto de suas tropas. Um rápido avanço do exército vitorioso teria produzido, inevitavelmente, a rendição de Puerto Cabello, porém Bolívar perdeu seu tempo fazendo-se homenagear em Valenda e Caracas. Em 21 de setembro de 1821, a grande fortaleza de Cartagena capitulou frente a Santander. Os últimos combates armados na Venezuela — o combate naval de Maracaibo, em agosto de 1823, e a forçada rendição de Puerto Cabello em julho de 1824 — foram ambos obra de Padilla. A revolução na ilha de León, que tornou impossível a partida da expedição de O’Donnell, e o concurso da legião britânica, haviam virado, evidentemente, a situação a favor dos colombianos. O Congresso da Colômbia inaugurou suas sessões em janeiro de 1821 em Cúcuta; em 30 de agosto promulgou a nova constituição e tendo Bolívar ameaçado uma vez mais renunciar, prorrogou os plenos poderes do Libertador. Uma vez que este assinou a nova carta constitucional, o Congresso autorizou-o a empreender a campanha de Quito (1822), para onde se haviam retirado os espanhóis depois de serem desalojados do istmo do Panamá, por um levantamento geral da população. Esta campanha, que finalizou com a incorporação de Quito, Pasto e Guaiaquil à Colômbia, se efetuou sob a direção nominal de Bolívar e do general Sucre, porém os poucos êxitos alcançados pelo corpo do exército, se devem integralmente aos oficiais britânicos, e em particular ao coronel Sands. Durante as campanhas contra os espanhóis no Baixo e Alto Peru - 1823-1824 — Bolívar já não considerou necessário representar o papel de comandante­em-chefe, delegando ao general Sucre a condução dos assuntos militares e restringiu suas atividades às entradas triunfais, aos manifestos e à proclamação de constituições. Através de seu corpo de tropa colombiano manipulou as decisões do Congresso de Lima, que em 10 de fevereiro de 1823, encomendou-lhe a ditadura; graças a um novo simulacro de renúncia, Bolívar assegurou sua reeleição como presidente da Colômbia. Enquanto isso sua posição se havia fortalecido, em parte pelo reconhecimento oficial do novo Estado pela Inglaterra, em parte pela conquista das províncias do Alto Peru por Sucre, que unificou as últimas em uma república independente, a da Bolívia. Neste país, submetido às baionetas de Sucre, Bolívar deu livre curso a sua tendência ao despotismo e proclamou o Código Boliviano, arremedo do Código Napoleônico. Projetava transplantar este código da Bolívia para o Peru, e deste para Colômbia, e manter submetidos os dois primeiros Estados por meio de tropas colombianas, e este último mediante a legião estrangeira e tropas peruanas. Valendo-se da violência e também da intriga, logo conseguiu impor, ainda que por umas poucas semanas, seu código ao Peru. Como presidente e libertador da Colômbia, protetor e ditador do Peru e padrinho da Bolívia havia alcançado o ápice da glória. Porém, na Colômbia havia surgido um sério antagonismo entre os centralistas, ou bolivistas, e os federalistas, (sob esta última denominação os inimigos da anarquia militar se haviam associado aos rivais militares de Bolívar). Quando o Congresso da Colômbia, às instâncias de Bolívar, formulou uma acusação contra Páez, vice-presidente da Venezuela, este último respondeu com uma revolta aberta, que contava secretamente com o apoio e o alento do próprio Bolívar; este, com efeito, necessitava de sublevações como pretexto para abolir a constituição e reimplantar a ditadura. Em seu regresso do Peru, Bolívar trouxe, além de seu corpo de tropa, mais 1.800 soldados peruanos, presumivelmente para combater os federalistas exaltados. Porém, ao encontrar Páez em Puerto Cabello, não só o confirmou como máxima autoridade na Venezuela, não só como proclamou anistia para os rebeldes, como tomou partido abertamente por eles e vituperou os defensores da constituição; o decreto de 23 de novembro de 1826, promulgado em Bogotá, lhe concede poderes ditatoriais. No ano de 1876, quando seu poder começava a declinar, conseguiu reunir um congresso no Panamá, com o objetivo aparente de aprovar um novo código democrático internacional. Chegaram plenipotenciários das Colômbia, Brasil, La Plata, Bolívia, México, Guatemala, etc. A intenção real de Bolívar era unificar toda a América do Sul em uma república federal, cujo ditador seria ele mesmo. Enquanto dava este amplo vôo a seus sonhos de ligar meio mundo a seu nome, o poder efetivo lhe escapava rapidamente das mãos. As tropas colombianas destacadas no Peru, ao ter notícias dos preparativos que realizava Bolívar para introduzir o Código Boliviano, desencadearam uma violenta insurreição: Os peruanos elegeram o general Lamar presidente de sua república, ajudaram os bolivianos a expulsar do país as tropas colombianas e empreenderam inclusive uma guerra vitoriosa contra a Colômbia, finalizada por um tratado que reduziu este país a seus limites primitivos, estabeleceu igualdade de ambos os países e separou as dívidas públicas de cada um. A Convenção de Ocaña, convocada por Bolívar para reformar a constituição, de modo que seu poder não encontrasse limite, começou em 2 de março de 1828, com a leitura de uma mensagem cuidadosamente redigida, em que se realçava a necessidade de outorgar novos poderes ao executivo. Evidenciando-se, no entanto, que o projeto de reforma constitucional iria diferir do previsto no inicio, os amigos de Bolívar abandonaram a convenção deixando-a sem quorum, com o qual as atividades da Assembléia chegaram ao fim. Bolívar, de sua casa de campo, situada a algumas milhas de Ocaña, publicou um novo manifesto em que pretendia estar irritado com os passos dados por seus partidários, porém ao mesmo tempo atacava o Congresso, exortava as províncias a que adotassem medidas extraordinárias e se declarava disposto a tomar sobre si a carga do poder se esta lhe caísse em seus ombros. Sob a pressão de suas baionetas, Assembléias abertas, reunidas em Caracas, Cartagena e Bogotá, para onde havia viajado Bolívar, o investiram novamente de poderes ditatoriais. Uma tentativa de assassiná-lo, em seu próprio quarto, em Bogotá, da qual só se safou porque pulou por uma janela, em plena noite, e permaneceu escondido debaixo de uma ponte, permitiu-lhe exercer durante algum tempo uma espécie de terror militar. Bolívar, porém, evitou pôr a mão sobre Santander, apesar de que este participara da conjura, enquanto mandou matar o general Padilla, cuja culpabilidade não havia sido demonstrada em absoluto, mas pelo fato de ser homem de cor, não podia oferecer resistência alguma. Em 1829, a encarniçada luta entre as facções dilacerava a república e Bolívar, em um novo apelo à cidadania, exortou-a a expressar sem receios seus desejos a respeito de possíveis modificações na constituição. Como resposta a este manifesto, uma Assembléia de notáveis, reunida em Caracas, reprovou publicamente suas ambições, pôs a descoberto as deficiências de seu governo, proclamou a separação da Venezuela em relação à Colômbia, e colocou à frente da primeira o general Páez. O Senado da Colômbia apoiou Bolívar, porém novas insurreições estouraram em diversos lugares. Após demitir-se pela quinta vez, em janeiro de 1830, Bolívar aceitou de novo a presidência e abandonou Bogotá para guerrear contra Páez em nome do congresso colombiano. Em fins de março de 1830 avançou à frente de 8.000 homens, tomou Caracuta, que havia se sublevado, e se dirigiu até a província de Maracaibo, onde Páez o esperava com 12.000 homens fortemente posicionados. Assim que Bolívar soube que Páez projetava combater seriamente, fraquejou. Por um momento, inclusive, pensou em submeter-se a Páez e pronunciar-se contra o Congresso. Porém decresceu a ascendência de seus partidários e Bolívar se viu obrigado a apresentar sua demissão, já que se lhe deu a entender que desta vez teria que manter sua palavra e que, com a condição de que se retirasse para o estrangeiro, ser-lhe-ia concedida uma pensão anual. Em 27 de abril de 1830, por conseguinte, apresentou sua renúncia ao Congresso. Com a esperança, porém, de recuperar o poder graças à influência de seus adeptos, e devido ao fato de que já se iniciara um movimento de reação contra Joaquim Mosquera, o novo presidente da Colômbia, Bolívar foi postergando sua partida de Bogotá e arrumou um jeito de prolongar sua estada em San Pedro até fins de 1830, momento em que faleceu repentinamente. Ducoudray-Holstein deixou-nos de Bolívar o seguinte retrato: “Simón Bolívar mede cinco pés e quatro polegadas de altura (1,63m), seu rosto é magro, de faces cavadas, e sua pele pardacenta e lívida; seus olhos nem grandes nem pequenos se afundam marcadamente nas órbitas; seu cabelo é ralo. O bigode lhe dá um aspecto sombrio e feroz, particularmente quando se irrita. Todo seu corpo é magro e descarnado. Seu aspecto é o de um homem de 65 anos. Ao caminhar agita incessantemente os braços. Não pode andar muito a pé e se cansa logo. Agrada-lhe se esticar ou sentar na rede. Tem freqüentes e súbitos acessos de ira, e aí fica como louco, se lança na rede e desanda em palavrões e maldições contra todos quanto o rodearem. Gosta de proferir sarcasmos contra os ausentes, não lê senão literatura francesa de caráter leviano, é um ginete consumado e dança valsa com paixão. Agrada-lhe ouvir-se falar, e pronunciar brindes o deleita. Na adversidade e quando está privado de ajuda exterior torna-se completamente isento de paixões e ataques temperamentais. Então se torna aprazível, paciente, afável e até humilde. Oculta magistralmente seus defeitos sob a urbanidade de um homem educado no chamado beau monde, possui um talento quase asiático para a dissimulação e conhece muito melhor os homens do que a maior parte de seus compatriotas”. Por um decreto do Congresso de Nova Granada, os restos mortais de Bolívar foram transladados em 1842 para Caracas, onde se erigiu um monumento em sua memória.

domingo, 5 de maio de 2024

As Três vias de desenvolvimento do Capitalismo Marechal Kota Zhu De

As Três vias de desenvolvimento do Capitalismo Marechal Kota Zhu De Marechal Kota Zhu De · Follow 10 min read · Apr 9, 2024 1 Abraham Lincoln — representante da via de desenvolvimento revolucionária do capitalismo Otto Von Bismarck — representante da via de desenvolvimento reformista do capitalismo Getúlio Vargas — representante da via de desenvolvimento burocrática do capitalismo Introdução O capitalismo de maneira alguma se desenvolveu de forma unitária para todos os países do mundo. Pelo contrário, dependendo de como se desenvolvia as sociedades, a relação entre as classes sociais existentes e seu papel de liderança e aliança em seus processos de implementação do capitalismo, acabaram por gerar formas diferentes de desenvolvimento do capitalismo. O próprio Grande Lenin, A Chefatura da Grande Revolução Socialista de Outubro da Rússia, descreveu em seu texto “O programa agrário da socialdemocracia na Revolução Russa” que havia duas formas de desenvolvimento capitalista: a via de desenvolvimento do capitalismo agrário do tipo prussiano e a via de desenvolvimento do capitalismo agrário do tipo norte-americano. Na primeira forma, o capitalismo agrário do tipo prussiano se desenvolve de forma muito lenta, onde o senhor feudal lentamente se transforma em um capitalista e há decênios de humilhação, ignorância e miséria do campesinato. Na segunda forma, por outro lado, há uma varredura da propriedade latifundiária, logo, o agricultor na terra livre, limpa de todos os restos feudais, se converte na base da agricultura capitalista. Essa é forma de desenvolvimento do capitalismo agrário do tipo norte-americano, reconhecida por Lenin, como “O MAIS RÁPIDO DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS nas condições mais favoráveis para a massa do povo dentro dos marcos do capitalismo.” [1] Há ainda, no entanto, uma terceira via, que por sua vez tem suas origens Presidente Mao Tsé-Tung e o Presidente Gonzalo, ambos componentes da espada do Maoismo, que, por sua vez, analisaram e explicaram uma forma de capitalismo qualitativamente diferente das já citadas, o capitalismo burocrático, o qual, aliás, é presente inclusive em todos os países do Terceiro Mundo. E, além disso, levando sua forma de implementação e como este se desenvolve, podemos dizer que é uma terceira de via de desenvolvimento do capitalismo, a via burocrática. Tendo dito tudo isso, vamos agora começar de fato o artigo, explicando todas as três vias de desenvolvimento do capitalismo. A Via Revolucionária de Desenvolvimento do Capitalismo A via revolucionária ou também conhecida como “via norte-americana” é a via de desenvolvimento do capitalismo que foi implementada principalmente nos EUA e na França. Nessa via de desenvolvimento do capitalismo, a Burguesia enquanto classe revolucionária se alia ao campesinato como aliado principal e conduz um processo de Revolução Agrária, onde há a liquidação e destruição do feudalismo e o acesso à terra democratizado, isto é, a terra dada aos camponeses. Aqui a Burguesia constituiu seu regime político, ou seja, a ditadura da burguesia e propriamente o capitalismo. Essa via de desenvolvimento do capitalismo gera um rápido desenvolvimento produtivo e condições mais favoráveis ao bem-estar das massas (dentro dos marcos possíveis dentro do capitalismo). E, além disso, representa um período histórico em que a Burguesia ainda era uma classe revolucionária, a qual se levantava contra a Velha Ordem Feudal. A Via Reformista de Desenvolvimento do Capitalismo A via reformista ou via prussiana é a via de desenvolvimento do capitalismo que se expressou principalmente na Alemanha, na Itália e no Japão. Ao contrário da via revolucionária, onde a Burguesia se unia ao campesinato para fazer a Revolução Agrária, agora a Burguesia se une aos Latifundiários e demais classes dominantes e impõe uma repressão pesada ao campesinato, mantendo principalmente o regime de servidão no campo e o senhor feudal como seu proprietário. Além disso, paulatinamente os laços feudais vai se convertendo em uma propriedade capitalista através dos Junkers, os grandes proprietários de terras. Essa via de implementação do capitalismo gera condições de vida muito piores (se comparado com a primeira via) para as massas e há lento desenvolvimento produtivo. Ademais, vale salientar que essa via representa um processo de reacionarização da burguesia, quando ela já deixava de ser revolucionária, como já demonstrado em 1848 com a Primavera dos Povos, principalmente na Contrarrevolução na Prússia causada pela traição da burguesia. A Via Burocrática de Desenvolvimento do Capitalismo Há um terceiro caminho de desenvolvimento do capitalismo que, de maneira nenhuma é igual ao caminho de desenvolvimento do capitalismo do tipo norte-americano, isso porque não há uma Revolução Agrária dirigida pela Burguesia aliada ao campesinato contra a Velha Ordem Feudal e, mesmo que tenha certas semelhanças com a via reformista ou a via prussiana de desenvolvimento do capitalismo, não é impulsionada pelas forças sociais internas, isto é, pela sua própria burguesia, mas sim por uma país imperialista, com seu capital imperialista se fundindo com o capital feudal, gerando o capital burocrático. Essa via burocrática de desenvolvimento do capitalismo está vigente em todos os países do Terceiro Mundo (incluindo o Brasil). Agora, explicando de fato o que é o capitalismo burocrático, o Presidente Gonzalo, em seu documento a “Linha da Revolução Democrática (PCP)” descreveu o capitalismo burocrático da seguinte forma: “Tomar a tese do presidente Mao nos ensina que ele [o capitalismo burocrático] tem cinco características: 1) é o capitalismo que o imperialismo desenvolve em países atrasados, que compreende capitais dos latifundiários, dos grandes banqueiros e dos magnatas da grande burguesia; 2) explora o proletariado, o campesinato e a pequena burguesia e restringe a burguesia média; 3) passa por um processo pelo qual o capitalismo burocrático é combinado com o poder do Estado e se torna um capitalismo monopolista estatal, comprador e feudal, do qual deriva que, a princípio, ele se desenvolve como grande capital monopolista não estatal e, em um segundo momento, quando combinado com o poder do Estado, ele se desenvolve como um capitalismo monopolista estatal; 4) amadurece as condições da revolução democrática ao atingir o ponto culminante de seu desenvolvimento; e 5) confiscar o capitalismo burocrático é chave para concluir a revolução democrática e para avançar à revolução socialista. Ao aplicá-lo, ele concebe que o capitalismo burocrático é o capitalismo gerado pelo imperialismo em países atrasados, vinculado à feudalidade já caduca e submetido ao imperialismo, que é a última fase do capitalismo, que não serve às maiorias, mas aos imperialistas, à grande burguesia e aos latifundiários (…) conformam, portanto, um capitalismo burocrático que oprime e explora o proletariado, o campesinato e a pequena burguesia, e que restringe a burguesia média. Por quê? Porque o capitalismo que se desenvolve nesses países é um processo tardio e só consente uma economia aos interesses imperialistas. É um capitalismo que representa a grande burguesia, os latifundiários e campesinato rico do velho tipo, classes que constituem uma minoria e exploram e oprimem as grandes maiorias, as massas.” [2] Em síntese, o capitalismo burocrático é a forma de capitalismo gerado pelos países imperialistas nos países semicoloniais e coloniais, o qual se aproveita das relações das antigas relações feudais e as aprofunda junto com o desenvolvimento de um capitalismo atrasado, impedindo também o desenvolvimento autônomo da economia nacional. Isso porque se sustenta na subjugação estrangeira e na dominação do latifúndio no campo. Dessa forma, o capitalismo burocrático já nasce atado a semifeudalidade e, por causa disso, desenvolver o capitalismo não acabará por limpar as relações semifeudais aqui existentes. Agora vamos para outra questão: que classes compõem um país do tipo capitalista burocrático? Podemos dizer que em todo país capitalista burocrático há: A Grande Burguesia Burocrática, com suas frações do tipo propriamente burocrática e a compradora. A propriamente burocrática representa principalmente os grandes industriais que prestam serviços ao Estado Burguês-Latifundiário. Já a compradora representa os Grandes Barões do Comércio (Banqueiros e Grandes comerciantes) geralmente ligados a monopólios privados e internacionais; Os Latifundiários feudais, os quais representam a aplicação das relações servis no campo, prendendo os homens à terra (camponeses) e tendo a propriedade fundiária da terra para sustentar seu poder; O campesinato, com seu conjunto (principalmente pobre) e médio e rico campesinato, representando os homens presos à terra e que possuem contradições principalmente com os Latifundiários, classe dominante no campo responsável pela servidão dos camponeses, que se aproveitam de modalidades feudais para explorar os camponeses, como por exemplo, o regime de barracão1; O Proletariado, a última classe da história e a única que tem possibilidade de dirigir a revolução, que vende de sua força de trabalho em troca de um salário, que nada mais é uma parte do valor que o mesmo produz no seu trabalho, o qual é extraído em forma de mais-valia pelo capitalista; O Semiproletariado, que ainda possui parte dos meios de trabalho (constituindo-se em um setor arruinado que oscila entre pequena burguesia e proletariado, em acelerada proletarização). Aqui se pode citar como exemplo, os motoristas de Uber; A Pequena burguesia, uma classe com muita energia, que está entre a Grande Burguesia e o Proletariado. Pode se dar o exemplo artesãos, trabalhadores autônomos e pequenos proprietários no geral como representantes dessa classe. Além disso, se pode dizer que essa classe há já uma mencionada grande energia, mas que pode se desviar tanto para direita como para esquerda, isto é servir à burguesia ou ao proletariado; A Burguesia Genuinamente nacional, que é uma classe exploradora objetivamente, no entanto, possui contradições com as demais classes dominantes e principalmente com o imperialismo e, ademais possui pouco ou nenhum espaço no Estado Burguês e suas empresas são destinadas genuinamente à produção nacional, sem se abrir de fato para monopólios estrangeiros. Ademais, há as “Três Linhas do Capitalismo Burocrático”, ou seja, TrêS formas de manifestação do capitalismo burocrático, as quais foram descritas pelo Presidente Gonzalo: “Introduz a linha latifundiária no campo mediante leis agrárias expropriatórias que não apontam a destruir a classe latifundiária feudal e sua propriedade senão evoluí-las progressivamente mediante a compra e pagamento da terra pelos camponeses. A linha burocrática na indústria aponta a controlar e a centralizar a produção industrial, no comércio, etc., pondo-os cada vez mais em mãos monopolistas a fim de propiciar uma acumulação mais rápida e sistemática do capital, em detrimento da classe operária e demais trabalhadores, naturalmente, e em benefício dos maiores monopólios do imperialismo em consequência; neste processo tem grande importância a poupança forçosa a que se submete aos trabalhadores, como se vê na lei industrial. A linha burocrática no ideológico consiste no processo para moldar a todo o povo, mediante meios massivos de difusão, especialmente, na concepção e ideias políticas, particularmente, que sirvam ao capitalismo burocrático; a lei geral de educação é a expressão concentrada desta linha, e uma das constantes desta linha é seu anticomunismo, seu antimarxismo aberto ou solapado.” [4] Vamos analisar como essas três linhas se manifestam no nosso país. A linha latifundiária no Brasil se manifesta no campo a partir de leis agrárias expropriatórias, que são propagandeadas como “Reforma Agrária”, que longe destruir o latifúndio, acabam por o alongar, deixando basicamente os trabalhadores rurais em uma condição precária, sem condição de plantar, tendo que vender a sua força de trabalho para o latifúndio depois e inclusive suas terras. A linha burocrática na Indústria no Brasil aparece a partir da tendência da centralização e da monopolização de toda a produção nacional, a fim de aumentar do capital burocrático e precarizar cada vez mais a vida das massas. A linha burocrática no ideológico no Brasil se manifesta a partir da defesa do capitalismo burocrático por meios de comunicação, da educação e da cultura. Isso é notável, por exemplo, na clássica propaganda da Globo “AGRO É POP”, no próprio projeto do “Novo Ensino Médio”, que substituiu disciplinas científicas por disciplinas farsantes, além de aumentar o abismo entre as escolas, precarizando assim a educação pública. E, como o último exemplo, podemos citar o clássico exemplo vindo de muitos direitistas que é a demonização do principal inimigo do capitalismo burocrático: o marxismo. O Caminho da Revolução nos Países Capitalistas Burocráticos Diante do exposto, ainda falta uma última pergunta a ser respondida: qual é o caminho que deve ser tomado para engendrar a Revolução, ou melhor, qual é a forma e o conteúdo da Revolução em países do tipo Capitalista Burocrático? De maneira alguma poderá ser tomado o caminho de uma Revolução Socialista de imediato, uma vez que a principal contradição não está entre proletariado e burguesia, mas sim entre o campesinato pobre e o sistema latifundiário, o que exige uma tarefa democrática. Ao mesmo tempo que não se pode falar de uma Revolução Democrático-Burguesa, uma vez que a nossa Grande Burguesia é reacionária e vive do capitalismo burocrático. E, mesmo que a pequena burguesia e média burguesia tenham pretensões progressistas, não possuem forças pra dirigir a Revolução, pois tem medo do comunismo. Ora, então “O que Fazer?” A isso, o Presidente Mao Tsé-Tung responde com a Revolução Democrática de Novo Tipo ou Revolução de Nova Democracia Ininterrupta ao Socialismo. [4] Em síntese, cabe ao Proletariado em formada aliança operário-camponesa por meio do Partido Comunista junto com uma aliança com as demais classes oprimidas, conduzir uma Revolução Democrática cujo eixo central é a Revolução Agrária, uma vez que a contradição principal é entre Camponeses x Latifundiários e, sendo assim, barra a condição semicolonial e semifeudal, destruindo-as e assim avança ininterruptamente para o socialismo. Escrito por Kota Notas 1 — O regime de barracão funciona assim, nesse caso, o semiproletário do campo, levado à fazenda como assalariado devido a um longo processo de expropriação pelo latifúndio feudal-burguês, é convertido rapidamente em servo. Ele, aparentemente assalariado, é obrigado a comprar com o senhor os bens de consumo a preços hiperinflacionados, forma através da qual o senhor, na prática, toma-lhe o “salário” que lhe pagou. Na prática, o camponês pobre sem nenhuma terra trabalha na terra do senhor, entregando-lhe a renda-dinheiro, trabalho gratuito, torna-se preso à terra. Bibliografia: [1] El programa agrário de la socialdemocracia russa em la primera revolución rusa de 1905–1907 — Lenin, 1908 [2] Como o marxismo-leninismo-maoismo compreende o capitalismo burocrático — Movimento Popular Peru (Comitê de Reorganização). Publicado na Revista o Maoista n 1 (setembro de 2016). Disponível em: https://serviraopovo.com.br/2020/02/25/como-o-marxismo-leninismo-maoismo-compreende-o-capitalismo-burocratico/ [3] A problemática nacional — Presidente Gonzalo, 1974. Disponível em: https://serviraopovo.wordpress.com/2021/10/10/a-problematica-nacional-presidente-gonzalo-1974/ [4] Sobre a Democracia Nova — Mao Tsé-tung, janeiro de 1940. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/mao/1940/01/democracia.htm

O Uso Oportunista da obra “Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo

O Uso Oportunista da obra “Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo” 1-Introdução A obra “Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo” [1], é uma obra escrita pelo Camarada Lenin, a qual polemizava com diferentes esquerdistas de seu tempo, dos aventureiristas pequeno-burgueses até os seus camaradas bolcheviques. Essa obra merece ser lida e analisada minuciosamente. Isso porque mais do que nunca ela vem sendo invocada como um mantra pelos oportunistas, de forma desconexa e caricata, tergiversando os sólidos e corretos ensinamentos do Grande Lenin, e endossando ao mais vil cretinismo parlamentar, o qual Lenin combateu de forma indubitável. Justificando as mais hediondas alianças com o que há de mais reacionário no parlamento burguês, vemos essa obra sendo usada pelos oportunistas dos já partidos revisionistas como PCB, PCdoB, PCR, UP e etc. O objetivo primordial deste artigo é refutar e desmascarar os oportunistas que utilizam a obra de Lenin para o endossar o mais vil cretinismo parlamentar. Sendo assim nós demonstraremos como é o pensamento de Lenin sobra a questão das eleições em sua essência. 2- O aventureirismo dos socialistas revolucionários O esquerdismo, antes de tudo, se configura como posturas excessivamente radicais ou aparente extremas, mas que são inaptas à revolução. Podemos citar desde terrorismo individual às posturas sectárias que causem o isolamento das massas. Voltando agora a obra de Lenin, nela o nosso camarada travou incessantes debates com uma linha esquerdista que daremos atenção especial no momento, os socialistas revolucionários. Os socialistas revolucionários são descritos por Lenin como tendo tendências pequeno-burguesas que negavam o marxismo e tinham flerte pelo anarquismo. Eram aventureiristas e praticavam ações terroristas individuais, sem se preocupar com a mobilização das massas em suas ações, e longe de suas ações atraírem as massas para si, acabavam na verdade as alienando da luta. Ademais, ao mesmo tempo que riam dos oportunistas da II Internacional, se aliavam com esses para atacar os bolcheviques em sua política agrária e a defesa da ditadura do proletariado. Em síntese, assim como o anarquismo, os socialistas revolucionários tinham uma ideologia pequeno-burguesa, furiosa contra o capitalismo, mas incapaz de o compreender de forma profunda e construir uma organização sólida e de massas, se lançando assim em ações de maneira imprudente. Diante do exposto, temos aqui de fato a correta definição de “Esquerdismo”, a qual não é aplicada de maneira nenhuma aos legítimos democratas, estudantes do marxismo-leninismo-maoismo e comunistas de fato. 3- A opinião de Lenin acerca dos boicotes e das traições disfarçadas de “estratégias” A participação no parlamente burguês e o uso do boicote sempre foram questões táticas para o Camarada Lenin. Em nenhum momento de sua obra ele vai defender incondicionalmente uma das opções, muito pelo contrário, ele se esforça para deixar claro que o uso dependia do momento. Sobre o boicote dos bolcheviques que Lenin definiu como justo, ele disse o seguinte: “”O boicote dos bolcheviques ao “parlamento” em 1905, enriqueceu o proletariado revolucionário com uma experiência política extraordinariamente preciosa, mostrando que, na combinação das formas de luta legais e ilegais, parlamentares e extraparlamentares, é, às vezes, conveniente e até obrigatório saber renunciar às formas parlamentares.” Mas também destacou que: “transportar cegamente, por simples imitação, sem espírito crítico, essa experiência a outras condições, a outra situação, é o maior dos erros.” Sendo assim podemos ter a plena convicção da posição tática de Lenin sobre o parlamento, não sendo o boicote, como dizem nossos incautos oportunistas, natureza “esquerdista”. Assim Lenin propunha usar o boicote e o parlamento, trabalho ilegal e legal conforme servisse ao progresso do Partido. Alguns refugos tais como os nossos, diziam que “se Lenin fez aliança com os imperialistas alemães tudo é válido” …logo estava liberado qualquer aliança com qualquer lixo com o pretexto de estar sendo “tático”, Lenin em seu livro ataca impiedosamente esses senhores: “(…) os mencheviques e os social-revolucionários na Rússia, os partidários de Scheidemann (e, em grande parte, os kautskistas) na Alemanha, Otto Bauer e Friedrich Adler (sem falar dos Srs. Renner e outros) na Áustria, os Renaudel, Longuet & Cia. na França, os fabianos, os “independentes” e os “trabalhistas”(9) na Inglaterra assumiram, com os bandidos de sua própria burguesia e, às vezes, da burguesia “aliada”, compromissos dirigidos contra o proletariado revolucionário de seu próprio país, esses senhores agiram como cúmplices dos bandidos. A conclusão é clara: rejeitar os compromissos “por princípio”, negar a legitimidade de qualquer compromisso, em geral, constitui uma infantilidade que é inclusive difícil de se levar a sério. O político que queira ser útil ao proletariado revolucionário deve saber distinguir os casos concretos de compromissos que são mesmo inadmissíveis, que são uma expressão de oportunismo e de traição, e dirigir contra esses compromissos concretos toda a força da crítica, todo esforço de um desmascaramento implacável e de uma guerra sem quartel, não permitindo aos socialistas, com sua grande experiência de “manobristas”, e aos jesuítas parlamentares que se livrem da responsabilidade através de preleções sobre os compromissos em geral”. Os senhores “chefes” das trade-unions inglesas, assim como os da Sociedade Fabiana e os do Partido Trabalhista “Independente”, pretendem, exatamente desse modo, eximir-se da responsabilidade da traição que cometeram, por haver assumido semelhante compromisso que, na realidade, nada mais é que oportunismo, defecção e traição da pior, espécie. Há compromissos e compromissos. É preciso saber analisar a situação e as circunstâncias concretas de cada compromisso, ou de cada variedade de compromisso. É preciso aprender a distinguir o homem que entregou aos bandidos sua bolsa e suas armas para diminuir o mal causado, por eles e facilitar sua captura e execução, daquele que dá aos bandidos sua bolsa e suas armas para participar da divisão do saque. Em política, isso está muito longe de ser sempre assim tão difícil como nesse pequeno exemplo de simplicidade infantil. Seria, porém, um simples charlatão quem pretendesse inventar para os operários uma fórmula que, antecipadamente, apresentasse soluções adequadas para todas as circunstâncias da vida, ou aquele que prometesse que na política do proletariado nunca surgirão dificuldades nem situações complicadas. “ Além disso, vale destacar que o acordo que o Camarada Lenin fez com os imperialistas alemães, serviu justamente com o objetivo de se evitar um verdadeiro banho de sangue. Isso porque com a Intervenção da Entente que veio na Guerra Civil Russa acabou causando pesadas baixas aos civis em um país que ousou resistir e lutar contra a velha ordem. Agora, no que concerne à prática social do Partido Comunista Bolchevique, a sua atuação em diversas situações na Revolução Russa são a comprovação de que esse sempre esteve ao lado do proletariado e da revolução socialista. Em relação aos que tentam se equiparar ao Lenin com suas práticas torpes de aliança com o imperialismo e latifúndio, não só traem princípios como nunca fizeram nada pela classe trabalhadora. 4-A Estratégia de Lenin nada tem em comum com a “estratégia” dos oportunistas O Camarada Lenin em nenhum momento de sua obra usa abstrações politizadas ou antimaterialistas como “votar no menos pior”, “rouba, mas faz” ou “votar em x para barrar o imperialismo”. Lenin anda mantinha a mesma convicção do fracasso do parlamentarismo burguês e sua necessidade de derrubá-lo. E, usando do materialismo histórico e do materialismo dialético, compreendia que, os sindicatos e partidos socialdemocratas, representavam um marco histórico na luta operária, sendo as primeiras formas de organização da luta trabalhista e socialista reuniam milhares em seu entorno que acreditavam fielmente nas promessas do reformismo, como esses partidos ainda estavam galgando espaços para chegar ao poder no parlamento das nações da Europa, havia a necessidade de lançar os partidos burgueses social-democratas e trabalhistas ao poder, para depois, os denunciar pela suas políticas oportunistas, evidenciando suas limitações, seu caráter reacionário e assim os atacar de forma devastadora. Lenin disse o seguinte aos “Comunistas de Esquerda” da Inglaterra: “Pelo contrário, do fato de a maioria dos operários da Inglaterra ainda seguir os Kerenski e os Scheidemann ingleses de não ter passado “ainda pela experiência de um governo formada por esses homens — experiência que foi necessária tanto na Rússia como na Alemanha para que os operários se passassem em massa para o comunismo deduz-se de modo infalível que os comunistas ingleses devem participar do parlamentarismo, devem ajudar a massa operária de dentro do parlamento a ver na prática os efeitos do governo dos Henderson e dos Snowden, devem ajudar os Henderson e Snowden a derrotarem a coalizão de Lloyd George e Churchill. Proceder de outro modo significa dificultar a marcha da revolução, pois se não se produz uma modificação nas opiniões da maioria da classe operária, a revolução torna-se impossível; e essa modificação se consegue através da experiência política das massas, e nunca apenas com a propaganda. A palavra de ordem: “Avante sem compromissos, sem desviar-se do caminho!” é claramente errada, se quem a propala é uma minoria evidentemente impotente de operários que sabe (ou, pelo menos, deve saber) que dentro de pouco tempo, no caso de, Henderson e Snowden triunfarem sobre Lloyd George e Churchill, a maioria perderá a fé — em seus chefes e apoiará o comunismo (ou, em todo caso, adotará uma atitude de neutralidade e, em sua maioria, de neutralidade simpática em relação aos comunistas). É a mesma coisa que se 10.000 soldados se lançassem ao combate contra 50.000 inimigos no momento em que é necessário “deter-se”, “afastar-se do caminho”, e até concertar um “compromisso” para esperar a chegada de um reforço prometido de 100.000 homens, que não podem entrar em ação imediatamente. É uma infantilidade própria de intelectuais e não uma tática séria da classe revolucionária. “ O Pensamento Leninista é claro: não adianta os comunistas saberem que o Parlamento e os partidos burgueses eram reacionários, isso não mudaria a crença que milhares de operários tinham acerca dos partidos burgueses. Era necessário demonstrar a inevitabilidade da política reacionária burguesa presente nos socialdemocratas, revelar sua incapacidade de gerir os anseios das massas populares. Avançando, o Camarada Lenin disse: “(…) em segundo lugar, ajudar a maioria da classe operária a convencer-se por experiência própria de que temos razão, isto é, da incapacidade completa dos Henderson e Snowden, de sua natureza pequeno-burguesa e traidora, da inevitabilidade de sua falência; e, em terceiro lugar, antecipar o momento em que, sobre a base da desilusão produzida pelos Henderson na maioria dos operários, se possa, com grandes probabilidades de êxito, derrubar de golpe o governo dos Henderson.” Dessa forma a ajuda dos comunistas na verdade era do tipo “dar a corda para os reformistas se enforcarem”: “ (…) como também por que eu gostaria de sustentar Henderson com meu voto do mesmo modo que a corda sustenta o enforcado; que a aproximação dos Henderson a um governo formado por eles mesmos demonstrará a minha razão, atrairá as massas para o meu lado e acelerará a morte política dos Henderson e Snowden, exatamente como aconteceu com seus correligionários na Rússia e na Alemanha.” Em síntese, Lênin pregava o apoio tático não como ilusão parlamentar, mas para desmascarar os novos eleitos, acelerar a inevitável decomposição do Estado Burguês, aprofundar sua crise que, independe da vontade de um gestor de turno, mas é uma lei natural do capitalismo. Diante do cenário de total descrédito e falência das instituições do Estado, se aprofundaria a agudização da luta de classes e o desencadeamento da revolução proletária: “ (…) a revolução é impossível sem uma crise nacional geral (que afete explorados e exploradores) (…) em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes atravessem uma crise governamental que atraia à política inclusive as massas mais atrasadas (o sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos para a luta política, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apática), que reduza o governo à impotência (…)” Diante do exposto é possível concluir que a tática de Lênin em nada se assemelha com aqueles que seguem se iludindo e iludindo as massas. PCdoB, PCR, PCB, PSTU e PCO defenderam o projeto do PT por fé e não estratégia. Nunca tiveram em mente à bancarrota do PT para expor suas contradições e afastar as massas do atraso em apoio à sua política. Ainda que de fato a tática de apenas participar do parlamento para o denunciar já tenha caducado historicamente. Será exposto o porquê no próximo tópico. 5- Boicote eleitoral: de tática circunstancial para uma tática universal Conforme o tempo foi passando e a Revolução Proletária Mundial avançando, os estados burgueses desde os imperialistas até os capitalistas burocráticos passaram por grandes processos de reacionarização. Sendo assim eles aumentaram o grau e número de repressão e empurraram cada vez mais os revolucionários para a ilegalidade. Em síntese, a própria participação no Parlamento Burguês apenas para a denúncia e propaganda revolucionária se tornou insustentável tanto pelo fato da estrutura parlamentar não permitir que isso aconteça, como também já se vê uma ineficácia de tal tática. Isso porque as massas estão desiludidas e possuem uma ojeriza quase natural às eleições. Se falarmos do Brasil então, se vê de forma muita clara nas últimas eleições (2022) que as massas tem de fato essa ojeriza às eleições[2], já que nesse ano teve o maior número de abstenções desde 1988 e os que votaram em Lula e Bolsonaro o fizeram na lógica de tentar impedir um ou outro de ganhar (Lula e Bolsonaro). Ademais, outra coisa que é importante comentar é que praticamente 1/3 da população não votou (brancos, nulos e abstenção). Sendo assim, de nada vale sequer a participação no parlamento para denunciar os já putrefatos oportunistas dos partidos burgueses, como o PT.[3] Falando agora sobre o boicote eleitoral em si, ele já foi aplicado e continua o sendo em outros países, como na Índia. Nesse país, essa tática foi defendida [N.T: como sendo universal) inicialmente pelo Grande Chefe do Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista), o camarada Charu Mazumdar, que diz o seguinte sobre a via parlamentar, a revolução mundial e o boicote: “Na presente época, quando o imperialismo está caminhando para um colapso total, a luta revolucionária em cada país assumiu a forma de luta armada; e o Revisionismo soviético, incapaz de manter a sua máscara do socialismo, foi forçado a adotar táticas imperialistas; A revolução mundial entrou em uma nova fase superior; e o socialismo está marchando irrepressível frente para a vitória — em tal época, levar a luta para o caminho parlamentar, é parar esta marcha progressiva da revolução mundial. Hoje, os revolucionários marxista-leninistas não podem optar pela via parlamentar. Isto é verdade não só para os países coloniais e semi-coloniais, mas para os países capitalistas também. Nesta nova era da revolução mundial quando a vitória foi alcançada na Grande Revolução Cultural Proletária na China, tornou-se a principal tarefa dos marxistas-leninistas de todo o mundo para estabelecer bases em áreas rurais e para construir, de uma base sólida, a unidade dos trabalhadores, camponeses e todos os povos que labutam através da luta armada. Assim, a campanha de “boicotar as eleições”, estabelecer bases rurais e criar a luta armada que os revolucionários marxistas-leninistas têm avançado, permanece válidos para a era inteira. Ao aderir à via parlamentar os revolucionários de todo o mundo tem permitido uma dívida de sangue formidável a acumular ao longo dos tempos. O tempo chegou para resolver esta dívida de sangue. Centenas de milhares de mártires caídos apelam aos revolucionários: “Destruam o imperialismo e eliminem-no da face da terra!” É hora de reconstruir o mundo de uma nova maneira! Nossa vitória nesta luta é o certo!” [4] Basicamente ele explica que aderir à via parlamentar é fundamentalmente parar o avanço da revolução mundial. Isso porque naquele contexto o maior defensor da via parlamentar era exatamente o revisionismo soviético. Ademais, ele também defende que isso é uma verdade tanto para os países capitalistas (provavelmente está se referindo neste caso aos países imperialistas) e quanto para os países semicoloniais (capitalistas burocráticos) e propõe no fim o boicote às eleições. Sobre as eleições, o Presidente Gonzalo, a Chefatura do Partido Comunista do Peru e aquele que definiu o Maoismo “como terceira, nova e superior fase do marxismo-leninismo”, disse o seguinte: “Se me permitirem, lhes diria que o principal das eleições é boicotá-las e, se possível, impedi-las. Por que propomos isto? Que vai ganhar o povo? Nada. Nada vai ganhar com a renovação eleitoral, creio que isso é uma coisa muito clara na história do país. No documento ‘Desenvolver a Guerra Popular servindo à Revolução Mundial’ fizemos ver, demonstramos, e ninguém o desmentiu, demonstramos como a porcentagem da IU é a situação que impediu que a maioria se expressasse contra as eleições. Creio que isso ficou demonstrado. Portanto, temos defendido, e os fatos demonstram, que a tendência no Peru é a de não esperar nada das eleições, nem de um novo governo, a tendência é rechaçar as eleições.”[5] Somos da mesma opinião do camarada Gonzalo, o povo não ganhará nada com as eleições. Eis a tarefa de as boicotar! 6- Conclusão Caros companheiros, tendo em vista tudo o que foi exposto nesse artigo podemos concluir que a tática de Lenin em nada se assemelha com os oportunistas dos já rebotalhos partidos revisionistas de nosso país. Ademais, tendo em vista, que a revolução mundial já entrou há muito tempo em uma fase superior, como já foi citado pelo Camarada Charu Mazumdar, aderir ao caminho parlamentar não faz avançar a revolução mundial. Muito pelo contrário, ao aderir à via parlamentar se permite acumular uma dívida de sangue formidável, mais do que ela já está acumulada. Como o Presidente Gonzalo disse [N.T: O POVO]“Nada vai ganhar com a renovação eleitoral”. O certo é erguer o lema e o cumprir de fato em forma de ação “Eleições não! Guerra Popular sim!”. Tendo dito tudo isso, terminamos aqui o artigo e fechamos com uma frase proferida pelo camarada Lenin: “A luta contra o imperialismo é uma frase vazia e falsa se não estiver indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo” — Lenin Bibliografia: [1]Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo — Lenin, 1920. Disponível em:https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/esquerdismo/ [2] — RO: Massas rechaçam farsa eleitoral — Gabriel Artur, 2022. Disponível em:https://anovademocracia.com.br/massas-rechacam-farsa-eleitoral-no-interior-de-rondonia/ [3] — A crescente de abstenções, votos brancos e nulos — Bernardo Caram e Renan Ramalho, 2016. Disponível em:https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2016/noticia/2016/10/abstencoes-votos-brancos-e-nulos-somam-326-do-eleitorado-do-pais.html [4] — “Boicotar as Eleições!” — Importante Campanha Internacional — Charu Mazumdar, 1968. Disponível em: "Boicotar as eleições!" - Importante Campanha internacional Primeira Edição: Liberation, dezembro de 1968 Fonte: Servir ao Povo de todo Coração … www.marxists.org [5] LA ENTREVISTA DEL PRESIDENTE GONZALO, 1988. Disponível em: https://www.verdadyreconciliacionperu.com/admin/files/libros/600_digitalizacion.pdf Antirrevisionismo Maoismo Antielectoralism Brazilian 1

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Pedro Pomar: Um Maoista Necessário no Século XXI Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (Mestre em Estudos Literários/UFMG)

Pedro Pomar: Um Maoista Necessário no Século XXI Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (Mestre em Estudos Literários/UFMG) Essa coletânea de textos de Pedro Pomar, jornalista e militante comunista assassinado em 1976 pela ditadura brasileira na Chacina da Lapa, demonstra mais uma vez mostra a potência desse pensador engajado. Sendo assim, é com satisfação que disponibilizamos essa reunião de seus artigos e discursos, muitos de difícil acesso, outros há muito tempo inéditos. Ele faz o atualíssimo elogio de Stálin e suas contribuições à ciência militar, num momento histórico em que Stálin está sendo justamente revalorizado enquanto pensador. Compreender o pensamento e a contribuição teórico/prática de Stálin tem sido premente e, dia após dia, Stálin retorna ao lugar de onde não deveria ter saído no pensamento marxista-leninista. Pomar utiliza corretamente o termo, usando a expressão marxismo-leninismo-stalinista; o uso do termo “stalinismo” historicamente foi rejeitada pelo próprio Stálin, que ressaltou ser apenas um aplicador de Lênin, mas esse uso que Pomar consagra é um uso correto, assim o pensamento é encadeado de forma indissociável do leninismo. Outro momento em que esse livro coleta um documento necessário é a Carta dos 100, documento que mostra como o atual PCB de José Paulo Netto e de outros trotsko-lukacsianos já nasceu com as características que reaparecem hoje, no racha entre os “jonesianos do RR” e os “Bezerras do Comitê Central”: autoritarismo da cúpula (deturpação de diretrizes de forma autoritária, sem passar por Congresso), revisionismo no sentido de tirar tudo o que é revolucionário em prol de se ligar ao estado, oportunismo eleitoral indissociável da suicida via pacífica como caminho das concessões. Ou seja: o DNA autoritário do PCB existiu desde o seu nascimento em 1962, aliás, esse documento comprova que o degenerado PC de Iasi, Manzano e Netto nasceu ali, devendo o próprio nome a uma concessão à exigência dos “patridiotas” de então de um partido comunista “brasileiro”. Igualmente, Pomar registrou o momento exato em que Prestes começou a degenerar, corretamente atribuindo a ele o papel de líder do kruschevismo no Brasil. Esse papel nefasto de Prestes enquanto revisionista não foi processado até hoje. A direita o execrou como comunista e o a esquerda o preserva como cavaleiro da esperança. Nesse ponto, mais uma vez quem devemos consultar, quem tem razão é Pedro Pomar. Muitos textos guardam grande atualidade e sintonia com as interpretações atuais. Mais do que nunca é preciso desmascarar o falso patriotismo dos militares, infelizmente, serviçais dos piores inimigos da pátria. Pomar denunciou isso no texto O Povo Conquistará sua Verdadeira Independência. A conclusão de Pomar é que 1817 é que foi o marco da nossa independência, posição na qual Pomar converge com Nildo Ouriques, é muito lúcida. Como a revolução republicana estava para acontecer, o império organizou o arranjo conservador de 1822, mantendo toda a malha feudal e colonial. Igualmente, Pomar foi profético quando ressaltou que, quando um revisionista vomita o asqueroso slogan “socialismo e liberdade” é para disfarçar que quem fala nisso quer abolir a liberdade de debate, por exemplo, sobre Stálin; via de regra, quem fala em socialismo e liberdade é sempre muito mais autoritário do que qualquer seguidor de Mao, Stálin ou Pol Pot. Suas reflexões, sejam sobre a Grande Revolução Proletária, o momento histórico trágico em 1972 ou o Araguaia, são agora, quando a esquerda revolucionária renasce das cinzas, mais atuais e prementes do que nunca.