segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sou um Homem Morto



Muito bem: como é um homem morto?

Quem é que vê e prefere ver um homem morto?

Sou um homem morto.

Um poeta aniquilado.


Um poeta esfumado (bela conquista de Da Vinci - sfumato)


Muito bem: tenho poucas horas. Me procuram.


Sou uma espiral galáctica que se encerra e busca o núcleo, que se desfaz sobre si mesma, que se contém e logo explode.

Sou um homem morto e todos esperam a notícia. Apenas feito menor pela pobreza dos detalhes, a pobreza do obituário...me arde a pouca beleza do meu epitáfio.

Não mandarei cartas e revisarão de maneira póstuma o que agora escrevo.

Pouca profundidade deu o tempo ao fóssil e assim, os ossos foram pasto de museus, estudo para os sábios, folclore para os humanóides.

Levanto cedo e simulo ser cidadão. Mostro a todos a cicatriz dos cravos. Santo Tomás toma de novo sua lança, escava e apenas crê que a morte é o final de uma ilusão.

Sou um homem morto.

E ninguém acredita.

Fabrício Estrada (fabricioestrada.blogspot.com)

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