quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A patrulha das patrulhas pop-odara: Jabor X Escorel

ESCOREL: A referência precisa, situando a cena inicial em 1945, gera expectativas que o filme não cumprirá, por transcorrer em um vácuo sem referências a qualquer outro fato histórico ocorrido até 1956, ano em que a narrativa chega ao fim. Deixando de articular os personagens com o contexto da época, Jabor cria seres a-históricos, que, depois de terem queimado um boneco representando Hitler, passam a viver livres de qualquer influência dos acontecimentos sociais e políticos. Os personagens de A Suprema Felicidade habitam uma “terra abençoada” chamada Brasil, refúgio de estereótipos, onde sambas e requebros se somam à mitologia musical e cinematográfica norte-americana para ocupar o imaginário".

JABOR: Ato de violência. Aí, percebi que não apenas a patrulha pop pautou seus críticos. Lembrei da devastadora crítica de Eduardo Escorel na revista piauí - (não confundir com Lauro Escorel, o grande artista que fotografou o filme). Lembro mesmo que corri à piauí com a esperança de aprender teoria com o velho autor de remotos filmes, como a história sinistra de um esquartejador e a adaptação dialética do Cavalinho Azul, de Maria Clara Machado. Dele eu esperava opiniões cultas, conspícuas frases sobre Bergman, Fellini. Eu esperava encontrar André Bazin e dei de cara com Andrei Zhdanov, o supremo censor de Joseph Stalin (olhem no Google, meninos...) Mas, mesmo assim, esquartejado, tentei entendê-lo. E tive a revelação, vi a luz!Eduardo tinha uma missão política, senhores, iluminista mesmo: ele quis salvar o público das mensagens reacionárias que devo ter embutido no filme. Por isso, ele correu a Alphaville, para ver o filme quentinho, ainda no laboratório. Ele correu antes para avisar o povo: "Não vá!... Fuja do demônio neoliberal que fez um filme de época sem mostrar Getúlio ou a luta de classes." Eu sei que vocês foram modificados geneticamente por décadas de videoclipes, eu compreendo que vocês achem o Michel Gondry o novo Goddard e que o flash-back foi inventado pelo Tarantino.

Cabeça de Bacalhau blog: o jornal Diário do Nordeste demitiu de forma arbitrária, no último dia 18 de outubro, o jornalista Dalwton Moura, por ter escrito e editado matéria no Caderno 3 sobre as revoluções marxistas que marcaram os séculos XIX e XX.

Lúcio, patrulheiro pop-Odara: JABOR, GODARD É GOD-ART, NÃO GODDARD.

ESCOREL: Oscilando entre realismo e fantasia, a fotografia e a direção de arte também carecem de princípio unificador, ou de justificativa para sua heterogeneidade. As trucagens digitais e a recriação de época nem sempre conseguem evitar certo artificialismo. E, com as cenas externas em locações, o filme não consegue se libertar das amarras realistas para se situar à vontade no plano fantasioso da memória.

FELIPE MOREIRA: Concordo. Mas ele acha isso negativo. Para mim, tudo isso é positivo. Chega de realismo! O único filme não realista, com pretensões mítico / idealistas em cartaz há tempos. Em outras palavras: adorei A suprema felicidade e achei a crítica escrotinha.

Lúcio, patrulheiro pop-Odara: Felipe, eu nem vi o filme ainda. Pelo trailer parece bom. Discuto é a crítica. Para Jabor, crítico é o bonequinho da Globo batendo palminha. Não; crítico tem nome. E Escorel fez uma boa crítica, que pega tudo de dentro. Mas poderia ser respondida. Por exemplo: por que locação externa é sinônimo de filme realista? E a Veja falou bem do filme, só copiou a observação sobre o Nanini do Escorel. Isso acontece muito hoje. Quem escreve primeiro e melhor, pauta os mais fracos. E Veja é fraca.

NELSON RODRIGUES: Compreendo que isso dá prestígio; é um upgrading. O sujeito entra na redação de testa alta e lábio trêmulo: "Esculachei a besta do Jabor..!" E é olhado com cálida admiração.

Lúcio: CRITICAR COM ESSE ARGUMENTO DE QUE É PATRULHA É ANACRÔNICO. AS PATRULHAS NO JORNAL O MOVIMENTO ERAM NA VERDADE O CONFRONTO CEBRAP VERSUS EMBRAFILME, NEOLIBERALISMO X PROJETO NACIONAL.

JABOR: Vou pautar também os jovens tenentes das novas "patrulhas pop", porque eu sou egresso das velhas patrulhas ideológicas descobertas por Cacá Diegues e tenho esta missão. E conseguiu; parabéns, doce Zhdanov com seu lento sorriso superior. Foi um alívio. A sociedade estava salva.

Patrulhas das patrulhas do campo e do contracampo: Basta que ressoe “patrulha ideológica” no recinto fechado para que o locutor reflita e, num ato de repressão interna, sufoque o stalinista que existe em seu peito, modere suas palavras de ordem e venha a compor a linha de frente dos defensores de um Brasil republicano. Assim, vemos crescer substancialmente a “patrulha das patrulhas”, um regimento especial de homens e mulheres dispostos a obstruir com sua firmeza moral os fantasmas do atraso. A eficácia do “contra-patrulhamento” conseguiu que as discussões em torno da Ancinav e das tvs digitais fossem sufocadas antes que se alastrassem e mobilizassem um número cada vez maior de stalinistas fanáticos por controle.

ESCOREL: No início da carreira, Jabor dizia ter mais interesse por teatro e poesia do que cinema. Entre 1965 e 1990, período em que realizou nove longas-metragens, alguns com acentuadas características teatrais, sempre manteve atitude ambígua, parecendo mais um diletante do que um cineasta profissional. Por ter abandonado o duro ofício de fazer filmes, não surpreende, portanto, nem a singeleza da composição dos planos que registram a encenação sem resultarem de um projeto formal específico, nem a dificuldade para narrar a fragmentada história que ele mesmo escreveu.

JABOR: Mas, aí... esbarrei com a frase: "Jabor sempre pareceu mais um "diletante" que um cineasta profissional." Aí, não. Depois de ter trabalhado 30 anos em cinema, fazendo nove filmes, ouvir isso não dá. "Diletante" é você, cara, que fez dois ou três filmes medíocres que sumiram da história de nosso cinema.

ESCOREL: Em 1962, Jabor dizia querer filmar “O cão sem plumas”. Décadas depois, nada mais distante do poema de João Cabral de Melo Neto do que a exuberância de A Suprema Felicidade. Distância que pode ser a chave para entender a trajetória do realizador. Ela é marcada, como a de Paulo, seu personagem, pela vontade de “ser diferente” e “descobrir quem ele é”. Vendo A Suprema Felicidade, alguém ainda poderá ter dúvida em relação à verdadeira vocação de Arnaldo Jabor?

JABOR: E, no final, outro insulto, quando ele diz que, vendo esse filme, ele não tem mais dúvidas de quem sou eu...Respondo: Se você pudesse saber quem eu sou, você não seria o que é. E mais, ridículo censor do trabalho alheio: "A dignidade severa é o último refúgio dos fracassados." É só.

Patrulha das patrulhas do campo e do contracampo: Não há nada mais repugnante para um artista liberal que censores organizados em patrulhas ideológicas.

11 comentários:

Revistacidadesol disse...

http://en.wikipedia.org/wiki/Andrei_Zhdanov

Revistacidadesol disse...

Roland Barthes summed up the core doctrine of Zhdanovism this way: "Wine is objectively good... the artist deals with the goodness of wine, not with the wine itself."

Essa foi boa: "vinho é objetivamente bom...o artista lida com a bondade do vinho, não com o vinho em si".

Revistacidadesol disse...

Ele disse ainda que Brizola tinha “ressentimento” porque Lula não visitava o túmulo de Getúlio Vargas, apesar dos vários convites do pedetista. O presidente disse que em um dado momento acabou cedendo aos apelos do ex-governador. Diante do túmulo, Lula disse ter estranhado ao ver Brizola “conversando” com Getúlio como se ele estivesse vivo.

Brizola teria perguntado ao presidente se ele também não queria participar da “conversa”. O presidente respondeu que não. O ex-governador teria então “apresentado” Lula a Getúlio. “Esse é o Lula. É um operário que nós vamos apoiar”, disse Brizola. Lula disse que naquele momento pensou: “Esse Brizola transcende a minha compreensão”.

Revistacidadesol disse...

Microcontos em homenagem ao GT:

Becketteano 1
Eu vou. Por que não?
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior

Becketteano 2
Escrevo? Só sirvo para isso.
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior

Becketteano 3
Falhar. De novo. Melhor.
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior

Revistacidadesol disse...

O camarada Rosemberg, leitor desse blog, me cobra amigavelmente pedindo mais engajamento no combate à administração Haroldo.

Eu, ao contrário do Jabor, acho cobrança ótimo.

Respondo: Rosemberg: que facção da política local Haroldo representa? A política local é polarizada em grupos desideologizados.

De nada vale me bater para Haroldo sair em 2012, se ele tem chance de voltar em 2016.

Sugiro ao Fernando Cabral fazer oposição extra-parlamentar, pois há um deslumbre com o institucional. João Faquinha, presidente do PT local, participa de conselho do museu, da biblioteca, do não sei quê, participa do institucional na gestão Haroldo. Isso é caso de vcs reclamarem com o Célio, com o Márcio Lacerda, com o Aécio, com o Lula, com a Dilma.

A solução é criar ONGs, reunir a oposição em uma reunião aberta à população, fundar partidos, organizar Comunidades Eclesiais de Base.

Haroldo é a ideologia do favor. Ele tb combate encarniçadamente o povo organizado, pois sabe que, oligarquia atrasada como é, tem tudo a perder.

E o pior: se a maioria da Câmara é dele, é claro indício de que a burguesia local o apoia e lucra com sua administração; investe e depois recebe. Já setor de oposição é minoritário e gira em torno de dois ex-prefeitos: Célio e Simão.

Aliás, o que está fazendo o Célio Luquine lá em BH, está de ascone do Márcio Lacerda? Por que não está organizando o PT aqui? É por isso q não vamos para a frente....

Abs do Lúcio Jr.

Clenio Araujo disse...

Lúcio

Concordo com vários apontamentos seus acima. Falta mais movimento em torno de (ou feito por) pessoas bem intencionadas e sem grandes apegos pelo poder. Sabe os legítimos participantes de associações de moradores, de sindicatos de trabalhadores e de órgãos de classe? Pois é, penso que é nesse pessoal que está a esperança da reviravolta. Será que eles querem mexer com isso e se indispor com gente atualmente poderosa? Será que eles existem num número razoável em BD? Será? Será? Quanto será, não?

Abraço

Revistacidadesol disse...

Oi, Clênio.

Tenho alguma esperança, mas principalmente pq sei q, a partir do conflito no São Vicente, ou as pessoas se organizam ou serão abatidas no fogo cruzado da guerra tráfico X PM.

Mas as lideranças são poucas, estão isoladas e muitas têm ambições políticas, o que as faz cautelosas e conciliadoras com a máquina da prefeitura.

Abs

Clenio Araujo disse...

Pois é, tenho a msm impressão a respeito do relacionamento com a prefeitura. É duro mudar uma realidade de quase 100 anos...

Abraço

Revistacidadesol disse...

Clênio, apoie o Partido Livre, dos dissidentes do PV:

Mande-nos seus e-mails para partidolivre@gmail.com

Assine seu apoio informando todos os dados abaixo:

Nome: ________________________________________________________

Nome da Mãe: __________________________________________________

Data de Nascimento: ____/______/_________

Nº do Título de Eleitor: ____________________________________________

Município: _______________________________________________UF____

E-mail: ________________________________________________________


Fora Marco Entúlio, ecologista trash!

Clenio Araujo disse...

Lúcio: ando "meio" desencantado com esse tal partidarismo brasileiro interesseiro e hipócrita em 99% dos casos. Tomara que esse futuro partido - sim, será, com certeza! Torço pra isso - seja diferente.
Abraço

Paulo Falcão disse...

Quando vi o trailer decidi que não veria o filme. Não sei se isto é uma crítica ou uma confissão de culpa, só sei que foi assim...