Lúcio Jr.
(Produção da oficina Releituras Literárias, sob sugestão da Soraya)
O pai em sua sina oca de existir
Eis aí mero feitio: preparar-se, durante a vida, para pedra.
Um dia entrou numa e partiu na canoa da doideira.
Barco bêbado, choramos.
Mas descobri que papai tinha as feições de um quase-artista.
E daí virei o pai de papai.
O filho que falou o não-calar
E que ficou fui eu.
E, para ocupar o lugar do pai
No palco da vida,
No campo da poesia
Bastam poucas palavras, quase outras.
Poetar, narrar, musicar;
Esse o é compasso do mais certo.
Ao invés dos conformes do vivido,
Preferi o fundo do sem-fundo.
Escritura do rio adentro,
Lua que longe leva.
A vida me sai da vida seca e entra nas histórias.
A rosa é do Rosa, que é uma rosa é uma rosa.
Eis a vida que está para morte
Como a poesia está para a prosa.
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
segunda-feira, 18 de julho de 2011
terça-feira, 12 de julho de 2011
Grito para Roma
Grito para Roma (poema de Lorca que permeia a narrativa de Oswald de Andrade Marco Zero):
O amor está nos fossos onde lutam as serpentes da fome,
No triste mar que embala os cadáveres das gaivotas
E no escuríssimo beijo pungente embaixo das almofadas.
Mas o velho de mãos translúcidas
Dirá: Amor, amor, amor,
Aclamado por milhões de moribundos;
Dirá: amor, amor, amor,
Entre o tecido da seda estremecido da ternura;
Dirá: paz, paz, paz
Entre o ruído de facas e de dinamite;
Dirá: amor, amor, amor
Até que se tornem de prata os seus lábios.
Entretanto, entretanto, ai!, entretanto,
Os negros que tiram as escarradeiras,
Os rapazes que tremem sob o terror pálido dos diretores,
As mulheres afogadas em óleos minerais,
A multidão de martelo, de violino ou de nuvem,
Há de gritar ainda que lhe rebentem os miolos contra o muro,
Há de gritar ante as cúpulas,
Há de gritar louca de fogo,
Há de gritar louca de neve,
Há de gritar com a cabeça cheia de excremento,
Há de gritar como todas as noites juntas,
Há de gritar com voz tão despedaçada,
Até que as cidades tremam como meninas
E rompam as prisões do azeite e de música,
Porque queremos o pão nosso de cada dia,
Flor de amieiro e perene ternura debulhada,
Porque queremos que se cumpra a vontade da Terra
Que dá seus frutos para todos
Federico Garcia Lorca
O amor está nos fossos onde lutam as serpentes da fome,
No triste mar que embala os cadáveres das gaivotas
E no escuríssimo beijo pungente embaixo das almofadas.
Mas o velho de mãos translúcidas
Dirá: Amor, amor, amor,
Aclamado por milhões de moribundos;
Dirá: amor, amor, amor,
Entre o tecido da seda estremecido da ternura;
Dirá: paz, paz, paz
Entre o ruído de facas e de dinamite;
Dirá: amor, amor, amor
Até que se tornem de prata os seus lábios.
Entretanto, entretanto, ai!, entretanto,
Os negros que tiram as escarradeiras,
Os rapazes que tremem sob o terror pálido dos diretores,
As mulheres afogadas em óleos minerais,
A multidão de martelo, de violino ou de nuvem,
Há de gritar ainda que lhe rebentem os miolos contra o muro,
Há de gritar ante as cúpulas,
Há de gritar louca de fogo,
Há de gritar louca de neve,
Há de gritar com a cabeça cheia de excremento,
Há de gritar como todas as noites juntas,
Há de gritar com voz tão despedaçada,
Até que as cidades tremam como meninas
E rompam as prisões do azeite e de música,
Porque queremos o pão nosso de cada dia,
Flor de amieiro e perene ternura debulhada,
Porque queremos que se cumpra a vontade da Terra
Que dá seus frutos para todos
Federico Garcia Lorca
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