O livro Encontro das Águas, de Fernando Sabino, me interessou muitíssimo porque conheço dois personagens desse livro de Sabino: eles moram na mesma cidade que eu, Bom Despacho: eles são Socorro e Nivaldo Santiago, ele maestro, ela professora. Eles me contaram que o texto de Sabino foi encomendado pela Sharp e recusado, pois não falou bem da Zona Franca de Manaus; Sabino transformou-o, então, em livro. A empresa ficou desgostosa, especialmente, com uma frase de Nivaldo:
Quando lhe digo que me sinto como se estivesse dentro d´água, Nivaldo Santiago sorri: --Nós temos aqui mesmo o cérebro meio aguado” (SABINO, 1977, p. 34).
Nivaldo me contou que falou isso com Sabino em meio a muitas outras conversas e ele pegou e colocou no livro. Essa frase foi considerada muito crítica e foi um dos motivos da recusa da empresa em adquiri-la para um encarte para seus clientes. O texto, em geral, é positivo quanto a Manaus, mas salga quando fala na Zona Franca. No livro, Nivaldo e Socorro são eles mesmos, ele maestro e ela professora, tal como numa reportagem de jornal. Nivaldo entra logo nas primeiras páginas:
“Encontro Márcio Souza e Nivaldo Santiago me esperando no aeroporto: --estamos aqui há mais de duas horas (...). Márcio Souza é escritor. Nivaldo Santiago é maestro. São ambos da Fundação Cultural, e a eles fui em boa hora recomendado (SABINO, 1977, p. 16).
Muitas de suas características curiosas são captadas: Nivaldo não dirige carro e sua esposa é que guia. Enquanto ela dirige, Santiago fica “orquestrando” o trânsito. Isso acontece quando se anda de carro com os dois, até hoje. Atualmente, Nivaldo rege o coral Voz e Vida, na cidade de Bom Despacho; Socorro também vive aqui e é professora do coral infantil.
Os dois “personagens” têm amplo destaque nesse texto. Além de servirem de interlocutores de Sabino, algumas das situações vividas com eles se repetem com outras pessoas da cidade, o que os torna como que símbolos ou modelos de comportamento para toda Manaus: ao pegar um táxi, Sabino encarna o maestro ao auxiliar o rapaz a enfrentar o confuso trânsito manauara; ao sair de barco para conhecer a floresta, saindo do porto cheio de outros barcos e canoas, Sabino encarna novamente o maestro preocupado com a orquestra que é o trânsito.
Um comentário:
Muito curioso, Lúcio Emílio!
E cá estamos
nós, orquestrando coisas até hoje na bela cidade de Bom Despacho, da "Senhora do Sol"!
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