quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Oswaldo Coggiola, Stálin e Ronnie Von

O professor Oswaldo Coggiola, que leciona História Contemporânea da USP, esteve ontem no programa televisivo do Ronnie Von para falar sobre Stálin/Trotsky, na série "Tiranos". Ele está lançando no Brasil, com um prefácio, a biografia que Trotsky fez de Stálin. Ela ficou incompleta porque o biografado matou o biógrafo. Ele deveria estar totalmente obcecado pelo seu adversário; imagino as canduras que escreveria, ele que acusava Stálin até de ter tentado matar Lênin. E antes de ler isso no livro Stálin, Um Outro Olhar, do Ludo Martens, eu li isso em uma pequena biografia de Trotsky que comprei em uma banca.

O maior equívoco de Coggiola é falar que, quando Stálin morreu, quem o sucedeu foi Malenkov. Não, professor, foi Laurenti Beria. E Beria foi preso logo depois, quando ocorreu uma rebelião na Alemanha, acusado de agente estrangeiro. Seu julgamento foi a quatro paredes e até hoje o filho reivindica a verdade sobre o que aconteceu, reclamando que supõe que, quando foi formalizado um julgamento, Beria já se encontrava morto.

Coggiola fez um percurso histórico falando nas mortes causadas por Stálin, começando na I Guerra Mundial. Errado. Ele, junto com o partido, foi um dos que mais se esforçaram por acabar com a matança. Depois ele fala em cinco milhões de mortos no "Grande Terror". Não; o certo seria falar de três milhões de mortos na fome da Ucrânia em 1933-34. Ocorreram muitas mortes mais, inclusive de comunistas, na violenta coletivização que se seguiu, justamente para evitar a repetição das fomes oriundas das más colheitas (que já aconteciam em anos anteriores). Essa fome, segundo o professor Mark Tauget, especialista no assunto que leciona em West Virginia (USA), não foi provocada pelo governo da URSS, como agora lhe atribuem, mas teve causas naturais.

Os grandes expurgos, que é o que ele está chamando de "grande terror", envolveram algumas dezenas de milhares de prisões e fuzilamentos, nunca milhões. Há um bom livro sobre isso: The Origins of Great Purges, também do historiador norte-americano Archie Getty. Infelizmente, não está traduzido em português: "As origens dos Grandes Expurgos". Nesse livro, Getty esclarece que os expurgos foram antes para organizar a estrutura caótica do partido do que totalitarismo. E não verifica provas e evidências históricas de que os Processos de Moscou, que foram os processos onde os expurgados do partido foram julgados por conspiração, tenham sido falsos ou as confissões obtidas sob tortura.

Outro ponto que está sendo pesquisado pela geração norte-americana de historiadores depois da Guerra Fria (Roberta Manning, Grover Furr, Archie Getty) é o papel de Trotsky. Existem evidências de que ele colaborou com autoridades militares alemãs e japonesas. Há, então, essa hipótese, que Coggiola deveria aventar. Ele nunca foi acusado de colaborar com ingleses e norte-americanos conforme a conveniência de Stálin. Ele foi julgado à revelia. Pelo que Coggiola fala, parece que foi Stálin o culpado das mudanças de país de Trotsky. Mas o fato é que ele não era aceito porque era um revolucionário russo e isso na época era muito combatido e nada aceito nos países capitalistas, mesmo nos democráticos.


Por fim, creio que o objetivo da entrevista é vender a tal biografia de Stálin por Trotsky. Não fico ansioso. É como ler uma biografia de Getúlio Vargas escrita por Lacerda.

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