quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Jones Revisionista contra o Cambodja Democrático


Jones Makaveli, simpatizante da União da Juventude Comunista em Pernambuco, ou seja, do PCB revisionista, escreveu em seu blog a respeito de Pol Pol e o partido comunista do Cambodja um texto que eu gostaria de comentar. Destaco algumas passagens em negrito e sublinho:

É nesse contexto que surge Pol Pot e o Khmer Vermelho. Não temos a mínima intenção defendê-lo. Seu governo foi genocida e autoritário. Mas não foi uma deriva necessária da ideologia comunista. A lunática idéia de Pol Pot de deportação em massa da cidade para o campo foi resultado de fugas em massa do campo para a cidade para fugir dos bombardeios dos EUA. Uma sociedade destruída, arrasada e com a imensa maioria do seu povo vítima de violências brutais produz fenômenos aberrantes como Pol Pot. O Khmer Vermelho também comprava armas do governo neoliberal de Margaret Thatcher (que não tinha quaisquer problemas em vender). O presidente do EUA Ronald Reagan, outro neoliberal, também apoiou nas sombras o Khmer Vermelho, pois ele em seu confronto com o Vietnã enfraquecia o campo socialista na Ásia.

Em resumo, os que tentam “explicar” os horrores no Camboja fazendo dele um produto derivado da ideologia comunista e do instinto de sadismo de Pol Pot, traçam um quadro histórico deformado, falso. Esquecem que os horrores com Camboja foram antes de tudo resultado das ações do imperialismo, esquecem que os bombardeios dos EUA mataram tanto (ou mais) que as loucas ações do Khmer Vermelho e esquecem que os resultados dessas ações ainda hoje matam cidadãos cambojanos. “Em toda a Indochina [atualmente] há pessoas que morrem de fome, de doença e de projéteis não explodidos” (Chomsky Apud Losurdo, 2010, p. 310). Enquanto Pol Pot já morreu e o movimento comunista perdeu o protagonismo de outrora na Ásia, as ações do imperialismo continuam matando. Evidentemente, autores do “Livro negro do comunismo” e outras barbaridades não prestam atenção para isso. A esquerda que simplesmente nega essas experiências como não-socialistas (e no Camboja nunca houve socialismo), mas não traçam uma crítica profunda que procura desvendar a hipocrisia dos intelectuais da ordem presta mais um desserviço do que ajuda nas lutas antiimperialistas e se torna um instrumento - pela esquerda – de divulgação dessa visão apologética.

Jones Makaveli, embora contextualize historicamente a violência do imperialismo norte-americano contra o povo do Cambodja, deixa de considerar a experiência do país enquanto socialista. E por que? Porque Jones combate a vertente em questão, ele considera a experiência vietnamita coordenada pela URSS e não a do Cambodja, inspirada pela China.

No entanto, como consta no texto do boliviano Echazu Alvarado, a União Soviética, depois de apoiar a conta-gota a libertação nacionall, de fato apoiou, junto aos norte-americanos a ditadura militar do general Lon Nol, tendo criado uma frondosa embaixada na capital cambojana.

O translado da população ativa da cidade para a zona rural realizou-se com o objetivo de acabar com a fome e retomar a produção de arroz. O país estava dependente de ajuda humanitária internacional e o governo democrático cambodjano queria acabar com essa dependência e também evitar os bombardeios norte-americanos. Embora tivesse alguma proximidade com os chineses, a revolução democrática do partido comunista cambodjano contou com apoio dos nacionalistas locais (dirigidos pelo rei Sinhanouk) e por sua população rural.

Esse interessante experimento social durou somente de 1975 a 1978. Para evitar a venda de arroz a melhor preço por parte dos camponeses aos sul-vietnamitas, o governo criou cooperativas e aboliu o uso do dinheiro já no tempo em que não governava a capital e sim algumas zonas liberadas.

A queda do Cambodja democrático deu-se devido a uma invasão vietnamita em 1979, sob alegação de conflitos na fronteira. O Vietnã, como alegou Pol Pot, era fonte de desestabilização local, pois mostrou-se faminto de territórios e este sim, contava com um exército moderno e com o apoio da União Soviética revisionista, acusava a China de ser a fonte de todos os problemas no Cambodja.

O governo não tinha muitas armas (embora Jones alegue que tenham sido compradas armas de Thatcher) e não defendeu a capital, retirando-se dela e proclamando a guerra popular. A guerrilha Khmer continuou sendo uma força política até os dias atuais, quando, por força de constituir uma força política aceita pelo estado, condenou Pol Pot, já idoso, que faleceu há algum tempo, julgado negativamente por seu próprio partido, mas com direito a defesa. No entanto, Khieu Sampan está sendo julgado por um tribunal penal internacional estabelecido no Cambodja que, obviamente, não julga os crimes dos norte-americanos e franceses no Sudeste Asiático.













Um comentário:

Roni disse...

Eu vi em um site comunista que detalha a vida de Pol Pot. Me pareceu interessante, pois dissecaram o mito de que Pol Pot teria matado 3 milhões de pessoas. Eles tem uma visão otimista sobre ele. E você, é favorável a Pol Pot, Lúcio?