sexta-feira, 24 de setembro de 2021

A Guerra Cultural e a Retórica do Ódio

 Esse livro de João Cezar de Castro Rocha é um dos livros mais fundamentais de 2021. Ele começou a fazer um apanhado crítico da obra do que eu chamo jornalista e ideólogo Olavo de Carvalho, o que é fundamental para nós das Ciências Humanas e Filosofia.

Muito embora tratando de pontos fundamentais, como o documentário de Petra Costa, o texto sofre pela visão liberal de esquerda, culturalista, que deseja analisar apenas superestruturas e nunca estruturas.

Petra Costa, embora verifique todas as fragilidades e absurdos do PT, fez o documentário para recolocar no poder o projeto que ela mesma verificou, no final do filme, estar em ruínas, reconsiderando ou menosprezando todos erros, no final optando pelo "mal menor".

O fato de que o projeto nada tem a ver com o do revolucionário Pedro Pomar não a constrange e nunca é problematizado. Lula é visto como realização do sonho de seus pais: operários virando atores políticos.

Que enganação. Petra cai, caiu e cairá no "conto do operário"! João Cezar parece ser conivente, também, ao aderir ao discurso fátuo da democracia como valor universal, texto em que Carlos Nelson Coutinho ao mesmo tempo utiliza e avacalha Lênin, para no final das contas, aderir a uma jogada suja de Berlinger, na linha de Togliatti, ídolo de Jones Manoel, que julgavam a Itália dos anos 70, onde havia massacres fascistas, repressão a greves e presos políticos da luta armada eram torturados, em modelo DEMOCRÁTICO para a URSS de Brejnev!!! 

QUE MISTIFICAÇÃO PERSISTENTE!

Outra figura perniciosa citada como portadora da "verdade factual" é a conservadora-liberal Hannah Arendt, uma das maiores responsáveis pelo discurso de que "comunismo e fascismo é a mesma merda", discurso brandido contra o PT pela extrema-direita e que ecoou até no documentário de Petra Costa.

Quando Arendt lançou Origens do Totalitarismo, mesmo intelectuais conservadores como Isaiah Berlin se escandalizaram e denunciaram o quanto ela era ignorante sobre a URSS.

Ele tende, então, a não criticar mais duramente a ideia de que existiu uma hegemonia cultural da esquerda no governo do PT, ora ele agrega a crítica de seus amigos de esquerda de que essa hegemonia não existe, que existe a indústria cultural e a Rede Globo.

O livro não é conclusivo nesse ponto.

O fato que ele registra é que a direita tem como pedra de toque de sua retórica a existência dessa suposta hegemonia.

A sua pesquisa sobre a guerra cultural bolsonarista é muito boa: ele traça suas origens não em 2013, como alega o PT, mas em muito antes. O grupo ligado a Bolsonaro é o grupo frotista, ligado ao Sílvio Frota que tentou dar um golpe em Geisel.

Ele também observou que Olavo tem pouco a dizer sobre a esquerda, efetivamente, ou sobre os filósofos que comenta, mas de fato o guru do bolsonarismo que alega que a esquerda pratica táticas de lavagem cerebral está na verdade tratando de sua própria obra e seus seguidores.

O que fica é isso: 

A narrativa de Bolsonaro também remete ao Orvil, livro surgido para confrontar o livro Tortura Nunca Mais e, curiosamente, lançava o desafio de derrotar a esquerda no campo cultural. João Cezar observa como os documentários da produtora Brasil Paralelo estão altamente permeadas por essa visão de mundo.


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