quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Resposta dos Maoístas Para a UJC

 A juventude do PCBrasileiro recentemente lançou uma de suas pérolas traçando a compreensão do partidinho sobre a Revolução Brasileira para “desfazer ilusões” sobre a mesma, que pode ser lida aqui. O texto lê-se quase como uma esquete humorística para quem tem qualquer compreensão da história do PCBrasileiro, da luta de classes no Brasil e do estágio atual de nossa Revolução. Em alguns pontos, busca rebater com o revisionismo khruschovista e trotskista precisamente a avaliação revolucionária de nosso atual estágio na Revolução Brasileira, mesmo que a covardia os impeça de declararem abertamente a isto.

Aqui, responderemos ao revisionismo da UJC/PCBrasileiro e às suas mentiras e meias palavras de forma científica. Convidamos a todos, incluindo os militantes honestos do PCBrasileiro e UJC, a avaliarem e pesarem justamente nossa oposição que se dirige aos altos escalões do revisionismo predominante neste partido e juventude, pelos quais não guardamos nem companheirismo nem respeito.

Reprodução da imagem de capa do post da UJC no Instagram.

I

Os revisionistas dizem: a revolução “só ocorre quando existem revolucionárias(os) e organizações políticas que historicamente lutam para criar condições para que ela ocorra”. Isto é verdadeiro. Mas que revolucionários e organizações são essas? Não dizem os revisionistas, ainda, mesmo que subrepticiamente já indiquem que é a deles. Isto é falso.

Que é a UJC? A juventude do PCBrasileiro. Historicamente, que é o PCBrasileiro? Antes de eclodir o regime militar fascista, em 1964, o PC do Brasil foi ameaçado de cair na ilegalidade pela reação por tratar-se de Partido com filiação internacionalista, o que era refletido em seu nome. A camarilha direitista encabeçada por Prestes decidiu burocraticamente mudar o nome do Partido, decisão contra a qual levantaram-se muitos militantes e dirigentes importantes, entre os quais destacamos Pedro Pomar. Continuando no caminho da decisão burocrática e dando cabo do centralismo democrático, instituindo o mandonismo dentro do Partido, Prestes e sua camarilha de khruschovistas não atentaram às muitas críticas e insistiram em mudar o nome do PC do Brasil para Partido Comunista Brasileiro, andando a reboque da reação, dissimulando o princípio do internacionalismo comunista e afundando-se cada vez mais no direitismo e khruschovismo. Foi lançada em 1961 a Carta dos 100 (Em defesa do Partido)[2], consumando a crítica já iniciada em 1958 pela linha vermelha dentro do Partido (que defendera o legado do camarada Stalin frente aos ataques e mentiras de Khruschov), condenando duramente a mudança de nome feita de forma burocrática e sem respeitar decisões congressuais e as políticas direitistas de Prestes. Todos que a assinaram foram expulsos pelos revisionistas. Não se tratava de uma simples questão de nomenclatura, como veremos abaixo, mas de uma questão ideológica profunda e a expulsão destes não seria o fim do burocratismo e direitismo dentro do PCBrasileiro, na prática a forma que tomou a tentativa de liquidação do PC do Brasil (Prestes admitiria em sua autocrítica que fora por décadas o líder desta grande traição).

Muitos dos militantes e dirigentes expulsos pela sua defesa do Partido por Prestes passariam a constituir o PC do Brasil marxista-leninista e a combater bravamente o khruschovismo sob a sigla PCdoB (a sigla histórica do PC do Brasil, que será retomada, é P.C.B.). Desde o início o oportunismo buscou penetrar nas fileiras do PCdoB, mas só conseguiria liquidá-lo enquanto Partido marxista-leninista após a Chacina da Lapa, nos fins de 1976. A constituição do PC do Brasil marxista-leninista ocorre já em 1962, dois anos antes de ser instaurado o regime militar fascista..

Após ser instaurado o regime militar fascista, a inquietação crescente dentro das fileiras do PCBrasileiro leva a novas expulsões pela camarilha prestista. Prestes optou não pela luta armada, única forma de derrotar o fascismo, mas pelas políticas de coexistência pacífica e transição pacífica de Khruschov, que condenaram diversas revoluções e diversos partidos ao redor do mundo todo e foram duramente combatidas pelos comunistas chineses até a morte de Mao Zedong[3]. Essas políticas, distorções completas dos princípios leninistas, na prática significavam que não se devia tomar armas, lutar a luta de classes, mas acumular reformas por meios parlamentares ou capitular sem obter a vitória completa em nome da “paz” com o imperialismo e com os reacionários. Eram políticas de pacifismo burguês, que renegavam a violência revolucionária e muitos oportunistas alinharam-se a elas para deslancharem em seu carreirismo tosco. Elas colocavam como princípio coisas que são condicionadas e contingentes, renegando o aspecto universal da contradição e a necessidade da luta política pelo Poder contra o inimigo. Hoje ainda existem sob diversas formas dentro e fora do Movimento Comunista Brasileiro (MCI).

O PCBrasileiro buscou “lutar” por formas legais e insuficientes, sem tomar qualquer decisão pela luta política consequente e pela luta armada, muito menos pela luta de massas, com grande parte das direções se exilando e deixando ao léu os militantes de base, muitos torturados e mortos pela sua filiação.

Uma das expulsões mais famosas de então foi a de Carlos Marighella, expulso por, após um Congresso em Cuba, decidir pela luta armada e criticar abertamente a política direitista do PCBrasileiro na luta de classes e na luta parlamentar. Em seu texto “Luta interna e dialética”[4], em sua “Crítica às teses do Comitê Central”[5], em “Ecletismo e Marxismo”[6] e em sua carta de desligamento da Executiva[7], constam todas as suas acertadas críticas. No que pesem os erros e desvios foquistas e anarquistas do grandioso e eterno camarada Marighella, os revisionistas modernos teriam muito que aprender com ele antes de usarem seu nome e imagem de trampolim político e reclamarem seu legado. Marighella foi expulso e saiu sem deixar de lado por um segundo suas críticas justas. Disse taxativamente: “O abandono do caminho revolucionário leva à perda de confiança no proletariado, transformado, daí então, em auxiliar da burguesia, enquanto o partido marxista passa a ser apêndice de outros partidos burgueses.”[8].

Que logrou a política khruschovista de Prestes? Sequer uma vitória, por toda a extensão do regime militar fascista. Todos que tinham olhos e viam deixaram o Partido para aderirem à luta armada que esta camarilha renegava então e ainda renega, chamando de aventureirismo àquilo que não cheira ao mesmo capitulacionismo que adotaram. Enquanto isto, no interior do PCdoB, a linha vermelha buscava se impor para que fosse logo lançada a gloriosa Guerrilha do Araguaia. Em 1966, combatendo em luta de duas linhas a direita do PCdoB, Manoel Lisboa fundou o PCR[9] e conformou-se também, após crítica de militantes egressos de treinamento político-ideológico e militar na China a um documento lançado pela direita do Partido na 6ª Conferência de junho de 1966, o PCdoB-Ala Vermelha[10]. Em 1967, seria lançada a Guerrilha, uma de nossas maiores experiências de luta até o momento, analisada cientificamente pelo camarada Pedro Pomar em 1976[11], antes de seu covarde assassinato pelas forças fascistas. A Guerrilha perdurou por mais de 7 anos, mesmo com diversas tentativas de aniquilação da reação. No fim, foi derrotada pela contrarrevolução e pelos desvios internos. O maior deles foi de cunho ideológico: a má apreensão dos aportes marxista-leninistas e do aporte de Mao Zedong sobre a guerra popular deram cabo da experiência. Contudo, ela logrou enorme avanço para todo o Movimento Comunista Brasileiro e representou uma valiosa tentativa de assalto aos céus.

Enquanto os comunistas lutavam, os revisionistas apoiados pela URSS de Khruschov e depois de Brejnev degeneravam-se teoricamente a um ponto do qual seria impossível retornar. Carlos Nelson Coutinho, logo nos fins de 1970, escreveria sua “grandiosa” tese sobre a democracia como valor universal[12], traficando com os ensinamentos leninistas e afirmando a grande mentira até hoje silenciosamente (às vezes nem tanto) defendida pelo PCBrasileiro: que é possível a colaboração de classe entre representantes do povo e reacionários ou representantes de frações reacionárias e interesses reacionários de classes vacilantes para defender a “democracia” — o que já era a política geral do PCBrasileiro, como criticada por Marighella em 1967. Antes disso, o trotskismo já se infiltrara profundamente nas fileiras do PCBrasileiro, surgindo teses completamente destoantes com a avaliação leninista das revoluções nas nações oprimidas, hoje abertamente reiteradas e atualizadas pelos revisionistas. Esta luta de duas linhas que antecede a traição prestista era a luta entre a necessidade de uma revolução anti-feudal e a afirmação sem qualquer base do caráter capitalista desenvolvido do Brasil[13].

Com a Chacina da Lapa, a direita tomou conta do PCdoB, encabeçada por João Amazonas, o mais vil traidor que já tivemos o desprazer de ter como compatriota. Passou o PCdoB, na prática, à posição capitulacionista análoga à do PCBrasileiro. Hoje os oportunistas de ambos os lados se digladiam para saberem quem de fato foi fundado em 1922, o que é no mínimo engraçado para qualquer um que conheça a história do PC do Brasil e saiba que nenhum dos dois é a sombra do mesmo. Ambos são organizações nascidas em sua formação atual do liquidacionismo e do capitulacionismo, o que renega seu caráter comunista completamente.

A luta armada não teve fim com a Guerrilha do Araguaia. Desde o MR-8, organizações compromissadas buscaram a desenvolver. Tampouco teve fim o Partido com a traição de Amazonas, pois surgiram no MR-8 militantes que tomaram em suas mãos a tarefa de o reconstituir.

A luta armada não foi nem é a única forma de luta válida na luta de classes, mas é impossível lutar a luta de classes sem armas. Lênin jamais deixou de exigir o armamento geral das massas pois compreendia que salvo o Poder, tudo seria ilusório e que o Poder se conquista pelas armas e pela guerra revolucionária de massas. Um partido que vê seus membros torturados e mortos e que vê o povo torturado, morto, acossado pela reação, sob regime fascista, e age passivamente não é digno de ser chamado comunista. Um partido que não desenvolve nem a luta armada nem outras formas de luta então, não precisamos nem dizer.

Quem fazia o trabalho nas fábricas e no campo à época? Precisamente os militantes compromissados com a luta armada. O PCdoB-AV bateu-se com o peleguismo do PCBrasileiro em diversas ocasiões e conquistou o respeito e a direção do movimento operário reivindicativo em diversos locais com seu jornal. Ainda que com falhas na apreciação, principalmente, de nossa contradição principal, essas organizações buscavam servir ao povo. Suas direções não fugiam e se escondiam. Pomar e Marighella, ambos, tão diferentes no campo da ideologia, morreram brutalmente assassinados e não tranquilos em suas casas, anistiados junto aos fascistas sem dar um pio de protesto, após dizer às famílias que perderam filhos e filhas, pais e mães no Araguaia que lá não havia nada para procurar, como João Amazonas. Morreram como comunistas, como verdadeiros revolucionários, não como traidores.

O PCBrasileiro, enquanto morriam Lisboa, Marighella, Grabois, Osvaldão, Pomar etc., buscava alianças com os “democratas” do MDB, parte “moderada” do regime militar fascista de partido único no Brasil. Serviam, como todos os oportunistas, de ala moderada do fascismo, preparando caminho para a falsa transição democrática e para a falsa anistia. Posteriormente, no contexto da falsa redemocratização, iniciaram sua história de amor com os socialdemocratas de nossa época, descartando a renhida luta de massas que se instaurava no Brasil contra o regime, mas também contra o sindicalismo oportunista até os ossos de Luiz Inácio e companhia. Vejamos a greve dos metalúrgicos de 1979: Lula pediu a capitulação, o fim da greve, para retomar as “atividades normais pelo bem da nação”, enquanto os comunistas e democratas de fato persistiram na pauta da greve geral. Vejamos quais foram as direções proletárias na luta dos operários no Brasil: companheiros do nível de Sandra Lima e Albênzio Dias de Carvalho, não oportunistas carreiristas como Edmilson Costa.

Liquidado o partido, houve a desorganização geral. Não havia mais qualquer coesão entre as decisões de suas lideranças regionais e tudo tornou-se no caos que já era inevitável. Apenas na década de 90 e no início de 2000 o PCBrasileiro buscou “reorganizar-se” e isto para retomar seu romance com Lula, apoiado pelos revisionistas abertamente. Ivan Pinheiro e Edmilson Costa encabeçaram esse processo que só serviu para adiantar a putrefação do cadáver que hoje é o PCBrasileiro. A reorganização veio sem autocrítica qualquer do capitulacionismo sob o regime militar fascista e mesmo buscou implantar a ideia de que este havia sido o curso de ação correto, avaliação rejeitada pelo próprio Prestes antes de sua morte. Aos bravos guerreiros tombados, chamaram aventureiros ou mentiram sobre sua trajetória para acomodar suas imagens fetichizadas às necessidades das velhas novas podres lideranças.

E hoje? Hoje o PCBrasileiro renega completamente a luta de classes no Brasil onde ela é mais renhida, no campo, defendendo o oportunismo traidor e policialesco das direções do MST e não prestando nem mesmo solidariedade à Liga dos Camponeses Pobres quando esta é atacada covardemente pelos cães do velho Estado e do latifúndio. Renega completamente qualquer forma de luta que vá contra a luta parlamentar, defendendo o ataque aberto contra militantes combativos por oportunistas e pela reação como “justa punição” por não se curvarem. Renega completamente a verdadeira história do PC do Brasil, mentindo sobre suas origens para enganar incautos e angariar contribuições e apoio da juventude. Renega completamente o Marxismo-Leninismo que finge defender, descartando a análise marxista-leninista da luta de classes nas semicolônias enquanto finge a atualizar com teses trotskistas e com o revisionismo de Ruy Mauro Marini e outros de pequenez semelhante e de igual empáfia. Renega o fato de que o Brasil tem uma base feudal, enquanto os latifundiários servem de maior base de sustentação do fascismo no Brasil, travando verdadeira guerra contra os camponeses em luta, com novas operações militares fascistas surgindo a todo momento — de fato, não dizem uma palavra deste estado de coisas aos seus militantes. Renega a luta de classes como um todo, descartando qualquer luta senão a parlamentar, pelo impeachment, para dar cabo do fascismo no Brasil, sabendo muito bem (as lideranças podres e os seus influentes “intelectuais” o sabem) que existem massas sangrando e morrendo pela causa da Revolução Agrária, que é nossa principal e mais avançada luta. De boca, admitem a Revolução, mas na prática não fazem mais que andar a reboque de liberais psolistas e petistas, dando apoio acrítico a figuras como Boulos e falsamente crítico a figuras como Luiz Inácio. O partido não forma seus militantes senão para serem defensores de tal degeneração, renegando o princípio leninista do Partido como destacamento de vanguarda armado em sua totalidade. Aderindo ao ecletismo teórico, desenvolve teses alinhadas com o revisionismo internacional histórico e atual, enchendo a boca de “socialismo” enquanto defende da forma mais ferrenha a democracia burguesa “pacífica” e o “acúmulo de forças” para quando “as condições estiverem maduras”, dissimulação barata e o mesmo que fazia sob o regime militar fascista. Há mais a ser dito, mas por enquanto isto basta.

Respondam: trata-se esta organização de alguma organização que historicamente lutou pela revolução? Ela poderia formar qualquer revolucionário? Não são revolucionários os seus dirigentes e quadros alinhados com o oportunismo da direção, mas usurpadores da história revolucionária. Tomam a sigla de um Partido que pertence às massas para conspurcá-la com sua covardia e os nomes de nossos heróis para tentarem se alçar às alturas. Contudo, devemos dizê-los: as águias podem descer tão baixo quanto as galinhas, mas o contrário é impossível. Não é sobre os nomes de nossos heróis, que pertencem às massas, que os senhores se sustentam, mas sobre um castelo de cartas que cairá com o tremor do chão que será sentido por todo o Brasil quando o povo se direcionar, dirigindo pelo verdadeiro P.C.B., para a vitória final.

Cuidem-se, covardes, pois nada lhes restará senão refugiarem-se de novo nos braços da reação, que é para onde já se dirigem!

II

O grande Lênin formulou corretamente que o Marxismo é uma Ideologia Científica do Proletariado Internacional. Não é método, mesmo que contenha método, não é fruto de teses acadêmicas, mesmo que as possa desenvolver mediante a luta de classes, não é nada que digam ou façam os revisionistas. É Ideologia, pois é concepção de mundo; é científico pois é todo-poderoso, está em acordo com a verdade e com o movimento da sociedade; é do Proletariado Internacional e não de qualquer outra classe nem é uma coisa para uns e outra para outros. É um só, isto é uma das muitas coisas que podemos auferir da lição do grande Lênin.

Que quer dizer o Marxismo ser um só? Quer dizer que ele nasce e desenvolve-se na luta de classes internacionalista do proletariado mundial. Quer dizer que todos os seus saltos só podem se dar comprovada a universalidade das teses que nascem da luta, comprovado seu caráter marxista. Isto é que faz do Marxismo infalível e incorruptível e não as meias palavras de revisionistas em sua falsa defesa. Sendo um, o Marxismo também deve ser aplicado criadoramente às condições de cada nação ou tratamos de dogmatismo.

Vejamos as análises de 1908, em Marxismo e revisionismo[14], de 1910, em Algumas particularidades do desenvolvimento histórico do Marxismo[15], de 1913, em Os destinos históricos da doutrina de Marx[16] e Marxismo e reformismo[17], de 1916, em O oportunismo e a falência da II Internacional e Imperialismo e a cisão do socialismo[18], de 1918, em A revolução proletária e o renegado Kautsky[19], de 1919, em A Terceira Internacional e seu lugar na história[20], entre tantas outras análises e críticas científicas ao revisionismo e oportunismo feitas por Lênin. O que combatia Lênin? O tráfico de princípios marxistas e as teses revisionistas que condenavam a Revolução em diversos países, buscando estabelecer o Marxismo como mando e guia da Revolução Mundial em toda parte e avançando em luta de duas linhas o Marxismo até o estágio do Marxismo-Leninismo. E quanto ao seu Relatório sobre as questões nacional e colonial de 26 de julho de 1920? Que dizia? Dizia claramente:

Em primeiro lugar, qual é a ideia mais importante, fundamental, das nossas teses? É a distinção entre nações oprimidas e opressoras. Nós sublinhamos esta distinção, em oposição à II Internacional e à democracia burguesa. Para o proletariado e para a Internacional Comunista tem particular importância na época do imperialismo constatar os factos económicos concretos e partir, ao resolver as questões coloniais e nacionais, não de postulados abstractos, mas dos fenómenos da realidade concreta.

O traço característico do imperialismo consiste em que, como podemos ver, todo o mundo se divide actualmente num grande número de nações oprimidas e num número insignificante de nações opressoras, que dispõem de riquezas colossais e de uma poderosa força militar. A enorme maioria da população da Terra, mais de mil milhões de homens, com toda a probabilidade mil duzentos e cinquenta milhões, se considerarmos que o número de toda a população da Terra é de mil setecentos e cinquenta milhões, isto é, cerca de 70% da população da Terra pertence às nações oprimidas, que ou se encontram numa dependência colonial directa ou são Estados semicolonialistas, como por exemplo a Pérsia, a Turquia e a China, ou que, depois de terem sido derrotadas pelo exército de uma grande potência imperialista, se viram numa forte dependência dela por força dos tratados de paz. Esta ideia da distinção, da divisão das nações em opressoras e oprimidas, atravessa todas as teses, não apenas as primeiras, que apareceram com a minha assinatura e foram publicadas anteriormente, mas também as teses do camarada Roy. Estas últimas foram escritas sobretudo do ponto de vista da situação da Índia e de outros grandes povos da Ásia oprimidos pela Inglaterra, e nisto reside a sua enorme importância para nós.

A segunda ideia que orienta as nossas teses reside em que, na actual situação mundial, depois da guerra imperialista, as relações entre os povos, todo o sistema mundial dos Estados, são determinados pela luta de um pequeno grupo de nações imperialistas contra o movimento soviético e os Estados soviéticos, à frente dos quais está a Rússia Soviética. Se perdermos isto de vista, não poderemos colocar correctamente nenhuma questão nacional ou colonial, mesmo que se trate do recanto mais afastado do mundo. Só partindo deste ponto de vista os partidos comunistas dos países civilizados, tal como os dos atrasados, poderão colocar e resolver correctamente as questões políticas.

Em terceiro lugar, gostaria de sublinhar particularmente a questão do movimento democrático-burguês nos países atrasados. Esta foi precisamente a questão que suscitou algumas divergências. Discutimos sobre se, do ponto de vista dos princípios e da teoria, era ou não correcto declarar que a Internacional Comunista e os partidos comunistas devem apoiar o movimento democrático-burguês nos países atrasados; em resultado desta discussão chegámos à decisão unânime de que deve falar-se de movimento revolucionário nacional em vez de movimento «democrático-burguês». Não resta a menor dúvida de que qualquer movimento nacional só pode ser democrático-burguês, pois a massa principal da população nos países atrasados é constituída pelo campesinato, que representa as relações capitalistas burguesas. Seria utópico pensar que os partidos proletários, se é que eles podem surgir em geral em tais países, são capazes de aplicar nestes países atrasados uma táctica comunista sem manter determinadas relações com o movimento camponês e sem o apoiar na prática. Mas aqui foram feitas objecções de que se falássemos de movimento democrático-burguês se apagaria qualquer diferença entre os movimentos reformista e revolucionário. Entretanto, nos últimos tempos esta diferença manifestou-se nos países coloniais e atrasados com inteira clareza, porque a burguesia imperialista procura com todas as forças implantar o movimento reformista também entre os povos oprimidos. Entre a burguesia dos países exploradores e a dos coloniais verificou-se uma certa aproximação, pelo que, muito frequentemente — e talvez mesmo na maioria dos casos — a burguesia dos países oprimidos, apesar de apoiar os movimentos nacionais, luta ao mesmo tempo de acordo com a burguesia imperialista, isto é, juntamente com ela, contra todos os movimentos revolucionários e as classes revolucionárias. Na comissão isto foi demonstrado de forma irrefutável, e nós considerámos que a única coisa correcta era ter em atenção esta diferença e substituir em quase toda a parte a expressão «democrático-burguês» pela expressão «revolucionário-nacional». O sentido desta mudança consiste em que nós, como comunistas, só devemos apoiar e só apoiaremos os movimentos libertadores burgueses nos países coloniais nos casos em que esses movimentos sejam verdadeiramente revolucionários, em que os seus representantes não nos impeçam de educar e organizar num espírito revolucionário o campesinato e as amplas massas de explorados. Mas se não existirem essas condições, os comunistas devem lutar nestes países contra a burguesia reformista, à qual também pertencem os heróis da II Internacional. Nos países coloniais existem já partidos reformistas, e os seus representantes dizem-se por vezes sociais-democratas e socialistas. A distinção mencionada foi aplicada a todas as teses, e penso que graças a isto o nosso ponto de vista está agora formulado de um modo mais preciso[21].

Um grande número de nações oprimidas e um número insignificante de nações opressoras, 70% da humanidade em dependência colonial direta ou sob Estados semicoloniais, estes são os termos leninistas. É utópico pensar que nas nações coloniais e semicoloniais é possível aplicar a tática comunista sem manter relações e apoiar o movimento camponês e é preciso apoiar apenas os movimentos verdadeiramente revolucionários que não nos impeçam de educar as massas camponesas e as demais massas exploradas, organizá-las num espírito revolucionário. Tais são resoluções leninistas.

Querem os revisionistas dizerem que este estado de coisas está superado e que não é mais preciso atentar à tática comunista revolucionária nas nações oprimidas? E por qual motivo? Acaso elas deixaram de existir ou o imperialismo mudou de caráter? Não é ele a guerra, ainda, contra os povos oprimidos? Deixou ele de ser o capitalismo em seu estágio superior e particular, monopolista, parasitário e em decomposição? Deixou ele para trás a sanha neocolonialista? Lênin jamais tergiversou como tergiversam os revisionistas e em especial o guru revisionista Jones Manoel na questão das nações coloniais e semicoloniais. Como já foi cientificamente comprovado anteriormente por nós, Jones pinça o uso da palavra “dependente” em Imperialismo, fase superior do capitalismo para fingir que Lênin tem algo a ver com a tese dependentista[22]. Contudo, eis mais que clara uma madura avaliação de Lênin sobre a questão. Haverá algum dia alguém capaz de mentir tão descaradamente quanto os revisionistas? Ainda não sabemos. Assim como Lênin o fez em A que herança renunciamos?, deveremos admitir que até mesmo liberais mantêm melhor avaliação no que concerne a questão camponesa que os falsos revolucionários. Insistirão, porém, os revisionistas, que a situação mudou e sua “atualização” é de fato atualíssima. E qual viria a ser o motivo? Eles listam em tópicos sua “bela” “análise” do dito “capitalismo brasileiro”.

Dizem primeiro que temos “estrutura produtiva altamente complexa diversificada e integrada (subordinadamente) aos fluxos internacionais de reprodução do capital”. Vejamos, porém, quais foram os 10 produtos mais exportados no Brasil em 2020: soja, óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, minério de ferro e seus concentrados, óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos, carne bovina fresca, refrigerada ou congelada, celulose, carnes de aves e suas miudezas comestíveis, frescas, refrigeradas ou congeladas, farelos de soja e outros alimentos para animais (excluídos cereais não moídos), farinhas de carnes e outros animais, produtos para a indústria de transformação (matérias primas) e açúcares e melaços[23]. Quais foram, por outro lado, os principais produtos importados pelo Brasil? Adubos ou fertilizantes químicos, exceto por fertilizantes brutos, óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos, plataformas, embarcações e outras estruturas flutuantes, equipamentos de telecomunicações, incluindo peças e acessórios, obras de ferro ou aço e outros artigos de metais comuns[24]. A China social-imperialista, tão defendida por nossos revisionistas modernos viúvas da matriz soviética revisionista, é a maior “parceira comercial” do Brasil, sendo a maior importadora de soja com grande vantagem e maior exportadora no geral, com tendência a aumentar sua participação. Senhores revisionistas, digam-nos, estamos loucos ou lhes parece também que comparando estes produtos, nossa “complexa e diversificada” estrutura produtiva é própria de uma semicolônia, como já explicara Lênin em suas teses para a III Internacional? Não lhes parece, senhores revisionistas, que todos os nosso principais produtos para a exportação são de ordem primária enquanto todos os nossos principais produtos de importação têm maior valor agregado? Não discordamos que esta estrutura produtiva esteja “integrada aos fluxos internacionais” do imperialismo, mas com que prestidigitação verborrágica pretendem negar que a situação brasileira é uma situação clássica semicolonial? O Brasil integra-se hoje ao sistema capitalista-imperialista mantendo função de exportação de primários e importação de produtos de alto valor agregado e de produtos tecnológicos.

Sigamos ao segundo ponto. Dizem que o Brasil “tem relações de produção majoritariamente assalariadas”. Em 2020, menos de ⅕ dos trabalhadores rurais eram assalariados, com mais da metade destes estando na informalidade. A média de renda era de ⅓ da renda dos trabalhadores urbanos[25]. Nossa indústria emprega menos de 8 milhões de pessoas, segundo dados de 2016[26]. 41,1% de nossos trabalhadores estão na informalidade[27]. Que grande país industrializado e assalariado é este de que falam os senhores revisionistas? O proletariado industrial não soma a metade dos camponeses! Mesmo no ápice do crescimento do trabalho industrial, em 2013, não somava! Em comparação, apenas o setor de manufatura nos Estados Unidos da América é quase duas vezes maior que toda nossa indústria[28].

Terceiro ponto: temos “burguesia industrial altamente ligada ao capital estrangeiro e burguesia agrária predominantemente estrangeira” segundo os senhores revisionistas. Talvez eles orem ao deus da ignorância todos os dias para que ninguém lhes descubra as mentiras cabeludas. A dita “burguesia industrial” brasileira, majoritariamente, é, de fato “altamente ligada ao capital estrangeiro”, tão ligada que é seu cachorrinho de colo e não pode dar um passo sem o aval do capital monopolista internacional. Podemos dar apenas um pequeno exemplo para demonstrá-lo: o leilão recente do pré-sal, que já sucateou a estatal burocratizada Petrobrás até não haver mais uso para diversas estruturas que encheram os bolsos da burguesia burocrática e hoje são leiloadas a preço de banana para empresas estrangeiras, enquanto a produção de estruturas flutuantes passa a ser feita na China[29]. Da mesma forma, o Brasil tem 100 milhões de hectares de terra agricultáveis, com 4,5 milhões, isto é, menos de 5% nas mãos de estrangeiros[30]. 56% de nossas terras agricultáveis estão concentradas em menos de 2% de estabelecimentos agropecuários[31]. Como já foi dito, os assalariados rurais não compõem mais que ⅕ dos trabalhadores no campo. É licito à um comunista falar em burguesia agrária e ignorar o campesinato pobre e os médios proprietários? Segundo dados de 2002, disponibilizados por Sergio Paganini Martins para contrapor a obsoleta fórmula do IBGE, embasada em um decreto getulista, na classificação da população como urbana ou rural, o Brasil tem 49% da população vivendo no campo e maioria de seus municípios devem ser considerados rurais[32]. Ignorar nosso gigantesco campesinato e o problema agrário como o problema da concentração de terras pelo latifúndio não é apenas tergiversar quanto ao Marxismo, mas ir contra a realidade de todas as formas possíveis, é revisionismo e oportunismo que serve muito bem à reação.

Quarto ponto: temos “propriedade privada burguesa dos meios de produção”. Que generalização crassa tão digna do crasso revisionismo dos seguidores do academicismo de Marini! Este pseudo-intelectual que buscou tanto aplicar abstrações à realidade ensinou bem a seus discípulos modernos como se livrarem da responsabilidade de dizerem algo de novo. Claro, temos propriedade privada! Parte desta propriedade privada está nas mãos do próprio Estado gerido pelos representantes da grande burguesia e do latifúndio e parte está nas mãos da burguesia compradora, subserviente ao imperialismo. E isto modifica muita coisa. Nossa grande burguesia, de forma geral, é lacaia do imperialismo, contudo, a burguesia burocrática alça-se às alturas por intermédio do velho Estado, enquanto a burguesia compradora, apoiando-se também no Estado, desenvolve-se principalmente por ter ligação umbilical com o capital financeiro e por cumprir no Brasil as tarefas de desnacionalização de nossa economia, abrindo caminho para a entrada do capital estrangeiro, por meio da inversão de capital[33]. Ambas estão em conluio com o latifúndio, isto é, defendem e promovem a propriedade latifundiária. Dizer que nós temos propriedade privada sem dizer de qual natureza e, ainda por cima, mentindo, como foi feito anteriormente, sobre sua natureza em grande parte do país, é fazer da ciência proletária uma piada, uma coisa frágil, que ela não poderá jamais ser.

Dizem, no quinto ponto, que temos “papel subordinado na divisão internacional de trabalho”. De que adianta dizê-lo, se não se admite que o Brasil é uma semicolônia e considera-o “capitalista desenvolvido” mesmo contra todas as evidências? Esta aparentemente inocente declaração é base de sustentação da tese revisionista dependentista. Está mais em acordo com as teses sobre o ultraimperialismo de Kautsky que com qualquer sombra de Marxismo. É uma nova generalização para esconder a pobreza de pensamento dos nossos revisionistas.

Declaram, também, que nossa “economia capitalista […] já atingiu sua completude, isto é, já consolidou plenamente seu parque industrial”. Decerto! Vejamos apenas no caso da mineração quais são nossas maiores empresas: Vale, Samarco, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), Hydro Alunorte, Magnesita etc. Quase metade da Vale está em mãos estrangeiras; a Samarco é controlada 50% pela Vale e 50% pela BHP Billiton, australiana; o Baosteel Group Corp., chinês, e o Nippon Steel & Sumitomo Metal Corp., japonês, são acionistas da CBMM; a Hydro Alunorte é subsidiária da Norsk Hydro, norueguesa; a Magnesita é controlada pela GP Investimentos, por sua vez controlada pelo monopólio estrangeiro Partners Holdings Inc. Este minério não é utilizado aqui, mas exportado como produto de baixo valor agregado e comprado de volta das nações imperialistas transformado em produtos de alto valor agregado e em produtos tecnológicos diversos. O lucro real da cadeia produtiva não fica no Brasil, mas é ofertado pela nossa burguesia compradora e burocrática e pelos representantes das classes dominantes aos imperialistas como tributos à Mamon[34]. Um país plenamente desenvolvido se colocaria nesta posição por qual motivo? Por diversão? Ora, senhores revisionistas, talvez seja hora de deixarem de agir como crianças e encararem os fatos. Os fatos são que os senhores não têm qualquer seriedade e brincam de marxistas.

As grandes conclusões de nossos revisionistas são as seguintes: i) que “a burguesia monopolista nacional/internacional constitui-se em classe dominante e hegemônica” no Brasil. Nós sabemos que estes senhores se concentram principalmente nos centros urbanos, mas de fato agora podemos verificar que eles pensam que o restante do país não existe. Simplesmente excluem mais de 50 milhões de hectares de suas contas para saber quais são as classes dominantes no Brasil. ii) Que “a Revolução Brasileira deve ser uma Revolução Socialista” e que ela se dará não por meio de um “projeto reformista, mas por uma ruptura radical”, termos tão vazios para eles quanto quaisquer outros.

Para um comunista, as palavras devem refletir as ações e as ações devem refletir as palavras. Dizer-se contra um “projeto reformista” e favorável a uma “ruptura radical” é fraseologia barata, se é que vale alguma coisa, quando não se faz mais que apoiar reformistas como Luiz Inácio, Boulos e toda a patota liberal do PSOL, chamando a isto de “luta parlamentar” e chegando ao absurdo e ao desrespeito de comparar esta atuação com a atuação bolchevique, que jamais foi nem constrita ao parlamento nem principalmente parlamentar, tendo sido o Partido de Lênin pautado na clandestinidade, na organização para combate, na articulação entre trabalhos legais e ilegais, com os trabalhos ilegais sendo a base e os legais seu reflexo.

A que projeto reformista já se opuseram os revisionistas do PCBrasileiro? Apoiaram abertamente e apoiam veladamente o petismo e o lulismo; apoiam a pauta reformista e liberal do impeachment; apoiam todas as concepções atrasadas da pequena burguesia organizada no PSOL e lá representada; apoiam o programa pequeno-burguês de Boulos, que é menos radical até mesmo que o programa de um social-liberal de nação imperialista; apoiam o reformismo pequeno-burguês e traidor das direções do MST, que concebe a reforma agrária como um dom dependente da eleição da Luíz Inácio (que renega a tomada de terras senão com a eleição deste!); apoiam toda e qualquer besteira que lhes pareça suficiente para enganar por mais alguns anos seus militantes e para buscar enganar as massas, que para eles não dão a mínima.

E qual seria sua ruptura radical? Ora, basta analisar o programa de Mauro Iasi em 2014, as concepções de “poder popular” do PCBrasileiro[35], as concepções e decisões congressuais do PCBrasileiro para ver que não existe qualquer perspectiva de ruptura radical para este partido de oportunistas senão “no horizonte revolucionário” do “acúmulo de forças” por meios pacíficos. Quais forças revolucionárias algum dia foram acumuladas com a rendição aos ditames da burguesia de pacifismo abstrato? Os revisionistas de hoje são tão bons alunos dos de outrora que capitulam antes mesmo de lutar. Consideram-se esses covardes que abraçam a polícia e apoiam a ação policialesca e os ataques da reação contra ativistas por algum acaso uma “vanguarda combativa”? A única coisa que estão dispostos a combater são as massas aguerridas, o que já se preparam para fazer, e se pensam-se vanguarda, deveriam saber que nem mesmo dentro da coalizão pútrida em que atuam mantêm qualquer protagonismo. Muito pelo contrário, nossos revisionistas andam a reboque de outros revisionistas, que andam a reboque dos mais afamados traidores de classe e do povo do Brasil. Nem mesmo aqueles que buscam enganar e que enganam hoje conseguirão convencer por muito tempo. Todos que têm olhos verão.

Os revisionistas afirmam, por fim, que estão “construindo” a Revolução por uma perspectiva “leninista”, que não a estão esperando. Vejamos quando Lênin negou a necessidade de um Exército para fazer a Revolução ou quando desprezou a ação revolucionária das massas: jamais! Vejamos quando Lênin entrou em conluio com os mencheviques pelo “mal menor” para defender a continuidade de uma falsa democracia: jamais! Vejamos quando Lênin considerou possível uma Revolução “socialista desde já” em um país semicolonial sem que se consolidasse uma etapa democrática e sem direção proletária do movimento camponês: jamais! Os senhores não são leninistas, mas discípulos de Bernstein, Kautsky, Trotsky, Khruschov, Deng Xiaoping e de outros revisionistas do tipo. Defendem a coexistência pacífica com o imperialismo e a reação e a transição pacífica, sem preparação revolucionária para a guerra revolucionária, sem ações que vão de qualquer forma além da institucionalidade burguesa, “crendo” (leiam-se: dizendo de boca) que num futuro onde “as condições”, isto é, as condições parlamentares, forem suficientes poderão dentro da institucionalidade mudar a institucionalidade. Nem todo o verniz do mundo pode esconder a podridão dos senhores.

III

A que conclusões devemos chegar mediante a análise científica das teses revisionistas?

1. As “perspectivas sobre a revolução” dos revisionistas não são mais que justificativas para encobrir seu capitulacionismo histórico e sua inação atual frente aos militantes e às massas.

2. A avaliação revisionista sobre os problemas de nossa Revolução nada mais é que a repetição das teses khruschovistas de coexistência pacífica e transição pacífica, das teses de Trotsky sobre o desenvolvimento desigual e combinado e da tese dependentista de Marini. Todas estas teses são negações da teoria leninista sobre a Revolução (Khruschov renega o papel da violência revolucionária e do Partido de combate) e especialmente sobre a Revolução nas semicolônias, descartando a compreensão leninista sobre o papel do imperialismo nas nações oprimidas, das forças feudais e da burguesia burocrática, bem como do campesinato, principalmente pobre. A tese de Marini, em específico, descarta toda a compreensão de Marx sobre a atuação real do capital e foca-se em abstrações insípidas repetidas pelos revisionistas.

3. Os revisionistas, buscando “atualizar” o Marxismo-Leninismo, renegam o avanço da tese leninista sobre a Revolução nas semicolônias, descartando toda a teoria de Mao Zedong e toda a comprovação prática dos aportes maoístas sobre o capitalismo burocrático e sobre a Revolução de Nova Democracia encabeçada pela aliança operário-camponesa e dirigida pelo Partido Comunista como a solução para a questão da Revolução de Novo Tipo na época imperialista. Concebem a Revolução não como um horizonte, como dizem, mas como uma abstração, descartando quaisquer esforços que coloquem seus desígnios eleitoreiros e carreiristas em perigo.

4. Os revisionistas, na questão agrária, aderem à uma tática completamente oposta à tática definida por Lênin, rechaçando e encobrindo para seus militantes a luta camponesa mais consequente no Brasil, da Liga dos Camponeses Pobres, que vem tomando e distribuindo terras ao campesinato sem terra ou com pouca terra sem fazer compromissos com o velho Estado. Promovem, por outro lado, o MST, organização liderada por crápulas de oportunismo vil e conhecido de todos os democratas e revolucionários, que entrega companheiros da Liga à polícia e persegue seus egressos que buscam lutar pela terra de forma consequente, enganando, infelizmente, ainda alguns ótimos e respeitáveis companheiros que decerto saberão encontrar o caminho revolucionário.

5. Na questão parlamentar, andam a reboque dos reboquistas, alçando os traidores de classe às alturas para angariarem carguinhos.

6. No concreto, os revisionistas são discípulos de Bernstein, Kautsky, Trotsky, Khruschov, Deng e de sua própria capitulação e do tráfico de princípios que ela ensejou. Não são nem marxistas nem leninistas.

7. Os revisionistas elevam a mentira à método e chamam a isto de ciência. Buscam enganar incautos e pensam que jamais serão respondidos a altura.

8. É necessário varrer o oportunismo e abrir alas para que a Nova Onda da Revolução Mundial infle as massas trabalhadoras brasileiras de ímpeto revolucionário! As massas caminharão até a vitória final unidas sob uma única bandeira, que é a bandeira do Marxismo-Leninismo-Maoísmo!

VIVA A NOVA ONDA DA REVOLUÇÃO MUNDIAL!

VIVA A REVOLUÇÃO AGRÁRIA!

ABAIXO O REVISIONISMO!

Grupo de Estudos Ao Povo Brasileiro

NOTAS:

[1] UJC. E aí, quando vai acontecer a revolução?. Instagram, 19 de Setembro de 2021. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/CT7Q2XdLOX_/>.

[2] FRAÇÃO VERMELHA DO PCB. Em defesa do Partido. MIA, 26 de Maio de 2020. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/tematica/1961/08/90.htm>.

[3] Ver: NUCLEO DE ESTUDOS DO MARXISMO-LENINISMO-MAOÍSMO (Org.). A carta chinesa: a grande batalha ideológica que o Brasil não viu. Belo Horizonte: Terra Editora, 2003.

[4] MARIGHELLA, Carlos. Luta interna e dialética. MIA, 06 de Dezembro de 2013. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/marighella/1966/10/15.htm>.

[5] MARIGHELLA, Carlos. Crítica às teses do Comitê Central. MIA, 26 de Agosto de 2011. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/marighella/1967/06/teses.htm>.

[6] MARIGHELLA, Carlos. Ecletismo e Marxismo. MIA, 01 de Setembro de 2011. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/marighella/1967/mes/ecletismo.htm>.

[7] MARIGHELLA, Carlos. Carta à Comissão Executiva do Partido Comunista Brasileiro. MIA, 11 de Julho de 2011. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/marighella/1966/12/01.htm>.

[8] Idem.

[9] LISBOA, Manoel. Carta de 12 pontos aos comunistas revolucionários. MIA, 29 de Agosto de 2016. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lisboa/1966/mes/carta.htm>.

[10] PCDOB-AV. Crítica ao oportunismo e ao subjetivismo da “União dos brasileiros para livrar o país da crise, da ditadura e da ameaça neocolonialista”. In: FILHO, Daniel Arão Reis; SÁ, Jair Ferreira de (Org.). Imagens da revolução. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1985.

[11] POMAR, Pedro. A posição de Pedro Pomar. Jornal AND, Abril de 2003. Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-8/1194-a-posicao-de-pedro-pomar>.

[12] AO POVO BRASILEIRO. O “fim da história” de esquerda e a democracia como valor universal: apontamentos sobre o movimento comunista na história e na atualidade e sobre a influência do eurocomunismo então e agora. Ao Povo Brasileiro, 11 de Agosto de 2020. Disponível em: <https://aopovobrasileiro.medium.com/6f60ec93b667>

[13] FACÓ, Rui. Um falso conceito sobre a Revolução Brasileira. Nova Cultura, 20 de Maio de 2019. Disponível em: <https://www.novacultura.info/post/2019/05/20/faco-um-falso-conceito-sobre-a-revolucao-brasileira>.

[14] LÊNIN, Vladimir Ilitch. Marxismo e revisionismo. MIA, 09 de Fevereiro de 2017. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1908/04/16.htm>.

[15] LÊNIN, Vladimir Ilitch. Acerca de algumas particularidades do desenvolvimento histórico do Marxismo. MIA. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1910/12/23.htm>.

[16] LÊNIN, Vladimir Ilitch. Os destinos históricos da doutrina de Karl Marx. MIA, 25 de Janeiro de 2016. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/03/01.htm>.

[17] LÊNIN, Vladimir Ilitch. Marxismo e reformismo. MIA, 25 de Agosto de 2016. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/09/12.html>.

[18] LÊNIN, Vladimir Ilitch. O oportunismo e a falência da II Internacional. MIA, 05 de Dezembro de 2012. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/01/falencia.htm>.

[19] LÊNIN, Vladimir Ilitch. A Revolução Proletária e o renegado Kautsky. MIA, 15 de Outubro de 2007. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1918/renegado/index.htm>.

[20] LÊNIN, Vladimir Ilitch. A Terceira Internacional e seu lugar na história. MIA, 06 de Março de 2020. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1919/04/15.htm>.

[21] LÊNIN, Vladimir Ilitch. II Congresso da Internacional Comunista. MIA, 22 de Março de 2020. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/07/24.htm>.

[22] OLIVEIRA, Marconne. A condenação do Maoísmo é a tática dos oportunistas: como os oportunistas usam a condenação do Maoísmo para justificarem sua posição parlamentarista e a analise errônea da Revolução Brasileira. Ao Povo Brasileiro, 14 de Outubro de 2020. Disponível em: <https://aopovobrasileiro.medium.com/a-condena%C3%A7%C3%A3o-do-mao%C3%ADsmo-%C3%A9-a-t%C3%A1tica-dos-oportunistas-b8e4eddfed90?source=search_popover------------------------------------->.

[23] PORTAL DA INDÚSTRIA. Exportação no Brasil: presença no mercado global. Portal da Indústria, 2020. Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/exportacao-e-comercio-exterior/>.

[24] SANTANDER. Importação: conheça os principais produtos importados pelo Brasil. Santander, 2020. Disponível em: <https://santandernegocioseempresas.com.br/conhecimento/internacionalizacao/produtos-mais-importados-pelo-brasil/>.

[25] CONTAG. Os numeremos dos assalariados rurais. CONTAG. Disponível em: <http://www.contag.org.br/index.php?modulo=portal&acao=interna&codpag=385&ap=1&nw=1>.

[26] LISBOA, Vinícius. Brasil perdeu 1,3 milhões de empregos na indústria entre 2013 e 2016. Agência Brasil, 21 de Junho de 2018. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-06/brasil-perdeu-13-milhao-de-empregos-na-industria-entre-2013-e-2016>.

[27] CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Economia brasileira: 2020–2021. Confederação Nacional da Indústria, Brasília-DF, 2020. Disponível em: <https://static.portaldaindustria.com.br/portaldaindustria/noticias/media/filer_public/d8/ea/d8eac450-a9a1-4616-acb9-200bec5d221e/economia_brasileira_2020-2021.pdf>.

[28] DATA USA. Manufacturing. Data USA. Disponível em: <https://datausa.io/profile/naics/manufacturing>.

[29] LUPA, Rui. Bolsonaro, Castelo Branco e a desnacionalização da Petrobrás. A Nova Democracia, Abril de 2021. Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-240/15612-bolsonaro-castelo-branco-e-a-desnacionalizacao-da-petrobras>.

[30] DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO. Quase 4 milhões de hectares de terras agriculturáveis estão nas mãos de estrangeiros. Diário do Centro do Mundo, 18 de Janeiro de 2021. Disponível em: <https://www.diariodocentrodomundo.com.br/quase-4-milhoes-de-hectares-de-terras-agriculturaveis-estao-nas-maos-de-estrangeiros/>.

[31] OXFAM BRASIL. Menos de 1% das propriedades agrícolas é dona dew quase metade da área rural brasileira. Oxfam Brasil, 27 de Agosto de 2019. Disponível em: <https://www.oxfam.org.br/publicacao/menos-de-1-das-propriedades-agricolas-e-dona-de-quase-metade-da-area-rural-brasileira/>.

[32] JORNAL AND. A mistificação burguesa do campo e a atualidade da Revolução Agrária. Jornal AND, Julho/Agosto de 2002. Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-1/1447-a-mistificacao-burguesa-do-campo-e-a-atualidade-da-revolucao-agraria>.

[33] JORNAL AND. Conceitos científicos do proletariado. Jornal AND, Janeiro de 2018. Disponível em: <https://anovademocracia.com.br/no-202/7993-conceitos-cientificos-do-proletariado>.

[34] SOUZA, Jaílson. A perpetuação da mineração semicolonial: Brasil, um país saqueado pelos monopólios. Jornal AND, Dezembro de 2019. Disponível em: <https://www.anovademocracia.com.br/no-229/12579-a-perpetuacao-da-mineracao-semicolonial-brasil-um-pais-saqueado-pelos-monopolios>.

[35] OLIVEIRA, Marconne. Crítica da teoria e da prática do “poder popular”: a última palavra de ordem vazia dos reboquistas (2ª Ed.). Ao Povo Brasileiro, 3 de Julho de 2021. Disponível em:

 <https://aopovobrasileiro.medium.com/cr%C3%ADtica-da-teoria-e-da-pr%C3%A1tica-do-poder-popular-a-%C3%BAltima-palavra-de-ordem-vazia-dos-reboquistas-5e8bbbf84da7>.


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