Zé
Toniquinho: o Homem e o Mito
Falecido no dia 07/10/2021 de causas
naturais, José Vicente dos Santos (Zé Toniquinho) foi uma das figuras das mais influentes
da cidade. De origem humilde, tornou-se uma personagem que frequentou altos
círculos da sociedade bom-despachense.
Consagrou-se graças a um único
livro: suas já célebres memórias (Minha Vida, Meus Amores, Brasília, Editora
do Autor, 2008), é claramente um livro com um co-autor: Pedro Rogério Couto
Moreira, filho do ex-presidente da Academia Mineira de Letras. A editoração foi
cuidadosa, realizada em Brasília; o livro conta com fotos coloridas que
documentam os fatos narrados. Faltou, no entanto, um índice para essa narrativa
de mais de 150 páginas.
José Antônio tinha uma cultura
cinematográfica muito vasta. Tinha visto muitos filmes no Cine Regina. O seu
filme preferido era La Violetera, de Sara Montiel (1958).
O
gênero “memórias” talvez seja aquilo que fica melhor definido em termos de
gênero dentro desse livro. Afinal, o gênero sempre foi o grande problema do
autor: José era uma alma de mulher dentro de um corpo de homem. A identificação
do autor foi com a figura da hetaira e da messalina. E é assim que o leitor é
levado a ler esse livro: colocando-se na posição de quem ouve uma cortesã espirituosa
contar seus segredos de alcova. A linguagem, embora tenha passado pela pena de
um letrado, foi mantida crua.
O
livro manteve uma âncora no social nas primeiras páginas, enquanto descreve sua
infância em meio ao drama da pobreza e da fome, com a família desfeita após o
desaparecimento da mãe no Rio de Janeiro. Aí está o verdadeiro valor desse
relato, aquilo que será objeto de estudo dos historiadores das mentalidades e
monografias de final de curso para os psicólogos.
Após
o capítulo sobre os primeiros segredos de alcova, não se pode mais tanto falar
no autor e sim em Coquita Rugello, personagem andrógina, travesti e picaresca
que ele soube, muito bem, criar. É um texto orientado para dar prazer ao leitor
com a penetração do leitor dentro dos recantos mais íntimos do corpo e da alma
do autor. Suas memórias foram sua marca e serão para sempre uma lembrança forte
de uma época que os historiadores do futuro irão estudar. Eles se lembrarão dele
ao abrir seu livro, como nós, de agora em diante. Zé ficou encantado para
sempre, virou memória.
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