quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Zé Toniquinho: O Homem e o Mito

 

Zé Toniquinho: o Homem e o Mito

 

            Falecido no dia 07/10/2021 de causas naturais, José Vicente dos Santos (Zé Toniquinho) foi uma das figuras das mais influentes da cidade. De origem humilde, tornou-se uma personagem que frequentou altos círculos da sociedade bom-despachense.

            Consagrou-se graças a um único livro: suas já célebres memórias (Minha Vida, Meus Amores, Brasília, Editora do Autor, 2008), é claramente um livro com um co-autor: Pedro Rogério Couto Moreira, filho do ex-presidente da Academia Mineira de Letras. A editoração foi cuidadosa, realizada em Brasília; o livro conta com fotos coloridas que documentam os fatos narrados. Faltou, no entanto, um índice para essa narrativa de mais de 150 páginas.

            José Antônio tinha uma cultura cinematográfica muito vasta. Tinha visto muitos filmes no Cine Regina. O seu filme preferido era La Violetera, de Sara Montiel (1958).

O gênero “memórias” talvez seja aquilo que fica melhor definido em termos de gênero dentro desse livro. Afinal, o gênero sempre foi o grande problema do autor: José era uma alma de mulher dentro de um corpo de homem. A identificação do autor foi com a figura da hetaira e da messalina. E é assim que o leitor é levado a ler esse livro: colocando-se na posição de quem ouve uma cortesã espirituosa contar seus segredos de alcova. A linguagem, embora tenha passado pela pena de um letrado, foi mantida crua.

O livro manteve uma âncora no social nas primeiras páginas, enquanto descreve sua infância em meio ao drama da pobreza e da fome, com a família desfeita após o desaparecimento da mãe no Rio de Janeiro. Aí está o verdadeiro valor desse relato, aquilo que será objeto de estudo dos historiadores das mentalidades e monografias de final de curso para os psicólogos.

Após o capítulo sobre os primeiros segredos de alcova, não se pode mais tanto falar no autor e sim em Coquita Rugello, personagem andrógina, travesti e picaresca que ele soube, muito bem, criar. É um texto orientado para dar prazer ao leitor com a penetração do leitor dentro dos recantos mais íntimos do corpo e da alma do autor. Suas memórias foram sua marca e serão para sempre uma lembrança forte de uma época que os historiadores do futuro irão estudar. Eles se lembrarão dele ao abrir seu livro, como nós, de agora em diante. Zé ficou encantado para sempre, virou memória.

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