sábado, 25 de março de 2023

Carlos Madeira: Vislumbres e Cor e Forma

 

Carlos Madeira: Vislumbres e Cor e Forma

 

 

            Carlos Madeira é um artista plástico autodidata, atua na área de Artes Plásticas desde os 20 anos. Esse grande artista bom-despachense já realizou trabalhos importantes como o Catálogo Aleijadinho. Carlos participou de exposições nacionais e internacionais em países como França, Alemanha, Finlândia.

            As Artes Plásticas, como toda arte, têm papel importante de difundir e representar a cultura de um povo. A maneira de expressar do artista em suas telas é muito peculiar de formas variadas, seja ela no figurativo e no abstrato, cada um eterniza suas ideia de forma plástica, exemplar, instrutiva, dentre outras manifestações.

            Ele começou a tomar gosto pela arte já na infância. Com uns cinco anos já fazia seus primeiros desenhos. Sem condições de estudar numa escola de Artes, teve de desenvolver sozinho seu método artístico. No início, era apenas desenho e lápis, inspirando-se na figura humana.

            Com o passar dos anos, percebeu que poderia ir além do desenho. Passou a pintar OST (óleo sobre tela) e, para desenvolver seu estilo, foram anos de pesquisas e testes. Criou métodos de desenhos, mistura e combinações de cores. Apaixonou-se pelo realismo. Em meio a pinceladas suaves, surgiam os retratos, a maioria para galeria. Teve também o prazer de pintar uma série: homens do campo, seus modos, seus costumes, trabalho e vivência simples que se tornaram imortais em suas telas.

            De uns anos para cá, aventurou-se em novas experiências. Foi então que descobriu na acrílica um jeito gostoso de brincar de arte. Sendo assim, com espátulas e cores vibrantes deixou seus fiéis traços se soltarem naturalmente.

            E assim, Carlos vai vivendo de arte e pra arte, ensinando e compartilhando todo seu aprendizado e conhecimento a pessoas que se dedicam à arte de pintar. O que Paulo Francis disse sobre Mondrian aplica-se à obra de Carlos Madeira:

 

            Mondrian quer fechar todos os buracos da percepção visual de maneira frontal e plana, respirando com sua linha e cor. Terminou em cores, soltas no espaço, as barras desaparecem, chegam à quase invisibilidade, você está dentro de um novo universo que ele criou. Algumas pessoas sentem-se instintivamente se sentem atraídas por essa reorganização matemática do mundo que depois se liberta de qualquer presilha, como se fosse um só vislumbre de cor e forma que temos de um trem ou carro em alta velocidade, ou numa lente forte, que tudo distorce, encontrando a própria harmonia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 15 de março de 2023

Bom Despacho em Cena: Menino Bonito, Expressões do Futebol, Ruas do Rio de Janeiro

 

Bom Despacho em Cena: Menino Bonito, Expressões do Futebol, Ruas do Rio de Janeiro

 

            Menino Bonito, texto autobiográfico de Alberto Coimbra (editora Literatura em Cena, 2022), é produto da reescrita do texto Impressões de Cinema, desdobrado em três: Resposta ao Tempo, Ruas do Rio de Janeiro e Belas Artes. Menino Bonito é Resposta ao Tempo renomeado.

            Eu preferia o título Resposta ao Tempo, é uma busca autobiográfica do escritor de compreender sua própria trajetória. Para tanto, ele revisita a relação com a família, pai e mãe, com os amigos da cidade, brincadeiras infantis, primeiros namoros, etc. Ele parte em busca de significados e sentidos profundos, em busca de saber onde algo de essencial foi perdido, onde os problemas começaram.

Nessa narrativa existem muitos elementos interessantes e situações curiosas que volta e meia emergem em uma linguagem atrativa e construída em cenas cinematográficas e fragmentos. Não é à toa que ele focaliza a ruína romana que surge ao final do filme Satyricon: a partir do presente, ele busca as ruínas do passado, daquilo que já foi e já se encerrou.

Ele conhece –e muito bem relembra-- figuras realmente fascinantes da cidade, como a cantora Cibele Oliveira, que é uma artista como ele. Há vários outros: André, que suicidou-se, com quem ele sentiu identificação; Zé Toniquinho, personagem folclórica da cidade e a quem ele associa ao anjinho do Sítio do Pica Pau Amarelo; Vera do Azul torna-se a atriz Farah Fawcett da série As Panteras, Maria José Paixão entrou em foco porque é a artista sofrida, cujo talento e fascínio libertário a cidade e o marido reprimem, dentre outros achados que são curiosos e engraçados e fazem o livro fluir muito agradavelmente.

            Foi muito interessante a relação com do texto com o cinema, os filmes na TV, a forma como Alberto, que tornou-se cinéfilo a partir dos filmes na televisão, relembra o cinema local, o Cine Regina, com grande riqueza de detalhes. É fascinante a aplicação que faz dos filmes e cenas em sua vida pessoal. Essa autobiografia resolveu o problema do fio condutor, que em Impressões de Cinema era tênue e ficou sendo um bom livro, embora mesmo esse Menino Bonito ainda tenha alguns problemas de revisão, como crase, maiúsculas e minúsculas: por exemplo, “militar” e “costureira”, nomes de profissão dos pais, estão em letra maiúscula sem razão alguma.

            Aparentemente a relação com a mãe, que compara com “Greta Garbo”, é melhor do que a relação com “Tyrone Power”, que é o pai. É muito curiosa a descoberta de Rita Hayworth, uma estrela de Hollywood cujos filmes foram marcantes para a geração 68, que foi a geração do pai. Alberto Coimbra, num tempo de Sharon Stone, fascinou-se por Rita Hayworth, a deusa do amor, querendo até mesmo transformar-se naquela atriz que fascinou e que já vivia seu crepúsculo quando Alberto a descobriu.

            As Ruas do Rio de Janeiro (editora Literatura em Cena, 2022), baseiam-se na ideia do flanêur de Baudelaire: o poeta como observador da urbanidade, um representante da modernidade que dedicou-se a atividades lúdicas e ociosas, levando a vida a buscar sensações diferentes das vulgares, vestindo-se de forma elegante. É o dândi em busca de seu sândalo. O poeta anda pelas galerias de Paris, Alberto anda pelas ruas do Rio. E Alberto escreve sobre a ladeira da Misericórdia que levava ao Morro do Castelo (demolido, mas foi onde o Rio nasceu e comenta que essa ladeira foi citada em Esaú e Jacó, de Machado de Assis). A partir de uma rua ou ladeira, Alberto começa o palavra-puxa-palavra, menciona uma frase de Adélia Prado, uma canção de Gal Costa, e por aí, em associação livre, o texto vai fluindo. As enumerações e referências são muitas, abundantes, mas a leitura é prazerosa e, ao final, ficou a frase espirituosa e marcante: “Muito são cariocas, alguns nasceram longe de casa.” Alberto Coimbra seguiu o destino histórico de mineiros como Fernando Sabino, Drummond e integrou-se na alma encantadora do Rio, tal como sua irmã Denise comentou no prefácio.

            Expressões do Futebol (editora Literatura em Cena, 2022) é um livro interessante de ficção e prosa poética a partir da pesquisa inédita sobre o futebol local. O livro não surgiu, como As Ruas do Rio de Janeiro, de um desenvolvimento posterior de Impressões de Cinema. Lançado anteriormente, já foi intitulado Léo e o Futebol. Mesmo nessa reedição, ressentiu-se de ser ao mesmo tempo pesquisa histórica sobre o futebol local (e esse é o primeiro livro sobre futebol local que eu conheço, daí sua grande importância) e uma ficção erótica. O melhor seria, de fato, numa nova reedição, reescrever o livro enquanto uma ficção utilizando Léo como um motivo-guia a unificar as situações e informações, utilizando a pesquisa historiográfica (que cita profissionais reais e atuantes como Graia, Tebinha, Khalifa) apenas como inspiração e citando suas fontes ao final, homenageando-as.

A decisão de desmembrar e desenvolver Impressões de Cinema foi boa e gerou obras muito interessantes. Ficamos no aguardo da terceira obra: “Belas-Artes”, falando de sua relação com o cinema.

quarta-feira, 1 de março de 2023

Miguel Gontijo: Um Amor que Nunca se Acabou

 

 

Miguel Gontijo: Um Amor que Nunca se Acabou

 

            Nesse novembro de 2022, a Escola Estadual Miguel Gontijo fez setenta e três anos, embora suas atividades tenham iniciado efetivamente em 15/04/1950. Lembro-me que, quando vim trabalhar em Bom Despacho em 2001, encontrei o político Hugo Gontijo, filho do construtor do ginásio e também político. Dr. Miguel Marques Gontijo era médico e foi vice de Dr. Cisalpino. Em sua homenagem temos o hospital, o colégio Miguel Gontijo e uma rua.

            Eu e Hugo Gontijo fomos tomar uma cerveja no que eram, então, o bar e sebo Sabor e Saber, cantinho da Roberta do professor Tadeu (que falta que faz!). A cidade continua sem ter um espaço semelhante, aberto para música, artistas locais, livros. Eu cheguei a dar uma palestra sobre tropicalismo lá, passando cenas de um especial de Caetano Veloso na Rede Manchete em 93 (quando ele fez cinquenta anos), com cenas do musical Opinião com Maria Betânia, etc.

Quando contei que era da área de Letras e Filosofia, ele contou-me que redigiu a letra de uma música junto ao um compositor. E ele passou a recitar a canção para mim. Eu vivia o fim de um amor com a hoje minha amiga Luciene Guimarães e fiquei profundamente emocionado. A canção falava de um brinde com copos de vinho e outras imagens muito bonitas. Ela me lembrava Flor de Lis do Djavan: “E foi assim que eu vi o nosso amor na poeira...poeira. Morto na beleza fria de Maria...e o meu jardim da vida, ressecou, morreu. Do pé que brotou Maria, nem Margarida nasceu”. E de repente, ao terminar de recitar, Hugo perguntou-me: “qual o nome que você dá para essa canção”? Eu pensei e disse: “Um Amor que Se Acabou”. Pasmo, Hugo ficou calado alguns momentos e respondeu: “mas esse é o nome dela...”

            Não muito tempo depois, esse outro Gontijo perdeu uma filha pequena em circunstâncias trágicas, entrou em depressão e deixou-se morrer.

Naquele tempo em que trabalhei na Escola Estadual Miguel Gontijo, a sombra de um outro grande professor de Filosofia ainda pairava lá: a do professor “Coió”. O professor, muito culto, virou folclore. Na época em que a informação era restrita, o professor de Filosofia trazia para a sala de aula jornais em inglês e em francês. Curiosamente, eu também lembro desses jornais, tais como New York Times, Le Monde, bastante caros, eram embrulhados em plástico e eles para mim eram vistos um como objeto de desejo em livrarias chiques da Savassi em Belo Horizonte. Esse tempo, o vento levou!

            O vento levou também o professor Coió. Anos depois, tive a honra de lecionar ao lado de seu filho, um professor de Português morto muito prematuramente, para tristeza de todos. “Coió”, como o professor Majela, deixou muitas memórias e virou folclore, por assim dizer. Minha mãe tem grande carinho, ainda pelo professor Magela. Meu pai também repete histórias a seu respeito, um verdadeiro mito. Meu primo Roberto Queiroz lembra de histórias muito curiosas sobre “Coió”. O grande mestre não enxergava bem. E, sabendo disso, os alunos colocaram uma bola com boné no fundo da sala. O professor de Filosofia aproximou-se e leu um sermão para o aluno (contra o uso do boné), mas de repente viu que estava enganado e eram as famosas palavras ao léu. Roberto contou-me também que pegou carona em seu velho carro. Lá dentro, como o professor entretinha-se com uma fazenda, havia também terra e até uma plantinha brotando, já com ramos verdes, ao pé do banco de trás, o que tornava o ambiente do carro do professor um aspecto um tanto quanto surrealista.

            Em criança, eu brinquei na praça do Miguel Gontijo nos fins de semana. As praças da cidade tinham brinquedos que rodavam, escorregadores, jardins com espaço de areia onde as crianças brincavam. Onde há aquela curiosa “corcova” na praça da escola Miguel Gontijo havia um jardim de areia onde fazíamos castelos, etc. Nessa época, para vocês terem ideia, fascinavam-me os trilhos da estrada de ferro atrás da rodoviária que ainda, muitos anos depois dela desativada, ainda estavam ali. E a rodoviária era aquele pequeno prédio antigo onde estava a sede da Assem.

            Segundo o diretor Ronaldo Lúcio, a Escola Estadual Miguel Gontijo foi construída graças aos praças do quinto batalhão, o “Machado de Prata” atuou ali também, ajudou a construir pedra por pedra o sonho do ginásio realizado pelo Dr. Hugo Gontijo (ele era médico).

            Uma vez encerrada a fase na UNIPAC, passei a trabalhar em escolas locais, esporadicamente, até conseguir a efetivação na Escola Wilson Lopes do Couto. Gostei muito da experiência na escola Miguel Gontijo. A equipe do Miguel Gontijo teve um grande papel na consolidação da universidade local: grandes professores saíram dessa escola, bem como Samira Araújo, que atuou nos dois ambientes, tais como também a Vera do Azul, o competentíssimo Jackson e muitos mais. E o Miguel Gontijo, continua, com o tempo integral, na vanguarda da educação em nossa cidade.

            Parabéns à Escola Miguel Gontijo e a toda equipe pelos 73 anos! Que esse amor, que reencontrei no filho de Dr. Hugo Gontijo, nunca se acabe!