Aqui estamos novamente para debater com o Valmir do Jornal Fique Sabendo, que em editorial da edição de 15 a 30 de outubro de 2010 ensaiou declarar o voto em Serra, mas ficou só no quase. Quase declarou. O título do editorial é: "O Brasil da Imprensa Quase Livre".
Valmir: você poderia ter declarado o voto em Serra nessa edição, imitando o jornal O Estado de São Paulo. Teria sido mais honesto, mostrado mais coragem. Porque durante a campanha você fez uma cobertura que ignorava todos os candidatos e falava só dos que anunciavam com você: Zé do Nô, Jefinho, Dr. Grilo, Anastasia.
Na capa você colocou uma imagem de Vital Guimarães, presidente do PSDB local, recebendo um panfleto de Anastasia e colocou a chamada falando em "carta de reivindicações". Achei muito positivo, como achei positiva a cobertura do caso do menino morto em circunstâncias misteriosas, o José Paulo. Como você já deve ter lido no blog do André, vou mesmo publicar um artigo a respeito da manifestação que aconteceu reivindicando uma apuração justa para esse caso. O artigo se chamará Outubro Vermelho em Bom Despacho.
Você ignorou a manifestação histórica e publicou um Boletim de Ocorrência, o segundo que vejo (o primeiro foi publicado no blog do Fique Sabendo) a respeito do caso José Paulo. Esse que você publicou impresso nem sequer toca no assunto "drogas" que era o grande tema do outro, que acusava José Paulo de traficante. O que aconteceu? Por que dois BOs? Por que esse agora dando ênfase ao acidente que o teria matado?
A carta de Vital a Anastasia foi uma iniciativa boa, parabéns ao Vital, que parece ter boas relações com você. A carta continha as seguintes reivindicações que vale a pena transcrever:
1--instalação imediata da Superintendência de Educação (já criada por Lei).
2--Destinação da Fazenda --antiga Febem --para o projeto da escola profissionalizante do Agroindustrial.
3--Recursos para a construção de um Anel Rodoviário e duplicação da entrada da cidade até a BR 262.
4--Recursos para a aquisição de um CTI e uma Hemodiálise para serem administrados pela Santa Casa e não por uma empresa particular conforme tem sido noticiado.
5--Asfaltamento para o Campo de Pouso, que se encontra e pista de terra desde sua construção há mais de dez anos.
6--Apoio para o processo de agilização do Parque Ecológico Mata do Batalhão.
São pontos bons, mas poderiam chegar a dez, com a estatização das siderúrgicas locais paradas pelo Lula, quem sabe, etc.
Mas, deixando de lado esse tema candente, vamos ao seu editorial. Em primeiro, você é extremamente inexato ao tratar de "numa edição da revista Veja..." Que edição? De quando? A Veja é um péssimo exemplo para você, Valmir. Ela se faz de neutra, mas é partidária do PSDB. E mente e distorce.
Como acho que é distorção e mentira essa história de que Lula quer monitorar a imprensa mediante um dispositivo na Constituição. Afirmações mentirosas desse naipe foram feitas pelo candidato Dr. Grilo, que pagava publicidade em seu jornal a respeito de minorias religiosas e sexuais. Esse candidato confunde o PNDH-3, plano de direitos humanos, com emendas à Constituição, por pura má fé.
Cuidado, Valmir: tomar partido, sim, incentivar a ignorância, a mentira e a confusão, deliberadamente, aproxima um órgão do fascismo, porque o fascismo faz uso deses expedientes. Não estou dizendo que você é fascista. Eu vi você na manifestação contra a morte de José Paulo e acredito que você é um cidadão que quer que a cidade melhore, é um cidadão que luta por uma imprensa melhor, é um rapaz batalhador que leva adiante sozinho o seu jornal. Por isso me dou ao trabalho de escrever esse texto: no intento de ajudar você a seguir o seu caminho que é de luz e impedir certos deslizes nas trevas.
Eu não peço a você ser cem por cento imparcial, mas ser parcial e não assumir acho negativo. Você pode receber pelas publicidades, mas o conteúdo pode ser uma cobertura mais abrangente, ouvindo e olhando os dois lados.
O governo Lula se caracteriza por ter tido uma simpatia da imprensa em seu início, para depois passar a ser intensamente combatido por ela. Nesse combate, ela não se mostrou isenta e sim conservadora, autoritária, ignorante e praticante da censura que ela diz querer evitar. Sim, ela modera, censura, omite, não dá direito de resposta! Escreva uma carta criticando a Veja e veja se sai lá!
Eu votei em Ivan Pinheiro do PCB no primeiro turno e votarei e Dilma no segundo, mas só porque ela é a menos pior. Mas de censura a jornalistas não se pode acusar o governo Lula! E mesmo Chávez sofreu um golpe de estado do qual participou toda a imprensa. E o que ele fez com a RCTV foi cassar a concessão dela, mas ela continuou funcionando a cabo e pela internet. Não foi "fechada pelo governo" como mentem por aí. Existe oposição a Chávez, sim, como o jornal Tal Cual, do Teodoro Petikoff. Leia que é espanhol, dá para ler e é menos editorializado que a Veja. Leia lá e não repita mais as besteiras reaças da Veja:
http://www.talcualdigital.com/index.html
Aliás, esse governo tem a peculiaridade de ser combatido por praticamente toda a imprensa, rádio, jornais e televisão, mas nem por isso perde popularidade. Isso é para você refletir sobre sua (ir)relevância para o povão.
A própria Veja tem publicidade de empresas tais como o Banco do Brasil, o que me deixa espantado. Receber dinheiro de um órgão do governo para falar mal dele! Eu creio que o PT deveria criar sua imprensa própria, não-estatal, e esculachar essa imprensa demotucana.
No mais, espero que você aceite esse texto como estima ao seu jornal e a você, assim como desejo de abrir o diálogo. Deixe estar que Lula quer você e seu jornal livres e Deus, no qual o FHC já disse não acreditar e a imprensa esconde, com certeza vai ser bem benevolente e onipresente e, sem se tornar "um minúsculo chefe de estado em virtude de sua decadência governamental", como você escreveu, com certeza irá querer.
Abraços sempre camaradas do Lúcio Jr.
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
domingo, 24 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
Manifesto de reitores das universidades federais à nação brasileira
Da pré-escola ao pós-doutoramento - ciclo completo educacional e
acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e
profissional - consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos
anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas
implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta
de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do
Ministro Fernando Haddad.
Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito
significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante
da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de
brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima
da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro
reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de
povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares
mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que
não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações
estrangeiras.
Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele
em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e
consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a
Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi
universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a
ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e
Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao
ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI,
estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de
leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas
Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos
crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de
profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para
consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano
Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as
suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação
como uma prioridade central de seus governos.
Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto
educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o
País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade
brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e
que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a
continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os
níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o
Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais
decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.
Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa
gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial,
no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele
também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em
educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi
exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de
mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas
e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive,
relativas à Autonomia Universitária.
Alan Barbiero - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
José Weber Freire Macedo - Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)
Aloisio Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Josivan Barbosa Menezes - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Amaro Henrique Pessoa Lins - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Malvina Tânia Tuttman - Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Ana Dayse Rezende Dórea - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Maria Beatriz Luce - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
Antonio César Gonçalves Borges - Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Maria Lúcia Cavalli Neder - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Carlos Alexandre Netto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Miguel Badenes P. Filho - Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)
Carlos Eduardo Cantarelli - Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)
Miriam da Costa Oliveira - Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)
Célia Maria da Silva Oliveira - Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Natalino Salgado Filho - Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Damião Duque de Farias - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
Paulo Gabriel S. Nacif - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Felipe .Martins Müller - Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).
Pedro Angelo A. Abreu - Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)
Hélgio Trindade - Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Ricardo Motta Miranda - Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hélio Waldman - Universidade Federal do ABC (UFABC)
Roberto de Souza Salles - Universidade Federal Fluminense (UFF)
Henrique Duque Chaves Filho - Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Romulo Soares Polari - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Jesualdo Pereira Farias - Universidade Federal do Ceará - UFC
Sueo Numazawa - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
João Carlos Brahm Cousin - Universidade Federal do Rio Grande - (FURG)
Targino de Araújo Filho - Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)
José Carlos Tavares Carvalho - Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Thompson F. Mariz - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
José Geraldo de Sousa Júnior - Universidade Federal de Brasília (UNB)
Valmar C. de Andrade - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
José Seixas Lourenço - Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Virmondes Rodrigues Júnior - Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Walter Manna Albertoni - Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)
acadêmico de formação das pessoas na busca pelo crescimento pessoal e
profissional - consideramos que o Brasil encontrou o rumo nos últimos
anos, graças a políticas, aumento orçamentário, ações e programas
implementados pelo Governo Lula com a participação decisiva e direta
de seus ministros, os quais reconhecemos, destacando o nome do
Ministro Fernando Haddad.
Aliás, de forma mais ampla, assistimos a um crescimento muito
significativo do País em vários domínios: ocorreu a redução marcante
da miséria e da pobreza; promoveu-se a inclusão social de milhões de
brasileiros, com a geração de empregos e renda; cresceu a autoestima
da população, a confiança e a credibilidade internacional, num claro
reconhecimento de que este é um País sério, solidário, de paz e de
povo trabalhador. Caminhamos a passos largos para alcançar patamares
mais elevados no cenário global, como uma Nação livre e soberana que
não se submete aos ditames e aos interesses de países ou organizações
estrangeiras.
Este período do Governo Lula ficará registrado na história como aquele
em que mais se investiu em educação pública: foram criadas e
consolidadas 14 novas universidades federais; institui-se a
Universidade Aberta do Brasil; foram construídos mais de 100 campi
universitários pelo interior do País; e ocorreu a criação e a
ampliação, sem precedentes históricos, de Escolas Técnicas e
Institutos Federais. Através do PROUNI, possibilitou-se o acesso ao
ensino superior a mais de 700.000 jovens. Com a implantação do REUNI,
estamos recuperando nossas Universidades Federais, de norte a sul e de
leste a oeste. No geral, estamos dobrando de tamanho nossas
Instituições e criando milhares de novos cursos, com investimentos
crescentes em infraestrutura e contratação, por concurso público, de
profissionais qualificados. Essas políticas devem continuar para
consolidar os programas atuais e, inclusive, serem ampliadas no plano
Federal, exigindo-se que os Estados e Municípios também cumpram com as
suas responsabilidades sociais e constitucionais, colocando a educação
como uma prioridade central de seus governos.
Por tudo isso e na dimensão de nossas responsabilidades enquanto
educadores, dirigentes universitários e cidadãos que desejam ver o
País continuar avançando sem retrocessos, dirigimo-nos à sociedade
brasileira para afirmar, com convicção, que estamos no rumo certo e
que devemos continuar lutando e exigindo dos próximos governantes a
continuidade das políticas e investimentos na educação em todos os
níveis, assim como na ciência, na tecnologia e na inovação, de que o
Brasil tanto precisa para se inserir, de uma forma ainda mais
decisiva, neste mundo contemporâneo em constantes transformações.
Finalizamos este manifesto prestando o nosso reconhecimento e a nossa
gratidão ao Presidente Lula por tudo que fez pelo País, em especial,
no que se refere às políticas para educação, ciência e tecnologia. Ele
também foi incansável em afirmar, sempre, que recurso aplicado em
educação não é gasto, mas sim investimento no futuro do País. Foi
exemplo, ainda, ao receber em reunião anual, durante os seus 8 anos de
mandato, os Reitores das Universidades Federais para debater políticas
e ações para o setor, encaminhando soluções concretas, inclusive,
relativas à Autonomia Universitária.
Alan Barbiero - Universidade Federal do Tocantins (UFT)
José Weber Freire Macedo - Univ. Fed. do Vale do São Francisco (UNIVASF)
Aloisio Teixeira - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Josivan Barbosa Menezes - Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Amaro Henrique Pessoa Lins - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Malvina Tânia Tuttman - Univ. Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Ana Dayse Rezende Dórea - Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Maria Beatriz Luce - Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
Antonio César Gonçalves Borges - Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Maria Lúcia Cavalli Neder - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
Carlos Alexandre Netto - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Miguel Badenes P. Filho - Centro Fed. de Ed. Tec. (CEFET RJ)
Carlos Eduardo Cantarelli - Univ. Tec. Federal do Paraná (UTFPR)
Miriam da Costa Oliveira - Univ.. Fed. de Ciênc. da Saúde de POA (UFCSPA)
Célia Maria da Silva Oliveira - Univ. Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Natalino Salgado Filho - Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Damião Duque de Farias - Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
Paulo Gabriel S. Nacif - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Felipe .Martins Müller - Universidade Federal da Santa Maria (UFSM).
Pedro Angelo A. Abreu - Univ. Fed. do Vale do Jequetinhonha e Mucuri (UFVJM)
Hélgio Trindade - Univ. Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Ricardo Motta Miranda - Univ. Fed. Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Hélio Waldman - Universidade Federal do ABC (UFABC)
Roberto de Souza Salles - Universidade Federal Fluminense (UFF)
Henrique Duque Chaves Filho - Univ. Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Romulo Soares Polari - Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Jesualdo Pereira Farias - Universidade Federal do Ceará - UFC
Sueo Numazawa - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
João Carlos Brahm Cousin - Universidade Federal do Rio Grande - (FURG)
Targino de Araújo Filho - Univ. Federal de São Carlos (UFSCar)
José Carlos Tavares Carvalho - Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)
Thompson F. Mariz - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
José Geraldo de Sousa Júnior - Universidade Federal de Brasília (UNB)
Valmar C. de Andrade - Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
José Seixas Lourenço - Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)
Virmondes Rodrigues Júnior - Univ. Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Walter Manna Albertoni - Universidade Federal de São Paulo ( UNIFESP)
sábado, 9 de outubro de 2010
Manifesto Pró-Dilma
Professores e Pesquisadores de Filosofia Apoiam Dilma Rousseff para a Presidência da República
Professores e pesquisadores de Filosofia, abaixo assinados, manifestamos nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Seguem-se nossas razões.
Os valores de nossa Constituição exigem compromisso e responsabilidade por parte dos representantes políticos e dos intelectuais
Nesta semana completam-se vinte e dois anos de promulgação da Constituição Federal. Embora marcada por contradições de uma sociedade que recém começava a acordar da longa noite do arbítrio, ela logrou afirmar valores que animam sonhos generosos com o futuro de nosso país. Entre os objetivos da República Federativa do Brasil estão “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, “garantir o desenvolvimento nacional”, “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
A vitalidade de nossa República depende do efetivo compromisso com tais objetivos, para além da mera adesão verbal. Por parte de nossos representantes, ele deve traduzir-se em projetos claros e ações efetivas, sujeitos à responsabilização política pelos cidadãos. Dos intelectuais, espera-se o exame racionalmente responsável desses projetos e ações.
Os oito anos de governo Lula constituíram um formidável movimento na direção desses objetivos. Reconheça-se o papel do governo anterior na conquista de relativa estabilidade econômica. Ao atual governo, porém, deve-se tributar o feito inédito de conciliar crescimento da economia, controle da inflação e significativo desenvolvimento social. Nesses oito anos, a pobreza foi reduzida em mais de 40%; mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe média; a desigualdade de renda sofreu uma queda palpável. Não se tratou de um efeito natural e inevitável da estabilidade econômica. Trata-se do resultado de políticas públicas resolutamente implementadas pelo atual governo – as quais não se limitam ao Bolsa Família, mas têm nesse programa seu carro-chefe.
Tais políticas assinalam o compromisso do governo Lula com a realização dos objetivos de nossa República. Como ministra, Dilma Rousseff exerceu um papel central no sucesso dessa gestão. Cremos que sua chegada à Presidência representará a continuidade, aprofundamento e aperfeiçoamento do combate à pobreza e à desigualdade que marcou os últimos oito anos.
Há razões para duvidar que um eventual governo José Serra ofereça os mesmos prospectos. É notório o desprezo com que os programas sociais do atual governo – em particular o Bolsa Família – foram inicialmente recebidos pelos atores da coligação que sustenta o candidato. Frente ao sucesso de tais programas, José Serra vem agora verbalizar sua adesão a eles, quando não arroga para si sua primeira concepção. Não tendo ainda, passado o primeiro turno, apresentado um programa de governo, ele nos lança toda sorte de promessas – algumas das quais em franco contraste com sua gestão como governador de São Paulo – sem esclarecer como concretizá-las. O caráter errático de sua campanha justifica ceticismo quanto à consistência de seus compromissos. Seu discurso pautado por conveniências eleitorais indica aversão à responsabilidade que se espera de nossos representantes. Ironicamente, os intelectuais associados ao seu projeto político costumam tachar o governo Lula e a candidatura Dilma de populistas.
O compromisso com a inclusão social é um compromisso com a democracia
A despeito da súbita conversão da oposição às políticas sociais do atual governo, ainda ecoam entre nós os chavões disseminados por ela sobre os programas de transferência de renda implementados nos últimos anos: eles consistiriam em mera esmola assistencialista desprovida de mecanismos que possibilitem a autonomia de seus beneficiários; mais grave, constituiriam instrumento de controle populista sobre as massas pobres, visando à perpetuação no poder do PT e de seus aliados. Tais chavões repousam sobre um equívoco de direito e de fato.
A história da democracia, desde seus primeiros momentos na pólis ateniense, é a história da progressiva incorporação à comunidade política dos que outrora se viam destituídos de voz nos processos decisórios coletivos. Que tal incorporação se mostre efetiva pressupõe que os cidadãos disponham das condições materiais básicas para seu reconhecimento como tais. A cidadania exige o que Kant caracterizou como independência: o cidadão deve ser “seu próprio senhor (sui iuris)”, por conseguinte possuir “alguma propriedade (e qualquer habilidade, ofício, arte ou ciência pode contar como propriedade) que lhe possibilite o sustento”. Nossa Constituição vai ao encontro dessa exigência ao reservar um capítulo aos direitos sociais.
Os programas de transferência de renda implementados pelo governo não apenas ajudaram a proteger o país da crise econômica mundial – por induzirem o crescimento do mercado interno –, mas fortaleceram nossa democracia ao criar bases concretas para a cidadania de milhões de brasileiros. Se atentarmos ao seu formato institucional, veremos que eles proporcionam condições para a progressiva autonomia de seus beneficiários, ao invés de prendê-los em um círculo de dependência. Que mulheres e homens beneficiados por tais programas confiram seus votos às forças que lutaram por implementá-los não deve surpreender ninguém – trata-se, afinal, da lógica mesma da governança democrática. Senhoras e senhores de seu destino, porém, sua relação com tais forças será propriamente política, não mais a subserviência em que os confinavam as oligarquias.
As liberdades públicas devem ser protegidas, em particular de seus paladinos de ocasião
Nos últimos oito anos – mas especialmente neste ano eleitoral – assistiu-se à reiterada acusação, por parte de alguns intelectuais e da grande imprensa, de que o presidente Lula e seu governo atentam contra as liberdades públicas. É verdade que não há governo cujos quadros estejam inteiramente imunes às tentações do abuso de poder; é justamente esse fato que informa o desenvolvimento dos sistemas de freios e contrapesos do moderno Estado de Direito. Todavia, à parte episódios singulares – seguidos das sanções e reparos cabíveis –, um olhar sóbrio sobre o nosso país não terá dificuldade em ver que o governo tem zelado pelas garantias fundamentais previstas na Constituição e respeitado a independência das instituições encarregadas de protegê-las, como o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal.
Diante disso, foi com desgosto e preocupação que vimos personalidades e intelectuais ilustres de nosso país assinarem, há duas semanas, um autointitulado “Manifesto em Defesa da Democracia”, em que acusam o governo de tramas para “solapar o regime democrático”. À conveniência da candidatura oposicionista, inventam uma nova regra de conduta presidencial: o Presidente da República deve abster-se, em qualquer contexto, de fazer política ou apoiar candidaturas. Ironicamente, observada tal regra seria impossível a reeleição para o executivo federal – instituto criado durante o governo anterior, não sem sombra de casuísmo, em circunstâncias que não mereceram o alarme da maioria de seus signatários.
Grandes veículos de comunicação sistematicamente alardeiam que o governo Lula e a candidatura Dilma representam uma ameaça à liberdade de imprensa, enquanto se notabilizam por uma cobertura militante e nem sempre responsável da atual campanha presidencial. As críticas do Presidente à grande imprensa não exigem adesão, mas tampouco atentam contra o regime democrático, em que o Presidente goza dos mesmos direitos de todo cidadão, na forma da lei. Propostas de aperfeiçoamento dos marcos legais do setor devem ser examinadas com racionalidade, a exemplo do que tem acontecido em países como a França e a Inglaterra.
Se durante a campanha do primeiro turno houve um episódio a ameaçar a liberdade de imprensa no Brasil, terá sido o estranho requerimento da Dra. Sandra Cureau, vice-procuradora-geral Eleitoral, à revista Carta Capital. De efeito intimidativo e duvidoso lastro legal, o episódio não recebeu atenção dos grandes veículos de comunicação do país, tampouco ensejou a mobilização cívica daqueles que, poucos dias antes, publicavam um manifesto contra supostas ameaças do Presidente à democracia brasileira. O zelo pelas liberdades públicas não admite dois pesos e duas medidas. Quando a evocação das garantias fundamentais se vê aliciada pelo vale-tudo eleitoral, a Constituição é rebaixada à mera retórica.
Estamos convictos de que Dilma Rousseff, se eleita, saberá proteger as liberdades públicas. Comprometidos com a defesa dessas liberdades, recomendamos o voto nela.
Em defesa do Estado laico e do respeito à diversidade de orientações espirituais, contra a instrumentalização política do discurso religioso
A Constituição Federal é suficientemente clara na afirmação do caráter laico do Estado brasileiro. É garantida aos cidadãos brasileiros a liberdade de crença e consciência, não se admitindo que identidades religiosas se imponham como condição do exercício de direitos e do respeito à dignidade fundamental de cada um. Isso não significa que a religiosidade deva ser excluída da cena pública; exige, porém, intransigência com os que pregam o ódio e a intolerância em nome de uma orientação espiritual particular.
É, pois, com preocupação que testemunhamos a instrumentalização do discurso religioso na presente corrida presidencial. Em particular, deploramos a guarida de templos ao proselitismo a favor ou contra esta ou aquela candidatura – em clara afronta à legislação eleitoral. Dilma Rousseff, em particular, tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto e a liberdade de manifestação religiosa. Conclamamos ambos os candidatos ora em disputa a não cederem às intimidações dos intolerantes. Temos confiança de que um eventual governo Dilma Rousseff preservará o caráter laico do Estado brasileiro e conduzirá adequadamente a discussão de temas que, embora sensíveis a religiosidades particulares, são de notório interesse público.
O compromisso com a expansão e qualificação da universidade é condição da construção de um país próspero, justo e com desenvolvimento sustentável
É incontroverso que a prosperidade de um país se deixa medir pela qualidade e pelo grau de universalização da educação de suas crianças e de seus jovens. O Brasil tem muito por fazer nesse sentido, uma tarefa de gerações. O atual governo tem dado passos na direção certa. Programas de transferência de renda condicionam benefícios a famílias à manutenção de suas crianças na escola, diminuindo a evasão no ensino fundamental. A criação e ampliação de escolas técnicas e institutos federais têm proporcionado o aumento de vagas públicas no ensino médio. Programas como o PRODOCENCIA e o PARFOR atendem à capacitação de professores em ambos os níveis.
Em poucas áreas da governança o contraste entre a administração atual e a anterior é tão flagrante quanto nas políticas para o ensino superior e a pesquisa científica e tecnológica associadas. Durante os oito anos do governo anterior, não se criou uma nova universidade federal sequer; os equipamentos das universidades federais viram-se em vergonhosa penúria; as verbas de pesquisa estiveram constantemente à mercê de contingenciamentos; o arrocho salarial, aliado à falta de perspectivas e reconhecimento, favoreceu a aposentadoria precoce de inúmeros docentes, sem a realização de concursos públicos para a reposição satisfatória de professores. O consórcio partidário que cerca a candidatura José Serra – o mesmo que deu guarida ao governo anterior – deve explicar por que e como não reeditará essa situação.
O atual governo tem agido não apenas para a recuperação do ensino superior e da pesquisa universitária, após anos de sucateamento, como tem implementado políticas para sua expansão e qualificação – com resultados já reconhecidos pela comunidade científica internacional. O PROUNI – atacado por um dos partidos da coligação de José Serra – possibilitou o acesso à universidade para mais de 700.000 brasileiros de baixa renda. Através do REUNI, as universidades federais têm assistido a um grande crescimento na infraestrutura e na contratação, mediante concurso público, de docentes qualificados. Programas de fomento, levados a cabo pelo CNPq e pela CAPES, têm proporcionado um sensível aumento da pesquisa em ciência e tecnologia, premissa central para o desenvolvimento do país. Foram criadas 14 novas universidades federais, testemunhando-se a interiorização do ensino superior no Brasil, levando o conhecimento às regiões mais pobres, menos desenvolvidas e mais necessitadas de apoio do Estado.
Ademais, deve-se frisar que não há possibilidade de desenvolvimento sustentável e preservação de nossa biodiversidade – temas cujo protagonismo na atual campanha deve-se à contribuição de Marina Silva – sem investimentos pesados em ciência e tecnologia. Não se pode esperar que a iniciativa privada satisfaça inteiramente essa demanda. O papel do Estado como indutor da pesquisa científica é indispensável, exigindo um compromisso que se traduza em políticas públicas concretas. A ausência de projetos claros e consistentes da candidatura oposicionista, a par do lamentável retrospecto do governo anterior nessa área, motiva receios quanto ao futuro do ensino superior e do conhecimento científico no Brasil – e, com eles, da proteção de nosso meio-ambiente – no caso da vitória de José Serra. A perspectiva de continuidade e aperfeiçoamento das políticas do governo Lula para o ensino e a pesquisa universitários motiva nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff.
Por essas razões, apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Para o povo brasileiro continuar em sua jornada de reencontro consigo mesmo. Para o Brasil continuar mudando!
06 de outubro de 2010
Professores(as) e pesquisadores(as) DE FILOSOFIA interessados em assinar o manifesto, favor enviar email com nome completo, vínculo institucional e demais informações que acharem relevantes para o endereço: manifestoprodilma@gmail.com. Para conferir a lista de signatários acesse o link "assinaturas" na barra lateral. Para os demais interessados, favor conferir: http://www.petitiononline.com/prodilma/petition.html
Professores e pesquisadores de Filosofia, abaixo assinados, manifestamos nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Seguem-se nossas razões.
Os valores de nossa Constituição exigem compromisso e responsabilidade por parte dos representantes políticos e dos intelectuais
Nesta semana completam-se vinte e dois anos de promulgação da Constituição Federal. Embora marcada por contradições de uma sociedade que recém começava a acordar da longa noite do arbítrio, ela logrou afirmar valores que animam sonhos generosos com o futuro de nosso país. Entre os objetivos da República Federativa do Brasil estão “construir uma sociedade livre, justa e solidária”, “garantir o desenvolvimento nacional”, “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
A vitalidade de nossa República depende do efetivo compromisso com tais objetivos, para além da mera adesão verbal. Por parte de nossos representantes, ele deve traduzir-se em projetos claros e ações efetivas, sujeitos à responsabilização política pelos cidadãos. Dos intelectuais, espera-se o exame racionalmente responsável desses projetos e ações.
Os oito anos de governo Lula constituíram um formidável movimento na direção desses objetivos. Reconheça-se o papel do governo anterior na conquista de relativa estabilidade econômica. Ao atual governo, porém, deve-se tributar o feito inédito de conciliar crescimento da economia, controle da inflação e significativo desenvolvimento social. Nesses oito anos, a pobreza foi reduzida em mais de 40%; mais de 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe média; a desigualdade de renda sofreu uma queda palpável. Não se tratou de um efeito natural e inevitável da estabilidade econômica. Trata-se do resultado de políticas públicas resolutamente implementadas pelo atual governo – as quais não se limitam ao Bolsa Família, mas têm nesse programa seu carro-chefe.
Tais políticas assinalam o compromisso do governo Lula com a realização dos objetivos de nossa República. Como ministra, Dilma Rousseff exerceu um papel central no sucesso dessa gestão. Cremos que sua chegada à Presidência representará a continuidade, aprofundamento e aperfeiçoamento do combate à pobreza e à desigualdade que marcou os últimos oito anos.
Há razões para duvidar que um eventual governo José Serra ofereça os mesmos prospectos. É notório o desprezo com que os programas sociais do atual governo – em particular o Bolsa Família – foram inicialmente recebidos pelos atores da coligação que sustenta o candidato. Frente ao sucesso de tais programas, José Serra vem agora verbalizar sua adesão a eles, quando não arroga para si sua primeira concepção. Não tendo ainda, passado o primeiro turno, apresentado um programa de governo, ele nos lança toda sorte de promessas – algumas das quais em franco contraste com sua gestão como governador de São Paulo – sem esclarecer como concretizá-las. O caráter errático de sua campanha justifica ceticismo quanto à consistência de seus compromissos. Seu discurso pautado por conveniências eleitorais indica aversão à responsabilidade que se espera de nossos representantes. Ironicamente, os intelectuais associados ao seu projeto político costumam tachar o governo Lula e a candidatura Dilma de populistas.
O compromisso com a inclusão social é um compromisso com a democracia
A despeito da súbita conversão da oposição às políticas sociais do atual governo, ainda ecoam entre nós os chavões disseminados por ela sobre os programas de transferência de renda implementados nos últimos anos: eles consistiriam em mera esmola assistencialista desprovida de mecanismos que possibilitem a autonomia de seus beneficiários; mais grave, constituiriam instrumento de controle populista sobre as massas pobres, visando à perpetuação no poder do PT e de seus aliados. Tais chavões repousam sobre um equívoco de direito e de fato.
A história da democracia, desde seus primeiros momentos na pólis ateniense, é a história da progressiva incorporação à comunidade política dos que outrora se viam destituídos de voz nos processos decisórios coletivos. Que tal incorporação se mostre efetiva pressupõe que os cidadãos disponham das condições materiais básicas para seu reconhecimento como tais. A cidadania exige o que Kant caracterizou como independência: o cidadão deve ser “seu próprio senhor (sui iuris)”, por conseguinte possuir “alguma propriedade (e qualquer habilidade, ofício, arte ou ciência pode contar como propriedade) que lhe possibilite o sustento”. Nossa Constituição vai ao encontro dessa exigência ao reservar um capítulo aos direitos sociais.
Os programas de transferência de renda implementados pelo governo não apenas ajudaram a proteger o país da crise econômica mundial – por induzirem o crescimento do mercado interno –, mas fortaleceram nossa democracia ao criar bases concretas para a cidadania de milhões de brasileiros. Se atentarmos ao seu formato institucional, veremos que eles proporcionam condições para a progressiva autonomia de seus beneficiários, ao invés de prendê-los em um círculo de dependência. Que mulheres e homens beneficiados por tais programas confiram seus votos às forças que lutaram por implementá-los não deve surpreender ninguém – trata-se, afinal, da lógica mesma da governança democrática. Senhoras e senhores de seu destino, porém, sua relação com tais forças será propriamente política, não mais a subserviência em que os confinavam as oligarquias.
As liberdades públicas devem ser protegidas, em particular de seus paladinos de ocasião
Nos últimos oito anos – mas especialmente neste ano eleitoral – assistiu-se à reiterada acusação, por parte de alguns intelectuais e da grande imprensa, de que o presidente Lula e seu governo atentam contra as liberdades públicas. É verdade que não há governo cujos quadros estejam inteiramente imunes às tentações do abuso de poder; é justamente esse fato que informa o desenvolvimento dos sistemas de freios e contrapesos do moderno Estado de Direito. Todavia, à parte episódios singulares – seguidos das sanções e reparos cabíveis –, um olhar sóbrio sobre o nosso país não terá dificuldade em ver que o governo tem zelado pelas garantias fundamentais previstas na Constituição e respeitado a independência das instituições encarregadas de protegê-las, como o Ministério Público, a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal.
Diante disso, foi com desgosto e preocupação que vimos personalidades e intelectuais ilustres de nosso país assinarem, há duas semanas, um autointitulado “Manifesto em Defesa da Democracia”, em que acusam o governo de tramas para “solapar o regime democrático”. À conveniência da candidatura oposicionista, inventam uma nova regra de conduta presidencial: o Presidente da República deve abster-se, em qualquer contexto, de fazer política ou apoiar candidaturas. Ironicamente, observada tal regra seria impossível a reeleição para o executivo federal – instituto criado durante o governo anterior, não sem sombra de casuísmo, em circunstâncias que não mereceram o alarme da maioria de seus signatários.
Grandes veículos de comunicação sistematicamente alardeiam que o governo Lula e a candidatura Dilma representam uma ameaça à liberdade de imprensa, enquanto se notabilizam por uma cobertura militante e nem sempre responsável da atual campanha presidencial. As críticas do Presidente à grande imprensa não exigem adesão, mas tampouco atentam contra o regime democrático, em que o Presidente goza dos mesmos direitos de todo cidadão, na forma da lei. Propostas de aperfeiçoamento dos marcos legais do setor devem ser examinadas com racionalidade, a exemplo do que tem acontecido em países como a França e a Inglaterra.
Se durante a campanha do primeiro turno houve um episódio a ameaçar a liberdade de imprensa no Brasil, terá sido o estranho requerimento da Dra. Sandra Cureau, vice-procuradora-geral Eleitoral, à revista Carta Capital. De efeito intimidativo e duvidoso lastro legal, o episódio não recebeu atenção dos grandes veículos de comunicação do país, tampouco ensejou a mobilização cívica daqueles que, poucos dias antes, publicavam um manifesto contra supostas ameaças do Presidente à democracia brasileira. O zelo pelas liberdades públicas não admite dois pesos e duas medidas. Quando a evocação das garantias fundamentais se vê aliciada pelo vale-tudo eleitoral, a Constituição é rebaixada à mera retórica.
Estamos convictos de que Dilma Rousseff, se eleita, saberá proteger as liberdades públicas. Comprometidos com a defesa dessas liberdades, recomendamos o voto nela.
Em defesa do Estado laico e do respeito à diversidade de orientações espirituais, contra a instrumentalização política do discurso religioso
A Constituição Federal é suficientemente clara na afirmação do caráter laico do Estado brasileiro. É garantida aos cidadãos brasileiros a liberdade de crença e consciência, não se admitindo que identidades religiosas se imponham como condição do exercício de direitos e do respeito à dignidade fundamental de cada um. Isso não significa que a religiosidade deva ser excluída da cena pública; exige, porém, intransigência com os que pregam o ódio e a intolerância em nome de uma orientação espiritual particular.
É, pois, com preocupação que testemunhamos a instrumentalização do discurso religioso na presente corrida presidencial. Em particular, deploramos a guarida de templos ao proselitismo a favor ou contra esta ou aquela candidatura – em clara afronta à legislação eleitoral. Dilma Rousseff, em particular, tem sido alvo de campanha difamatória baseada em ilações sobre suas convicções espirituais e na deliberada distorção das posições do atual governo sobre o aborto e a liberdade de manifestação religiosa. Conclamamos ambos os candidatos ora em disputa a não cederem às intimidações dos intolerantes. Temos confiança de que um eventual governo Dilma Rousseff preservará o caráter laico do Estado brasileiro e conduzirá adequadamente a discussão de temas que, embora sensíveis a religiosidades particulares, são de notório interesse público.
O compromisso com a expansão e qualificação da universidade é condição da construção de um país próspero, justo e com desenvolvimento sustentável
É incontroverso que a prosperidade de um país se deixa medir pela qualidade e pelo grau de universalização da educação de suas crianças e de seus jovens. O Brasil tem muito por fazer nesse sentido, uma tarefa de gerações. O atual governo tem dado passos na direção certa. Programas de transferência de renda condicionam benefícios a famílias à manutenção de suas crianças na escola, diminuindo a evasão no ensino fundamental. A criação e ampliação de escolas técnicas e institutos federais têm proporcionado o aumento de vagas públicas no ensino médio. Programas como o PRODOCENCIA e o PARFOR atendem à capacitação de professores em ambos os níveis.
Em poucas áreas da governança o contraste entre a administração atual e a anterior é tão flagrante quanto nas políticas para o ensino superior e a pesquisa científica e tecnológica associadas. Durante os oito anos do governo anterior, não se criou uma nova universidade federal sequer; os equipamentos das universidades federais viram-se em vergonhosa penúria; as verbas de pesquisa estiveram constantemente à mercê de contingenciamentos; o arrocho salarial, aliado à falta de perspectivas e reconhecimento, favoreceu a aposentadoria precoce de inúmeros docentes, sem a realização de concursos públicos para a reposição satisfatória de professores. O consórcio partidário que cerca a candidatura José Serra – o mesmo que deu guarida ao governo anterior – deve explicar por que e como não reeditará essa situação.
O atual governo tem agido não apenas para a recuperação do ensino superior e da pesquisa universitária, após anos de sucateamento, como tem implementado políticas para sua expansão e qualificação – com resultados já reconhecidos pela comunidade científica internacional. O PROUNI – atacado por um dos partidos da coligação de José Serra – possibilitou o acesso à universidade para mais de 700.000 brasileiros de baixa renda. Através do REUNI, as universidades federais têm assistido a um grande crescimento na infraestrutura e na contratação, mediante concurso público, de docentes qualificados. Programas de fomento, levados a cabo pelo CNPq e pela CAPES, têm proporcionado um sensível aumento da pesquisa em ciência e tecnologia, premissa central para o desenvolvimento do país. Foram criadas 14 novas universidades federais, testemunhando-se a interiorização do ensino superior no Brasil, levando o conhecimento às regiões mais pobres, menos desenvolvidas e mais necessitadas de apoio do Estado.
Ademais, deve-se frisar que não há possibilidade de desenvolvimento sustentável e preservação de nossa biodiversidade – temas cujo protagonismo na atual campanha deve-se à contribuição de Marina Silva – sem investimentos pesados em ciência e tecnologia. Não se pode esperar que a iniciativa privada satisfaça inteiramente essa demanda. O papel do Estado como indutor da pesquisa científica é indispensável, exigindo um compromisso que se traduza em políticas públicas concretas. A ausência de projetos claros e consistentes da candidatura oposicionista, a par do lamentável retrospecto do governo anterior nessa área, motiva receios quanto ao futuro do ensino superior e do conhecimento científico no Brasil – e, com eles, da proteção de nosso meio-ambiente – no caso da vitória de José Serra. A perspectiva de continuidade e aperfeiçoamento das políticas do governo Lula para o ensino e a pesquisa universitários motiva nosso apoio à candidatura de Dilma Rousseff.
Por essas razões, apoiamos a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Para o povo brasileiro continuar em sua jornada de reencontro consigo mesmo. Para o Brasil continuar mudando!
06 de outubro de 2010
Professores(as) e pesquisadores(as) DE FILOSOFIA interessados em assinar o manifesto, favor enviar email com nome completo, vínculo institucional e demais informações que acharem relevantes para o endereço: manifestoprodilma@gmail.com. Para conferir a lista de signatários acesse o link "assinaturas" na barra lateral. Para os demais interessados, favor conferir: http://www.petitiononline.com/prodilma/petition.html
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Lula, o Noivo da Girafa
Algum tempo depois do polêmico lançamento, finalmente vi Lula, O Noivo da Girafa, digo, o Filho do Brasil. De fato, o filme é uma experiência quase tão híbrida quanto seria um casamento entre seres de diferentes espécies: o filme tenta se equilibrar entre duas narrativas muito diferentes: um melodrama típico do cinema da retomada, cuja estética é a "cosmética da fome"; e, mal emjambrada, uma torta biografia política. Essa última, então, tem parto mais sofrido do que o de Lula.
De início, o filme é um melodrama concentrado na figura de Dona Lindu, a mãe de Lula. Ela quer que o filho seja alguém na vida, que realize sua “lenda pessoal”. Essa é a mensagem da mãe. A figura da mãe é utilizada para dar unidade à narrativa, vide as imagens em flashback no final, que denunciam também a carência de unidade. Diante da carência de unidade, do filme, do Brasil ou do PT, talvez se possa recorrer à mãe, seja ela Dona Lindu ou, quem sabe, Dilma Rousseff. A imagem da mãe cristianizada e anti-erótica é, quem sabe, único ponto do filme que aponta remotamente para a candidata do presidente.
A mistura e o hibridismo são imagens boas para definir Lula, que desde o princípio começa como num corpo estranho na política brasileira. Se a parte de melodrama estabelece continuidade com filmes tratando de infidelidade tais como Eu, Tu, Eles, a parte biográfica enfrenta, com desconforto, os assuntos políticos, sempre buscando despolitizá-los, sempre supondo que o espectador que vai ver um filme sobre um líder político não quer debate político algum.
A partir de 1963, quando Lula vivencia uma greve no ABC pela primeira vez, insere-se uma cena de invasão violenta de fábrica onde morre um chefe. Lula foge assustado. A cena seria para mostrar que Lula é contra a violência, mas serve também para muito mais, quando Lula dialoga com seu irmão Ziza, então no Partido Comunista Brasileiro (informação que o filme sonega por puro preconceito e má fé), supostamente o responsável pela invasão violenta da fábrica (o que não é, de forma alguma, típico da atitude do PCB diante do período João Goulart, que era de conciliação).
A cena termina por ilustrar as agitações do período Goulart e o fato de que Lula divergia delas por serem violentas: no entanto, de fato Lula era um alienado e achou que o golpe era uma coisa boa. Ele nem sequer escutou as explicações do irmão. Uma inserção em off de uma rádio da época comenta que Jango, embora tivesse um plano de desenvolvimento para o País, deixava descontentes alguns setores da população. Como ocorre a invasão da fábrica logo em seguida, o espectador pensa que dentre os setores descontentes estava o operariado! E esses setores eram: Igreja Católica, empresariado, mídia conservadora, exército, dentre outros. O golpe que segue em diante fica parecendo justificável, decorrência lógica em função dos acontecimentos anteriores, o que leva o espectador a pensar algo como: “ah, mas eles estavam invadindo fábricas e matando pessoas, tinha que acabar com a baderna mesmo”.
Quando o filme trata do golpe militar de 1964, não relaciona o fato histórico diretamente com Lula, mas dá a entender, com o episódio da perda do dedo, que desde 1964 Lula rompeu com a ditadura e politizou-se, o que é falso.
O filme errou feio em não conseguir enfrentar o fato de que Lula foi a favor da ditadura de 64 até fazer greve em 1978. Será que tocar nisso seria arranhar a imagem cuidadosamente idealizada transmitida no filme? Só que, daí por diante, tudo se desequilibra e se falseia em função disso.
A cena de 1968 onde Lula vê anunciado o AI-5 dá a entender que ele está se manifestando contra a ditadura. A prisão do irmão de Lula também não se encadeia no sentido que o filme deveria ter. O filme deixa no ar se Ziza era comunista ou se foi chamado de comunista, assim como comenta muito rapidamente sobre a tortura; a dramaticidade da situação é toda esvaziada, nem ela é encadeada como uma passagem no processo de conscientização de Lula de que deveria lutar contra a ditadura.
Quando o filme narra a participação de Lula no sindicato, em momento algum é dito que a ditadura proibiu qualquer tipo de greve. E o que deixa perplexo é o tipo de sindicalista ao qual Lula se ligou: são gordos pelegos oportunistas, contrários ao próprio irmão comunista, com discurso de “retrair”, ou seja, pregam a não-luta. O dirigente sindical corrupto transmite ensinamentos que Lula absorveu com firmeza, tal como “ideologia é coisa de bitolado”. Ideologia, nesse sentido, é sinônimo de “esquerda”. Lula é apresentado como um pelego gordo e oportunista que é não é “de escritório” e é “sangue novo”. Mais adiante, quando enfim ele passa a discursar e liderar dentro do sindicato, nega explicitamente a divisão entre esquerda e direita em nome da luta direta por resultados, assim como nega a luta de classes. Embora realmente Lula estivesse, nesse primeiro momento, contra os partidos comunistas e contra Brizola assim como contra a ditadura, seu discurso era bem de “noivo da girafa”: misturava simpatia pelo sindicalismo norte-americano, tradeunionista, com vocabulário marxista: falava em “burguesia nacional” e “socialismo” com bastante freqüência. E não se pode deixar de notar o quanto sua prisão foi uma provação muito light em relação ao que passou na cadeia um César Benjamin. No tempo da prisão, Lula tinha largo espaço na mídia e amplo apoio dos operários que representava, fora outros setores da sociedade que perceberam o levante operário como prego no caixão da ditadura. A empolgação com Lula mostrada no filme é tão grande que até o enterro da mãe vira um animado comício a favor dele.
A questão é que, primeiramente, entre 1978 e 1981, Lula evoluiu da reivindicação direta de salários para o setor operário do ABC paulista que ele representava para a luta política contra a ditadura, inclusive formando um partido e se lançando como político. No entanto, nessa cinebiografia, tudo isso é invisível -- e por ideologia, por desejo de esconder e gerar falsa consciência. O filme esconde o processo em que nasce o político a partir do sindicalista e só mostra os sucessos posteriores em uma elipse pouco esclarecedora. No todo, é um filme que muito esconde sorrateiramente e pouco revela. Merece ser visto com o máximo de espírito
crítico, senão faz cair em equívocos, é torpe e enganador.
De início, o filme é um melodrama concentrado na figura de Dona Lindu, a mãe de Lula. Ela quer que o filho seja alguém na vida, que realize sua “lenda pessoal”. Essa é a mensagem da mãe. A figura da mãe é utilizada para dar unidade à narrativa, vide as imagens em flashback no final, que denunciam também a carência de unidade. Diante da carência de unidade, do filme, do Brasil ou do PT, talvez se possa recorrer à mãe, seja ela Dona Lindu ou, quem sabe, Dilma Rousseff. A imagem da mãe cristianizada e anti-erótica é, quem sabe, único ponto do filme que aponta remotamente para a candidata do presidente.
A mistura e o hibridismo são imagens boas para definir Lula, que desde o princípio começa como num corpo estranho na política brasileira. Se a parte de melodrama estabelece continuidade com filmes tratando de infidelidade tais como Eu, Tu, Eles, a parte biográfica enfrenta, com desconforto, os assuntos políticos, sempre buscando despolitizá-los, sempre supondo que o espectador que vai ver um filme sobre um líder político não quer debate político algum.
A partir de 1963, quando Lula vivencia uma greve no ABC pela primeira vez, insere-se uma cena de invasão violenta de fábrica onde morre um chefe. Lula foge assustado. A cena seria para mostrar que Lula é contra a violência, mas serve também para muito mais, quando Lula dialoga com seu irmão Ziza, então no Partido Comunista Brasileiro (informação que o filme sonega por puro preconceito e má fé), supostamente o responsável pela invasão violenta da fábrica (o que não é, de forma alguma, típico da atitude do PCB diante do período João Goulart, que era de conciliação).
A cena termina por ilustrar as agitações do período Goulart e o fato de que Lula divergia delas por serem violentas: no entanto, de fato Lula era um alienado e achou que o golpe era uma coisa boa. Ele nem sequer escutou as explicações do irmão. Uma inserção em off de uma rádio da época comenta que Jango, embora tivesse um plano de desenvolvimento para o País, deixava descontentes alguns setores da população. Como ocorre a invasão da fábrica logo em seguida, o espectador pensa que dentre os setores descontentes estava o operariado! E esses setores eram: Igreja Católica, empresariado, mídia conservadora, exército, dentre outros. O golpe que segue em diante fica parecendo justificável, decorrência lógica em função dos acontecimentos anteriores, o que leva o espectador a pensar algo como: “ah, mas eles estavam invadindo fábricas e matando pessoas, tinha que acabar com a baderna mesmo”.
Quando o filme trata do golpe militar de 1964, não relaciona o fato histórico diretamente com Lula, mas dá a entender, com o episódio da perda do dedo, que desde 1964 Lula rompeu com a ditadura e politizou-se, o que é falso.
O filme errou feio em não conseguir enfrentar o fato de que Lula foi a favor da ditadura de 64 até fazer greve em 1978. Será que tocar nisso seria arranhar a imagem cuidadosamente idealizada transmitida no filme? Só que, daí por diante, tudo se desequilibra e se falseia em função disso.
A cena de 1968 onde Lula vê anunciado o AI-5 dá a entender que ele está se manifestando contra a ditadura. A prisão do irmão de Lula também não se encadeia no sentido que o filme deveria ter. O filme deixa no ar se Ziza era comunista ou se foi chamado de comunista, assim como comenta muito rapidamente sobre a tortura; a dramaticidade da situação é toda esvaziada, nem ela é encadeada como uma passagem no processo de conscientização de Lula de que deveria lutar contra a ditadura.
Quando o filme narra a participação de Lula no sindicato, em momento algum é dito que a ditadura proibiu qualquer tipo de greve. E o que deixa perplexo é o tipo de sindicalista ao qual Lula se ligou: são gordos pelegos oportunistas, contrários ao próprio irmão comunista, com discurso de “retrair”, ou seja, pregam a não-luta. O dirigente sindical corrupto transmite ensinamentos que Lula absorveu com firmeza, tal como “ideologia é coisa de bitolado”. Ideologia, nesse sentido, é sinônimo de “esquerda”. Lula é apresentado como um pelego gordo e oportunista que é não é “de escritório” e é “sangue novo”. Mais adiante, quando enfim ele passa a discursar e liderar dentro do sindicato, nega explicitamente a divisão entre esquerda e direita em nome da luta direta por resultados, assim como nega a luta de classes. Embora realmente Lula estivesse, nesse primeiro momento, contra os partidos comunistas e contra Brizola assim como contra a ditadura, seu discurso era bem de “noivo da girafa”: misturava simpatia pelo sindicalismo norte-americano, tradeunionista, com vocabulário marxista: falava em “burguesia nacional” e “socialismo” com bastante freqüência. E não se pode deixar de notar o quanto sua prisão foi uma provação muito light em relação ao que passou na cadeia um César Benjamin. No tempo da prisão, Lula tinha largo espaço na mídia e amplo apoio dos operários que representava, fora outros setores da sociedade que perceberam o levante operário como prego no caixão da ditadura. A empolgação com Lula mostrada no filme é tão grande que até o enterro da mãe vira um animado comício a favor dele.
A questão é que, primeiramente, entre 1978 e 1981, Lula evoluiu da reivindicação direta de salários para o setor operário do ABC paulista que ele representava para a luta política contra a ditadura, inclusive formando um partido e se lançando como político. No entanto, nessa cinebiografia, tudo isso é invisível -- e por ideologia, por desejo de esconder e gerar falsa consciência. O filme esconde o processo em que nasce o político a partir do sindicalista e só mostra os sucessos posteriores em uma elipse pouco esclarecedora. No todo, é um filme que muito esconde sorrateiramente e pouco revela. Merece ser visto com o máximo de espírito
crítico, senão faz cair em equívocos, é torpe e enganador.
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Retomada
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Discurso na Câmara dos Vereadores, 13 de setembro de 2010
Boa noite. Venho aqui essa noite parabenizar o vereador Carlos da Rádio, que atendeu recentemente uma reclamação dos artistas locais. Esclareço que tenho acompanhado o andamento do projeto através de meu amigo André do Rock, que encaminhou o anteprojeto ano passado.
Tendo em vista que essa reivindicação foi atendida, venho trazer algumas outras, ligadas aos artistas ou de outra ordem. Os artistas locais demandam há muito uma lei municipal de Incentivo à Cultura. Os Reinadeiros, que também são artistas, informaram que há muito não está ocorrendo repasse de verbas da prefeitura para o Reinado. Gostaria de saber, junto aos vereadores de oposição, se essa informação procede.
Outros dois pontos são a necessidade da criação de uma rádio comunitária e de uma TV local. Nunca vi uma iniciativa que me pareceu tão anunciadora do futuro quanto a TV Interativa. Foi uma iniciativa visionária. No entanto, ela parou e não tenho visto manifestações em seu favor por parte do poder público e dos empresários locais. O apoio e o questionamento sobre o que aconteceu, porque ela parou de ser exibida na web e não foi estimulada como um embrião de uma TV local. Será que a cidade vai deixar morrer essa iniciativa?
Outra iniciativa é a criação de uma rádio comunitária. A rádio comunitária ainda não existe na cidade da forma como ela é idealizada, ou seja, como um espaço plural, onde a s pessoas da comunidade tenham voz. Para a comunidade também é importante a entrada das aulas da cultura afro-brasileira e da música nas escolas municipais.
Outra questão é a preservação da Língua do Negro da Costa. Minha sugestão é a realização de oficinas de produção oral e escrita na Língua do Negro da Costa, assim como frisar a necessidade da revitalização do patrimônio afro do Beco dos Aflitos. Garanto que existe interesse nacional na preservação desse patrimônio local, assim como o apoio à publicação de textos na editora local, que é a Dez Escritos, que já editou Madrinha, de Sônia Queiroz, e o Fernando Cabral, aqui presente.
Lúcio E. do E. S. Júnior
Tendo em vista que essa reivindicação foi atendida, venho trazer algumas outras, ligadas aos artistas ou de outra ordem. Os artistas locais demandam há muito uma lei municipal de Incentivo à Cultura. Os Reinadeiros, que também são artistas, informaram que há muito não está ocorrendo repasse de verbas da prefeitura para o Reinado. Gostaria de saber, junto aos vereadores de oposição, se essa informação procede.
Outros dois pontos são a necessidade da criação de uma rádio comunitária e de uma TV local. Nunca vi uma iniciativa que me pareceu tão anunciadora do futuro quanto a TV Interativa. Foi uma iniciativa visionária. No entanto, ela parou e não tenho visto manifestações em seu favor por parte do poder público e dos empresários locais. O apoio e o questionamento sobre o que aconteceu, porque ela parou de ser exibida na web e não foi estimulada como um embrião de uma TV local. Será que a cidade vai deixar morrer essa iniciativa?
Outra iniciativa é a criação de uma rádio comunitária. A rádio comunitária ainda não existe na cidade da forma como ela é idealizada, ou seja, como um espaço plural, onde a s pessoas da comunidade tenham voz. Para a comunidade também é importante a entrada das aulas da cultura afro-brasileira e da música nas escolas municipais.
Outra questão é a preservação da Língua do Negro da Costa. Minha sugestão é a realização de oficinas de produção oral e escrita na Língua do Negro da Costa, assim como frisar a necessidade da revitalização do patrimônio afro do Beco dos Aflitos. Garanto que existe interesse nacional na preservação desse patrimônio local, assim como o apoio à publicação de textos na editora local, que é a Dez Escritos, que já editou Madrinha, de Sônia Queiroz, e o Fernando Cabral, aqui presente.
Lúcio E. do E. S. Júnior
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quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Xuxa Afro, um Mito Profanador
Pessoal, no último dia 4 de setembro tive uma grata surpresa, ao encontrar o meu amigo Geovane Sassá aqui em Bom Despacho, participando como ator do espetáculo Eh Boi, do Grupo Cabana.
Eu só fiquei um pouco preocupado quando o Sassá me falou que pediu meu contato e ninguém na Secretaria de Cultura local tinha. Pô, Rosalva, pega com o Acir aí! Nesses tempos em que o sigilo fiscal da gente é segredo de liquidificador, ninguém numa cidade do interior tem o telefone de um professor!
Se até o governador Aécio tem meu telefone e me ligou esses dias para passar um trote pedindo para votar em Anastasia!
Então taí um ensaio que fiz sobre o trabalho do Sassá há muitos anos, mas que ainda é pertinente; abraços, Sassá!
A Xuxa África: Um Mito Profanador?
“To whirl the old
woman from Bahia”
Millôr Fernandes,
em The Cow Went To The Swamp
A Xuxa afro-brasileira, criação do músico e ator Geovanne Sassá,
pode ser analisada como sendo uma tentativa de atualização do mito do
andrógino de Platão:
“andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no
nome comum ao dois, ao masculino e ao feminino(...)inteiriça era a forma de
cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele
tinha, e as pernas e o mesmo tanto das mãos(...) Por conseguinte, desde que
a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade
e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no
ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral”.
A Xuxa Àfrica busca mimeticamente homenagear/parodiar sua
cara-metade, Xuxa Meneghel, uma gaúcha de clara ascendência européia e corpo
escultural. A “rainha dos baixinhos” exerce seu reinado submetendo seus
súditos a seu otimismo Kitsch e a sorrisos pré-fabricados. A Xuxa Negra se
autoproclama “rainha dos neguinhos”, constituindo-se num mito
dessacralizador. Xuxa, como personagem do músico e ator Carlos Geovane
Nunes, se cristaliza absorvendo elementos do belo grotesco e do belo cômico
que:
“São duas formas do belo que se tocam, que se enlaçam até se
confundirem numa única emoção.
De comum, têem o elemento do ridículo, que nunca pode faltar
nelas; de diferente, têm um grau diverso da deformidade ou da caricatura da
verdade.
Assim como as cócegas e certas formas de volúpia confundem as
fronteiras do prazer e da dor (demonstrando-nos pela centésima vez que as
nossas classificações são brinquedos infantis, fios de seda tecido entre os
granitos da natureza);assim como o grotesco e o cômico parecem folgar nos
confins do belo e do feio, confundindo-os um com o outro, com mão
travessa.”
A personagem de Geovane Sassá o engloba, possuindo seu corpo
numa trasmutação exuberante e esdrúxula; é como uma pomba-gira. A Medusa de
Ébano possui uma força que se assemelha a um grito primal, telúrico,
dionisíaco. A Xuxa “Noir” dá à sua homônima um espelho circense: a loirosa
narcísica e ariana, ao tentar vender o mito da supremacia branca num país
mestiço, é subitamente colocada frente a frente com uma imagem caricata e
deformante de si mesma, mas que mostra a modelo e dublê de artista na sua
verdadeira face; a modelo semigringa é tornada deusa pagã. Fechou-se o
círculo. A divindade africana lança uma luz desmistificante sobre a face da
Eva Braun brasileira e petrifica a megera. Aquilo que na moçoila gaúcha era
pura empulhação, sorriso de propaganda de creme dental, manipulação
mercadológica e ingenuidade calculada ganha um contraponto de impulsos
vitalistas, convites indecorosos à fruição imediata dos sentidos e volúpia
das sensações mais lúbricas.
Exibindo seu corpo de ninfa multicolorida, cortesã apocalíptica
e sensual, nossa personagem remete a obras palpitantes de vida e vigor como
os quadros de Jackson Pollock; ela é, como as telas do referido pintor
americano, uma rede intrincada de gotas, redemoinhos e salpicos. “A pintura
tem vida própria”-disse ele uma vez-“eu tento deixá-la acontecer”. Geovane
também poderia dizer o mesmo com respeito às suas criaturas.
E a criatura em questão usa, não obstante, um óculos de armação
antiga e demodeé. São óculos de velha encarquilhada que escondem olhinhos
brilhantes de moça. Talvez fosse a um olhar como esse que Nietzsche se
referia neste seu poema Da Pobreza do Riquíssimo:
“-Quietos!
É minha verdade!-
De olhos esquivos,
de arrepios aveludados
me atinge seu olhar,
amável, mau, um olhar de moça...
Ela adivinha o fundo de minha felicidade,
ela me adivinha-ah! o que ela inventa?-
Purpúreo espreita um dragão
no sem-fundo de um olhar de moça.”
Sendo assim, a Xuxa Preta bota ao avesso a democracia racial
brasileira, rodando a baiana da europeizada e etnocêntrica vedete da TV.
Santa e prostituta, homem e mulher, frágil e sedutora, a personagem tem um
pouco de Marilyn Monroe e Benedita da Silva, e parece ter nascido da
conjunção carnal de Sassá Mutema e Hebe Camargo.
Ao apresentar-se a Xuxa Preta evoca um clima de confraternização
que também está presente, por exemplo, no rito do vodu, no Haiti. “O vodu é,
basicamente, a religião e o culto aos espíritos ou divindades chamados loa.
A classificação dos loas é muito complexa, não somente por causa da grande
diversidade de origem geográfica e étnica dos africanos trazidos ao Haiti,
mas também pela existência de uma infinidade de divindades regionais ou
locais.(...)Cada loa tem sua morada particular: no mar, num rio, numa
montanha ou árvore, de onde vem para ajudar seus servidores fiéis, quando
ouve suas orações ou o som dos tambores sagrados pedindo a sua presença.
Cada loa tem também seu dia ou dias próprios durante a semana.(...) As
cerimônias do vodu são executadas em locais abertos ao público.” Igualmente
são feitos às claras os rituais lúdicos de Xuxa Àfrica.
Quando achamos que já temos a situação dominada e já rimos da
piada, Xuxa nos dá uma bofetada de veludo, numa reviravolta semiótica.
Transcendendo o reacionarismo e o machismo de Minas Gerais, ela rebola e nos
remete ao momossexualismo baiano. Algo como ver o padre Lima Vaz saindo na
Banda Mole no carnaval, tropicalizantemente conectado no “zeitgeist”. Ela
digere Minas e silencia impávida como se quisesse nos devorar, nos colocar
de volta para o útero. Um toque picante e, sarapatética, ela espargirá
energia como se fosse um lança-perfume cintilante.
Só mesmo uma Xuxa de Cor para nascer nos trópicos e afugentar a
tristeza destas plagas com uma descarga de alegria tão vulcânica!
Uma Xuxa Preta está, é claro, ligada ao espírito dionisíaco do
carnaval, pois ela é brasileira, afinal. Lembra do carnaval do passado,
expressão espontânea da vontade coletiva de libertar-se, divertindo-se. Ela
está ligada ao caráter dionisíaco e mesmo histérico da festa (no sentido
grego de rito coletivo uterino e afrodisíaco) que imprimia à diversão um
forte sentido de contestação psicossocial. A personagem também estaria
ligada à escatologia e ao grotesco, no sentido que explicita Muniz Sodré:
“A Escatologia implica numa atitude cultural com relação à
história. A cultura oral brasileira foi marcada, desde as suas origens
afro-indiano-portuguesas, por uma Escatologia naturalista-que vê o homem
como parte de uma natureza manifesta em ritmos cíclicos, recorrentes. Como o
homem estaria integrado organicamente na natureza, qualquer desacerto,
injustiça, aberração do estado natural, remediável pelo culto ou pela
magia.(...) Essas Escatologias influem poderosamente na imaginação coletiva.
O portador de deformação física, por exemplo, é percebido historicamente
como um desvio da organicidade natural, como monstro (Teratos). Isto gerou
em nossa mitologia figuras como o lobisomem, o mão-de-cabelo, etc. Ainda
hoje, em cidades do interior do Brasil, o deformado físico( a mulher macaco,
o menino com cara de jumento, etc.) é vivido como um fenômeno de origem
sobrenatural-castigo dos céus-e, às vezes, como espetáculo, já que pode ser
exibido, a dinheiro, em feiras, ou simplesmente vendido como história na
literatura de cordel. (...) O ethos da cultura de massa brasileira, tão
perto quanto ainda se acha da cultura oral, é fortemente marcado pelas
influências escatológicas da tradição popular. O fascínio pelo
extraordinário, pela aberração, é evidente nos programas de variedades (
fatos mediúnicos, aberrações físicas como as irmãs siamesas, aleijões,
flagelações morais, etc.) . A esta altura a Escatologia consegue juntar os
dois sentidos: o místico e o coprológico.(...) Em Medicina, o
termo(Escatologia) tem sentido coprológico-é o estudo dos excrementos”
É desta tradição popular que a Xuxa Preta, vista como bizarra
ou aberrante, se alimenta e se insere.
Encerro citando certo trecho de um poema de Baudelaire onde ele
tece uma homenagem “A Un Dame Creóle” como nossa Xuxa d’Afrique:
“No inebriante país que o sol acaricia/ Sob um dossel de agreste
púrpura bordado/ E a cuja sombra nosso olhar se delicia/ Conheci uma crioula
de encanto ignorado./ A graciosa morena, cálida e arredia,/ Tem na postura
um ar nobremente afetado;/ Soberba e esbelta quando o bosque a desafia,/ Seu
sorriso é tranqüilo e seu olhar ousado.”
Bibliografia:
-Baudelaire, Charles: As Flores do Mal.
-Grondim, Marcelo: Haiti, Cultura, Poder e Desenvolvimento.
-Platão, O Banquete: Coleção Os Pensadores.
-Mantegazza, Paulo: A Fisiologia do Belo.
-Sodré, Muniz: A Comunicação doGrotesco
Eu só fiquei um pouco preocupado quando o Sassá me falou que pediu meu contato e ninguém na Secretaria de Cultura local tinha. Pô, Rosalva, pega com o Acir aí! Nesses tempos em que o sigilo fiscal da gente é segredo de liquidificador, ninguém numa cidade do interior tem o telefone de um professor!
Se até o governador Aécio tem meu telefone e me ligou esses dias para passar um trote pedindo para votar em Anastasia!
Então taí um ensaio que fiz sobre o trabalho do Sassá há muitos anos, mas que ainda é pertinente; abraços, Sassá!
A Xuxa África: Um Mito Profanador?
“To whirl the old
woman from Bahia”
Millôr Fernandes,
em The Cow Went To The Swamp
A Xuxa afro-brasileira, criação do músico e ator Geovanne Sassá,
pode ser analisada como sendo uma tentativa de atualização do mito do
andrógino de Platão:
“andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no
nome comum ao dois, ao masculino e ao feminino(...)inteiriça era a forma de
cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele
tinha, e as pernas e o mesmo tanto das mãos(...) Por conseguinte, desde que
a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade
e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no
ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral”.
A Xuxa Àfrica busca mimeticamente homenagear/parodiar sua
cara-metade, Xuxa Meneghel, uma gaúcha de clara ascendência européia e corpo
escultural. A “rainha dos baixinhos” exerce seu reinado submetendo seus
súditos a seu otimismo Kitsch e a sorrisos pré-fabricados. A Xuxa Negra se
autoproclama “rainha dos neguinhos”, constituindo-se num mito
dessacralizador. Xuxa, como personagem do músico e ator Carlos Geovane
Nunes, se cristaliza absorvendo elementos do belo grotesco e do belo cômico
que:
“São duas formas do belo que se tocam, que se enlaçam até se
confundirem numa única emoção.
De comum, têem o elemento do ridículo, que nunca pode faltar
nelas; de diferente, têm um grau diverso da deformidade ou da caricatura da
verdade.
Assim como as cócegas e certas formas de volúpia confundem as
fronteiras do prazer e da dor (demonstrando-nos pela centésima vez que as
nossas classificações são brinquedos infantis, fios de seda tecido entre os
granitos da natureza);assim como o grotesco e o cômico parecem folgar nos
confins do belo e do feio, confundindo-os um com o outro, com mão
travessa.”
A personagem de Geovane Sassá o engloba, possuindo seu corpo
numa trasmutação exuberante e esdrúxula; é como uma pomba-gira. A Medusa de
Ébano possui uma força que se assemelha a um grito primal, telúrico,
dionisíaco. A Xuxa “Noir” dá à sua homônima um espelho circense: a loirosa
narcísica e ariana, ao tentar vender o mito da supremacia branca num país
mestiço, é subitamente colocada frente a frente com uma imagem caricata e
deformante de si mesma, mas que mostra a modelo e dublê de artista na sua
verdadeira face; a modelo semigringa é tornada deusa pagã. Fechou-se o
círculo. A divindade africana lança uma luz desmistificante sobre a face da
Eva Braun brasileira e petrifica a megera. Aquilo que na moçoila gaúcha era
pura empulhação, sorriso de propaganda de creme dental, manipulação
mercadológica e ingenuidade calculada ganha um contraponto de impulsos
vitalistas, convites indecorosos à fruição imediata dos sentidos e volúpia
das sensações mais lúbricas.
Exibindo seu corpo de ninfa multicolorida, cortesã apocalíptica
e sensual, nossa personagem remete a obras palpitantes de vida e vigor como
os quadros de Jackson Pollock; ela é, como as telas do referido pintor
americano, uma rede intrincada de gotas, redemoinhos e salpicos. “A pintura
tem vida própria”-disse ele uma vez-“eu tento deixá-la acontecer”. Geovane
também poderia dizer o mesmo com respeito às suas criaturas.
E a criatura em questão usa, não obstante, um óculos de armação
antiga e demodeé. São óculos de velha encarquilhada que escondem olhinhos
brilhantes de moça. Talvez fosse a um olhar como esse que Nietzsche se
referia neste seu poema Da Pobreza do Riquíssimo:
“-Quietos!
É minha verdade!-
De olhos esquivos,
de arrepios aveludados
me atinge seu olhar,
amável, mau, um olhar de moça...
Ela adivinha o fundo de minha felicidade,
ela me adivinha-ah! o que ela inventa?-
Purpúreo espreita um dragão
no sem-fundo de um olhar de moça.”
Sendo assim, a Xuxa Preta bota ao avesso a democracia racial
brasileira, rodando a baiana da europeizada e etnocêntrica vedete da TV.
Santa e prostituta, homem e mulher, frágil e sedutora, a personagem tem um
pouco de Marilyn Monroe e Benedita da Silva, e parece ter nascido da
conjunção carnal de Sassá Mutema e Hebe Camargo.
Ao apresentar-se a Xuxa Preta evoca um clima de confraternização
que também está presente, por exemplo, no rito do vodu, no Haiti. “O vodu é,
basicamente, a religião e o culto aos espíritos ou divindades chamados loa.
A classificação dos loas é muito complexa, não somente por causa da grande
diversidade de origem geográfica e étnica dos africanos trazidos ao Haiti,
mas também pela existência de uma infinidade de divindades regionais ou
locais.(...)Cada loa tem sua morada particular: no mar, num rio, numa
montanha ou árvore, de onde vem para ajudar seus servidores fiéis, quando
ouve suas orações ou o som dos tambores sagrados pedindo a sua presença.
Cada loa tem também seu dia ou dias próprios durante a semana.(...) As
cerimônias do vodu são executadas em locais abertos ao público.” Igualmente
são feitos às claras os rituais lúdicos de Xuxa Àfrica.
Quando achamos que já temos a situação dominada e já rimos da
piada, Xuxa nos dá uma bofetada de veludo, numa reviravolta semiótica.
Transcendendo o reacionarismo e o machismo de Minas Gerais, ela rebola e nos
remete ao momossexualismo baiano. Algo como ver o padre Lima Vaz saindo na
Banda Mole no carnaval, tropicalizantemente conectado no “zeitgeist”. Ela
digere Minas e silencia impávida como se quisesse nos devorar, nos colocar
de volta para o útero. Um toque picante e, sarapatética, ela espargirá
energia como se fosse um lança-perfume cintilante.
Só mesmo uma Xuxa de Cor para nascer nos trópicos e afugentar a
tristeza destas plagas com uma descarga de alegria tão vulcânica!
Uma Xuxa Preta está, é claro, ligada ao espírito dionisíaco do
carnaval, pois ela é brasileira, afinal. Lembra do carnaval do passado,
expressão espontânea da vontade coletiva de libertar-se, divertindo-se. Ela
está ligada ao caráter dionisíaco e mesmo histérico da festa (no sentido
grego de rito coletivo uterino e afrodisíaco) que imprimia à diversão um
forte sentido de contestação psicossocial. A personagem também estaria
ligada à escatologia e ao grotesco, no sentido que explicita Muniz Sodré:
“A Escatologia implica numa atitude cultural com relação à
história. A cultura oral brasileira foi marcada, desde as suas origens
afro-indiano-portuguesas, por uma Escatologia naturalista-que vê o homem
como parte de uma natureza manifesta em ritmos cíclicos, recorrentes. Como o
homem estaria integrado organicamente na natureza, qualquer desacerto,
injustiça, aberração do estado natural, remediável pelo culto ou pela
magia.(...) Essas Escatologias influem poderosamente na imaginação coletiva.
O portador de deformação física, por exemplo, é percebido historicamente
como um desvio da organicidade natural, como monstro (Teratos). Isto gerou
em nossa mitologia figuras como o lobisomem, o mão-de-cabelo, etc. Ainda
hoje, em cidades do interior do Brasil, o deformado físico( a mulher macaco,
o menino com cara de jumento, etc.) é vivido como um fenômeno de origem
sobrenatural-castigo dos céus-e, às vezes, como espetáculo, já que pode ser
exibido, a dinheiro, em feiras, ou simplesmente vendido como história na
literatura de cordel. (...) O ethos da cultura de massa brasileira, tão
perto quanto ainda se acha da cultura oral, é fortemente marcado pelas
influências escatológicas da tradição popular. O fascínio pelo
extraordinário, pela aberração, é evidente nos programas de variedades (
fatos mediúnicos, aberrações físicas como as irmãs siamesas, aleijões,
flagelações morais, etc.) . A esta altura a Escatologia consegue juntar os
dois sentidos: o místico e o coprológico.(...) Em Medicina, o
termo(Escatologia) tem sentido coprológico-é o estudo dos excrementos”
É desta tradição popular que a Xuxa Preta, vista como bizarra
ou aberrante, se alimenta e se insere.
Encerro citando certo trecho de um poema de Baudelaire onde ele
tece uma homenagem “A Un Dame Creóle” como nossa Xuxa d’Afrique:
“No inebriante país que o sol acaricia/ Sob um dossel de agreste
púrpura bordado/ E a cuja sombra nosso olhar se delicia/ Conheci uma crioula
de encanto ignorado./ A graciosa morena, cálida e arredia,/ Tem na postura
um ar nobremente afetado;/ Soberba e esbelta quando o bosque a desafia,/ Seu
sorriso é tranqüilo e seu olhar ousado.”
Bibliografia:
-Baudelaire, Charles: As Flores do Mal.
-Grondim, Marcelo: Haiti, Cultura, Poder e Desenvolvimento.
-Platão, O Banquete: Coleção Os Pensadores.
-Mantegazza, Paulo: A Fisiologia do Belo.
-Sodré, Muniz: A Comunicação doGrotesco
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Bom Despacho,
grupo Cabana,
Sassá,
secretaria de cultura,
Tambolelê
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Ode ao Homem Brasileiro
Fernanda Young
Alexandre Machado
Ó homem brasileiro
Tão vigoroso e faceiro
Compreensivo e maneiro
Sempre com nós, mulheres, gastando dinheiro!
Perdoa essas suas fêmeas insensatas, tão falastronas e chatas,
Que reclamam em revistas baratas
À espera de orgasmos na lata!
Ó Macho Nacional
Entre jararacas
Matando a cobra
E mostrando o pau
És mesmo sensacional!
E se roncas feito um animal,
Tudo bem, não faz mal!
Agüentas diariamente,
Além da mulher tão carente,
Um escritório repelente,
Numa economia emergente,
Volta e meia decadente!
Um belo futuro pela frente,
Mas que nunca chega na gente!
Por isso, não esquente,
Homem Brasileiro
Tão inteligente!
Na língua do amor fluente
Quem disser o contrário, mente!
Como fiz eu, frígida, incompetente!
Alexandre Machado
Ó homem brasileiro
Tão vigoroso e faceiro
Compreensivo e maneiro
Sempre com nós, mulheres, gastando dinheiro!
Perdoa essas suas fêmeas insensatas, tão falastronas e chatas,
Que reclamam em revistas baratas
À espera de orgasmos na lata!
Ó Macho Nacional
Entre jararacas
Matando a cobra
E mostrando o pau
És mesmo sensacional!
E se roncas feito um animal,
Tudo bem, não faz mal!
Agüentas diariamente,
Além da mulher tão carente,
Um escritório repelente,
Numa economia emergente,
Volta e meia decadente!
Um belo futuro pela frente,
Mas que nunca chega na gente!
Por isso, não esquente,
Homem Brasileiro
Tão inteligente!
Na língua do amor fluente
Quem disser o contrário, mente!
Como fiz eu, frígida, incompetente!
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