domingo, 13 de junho de 2010

Instituto de Pesquisa Bob Dylan

http://www.spiegel.de/unispiegel/studium/0,1518,514187,00.html

Mareike Knoke (Der Spiegel on line)

Tradução: Lúcio Jr.

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Axel Honneth, sucessor de Habermas e presidente da Escola de Frankfurt, vê em Bob Dylan alguém do Novo Mundo que o completa. Honneth fala sobre um congresso e um livro a respeito da lenda do folk-rock, para ele, um “filósofo da liberdade”.

“Quem? Bob Dylan?” Era comum que os colegas da Escola de Frankfurt perguntassem assim a Honneth, para irritá-lo, quando ele manifestava suas preferências musicais. Então, de todos os lugares do mundo, passou a vir a pergunta, duvidando se era verdade que o aluno de Habermas e representante da Escola de Frankfurt estava realmente fazendo um congresso internacional sobre o cantor de folk-rock norte-americano. E, na primavera de 2006, ocorreu o primeiro congresso, chamado “Bringing it all back home”. O encerramento foi em grande estilo: teve direito a uma banda e Honneth compareceu a cárater, ou seja, vestido com seu casaco de couro preto.

“Por que não”? Pergunta Honneth, recuando um pouco e fazendo um gesto de incompreensão. “Bob Dylan, sim, respondo. Sempre tive interesse em Bob Dylan e o sinto ligado ao campo filosófico.” Esse contemporâneo de Dylan, nascido em Essen em 1949, apenas oito depois do nascimento de Dylan em Minnesota, explica porque se opõe a Adorno e Horkheimer a respeito: “No tempo de Adorno existia um grande abismo entre a cultura popular e a alta cultura, especialmente a estética sofria com essa ruptura. Agora isso foi superado.”

Em Bob Dylan”, continua Honneth com um ar amável e calmo, “existem articulações entre crítica social e a canção onde convergem temas com os quais lidei em meu próprio trabalho”. Honneth enfatiza sua fala enquanto aponta o dedo ao livro que escreveu sobre Dylan. O filósofo alemão ressaltou que conferiu um justo reconhecimento que a canção popular contendo crítica social ainda não tinha tido e também saudou a saudável intertextualidade do Congresso “Bringing it All Back Home.”

O Filósofo Bob Dylan

“Heresia, profanação” são os sentimentos que a atitude de Honneth provoca em alguns colegas, mas ele segue adiante, levando mais longe seu gesto, escrevendo sobre o próprio Bob Dylan enquanto filósofo. No congresso sobre Dylan, Dr. Susan Neimer pontificou sobre a filosofia moral, enquanto Dr. Diedrich Diederichsen realizou uma preleção sobre Cultura Pop e o Dr.Gunten Amen discorreu sobre Sexo e Drogas. “Nos Estados Unidos isso não é incomum”, diz Honneth. “No entanto, aqui ainda parece a alguns impensável dizer que uma canção como Blowin´ in the Wind possua uma aplicação prática da filosofia e seja, inclusive, um clássico.”

Em seu livro lançado em setembro de 2007, O Jovem Dylan: Canções com Conteúdo Filosófico, Honneth cita abundantemente as canções de Dylan, esclarecendo seus pontos de vista sobre o trabalho do cantor com notável familiaridade (Honneth é fã de Dylan desde os dezesseis anos). Analisando-o enquanto filósofo prático, Honneth encontra em Dylan temas como a justiça, a sociedade e o reconhecimento, presentes também em Adorno, Horkheimer e Habermas.

Em 1992, Honneth escreveu sua tese sobre a “Luta pelo Reconhecimento: Gramática Moral dos Conflitos Sociais”, tendo obtido grande reconhecimento internacional e sido convidado a ir como professor visitante do Instituto de Pesquisa Social Theodore Geuss em New York. Originalmente, esse Instituto de Pesquisa Social era ligado à Universidade de Colúmbia e Adorno e Horkheimer obtiveram nele um forte apoio para seus trabalhos criticando a Alemanha nazista. Hoje, Honneth sente-se em casa nos Estados Unidos.

O filósofo nascido na região industrial do rio Ruhr possui também em comum com o artista uma origem humilde, tendo ambos sempre criticado os ricos. Tendo passado a infância em reformatórios, mandado pela mãe pobre e sempre sem dinheiro, Honneth viveu na pele os dramas do não-reconhecimento e a desvantagem social. “Olhar o colega e ter vergonha de si mesmo é uma situação familiar a nós, que nos revolta: ao rico é garantida a riqueza e as posses, enquanto somos condenados à pobreza.”

Transitando Entre Vários Campos de Atuação

Honneth, assim como Dylan, não teve uma militância política na juventude. Honneth chegou a ser participar durante três meses da juventude socialista, ao entrar em Bochum para estudar Filosofia e Sociologia. “Em três meses, no ano de 1969, passei de simpatizante da juventude socialista para a condição de pesquisador dentro da conservadora universidade de Bonn”, diz hoje Honneth com um brilho satisfeito nos olhos ao falar desse tempo, época em que também completou uma graduação em Direito em Berlim pouco depois. “Ali, nessa época, passei de confiante revolucionário a cético.” Honneth chegou a participar de greves em Berlim, mas sempre preferiu não participar diretamente de grupos partidários, uma vez que para criar o equilíbrio entre reflexão profunda e compromisso político dentro de uma obra é preciso uma postura distanciada.

Nessa época, estreitou o contato com autores como Adorno e Habermas, que foi promovido por Cristian Menke, ex-professor de Ética/Estética de Honneth em Potsdam: “eu promovi leituras de Adorno, inclusive um colóquio com Habermas, no qual Honneth conheceu o mestre, ao lado de quem deu-se tão bem que acabou sucedendo no cargo de presidente do Instituto de Pesquisa Social”, comentou satisfeito o professor Menke.

Fantasma de Adorno

Para Menke, Honneth é o grande representante da Teoria Crítica surgido após Habermas. “Ele é um pensador com conceitos próprios, emancipou-se de Habermas”, comenta Menke. Em 1996, Habermas passou a condução dos seus seminários no Instituto a Honneth. “Foi um momento muito assustador para mim, pois era enorme responsabilidade”. De um jeito ou de outro, parece que os fantasmas de Adorno e de Horkheimer ainda pairam por ali. O medo era sem fundamento, e de fato ele veio a suceder Habermas no cargo em 2001. A preocupação foi sem razão. Honneth é carismático, competente como cientista e com uma formação sólida, e, assim como Habermas antes dele, Honneth desde rapaz demonstra “cândida tolerância diante das opiniões dos outros”, como confirma, entusiasmado, seu assistente Dr. Rahel Jaeggi, “ele é aquilo mesmo que mostra aos outros, procura fazer com que cada um desperte o que tem de melhor”, completa o discípulo.

Para Honneth, “um jovem não pode se deixar levar por mestres e gurus, principalmente de forma acrítica. Um mestre que pede que o jovem o aceite sem críticas fará o discípulo voltar-se contra ele”, afirma. Aqui, mais um paralelo com Bob Dylan: desse mal, o músico nunca sofreu: Dylan também exige constantemente dos fãs e seguidores muito espírito crítico.

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