quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um Brasileiro na Guerra do Iraque

Dedicado a Francisco Mendonça.


(Conto de Lúcio Jr.)

Meu nome é Afonso e sou repórter de um grande jornal. Para fazer uma matéria sobre o premiado filme The Hurt Locker (“Guerra ao Terror”), encontrei um brasileiro que viu a guerra do Iraque. Ele era engenheiro de uma empreiteira brasileira naquele país. A matéria acabou rejeitada pelo jornal em que trabalho. Nossa conversa, toda gravada, não foi publicada. No entanto, vale a pena transcrevê-la aqui. Dalmo era engenheiro da Menezes Noronha no Iraque.
Afonso: Dalmo, em primeiro, quais são as suas impressões sobre o Iraque?
Dalmo: Olhe, me atraiu muito isso deles dizerem que lá é que foi o Jardim do Éden. Para os iraquianos, lá é o berço da civilização mundial. Eu saí pouco depois do início da guerra. Soube que a situação está terrível.
Afonso: Como o povo recebeu a notícia da invasão norte-americana?
Dalmo: Com muito medo, porque o Iraque já foi colônia dos ingleses e dos turcos e os iraquianos sofreram muito. Eles simpatizam com o Brasil porque o Brasil também já passou por essa experiência.
Afonso: Saddam Hussein poderia ter evitado a guerra?
Dalmo: Saddam sonhou alto demais, assim como Nasser, o presidente egípcio que nacionalizou o canal de Suez. Saddam Hussein foi, apesar de tudo, um bom presidente. A revolução de 69 que o levou ao poder nesse ano, juntamente com o partido Baas, que se diz socialista, nacionalizou as riquezas do país e fez a reforma agrária que a revolução de 58 não tinha conseguido fazer.
Afonso: O que você me diz da resistência, por exemplo, em cidades como Fallujah?
Dalmo: Lamento profundamente a destruição americana de uma cidade como Fallujah. E o troco virá, pois os iraquianos são ligados à pena de Talião e vida se paga com vida. Fallujah estava no meio do deserto puro, um chapadão plano com colinas completamente sem vegetação alguma. Quando aparece Fallujah, aparece o arvoredo e algumas casas, eu lembro da ponte e do rio Eufrates logo ali, perto da cidade.
Afonso: E quem ganhará a guerra?
Dalmo: Os Estados Unidos sairão quando estiverem perdendo muitos soldados e deixarão um governo xiita muito simpático ao Irã. Por isso tanta pressão contra a república islâmica: os norte-americanos e europeus não querem um aumento da influência do Irã na região.
Afonso: Que informações você tem sobre a situação hoje?
Dalmo: Tenho acompanhado mais as fontes oficiais. Eu até pensava que o Brasil deveria tentar ser uma potência como eles estavam tentando.
Dalmo: Como assim? Saddam não era um ditador sanguinário?
Afonso: É, tenho ouvido falar, mas não foi essa minha impressão. Não sei como é viver lá, são outras regras, um diferente estilo de vida, num país de civilização muito antiga. Eu tinha a impressão de que Iraque estava tentando se transformar numa potência, o que me lembrava o Brasil dos anos 70.
Dalmo: Saddam não fez duas guerras inconseqüentes, a contra o Irã e contra o Kuwait?
Afonso: Quando estive lá e a guerra contra o Irã começou, eles disseram que o Khomeini tinha desconhecido os tratados realizados com o Xá. O fato é que o Iraque é nacionalista.
Dalmo: Como assim nacionalista?
Afonso: Na hora de atender numa loja, eles atendem o iraquiano primeiro, ao invés de atender o estrangeiro. Eles não estimulavam o turismo externo, só o interno. Coisas assim. O Iraque sonhou em ser uma potência, durante um tempo, mas agora decaiu para colônia de novo.
Dalmo: Você viu filmes recentes como Guerra ao Terror e Avatar? Vê relação com o Iraque?
Afonso: Vejo, sim. The Hurt Locker, sobre o qual você tinha de fazer essa entrevista, é um faroeste onde os americanos são os mocinhos. Já Avatar é mais claro em seu simbolismo. Os americanos estão errados em suas guerras invasoras e as pessoas que são guiadas pela ciência, essas pessoas devem passar para o lado dos iraquianos e dos afegãos. É o que eu penso também!

Um comentário:

Fabricio Estrada disse...

Lucio, hay un problema en el diseño: se sobreimponen las imágenes. Te recomiendo diseños modulares.

Un abrazo!