sábado, 30 de junho de 2012

Outubro Vermelho em Bom Despacho




Nesse mês de outubro [de 2010] ocorreu uma manifestação histórica em Bom Despacho, mas, como costuma ocorrer com as lutas populares, obteve pouca repercussão na mídia. Na TV Alterosa, apenas algumas imagens em primeiro plano mostraram uma ou duas pessoas com cartazes, como se apenas a família de José Paulo, morto no dia 8 passado, tivesse se manifestado, enquanto os presentes somavam por volta de trezentas pessoas, entre amigos e parentes do rapaz e populares revoltados com o ocorrido.
            A versão da família e a da polícia, desde o início, entraram em contradição. Só existe acordo a respeito do fato de que José Paulo de Carvalho Lacerda (de dezesseis anos) pegou inadvertidamente a moto do pai e saiu com um amigo para as proximidades da cadeia local. Ali, não obedeceu a ordem de parar numa blitz, foi perseguido, sofrendo um acidente que terminou em sua prisão e morte horas depois. A polícia alega que sua morte decorreu do acidente; a família afirma que José Paulo foi algemado e, mesmo imobilizado no chão, foi agredido com chutes que teriam causado a quebra das três costelas e a destruição de seu fígado, agressões que o levaram à morte no mesmo dia, às 13 horas.
            Antecedida por uma manifestação de motociclistas a favor de José Paulo, a manifestação do dia 13 de outubro se deu diante do fórum local de Bom Desapcho e foi basicamente uma reivindicação por justiça. A cidade não tem uma ouvidoria de polícia e mesmo reclamações nas redes sociais ou na mídia têm sido constantes, embora não exista um grupo organizado, seja partido político, pastoral ou ONG, que as discuta, organize ou encaminhe. As queixas da violência policial têm andado de mãos dadas com aquelas a respeito do aumento de furtos, que acontecem seguidamente até em lojas na Praça da Matriz, no coração da cidade. Posso dizer, então, que a manifestação do dia 13 de outubro foi a expressão da crescente indignação da população com o aumento de furtos paralelo a casos de violência policial. Ou seja, o protesto ganhou força porque, embora dura com os cidadãos, a PM se mostra pouco operante para evitar a escalada da criminalidade na cidade.
            Estive presente no dia 13 e vi a postura até ponderada da família, que tomou a frente de um protesto muito espontâneo, não contando sequer com aparelhagem de som e nem participação de setores organizados da sociedade civil. A família chamou os policiais envolvidos de assassinos, mas esclareceu que eles não representam a corporação. Não estavam presentes, lá, nenhum representante da prefeitura local, nem partidos políticos nem igrejas. Os presentes na manifestação, fora a família e amigos do adolescente José Paulo, eram blogueiros, artistas, jornalistas, passantes e curiosos, a maior parte observando os protestos da família, assobiando e gritando as palavras de ordem que os familiares gritavam. Em dado momento, até mesmo a Lei da Palmada foi citada, mostrando a disparidade entre as nossas leis e a prática social. A Polícia Militar estava presente e um representante dela que viu toda a manifestação (Major Júlio Santos, subcomandante do Sétimo Batalhão) lançou pouco depois, no blog do vereador Fernando Cabral, uma nota pedindo condolências à família do falecido, assim como dizendo que já foi aberta uma investigação interna a respeito do caso.
            No entanto, a nota que foi publicada pela PM ainda não é suficiente. É preciso ainda, que ela responda, mesmo após a perícia, os seguintes pontos: 1) Quais as provas que se tem do alegado envolvido de José Paulo com o tráfico? 2) Em nome de que profissionais a Polícia Militar está pedindo desculpas como um todo? 3) Se for comprovada a violência policial, os responsáveis serão punidos com a expulsão? 4) Se os policiais responsáveis estão sofrendo ameaças, como dizem pela cidade, não cabe uma investigação e um esclarecimento a respeito?
            Finalmente, me estarreceu a solidão de uma família humilde, protestando por justiça sem apoio de nenhuma pastoral da igreja, partido político ou organização da sociedade civil.
            Pela punição aos responsáveis pela violência policial!!!
            Toda solidariedade dos comunistas à família de José Paulo de Carvalho Lacerda em sua busca por justiça!!!

Lúcio E. do E. S. Júnior, professor de Filosofia em Bom Despacho (MG).

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