sábado, 16 de junho de 2012

Schwarz X Caetano: Ohata na Piauí


O artigo de Milton Ohata na Revista Piauí serve como uma espécie de apêndice da polêmica travada entre Schwarz e Caetano recentemente.

No entanto, ele recoloca e agrava os mesmos problemas, principalmente advindos da teorização de Schwarz.

O fato é que Roberto Schwarz e sua trajetória são um enigma. Roberto, citando faceiro Brecht, Lênin Guevara e Marx, consegue fazer carreira nos USA em plena Guerra Fria.

E no discurso, tanto de Roberto quanto de seu seguidor Milton Ohata, ainda ecoa, em alguns pontos, o discurso dos vencedores da Guerra Fria, como quando diz que as experiências socialistas foram "catástrofes".

O que confirma minha hipótese sobre o artigo de Schwarz sobre os anos 60: depois de fundado o CEBRAP, Roberto se apressa em escrever a história dos anos 60 a partir de um prisma a seu favor, muito embora Glauber, Zé Celso e Caetano ignorassem solenemente as abstrusas teorias desse grupo em meados dos anos 60. A participação de Roberto Schwarz no PCB também me parece ser sempre no sentido de inocular o veneno da explicação marxianista pelega e traíra por todo o lado: entre artistas, entre partidos, estudantes, etc. E o pior é que, no começo, os estudantes não  pegavam o recado de que o negócio é a torre de marfim abonada e muitas vezes partiam para a luta armada, acreditando que o grupo marxianista estava é propondo a morte do reformismo, enquanto estava propondo na verdade o relax do novo liberalismo e a manutenção de um Marx domesticado, universitário, "láite", manso.

O grande problema de Roberto é que ele deseja, ávido, criticar em Caetano as pequenas diferenças que existem entre o músico e ele, crítico. Mas Caetano despreza o crítico, a quem aparentemente lê pouco ou com desprezo (tem preguiça?)

Já Roberto Schwarz é crítico e secretamente fã de Caetano. Parece que ser o tropicalismo musical que o eletriza e estimula a escrever de modo quase totalmente favorável a respeito de um grupo que, aliado aos seus rivais Haroldo e Augusto de Campos, ele deveria hostilizar mais duramente. Schwarz cita Caetano em um poema de Corações Veteranos. Em O Pai de Família, o tropicalismo é quem esboça que as ideias estão fora do lugar no Brasil. Para ele, se Gil canta formiplac e céu de anil, denunciando que o Brasil ainda não tinha TV a cores nos anos 60, isso seria indicativo de que as ideias estão fora do lugar no Brasil. Schwarz cita Caetano em Ideias Fora do Lugar (há um artigo nesse blog sobre isso). Ao sair Verdade Tropical, Schwarz afirmou que Caetano aceitava o comercialismo da música brasileira atual e ainda satirizou a canção "how beautiful could a being be", de Caetano, dizendo na Folha que "o cu da bimbi é o verdadeiro beautiful".

Assim, Schwarz é fanzoca de Caetano, que sempre que possível o esnoba e assim leva farpas. Esse é o drama.

 Cita-o em Sequências Brasileiras, esboçando mais claramente sua intenção de ver no tropicalismo o marxianismo social-democrata de seu grupo uspiano traduzido em música. E agora, finalmente, quando o PSDB não mais esconde que, acuado, terá que elaborar um discurso cada vez mais a favor da ditadura militar, quando monarquistas, integralistas e conservadores religiosos fanáticos apoiam Serra em termos histéricos totalmente tirados da Guerra Fria, agora Schwarz pode mais tranquilamente criticar Caetano. Se o fizesse em 1997, talvez fosse recebido como um ataque ao amigo FHC.

No Martinha e Lucrécia, Schwarz, inspirado em Gilberto Vasconcellos, percebe que Caetano é sacana, pratica a duplo jogo em todos os aspectos, beneficiou-se do golpe da direita contra seus inimigos e aponta isso com vocabulário chique, acadêmico. Isso o obceca porque o grupo de Schwarz e Fernando Henrique também faz o mesmo jogo, com pequenas diferenças. É o chamado narcisismo das pequenas diferenças.



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