(Jô e Franciny oscilam entre
encenar o Hamlet sem os nobres e uma versão engajada de O Processo de Kafka, com Gerald Thomas fazendo o papel do senhor K.
Jô prefere encenar o Hamlet proletário, deixando de ser diretora e encarnando a
louca Ofélia, transformando-se na louca Ofendélia).
(Ensaio da peça Hamlet, agora com
discussões proletárias).
Hamlet (para Polônio): Nos
comportamos como torcida de futebol, assumindo apaixonadamente um lado. Temos
muito da moral judaico-cristã...
Polônio: Você é um centralista
irracional, ignorante, Hamlet. Você quer que em El Senor fiquem só os
ignorantes, os amorfos, os autoritários.
Hamlet: Sim, uma
depuração às avessas.
Polônio: Para se
conseguir o centralismo democrático é preciso muito diálogo.
(De repente,
entra em cena Ofendélia,
a louca).
Ofendélia
(berra): EU TOU NESSA PEÇA MAS NÃO SOU TROTSQUISTA NEM STALINISTA, EU SOU
QUENTIN TARANTINO!!! EU NÃO SOU POLITICAMENTE CORRETA NEM VOTEI EM DILMA NÃO, NÃO SOU
LÉSBICA!
Hamlet (tenta
acalmá-la): Ofendélia, não é isso que está em discussão aqui...
Ofendélia:
Sim...Thomas, eu quero Thomas como o senhor K, de Kafka....Eu quero a Opera
H...Eu quero ver Thomas Kafka...K... H...encenar...o domínio das loucas! A
gangue das loiras!
Cláudio (voz em
off): QUEM PERMITIU A VOLTA DESSA LOUCA??? RÁ-RÁ-RÁ (dá uma risada de gelar a
espinha).
Ofendélia: Você
é um GRAMSCIANO, Hamlet! (dá-lhe um tapa na cara). Ela se põe a rir loucamente
como uma louca boba.
Hamlet: O sangue
do povo é petróleo. O espírito de meu pai, Getúlio Vargas, vaga pelos espaços
brasileiros em busca do povo, pois como ele era um suicida, Deus não o aceitou
no paraíso nem o diabo aceitou sua alma, pois considerou-o um inimigo. Povo de
quem ele foi escravo não será mais escravo de ninguém.
Ofendélia: A
pátria é um suicida que morreu fazendo sessenta e nove! Acabou a ditadura do politicamente
correto da Dilma e do caudilho Lula! Minha moral é a da Maria Paula, Pires,
Pondé e Bial!
Polônio:
Ofendélia, você está nervosa...louca, histérica, lésbica...
Ofendélia (dá um
beijo violento na boca de Polônio e o leva para uma cama próxima): Vê se me
Freud, Polônio...
Hamlet:
Ofendélia, você vai me trair?!
Polônio (aos
beijos e abraços na cama com Ofendélia): O socialismo marxista, depois da morte
de Marx e Lênin, começou a cavar sua sepultura...
(E nesse momento
nasce a primeira intriga da Ofendélia. Cláudio ao fundo está rindo, com ar de
desespero, pois ele sabe o que tudo isso vai dar.)
Franciny
(reflete enquanto vê o ensaio): Eu não mais o que é encenação e o que é vida
real! Os personagens aos poucos foram tomando conta dos atores, ao contrário do
que deveria ser!
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