quinta-feira, 5 de julho de 2012

Blognovela revista cidade sol: Ofendélia ataca!



 (Jô e Franciny oscilam entre encenar o Hamlet sem os nobres e uma versão engajada de O Processo de Kafka, com Gerald Thomas fazendo o papel do senhor K. Jô prefere encenar o Hamlet proletário, deixando de ser diretora e encarnando a louca Ofélia, transformando-se na louca Ofendélia).

(Ensaio da peça Hamlet, agora com discussões proletárias).

Hamlet (para Polônio): Nos comportamos como torcida de futebol, assumindo apaixonadamente um lado. Temos muito da moral judaico-cristã...

Polônio: Você é um centralista irracional, ignorante, Hamlet. Você quer que em El Senor fiquem só os ignorantes, os amorfos, os autoritários.

Hamlet: Sim, uma depuração às avessas.

Polônio: Para se conseguir o centralismo democrático é preciso muito diálogo.

(De repente, entra em cena Ofendélia, a louca).

Ofendélia (berra): EU TOU NESSA PEÇA MAS NÃO SOU TROTSQUISTA NEM STALINISTA, EU SOU QUENTIN TARANTINO!!! EU NÃO SOU POLITICAMENTE CORRETA NEM VOTEI EM DILMA NÃO, NÃO SOU LÉSBICA!

Hamlet (tenta acalmá-la): Ofendélia, não é isso que está em discussão aqui...

Ofendélia: Sim...Thomas, eu quero Thomas como o senhor K, de Kafka....Eu quero a Opera H...Eu quero ver Thomas Kafka...K... H...encenar...o domínio das loucas! A gangue das loiras!

Cláudio (voz em off): QUEM PERMITIU A VOLTA DESSA LOUCA??? RÁ-RÁ-RÁ (dá uma risada de gelar a espinha).

Ofendélia: Você é um GRAMSCIANO, Hamlet! (dá-lhe um tapa na cara). Ela se põe a rir loucamente como uma louca boba.

Hamlet: O sangue do povo é petróleo. O espírito de meu pai, Getúlio Vargas, vaga pelos espaços brasileiros em busca do povo, pois como ele era um suicida, Deus não o aceitou no paraíso nem o diabo aceitou sua alma, pois considerou-o um inimigo. Povo de quem ele foi escravo não será mais escravo de ninguém.

Ofendélia: A pátria é um suicida que morreu fazendo sessenta e nove! Acabou a ditadura do politicamente correto da Dilma e do caudilho Lula! Minha moral é a da Maria Paula, Pires, Pondé e Bial!

Polônio: Ofendélia, você está nervosa...louca, histérica, lésbica...

Ofendélia (dá um beijo violento na boca de Polônio e o leva para uma cama próxima): Vê se me Freud, Polônio...

Hamlet: Ofendélia, você vai me trair?!

Polônio (aos beijos e abraços na cama com Ofendélia): O socialismo marxista, depois da morte de Marx e Lênin, começou a cavar sua sepultura...

(E nesse momento nasce a primeira intriga da Ofendélia. Cláudio ao fundo está rindo, com ar de desespero, pois ele sabe o que tudo isso vai dar.)

Franciny (reflete enquanto vê o ensaio): Eu não mais o que é encenação e o que é vida real! Os personagens aos poucos foram tomando conta dos atores, ao contrário do que deveria ser!


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