segunda-feira, 30 de julho de 2012

Carta ao professor Emerson José Sena da Silveira

Caro professor Emerson:


Li em seu artigo "uma vasta alternativa teórica", da coleção Guias de Filosofia, uma interessante passagem. Ela se refere ao período Stálin nos seguintes termos: "Certas vertentes do marxismo seriam transformadas em ideologia de aparatos estatais, usada para repressões, perseguições e acusações. Basta lembrar Joseph Stálin e sua perseguição a Léon Trotsky, além dos expurgos que mataram milhões de camponeses e muitos intelectuais  discordantes da ortodoxia comunista. Mas o marxismo ocidental, conceito tornado popular por Merleau Ponty (...)"


Paro por aqui, pois para mim bastou. Em primeiro, há vasta bibliografia que o senhor, como pesquisador, deveria conhecer (porque é evidente que você a ignora): Origens dos Grandes Expurgos, de Arch Getty, assim como Evidências da Colaboração de Trotsky com os Alemães e Japoneses, de Grover Furr, Fraude, Fome e Fascismo, de Douglas Tottle, assim como os trabalhos de Mark Tauget, especialista em fome de West Virginia. Essa bibliografia está só começando a ser traduzida via web. No entanto, ela mostra como é mentira tudo o que você disse aí. O marxismo não foi usado para perseguições, Lênin previa, em textos como o Discurso aos Ferroviários em 1921, que seria necessário combater rebeliões como a de Krondstadt, uma vez que as lutas de classe se agravam no socialismo. E o período Stálin mostrou isso: tanto se agravaram que o próprio Trotsky começou a colaborar com os serviços secretos da Alemanha, passando informações úteis aos inimigos da URSS. Ele foi expulso da URSS porque perdeu dentro do partido e liderava um grupo bonapartista que tentava fundir o partido por dentro.


Na época, até Gramsci apoiou que se destroncasse o grupo de Trotsky, aceitou a denominação de bonapartista dada a eles e, posteriormente, lançou a palavra de ordem: "Trotsky é a putana do fascismo".


Os expurgos democráticos são uma coisa, os conflitos da coletivização, outra inteiramente diferente. Não dê essa bandeira de burrice, meu caro. Não morreram "milhões de camponeses". Milhões de camponeses FORAM SALVOS da fome graças à coletivização, que não voltou a se repetir (e isso até o Gorbachev admitia em seu livro Perestroika) pela qual o governo deveria ter ganho o prêmio Nobel.


Merleau Ponty, que você cita a meu ver usando má fé e desconhecimento, é bem claro em Humanismo e Terror: "o destino de Trotsky é a política contra-revolucionária". Isso é mais do que nunca verdade hoje em dia. Enquanto não derrotarmos o trotsquismo que infesta a esquerda brasileira, duvido que ela como um todo possa avançar.


Mas isso não tem muito a ver com você: a fúnebre bandeira das estrelas, que serve como mortalha para a classe operária da Síria, do Iraque e da Líbia e de todo o terceiro mundo, para você, "carrega o destino de sua classe".




Atenciosamente, professor Lúcio Jr.





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