quarta-feira, 4 de julho de 2012

Chico de Oliveira e a falência das ciências humanas no Brasil

Para mim, essa entrevista do Chico representa a falência das ciências humanas no Brasil:

http://www.youtube.com/watch?v=HOGGLZMPaq8

O professor Xyko se pavoneia de muito crítico, mas como crítico de Lula e da conjuntura atual, acho um fracasso. Ele recorre a termos morais cristãos para criticar Lula --e não políticos. O problema principal não é o caráter malandro de Lula e sim o fato de que Lula apresenta seu projeto pessoal de sucesso como o interesse nacional.

Lula é profundamente paulista e tem a cabeça feita por intelectuais como Fernando Henrique, Weffort e Serra. Chico de Oliveira só é "espanhol" no sentido de anarco-trotsquista espanhol. Ele só considera de esquerda o Paulo Skromov.

Xyko de Oliveira, que conta ter sido torturado por Francisco Cuoco (um homônimo do ator), ficou no CEBRAP pelo menos até 1988. O que ele diria da entrada de dinheiro dos USA no CEBRAP, através da Fundação Ford?

Lula não é um caudilho à la Chávez, é um burocrata com traços messiânicos.  Para mim, Xyko é um reformista de classe média na linha de Bernstein que sonhava que Lula faria o bem-estar social...

No Brasil, a infra-estrutura é subdesenvolvida e a superestrutura é desenvolvida. Daí a tese da dependência, das ideias fora do lugar, da ideia de que o  Brasil é um país desenvolvido e do ornitorrinco de Xyko, que giram em torno dessa contradição. Porém, como a superestrutura colonizada e imitativa é a caricatura copiada e decadente dos países desenvolvidos, até mesmo os intelectuais passam a pensar que a infra-estrutura possa ser de um país desenvolvido e imperialista. Os intelectuais querem que o país seja desenvolvido para justificar que importam quase sem adaptações as suas teorias da europa ocidental.

O que ele deveria dizer é que a imprensa menospreza a inteligência de Lula e o peso de sua formação devido à sua origem de classe, suas bravatas e seu talento para ator cômico, bufão.

Ele acha a atual aliança de Lula/Haddad com Maluf um fracasso da política e do PT. Não vejo assim. Creio que é para contrabalançar o currículo de Haddad, fortemente marcado pelo marxismo e até pela pesquisa do sistema soviético, o que entre intelectuais brasileiros é raro e seria explorado pela direita. Com a aproximação do Maluf, ao invés de ser criticado como excessivamente marxista, ele passou a ser visto como moderado e conservador demais. É uma vitória do projeto de poder de Lula.

A questão é a análise do projeto de reformas neoliberais cosméticas de Lula e seu fôlego, não julgar, isoladamente, essa aliança fora do contexto.

 A grita contra essa aliança é pelo impacto simbólico da foto, por isso Erundina fugiu. Ela sabia do que se tratava.

Na entrevista Francisco de Oliveira nega Lula como líder das greves no ABC paulista, assim como nega o PSOL (mas ele já esteve também próximo do PSTU) e afirma, mostrando cegueira enorme, que FHC era de esquerda e que ainda conversam cordialmente. Logo, embora téorico razoável, a prática política de Chico é confusa e errática. O acerto é mostrar a pequenez de Lula diante de Vargas e observar que a esquerda tem dificuldade de lidar com Vargas porque ele foi ditador entre 1937 e 45.

A bomba da entrevista é Chico de Oliveira é ele dizer que FHC foi do PCB durante um tempo. FHC fez a tese de mestrado em 64 dialogando (e atacando) a teoria do PCB de que a burguesia nacional brasileira existia e poderia enfrentar o imperialismo. FHC fez uma pesquisa de campo ao estilo norte-americano e concluiu que a burguesia (ele centrou o "survey" em Sampa) não tinha consciência de classe nem consciência nacional alguma. FHC esteve próximo de comunistas no CEBRAP e no jornal Opinião, mas creio se entrou no partido comunista foi para disseminar as ideias de seu seminário de O Capital na USP.


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