terça-feira, 28 de julho de 2015

O Caminho da Índia: Notas Sobre os Naxalitas

Nessa postagem vou apenas alinhavar algumas observações sobre o movimento maoísta na Índia, observações em sua maioria lidas em inglês e não disponíveis em português.

O movimento surgiu por inspiração de Mao, nos anos 60. O filme Labirinto fala a respeito. Como os movimentos no Brasil, sofreu enormes reveses e perdas no decorrer dos anos 60 e 70. Um líder destacou-se: Kissen Ji. Ele inspirou o filme acima citado e, segundo os indianos, é comparável a Che Guevara. O termo "naxalita" refere-se a um combate e massacre acontecido em uma cidade, no período do início do movimento.

Reconstruiu-se, no entanto, em outras bases. Se antes chegava ao povo falando na rivalidade entre União Soviética e China, em política internacional, assuntos estratosféricos para pessoas de baixa instrução como camponeses ou pequenos proprietários do interior, a solução do movimento foi deslocar-se para assuntos locais.

Um exemplo: uma fábrica de Coca-Cola estava drenando toda a água dos pequenos camponeses e pequenos fazendeiros numa determinada região. Os camponeses e fazendeiros tentaram ir à justiça e chamar a polícia, mas sem sucesso algum. Sendo assim, entraram em contato com os maoístas, explodiram a fábrica e o problema foi solucionado.

Os maoístas não se prendem ao marxismo clássico. Buscam inventar sua própria teoria, tiram a teoria da prática, etc.

O sistema de polícia e justiça na Índia, como no Brasil, é caro e, como aqui, existe corrupção. Para tanto, os maoístas organizaram um sistema paralelo de justiça, bem mais rápido e gratuito, para mediar os problemas nos vilarejos e meios rurais controlados por eles.

As regiões onde os maoístas são fortes são  mais ou menos um terço do país: a região ao redor de Bengala, próxima a Bangladesh, assim como três províncias do sul e centro. Próximo a Bengala há o chamado Corredor Vermelho, região onde os maoístas são fortes e o estado quase não se faz mais presente. Na prática, o governo indiano controla Bangladesh e o movimento é muito fraco nesse país.

O movimento enraizou-se em povos nativos ou tribais, que perfazem minorias dentre o povo indiano, assim como entre os dalits (a casta mais baixa e sem direitos).

Igualmente, os maoístas se ligaram aos addivhasi, povos marginalizados e oprimidos pelo desenvolvimento econômico industrial predatório entre a passagem do governo Gandhi para Nehru.

Os addivhasi habitam a floresta de Dandakharina, a maior floresta da Índia, espalhada por três estados. O conflito começou quando madeireiras exploraram intensamente o sândalo, madeira nobre da região, culpando os povos nativos. A resistência nasceu a partir daí.

Habitualmente, os movimentos armados não matam policiais, apenas pedem que eles entreguem suas armas. Como os destacamentos em sua maioria são compostos de soldados que não querem morrer por sua classe política corrupta, raramente as tropas lutam. Igualmente, a Índia é um estado federal e há a questão de quem irá pagar os paramilitares que são enviados aos estados para combater os maoístas, se o estado ou a federação, assim como há questão da soberania de cada estado e suas leis. As tropas chegam desmotivadas, não querendo matar seus próprio povo.

Quando houve um ataque recente a uma caravana de políticos em campanha em Chattisgarh, região de floresta e da tribo addhivasi, vários políticos foram mortos, mas o povo da região vibrava, contente com a morte dos corruptos.

Os dialetos dos addivhasi nem estavam ainda registrados na forma escrita. Os maoístas encarregaram-se disso.

Ultimamente, com a Operação Caçada Verde (Green Hunt), na prática uma campanha de paramilitares para matar guerrilheiros, abriu-se a discussão em todo o país sobre se os naxalitas estão perdendo terreno e estão perdendo a guerra. No entanto, o movimento alega que não se trata de um jogo onde há uma tabela em que se contam pontos.

Outros países onde os movimentos são fortes são: Filipinas e Nepal. Há dois vilarejos na fronteira entre o Irã e o Paquistão controlados pela guerrilha maoísta. O partido comunista do Afeganistão é também, atualmente, maoísta.







Um comentário:

Paulo Falcão disse...

Gostei, Lúcio. É difícil entender um país complexo como a Índia, principalmente assim, à distância, ou avaliar o grau de precisão de suas informações, mas certamente estou melhor informado depois de ler o artigo. Boa contribuição.