segunda-feira, 13 de julho de 2015

Zizek X Molly Klein: seria Zizek antissemita?

Slavoj Zizek, filósofo esloveno, está sendo acusado pela ativista Molly Klein, ligada ao Left Forum, nos Estados Unidos, de antissemita, dentre outras acusações.


Klein, Jacob Levich e outros intelectuais levantaram o passado de Zizek na ex-Iugoslávia. Nos anos 80, ele era parte de um grupo dissidente dentro do partido "comunista" da Eslovênia. O jornal Tribuna, periódico oficial do partido, publicou, em 1988, o polêmico texto Protocolos dos Sábios de Sião, famosa falsificação antissemita que inspirou Hitler e que permanecia, desde 1934, inédito na Iugoslávia. Não apareceu outra justificativa para a publicação do texto, comprovadamente não escrito por sábios de Sião, a não ser a de estimular o antissemitismo. Segundo Klein, Zizek e seu grupo defenderam-se dizendo que aqueles judeus que conspiravam mundialmente, na verdade, eram uma metáfora dos "comunistas" iugoslavos. O texto seria, então, uma crítica ao governo e não um verdadeiro ato antissemita.


Alguns episódios semelhantes, entre os quais um que Zizek conta, parecem ter consolidado o prestígio de Zizek como contestador do falso regime comunista da Iugoslávia, na verdade já em decomposição desde os anos 40. Um desses episódios Zizek mesmo conta, quando menciona que um grupo de estudantes fez um cartaz para um evento da juventude do partido, venceu a disputa e, a seguir, denunciou que tinha copiado o cartaz de um antigo cartaz nazista. Isso liga-se ao discurso que Zizek desenvolve até hoje: ele se diz "stalinista e fascista", assim como aproxima os jacobinos e Hitler para chocar, vendo também "comunismo" no Anel dos Nibelungos de Wagner. Para Zizek, o problema com Hitler seria que ele "não foi violento bastante". Para ele, violência seria "força para mudar as coisas". Gandhi, nessa conceituação, seria mais violento do que Hitler.


Segundo Klein, na verdade o projeto de Zizek não é comunista e sim anticomunista e pró-americano. Ele aparenta até mesmo ser "stalinista", mas é uma farsa, evidentemente. Sua intenção é produzir confusão na esquerda. Seu grupo atual, segundo ela, pretende tornar as posturas reacionárias algo subversivo e chique, o máximo da contestação. Tanto que ele assevera em vídeo recente que o máximo do totalitarismo é o politicamente correto, numa posição em que converge com besteiras ditas por um Luiz Felipe Pondé, que associa politicamente correto e fascismo.


Zizek --chamado ironicamente de Zizney segundo Molly Klein -continou sendo um dissidente influente e apoiou a banda Laibach quando ela passou a usar iconografia neonazista em suas apresentações. Igualmente, Laibach é o nome da cidade de Liubliana sob a invasão nazista. Zizek participou ativamente do movimento artístico Neue Skolovenski Kunst (nova arte eslovena, em alemão). Sua argumentação é que é preciso "sobreidentificar-se" ao sistema para combatê-lo, o caminho não seria o distanciamento crítico marxista. Segundo Klein, Levich e outros críticos, sua "superidentificação" seria com o nazismo, o reacionarismo, o racismo, a heteronormatividade, etc.


Laibach é uma banda que faz declarações de esquerda, mas um de seus videoclipes, dos anos 90, é bem claramente antistalinista.


Não há evidências de que Zizek tenha pessoalmente decidido a publicação do texto. No entanto, Klein observou que a fala de Zizek na eleição em que participou como candidato nos anos 90 traz uma fala muito semelhante ao texto dos Protocolos. Zizek, fazendo discurso anti-comunista no Partido Democrata Liberal, mencionava que "chega de ser objeto da fantasia dos outros, desses vampiros". E a seguir associa os vampiros aos partisans, ou seja, aos falsos comunistas iugoslavos. Originalmente, porém, essa retórica servia para atacar os judeus, no contexto dos Protocolos dos Sábios de Sião. Igualmente, Zizek defendia privatizar mais abertamente do que fazia o falso governo comunista da Iugoslávia.



Na revista Mladina, do partido Democrata Liberal, Zizek, nos anos 90, fez parte de um grupo que defendia supostamente os direitos humanos, mas na prática, advogou a secessão violenta da Iugoslávia. Essa secessão foi seguida de uma faxina étnica de muçulmanos, dentre outros casos de suicídio de pessoas de outras etnias. Zizek nunca mencionou isso. Lá, junto à sua esposa Renata Salecj, segundo Klein, o grupo elaborou uma argumentação para suscitar a invasão norte-americana em apoio da secessão iugoslava. Os eslovenos foram apresentados como os novos judeus e os nazistas seriam os sérvios. 

Recentemente, a acusação de antissemita foi rebatida por Zizek em artigo para o jornal The Guardian.


3 comentários:

Anônimo disse...

Nada é mais socialista que isto: dinheiro da Lava Jato pagava prostituição de luxo

E ainda existem lorpas e pascácios que realmente acreditam que socialistas são um bando de “coitadinhos enganados”. Eu desprezo tanto este discurso como o dos próprios socialistas. Na verdade, desprezo ainda mais, até porque os primeiros conspiram em prol de sua ingenuidade, e os últimos pelo menos lutam por alguma vantagem. E antes que surjam protestos, já vou adiantando: constatar isso não significa atribuir nenhum tipo de mérito aos socialistas espertos, mas apenas demérito acima de qualquer limite a quem os percebe como “iludidos por uma utopia”.

Mais um prego no caixão da ilusão da “crença na crença” (a crença de que os líderes socialistas realmente acreditam em seu discurso utópico) foi martelado hoje com a matéria mostrando que dinheiro investigado na Lava Jato pagava até prostituição de luxo:

"O dinheiro desviado da Petrobras teria sido usado para pagar programas em um esquema de prostituição de luxo, que incluiria até mesmo “famosas da TV”. Os detalhes dos programas foram explicados ao MPF (Ministério Público Federal) e à PF (Polícia Federal) pelo doleiro Alberto Youssef e Rafal Angulo Lopez, seu emissor.

A revelação foi feita após os investigadores da Lava Jato questionarem os dois sobre os termos “artigo 162” e “Monik”, encontrados nas planilhas que registravam o destino do dinheiro desviado. Ambos os termos se referem ao pagamento de prostitutas, que chegavam a cobrar até R$ 20 mil por programa.

Ao todo, só em 2012, foram gastos R$ 150 mil na contratação de programas de prostituição. Em alguns casos, participavam famosas por exposição em programas de TV, capas de revista e desfiles de escola de samba. As informações foram divulgadas na edição desta segunda-feira (13) do jornal Folha de S.Paulo."

Mas sempre foi assim mesmo. Na Coréia do Norte, Kim Jong-un acabou de montar um harém. Em Cuba, a elite burocrata paga baratíssimo por sexo com modelos de formação universitária, mas que não tem como se alimentar se não se prostituíssem. Obviamente o povo mais humilde não consegue pagar, mas os soldadinhos dos irmãos Castro podem se esbaldar. Para quem não se importa em se valer de sexo pago, o socialismo, na visão dos beneficiários, sempre foi um “paraíso na Terra”.

Sendo assim, por que no Brasil do PT a coisa seria diferente? Quem se alia a projetos de poder socialista, normalmente espera colher seus dividendos mesmo. Pode-se idealizar até um anúncio: “Procura-se beneficiário socialista com mente empreendedora, capaz de atuar na área política, cultural, jornalística e afins. Requisitos incluem a habilidade de propagar rotinas, influenciar a opinião pública e capitalizar em favor de projetos totalitários. O trabalho, se podemos dizer assim, é agradável e extremamente confortável. A remuneração ultrapassa qualquer outra categoria de profissional liberal. Entre os benefícios, inclui-se prostituição de luxo. Junte-se a nós na luta por tetas estatais. E muito mais”.

Logo, essa notícia aí é jornal velho.

http://lucianoayan.com/2015/07/13/nada-e-mais-socialista-que-isto-dinheiro-da-lava-jato-pagava-prostituicao-de-luxo/

Anônimo disse...

O bilhetismo. Ou: como continuar iludindo as pessoas com esquerdismo.

Em um universo paralelo, um autor resolve elaborar a seguinte tese: uma das formas de caridade é o bilhetismo, e devemos acreditar nisso. O bilhetismo se baseia em um surto de bondade que acometeria boa parte dos ganhadores da Mega Sena (e seus afins), fazendo-os vender seus bilhetes a preços módicos para que outras pessoas pudessem receber seus prêmios. Seria uma forma quântica de caridade.

O livro faz um baita sucesso, e, com isso, milhares de pessoas começam a comprar bilhetes premiados. Infelizmente, nenhum deles é válido. Os vendedores de bilhetes premiados, como era de se esperar, não passam de picaretas, dependentes da crença de otários na possibilidade de comprarem um bilhete realmente válido. O que o bilhetismo na prática se revelou foi apenas um jogo para que espertos pudessem lucrar à custa de trouxas.

O autor é chamado de embusteiro, mas, em entrevistas, sempre se defende desta forma: “O bilhetismo que a mídia noticia não segue o princípio número um da doutrina: que é transferir seu prêmio para outro, a partir de um baixo custo. Então não é o bilhetismo real”.

Você provavelmente achará esta história absurda. Não é para menos. O questionamento é natural: “Ora, se é para fazer caridade, por que o dono do bilhete premiado não saca o dinheiro e faz uma caridade ainda maior?”. Uma questão tão simples e óbvia como essa já levará ao desnudamento de um ardil.

Mas se você acha que as pessoas não cairiam em truques de gente tentando sustentar o bilhetismo mesmo depois de muita gente enganada, espere até ver o que disse um tal de Christopher Sabatini, articulista do site LatinAmericaGoesGlobal.org, conforme dica de Rodrigo Constantino. Para Sabatini, Venezuela e Equador não são de esquerda, uma vez que “não ajudam os pobres”. E ainda temos que aturar a seguinte racionalização:

"Perdido em meio ao fácil selo de esquerdista de Maduro e Correa há um fato singelo: simplesmente dar dinheiro aos pobres não faz de você um socialista ou mesmo um esquerdista. Faz de você um populista (e perdulário)."

Anônimo disse...

Uma investigação honesta levaria qualquer um a perceber que os pobres vivem melhor nos países menos esquerdistas. Sabatini poderia até tentar contra-argumentar dizendo que “pelo menos, a intenção esquerdista é ajudar os pobres”, mas de boas intenções o inferno está bem cheio.

Cientificamente, temos que olhar para um grupo estudado pelo seu comportamento, não por sua propaganda. Podemos deduzir o comportamento dos advogados pelo comportamento da maioria deles. Podemos fazer o mesmo em relação à observação dos jogadores de futebol. Para prever comportamentos religiosos, também olhamos, sem nenhuma surpresa, para o comportamento da maioria deles. Enfim, para qualquer grupo sob análise, observamos comportamentos padronizados, não declarações destes grupos.

“Não é isso que você está pensando” é uma frase típica de qualquer adúltero(a) fotografado(a) pelado(a) na cama com a(o) amante. O comportamento, no entanto, não bate com o discurso. “Eu sou inocente” é proferido pela maioria dos bandidos culpados. Portanto, não é uma posição intelectualmente adulta definir um esquerdista pelo seu discurso (“quero ajudar os pobres”), mas sim pelo seu comportamento (“inchar o estado, sob pretexto de ajudar os pobres, prejudicando, no fim das contas, mais os pobres do que os ricos”). Este é o comportamento esquerdista em essência.

É este tipo de visão, minimamente cética em relação a discursos de propaganda, que nos leva a conclusão de que Venezuela e Equador são exemplos perfeitos de esquerdismo. Mais ainda: do esquerdismo mais puro, pelo padrão socialista latino-americano, isto é, o bolivarianismo. O comportamento esquerdista de inchar o estado para dar poder totalitário aos seus líderes é a extrema esquerda em todo o seu esplendor.

Por que será que um autor diria que os falsos bilhetes premiados não constituem “o verdadeiro bilhetismo”? É claro que é por querer sua vulnerabilidade diante de falsários. Do mesmo modo, Sabatini é um esquerdista perfeito, por lutar para que seus leitores continuem vulneráveis diante dos tiranos latino-americanos. É por isso que ele define esses tiranos como “não verdadeiramente esquerdistas”.

No fim das contas, é precisamente isto que o torna um esquerdista exemplar: ele não se preocupa com os pobres, mas com o potencial dos donos de estados inchados e totalitários poderem continuar se locupletando no poder.

http://lucianoayan.com/2015/07/21/o-bilhetismo-ou-como-continuar-iludindo-as-pessoas-com-esquerdismo/