
Board to Death, Museum of Bad Arts, Boston
(Cenário: terreiro de umbanda. Música: Cancro Molly, de Satanique Samba Trio. Personagens: Pózzon de Higgs, Cacilda Beckett e Preto Velho).
Preto Velho: É, Mizifi, vô vê se vai dá prá baixá o Samuer para você, tá? (Toma um gole de cachaça e dá um trago em um beck).
Pozzón: Metateatro.
Preto Velho (baixando o santo): Não.
Pózzon: intrateatro?
Preto Velho: sim.
Pózzon: O tempo...voraz monstro janusiano...o hábito e a rotina...coleiras que atam os sujeitos a seu vômito...o indivíduo como acúmulo de eus mortos...superpostos como as camadas de uma cebola...
Preto Velho: Nada é mais engraçado do que a felicidade.
Cacilda Beckett: Estamos sobre um platô. Me segura que vou dar um troço!
Pózzon(imitando o trapalhão Mussum): colisão de hádris, Cacilds!
Cacilda: Estou acabada. A bota. Não entra. Não sei se ela diminuiu ou se foi o pé que cresceu.
Preto Velho: a fornalha de luz infernal! A santa luz! Alguém está olhando para mim ainda. Olhos nos olhos.
Pózzon: eu quero a partícula Deus! Particularmente.
Cacilda: quem está no palco? O que está acontecendo?
Preto Velho: Então voltei para casa, e escrevi. É meia-noite. A chuva está batendo nas janelas. Não era meia noite. Não estava chovendo.
(Um som ao fundo: Ping! Surge uma TV sem imagem, desintonizada)
Pózzon: Vamos ao que interessa. Beckett, você morreu há vinte anos, tem algo a acrescentar? Por que você escreve?
Preto Velho: (Olha o outro em silêncio e responde lentamente): só sirvo para isso.