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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Leite Derramado: "Encasquetei que precisava enrabar o Xyko"

Reescrita imaginária de um trecho de Xyko por Edney Silvestre após perder o Jabuti:


“Durante um período, para você ter uma idéia, encasquetei que precisava enrabar o Xyko. Eu estava com dezessete anos, talvez dezoito, o certo é que já conhecia mulher, inclusive as francesas. Não tinha, portanto, necessidade daquilo, mas do nada decidi que ia enrabar o Xyko. [...] Só me faltava ousadia para a abordagem decisiva, e cheguei a ensaiar umas conversas de tradição senhorial, direito de primícias, ponderações tão acima do seu entendimento, que ele já cederia sem delongas”.

Xyko é xyk. É preciso pôr a teoria da indústria cultural adorniana contra Xyko. Xyko vem com tudo no governo Dilma.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

New York, New York ou: o ataque do homo telenovelicus de sapatos verdes

Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior


Embora intitulado New York, New York, nome da famosa de canção de Sinatra que enaltece a grande cidade norte-americana, o clima nesse romance de Denny Yang não é de exaltação nem de otimismo em relação a essa cidade.
Muito pelo contrário. O personagem central, um introspectivo e desenraizado ator teatral que, após umas “férias prolongadas” onde desligou-se do mundo, busca um lugar no mundo numa cidade com praia que, aparentemente, poderia ser o Rio de Janeiro, é mais um lugar onde o ator vaga, desempregado, confuso e com problemas de identificação. Marcado o nome do romance com o nome de um lugar, o romance não se situa em lugar algum, não citando, com freqüência, praticamente nenhuma cidade a não ser New York.
A narrativa gira em torno da sofrida tentativa do protagonista em adaptar-se à vida social depois das férias prolongadas – que bem pode ser uma metáfora para um processo de enlouquecimento ou uma estadia numa clínica de recuperação. A televisão joga um importante papel em sua tentativa de voltar à realidade e não se confundir, ajudando-o a se comunicar com o mundo novamente. E é através da TV que esse personagem deslocado entra em contato com o grande evento do século XXI, a queda das Torres Gêmeas em onze de setembro de 2001.
Se o romance se organizasse em torno desse acontecimento, poderíamos dizer que esse é um romance de geração. Quando o personagem precisa de relaxamento e integração, o mundo reage no sentido contrário, entrando em seu momento de maior tensão, insegurança e conflito após a Guerra Fria. É um grande acontecimento, mas em tudo regressivo: os Estados Unidos despem o discurso universalista da globalização e assumem, nesse estágio histórico, um discurso agressivamente nacionalista. Embora os terroristas fossem sauditas, é o miserável e devastado Afeganistão que sucumbe vítima de uma invasão punitiva dos Estados Unidos. Todos esses fatos não escapam à visão do protagonista, que, ao contrário de muitos, não se exalta em paixão patriótica norte-americana naquele momento.
A narrativa encena a enorme reversão de expectativas, de positivas em negativas, daquele momento: o texto lembra José Agrippino de Paula em sua densidade, no uso das aspas americanas e em seu discurso indireto, repleto de referências a atos cotidianos, embora sem a referência ao mundo das celebridades e sem a violência presentes em PanAmérica, por exemplo. A forma como Fabiano, oponente do jovem ator, é apresentado, denota a antipatia que lhe provocam as telenovelas, produto artístico cujo naturalismo é negado na descrição anti-naturalista de um protagonista de uma delas, conforme se pode ler na passagem abaixo:

“Como ele”? É um que tem uma pinta no rosto e usa sapatos verdes? E apontei com meu dedo na bochecha direita. “A pinta...” ela disse ao padeiro. “Todo mundo conhece ele pela pinta”, e o padeiro concordava, sorrindo (YANG, 2008, p. 60).

Embora a TV jogue um papel importante para que o protagonista se reintegre à vida cotidiana, é Fabiano, vaidoso ator de novelas, que faz um papel desintegrador junto da mulher que o protagonista ama, Aline, curiosamente também o nome de uma história em quadrinhos de Adão Itussuragai transformada, recentemente, em minissérie televisiva onde Aline é uma mulher que namora dois homens.
Os tais sapatos verdes, citados no fragmento acima, são curiosamente da maior importância no decorrer do romance. Um dos motivos-guia desse New York, New York, suponho, é o ponto de virada, a súbita reversão de expectativas positivas quase alucinatória: Os Estados Unidos vão ocupando o Afeganistão, o caso do ator com Aline tornar-se cada vez mais trágico: ele vai a uma festa de um artista plástico chamado Tom e acaba por encontrar o “homem dos sapatos verdes”, Fabiano (o namorado de Aline), com outra mulher, o que paradoxalmente põe a perder o relacionamento de Aline com o protagonista.
No final do romance, o desejo de ir para Nova Iorque, lugar onde ocorreu o trágico ataque citado no decorrer do romance, é afirmado, também numa virada surpreendente. O ator nega-se a fazer novela, e, muito diferente das narrativas naturalistas de um André Takeda, por exemplo, a narrativa de Denny Yang encena essa negação, tanto em suas personagens quanto na sua estética. Não fica claro, ao final do texto, nem mesmo se New York vai conseguir sustentar alguma utopia, mas é melhor do que a atopia até então colocada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Crítica de Polígono das Secas, de Diogo Mainardi (kkk, não resisti)

Literatura de outdoor


Polígono das secas. Diogo Mainardi, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.



Tem escritor que escreve pensando em construir uma biografia: a sua. O livro é apenas um suporte de uma projeção pré-elaborada. Polígono das secas é sujeito e objeto desse tipo de arrivismo narcisista ou carreirismo disfarçado de anticarreirismo. Ou melhor: perda total da noção do ridículo, o conflito entre o capuz de preposto, enfant terrible e a frauda de enfant lord. São aspectos que resumem o desejo de ser maldito ou ser mal dito do outdoor. A idéia de forjar uma aureola de “maldição” em torno do autor está na base da concepção do livro: ser do contra pelo simples desejo de ser do contra. Este tipo de procedimento, questionável ou não, como forma de representação artística, não deixa de ser um recurso válido. Quando “cola”, dá dinheiro, prestígio — assim como, também, não deixa de ser uma atitude sofismável, comprometedora da idéia de ousadia estética. O que é lamentável em um país tão carente de novos influxos criativos na arte de escrever.

Polígono das secas é uma alegoria, uma narrativa des/contínua sem tempo e espaço definidos. Disposto em capítulos curtos como retalhos de um sertão sem carne e sem osso, celebra Untor, uma espécie de anti-herói sub-cibernético, um benzedor às avessas, escatológico. Maneta, um olho de vidro, manto preto, lenço vermelho, barba ruiva e um caldeirão de ferro para unções fatais, Untor é papangu com porte de nobreza de papafigo. Um simulacro subnutrido da leitura sertaneja de Glauber Rocha, em Deus e o Diabo na terra do sol e O dragão da maldade contra o santo guerreiro. Ou mesmo da metacrítica evocativa da prosa roseana do próprio Glauber, em Riverão Sussuarama, para ficarmos ao pé da letra.

Polígono das Secas é uma reportagem telegráfica baseada em fontes “bibliográficas” (como se orgulha o autor), mais fechada à imaginação, sobretudo do leitor. É um livro de autista para autista. O recurso da intervenção transita da tese à ausência de tesão, através de um discurso autoritário, tipo “Para fins dessa história, considera isso, proíbe isso, acha isso e aquilo”. É mal-humorado, porém carente de ironia. E isso é o maior castigo para o tamanho do balaio de pretensão do autor. Pela forma como reduz o argumento técnico da intervenção a um distanciamento físico e crítico, impossibilitando o leitor o diálogo e a cumplicidade, tem-se a impressão de que o apelo a esse recurso revela a carência de fôlego e a “mediocriativide” do autor.

A desvinculação da literatura da vida é outro imbróglio da empreitada de Diogo Mainardi, iconoclasta de segunda-mão. No meu sertão tribalizado, vale tudo, tudo vale. Não há uma mínima densidade humana. Há uma inquietante equivalência ética e moral entre os senhores e os servos de tal absurdo que o autor é incapaz de diferenciar os usineiros de Alagoas dos favelados que se alimentam de carne humana nos lixos hospitalares de Pernambuco.

Na pretensão a “pus-moderno”, o filho do sucedido publicitário paulista dirige sua meta/crítica (se há) rala ao culto da miséria, ao sadomasoquismo, á visão idílica e lírica do sertanejo em escritores com Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, e poetas como João Cabral de Mello Neto. Uma simplificação, o oposto da tese que o autor propunha sustentar no espaço da criação literária”. E mais: desvincular o fenômeno social da literatura brasileira sem a compreensão humana é um reles deboche. Colocado no plano da construção artística, Polígono das Secas, perto da operação (possível/impossível) fantástica da literatura de cordel, também é nada.

Nessas circunstâncias, não tão absurdas, imagine-se à luz da intolerância do crítico Derivaldo, digo, Diogo Mainardi. Qual seria a largura de sua sentença ou a extensão de sua pena, ante a excessiva arbitrariedade (derivada da ignorância profissional) com que opera os signos e símbolos nordestinos em seu Polígono das Secas ? Se o autor tivesse estendido o “focinho” em direção à complexidade de um Gilberto Freyre ou de um Josué de Castro, talvez aprendesse a escrever.

P.S.: Para fins explícitos ao leitor, o resenhista recomenda a leitura — sem ordem de grandeza — dos livros Ana de Veneza, de João Silvério Trevisan, Amor?, de Ivan Ângelo, O anjo do adeus, de Ignácio de Loyola Brandão. E recomenda àqueles possíveis leitores de PS que se sentirem lesados pelo pretenso romance à milanesa que procurem o PROCON de sua cidade.





Arnaldo Xavier