quinta-feira, 14 de maio de 2009

Crítica de Polígono das Secas, de Diogo Mainardi (kkk, não resisti)

Literatura de outdoor


Polígono das secas. Diogo Mainardi, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.



Tem escritor que escreve pensando em construir uma biografia: a sua. O livro é apenas um suporte de uma projeção pré-elaborada. Polígono das secas é sujeito e objeto desse tipo de arrivismo narcisista ou carreirismo disfarçado de anticarreirismo. Ou melhor: perda total da noção do ridículo, o conflito entre o capuz de preposto, enfant terrible e a frauda de enfant lord. São aspectos que resumem o desejo de ser maldito ou ser mal dito do outdoor. A idéia de forjar uma aureola de “maldição” em torno do autor está na base da concepção do livro: ser do contra pelo simples desejo de ser do contra. Este tipo de procedimento, questionável ou não, como forma de representação artística, não deixa de ser um recurso válido. Quando “cola”, dá dinheiro, prestígio — assim como, também, não deixa de ser uma atitude sofismável, comprometedora da idéia de ousadia estética. O que é lamentável em um país tão carente de novos influxos criativos na arte de escrever.

Polígono das secas é uma alegoria, uma narrativa des/contínua sem tempo e espaço definidos. Disposto em capítulos curtos como retalhos de um sertão sem carne e sem osso, celebra Untor, uma espécie de anti-herói sub-cibernético, um benzedor às avessas, escatológico. Maneta, um olho de vidro, manto preto, lenço vermelho, barba ruiva e um caldeirão de ferro para unções fatais, Untor é papangu com porte de nobreza de papafigo. Um simulacro subnutrido da leitura sertaneja de Glauber Rocha, em Deus e o Diabo na terra do sol e O dragão da maldade contra o santo guerreiro. Ou mesmo da metacrítica evocativa da prosa roseana do próprio Glauber, em Riverão Sussuarama, para ficarmos ao pé da letra.

Polígono das Secas é uma reportagem telegráfica baseada em fontes “bibliográficas” (como se orgulha o autor), mais fechada à imaginação, sobretudo do leitor. É um livro de autista para autista. O recurso da intervenção transita da tese à ausência de tesão, através de um discurso autoritário, tipo “Para fins dessa história, considera isso, proíbe isso, acha isso e aquilo”. É mal-humorado, porém carente de ironia. E isso é o maior castigo para o tamanho do balaio de pretensão do autor. Pela forma como reduz o argumento técnico da intervenção a um distanciamento físico e crítico, impossibilitando o leitor o diálogo e a cumplicidade, tem-se a impressão de que o apelo a esse recurso revela a carência de fôlego e a “mediocriativide” do autor.

A desvinculação da literatura da vida é outro imbróglio da empreitada de Diogo Mainardi, iconoclasta de segunda-mão. No meu sertão tribalizado, vale tudo, tudo vale. Não há uma mínima densidade humana. Há uma inquietante equivalência ética e moral entre os senhores e os servos de tal absurdo que o autor é incapaz de diferenciar os usineiros de Alagoas dos favelados que se alimentam de carne humana nos lixos hospitalares de Pernambuco.

Na pretensão a “pus-moderno”, o filho do sucedido publicitário paulista dirige sua meta/crítica (se há) rala ao culto da miséria, ao sadomasoquismo, á visão idílica e lírica do sertanejo em escritores com Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, e poetas como João Cabral de Mello Neto. Uma simplificação, o oposto da tese que o autor propunha sustentar no espaço da criação literária”. E mais: desvincular o fenômeno social da literatura brasileira sem a compreensão humana é um reles deboche. Colocado no plano da construção artística, Polígono das Secas, perto da operação (possível/impossível) fantástica da literatura de cordel, também é nada.

Nessas circunstâncias, não tão absurdas, imagine-se à luz da intolerância do crítico Derivaldo, digo, Diogo Mainardi. Qual seria a largura de sua sentença ou a extensão de sua pena, ante a excessiva arbitrariedade (derivada da ignorância profissional) com que opera os signos e símbolos nordestinos em seu Polígono das Secas ? Se o autor tivesse estendido o “focinho” em direção à complexidade de um Gilberto Freyre ou de um Josué de Castro, talvez aprendesse a escrever.

P.S.: Para fins explícitos ao leitor, o resenhista recomenda a leitura — sem ordem de grandeza — dos livros Ana de Veneza, de João Silvério Trevisan, Amor?, de Ivan Ângelo, O anjo do adeus, de Ignácio de Loyola Brandão. E recomenda àqueles possíveis leitores de PS que se sentirem lesados pelo pretenso romance à milanesa que procurem o PROCON de sua cidade.





Arnaldo Xavier

2 comentários:

jamesp. disse...

Lúcio,adorei!Esse livreco é tudo isso.Realmente"pus-moderno".Coisa de filhinho de papai com problema,e por aí vai.
Abração.

Anônimo disse...

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