AS 8 FACES DE ANDRÉ GOLEMSKY

Marcos Xavier

Não, não significa que o André seja um cara de 8 caras. Longe disso. Para quem não sabe ainda, André já viveu longos e longos anos. Ele hoje aparenta ter 30 e poucos anos, mas isso se deve a uma fórmula química que ele descobriu e tomou nos anos 1930, após muitos estudos e experiências. Dizem que hoje tem cerca de 120 anos. André foi integrante da Coluna Prestes de 1925 a 1927, viveu a longa ditadura de Getúlio, tendo sido um dos principais artífices da Intentona Comunista em 1935, ao lado de Luís Carlos Prestes. Dizem que ele ficava de olho na namorada russa de Prestes, mas tudo não passou de um maldoso boato. No início dos anos 1940, apaixonou-se por uma índia, e viveu com ela um longo romance. Nessa época, afastou-se da política e da sociedade e foi viver numa tribo em Mato Grosso. A fórmula química funcionava perfeitamente; não havia sinais de envelhecimento no seu corpo, com o passar dos anos. André só reapareceu na sociedade em 1950, expulso da tribo por não envelhecer. O fato de manter-se jovem e esbelto fez com que atraísse duas gerações de índias, o que não foi aceito pelos homens da tribo. E é exatamente em 1950 que temos a primeira foto de André sob os efeitos rejuvenescedores da fórmula:

Provavelmente já aos 60 anos, André permanecia perturbadoramente jovem. Reintegrou-se rapidamente aos movimentos políticos revolucionários ao se estabelecer no Rio de Janeiro e, creiam, ele conseguiu fazer com que todo o Brasil acreditasse no suicídio de Vargas, após matá-lo em 1954. Dizem as más línguas que foi vingança pelo fato de Getúlio ter entregue Olga Benário aos nazistas em 1936. Dois anos depois, André tira uma segunda fotografia, confirmando sua inalterável juventude:

A foto seguinte, de 1964, consta dos arquivos do exército:

Ela foi tirada antes que André acompanhasse João Goulart ao Rio Grande do Sul em março daquele ano, após o golpe militar.

Em 1968, André reaparece irreconhecível, como retrata a foto de sua identidade falsa como ativista do MR8:

Torturado após sua captura pelos militares, ele sobrevive, mas sofre um passageiro processo de demência, registrado por uma estranha foto de 1974:

Recuperado, ele retoma suas atividades políticas, dessa vez investindo em sua carreira universitária. Em 1980, ele já era um renomado professor do curso de ciências sociais da UFMG. Ele havia se mudado para Belo Horizonte, por questões familiares. É de 1980 a sexta foto de André, que provavelmente já aos 90 anos de idade permanecia incrivelmente jovem:

No final dos anos 1980, nosso herói se sente cansado da vida acadêmica e resolve montar uma banda de punk rock, em protesto contra a banalidade que tomava conta do mainstream musical da época. Seu visual não estava adequado ao punk rock, como se nota pela sua foto de 1990, mas, traumatizado por tantas perseguições em sua vida, André resolveu ser um punk disfarçado:

Pouco depois, ele inicia o curso de Filosofia da UFMG. Em 1995 ele integra um dos mais importantes movimentos literários de sua época, o Movimento Sarapateta. Confiante por estar ainda excepcionalmente jovem, André relaxa e começa a se entregar ao álcool, junto a seus colegas sarapatetas. Conta-se que várias orgias caracterizavam os encontros dos literatos. Foi então que André se surpreendeu ao perceber que contava com alguns quilos a mais, ao tirar uma foto em 1998:

Temeroso de que a obesidade poderia afetar os efeitos de sua fórmula rejuvenescedora, André consegue então emagrecer e tem hoje essa aparência que conhecemos, já não tão magro, é verdade, mas dentro do razoável. O segredo de sua juventude é mantido entre os membros da Cavalaria Pluriconsciente da Ordem Tentacular Ecumêmica. Hoje André se destaca como um dos mais fervorosos Guardiães do Arquivo de Documentos Perdidos e Verdades Esquecidas.

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