segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Poesias e Gerações e Outras Coisas

O livro de Johnny Batista Guimarães, Dentre Outras Coisas (lançado pela Editora Mulheres Emergentes), mistura prosa poética, frases e poemas. Ás vezes o poeta tenta expressar-se através da leveza do hai-kai; às vezes através de poemas caudalosos, aproximando-se bastante de seu padrinho involuntário (cujos textos abrem e fecham o livro): João Cabral de Melo Neto.

O livro tem resquícios do estilo de ser e de se expressar de vários outros autores, além de João Cabral, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e os concretistas se insinuam. Influentes, bem-sucedidos e fortemente presentes na mídia, estes artistas tendem a influenciar os mais novos. O que está faltando é uma revisão crítica do movimento tropicalista/concretista.

O dilema de Johnny é este, o de toda uma geração: encarar os "pais" ou "padrinhos" imaginários e encontrar sua identidade, sua voz própria, acreditando na palavra, num mundo onde mesmo a juventude privilegiada grunhe, emite sons ininteligíveis e não lê nem jornais, quanto mais poesia.

E Johnny se encontra em meio a este impasse. Apresenta preferência pelo verso curto (muito em voga a partir do livro Caprichos e Relaxos, de Paulo Leminski, que foi um best-seller da poesia dos anos 80) e pela utilização de várias formas (prosa poética, frase, poema sucinto) numa busca de expressão que melhor se adapta a seu estilo florescente.

Sua poesia está mais consistente e segura quando lida com o cotidiano com leveza, como em Penitência: "Maria, a lavadeira evangélica lá de casa,/Foi demitida por deixar uma torre de roupas sujas alcançar os céus". A observação poética do cotidiano, do quarto, da cidade e de sua própria vida é o forte da poesia de Johnny, como demonstra o poema Apelido: "Vão dos dedos dos pés parecem gaivotas/ Joelho, essa rocha esquisita/Cotovelo, esquina perigosa./Unhas, periferias esquecidas/Gansos, algumas veias/Eu pareço uma nuvem".

Lúcio Emílio é formado em Filosofia (artigo do Jornal Plenário, 1996).

2 comentários:

Maria José Speglich disse...

Conheço Bom Despacho.

Wilson Torres Nanini disse...

Um dos méritos desse excelente blog é o poder de propagação do que há de melhor nas artes atuais. Encontrando suas indicações, as acato de olhos fechados. Forte abraço!