sábado, 2 de abril de 2011

Blognovela Revista Cidade Sol: Episódio: "junta os papéis da tua peça que eu tenho um esquema no Ministério da Cultura"

(Anônimo e Francinny debatem os rumos da Companhia Milkshakespeare no palco em um ensaio aberto, transformando o próprio debate sobre a Lei Rouanet um ato da peça).

Francinny: Anônimo, será que isso vai dar certo?

Anônimo da Bilheteria: claro que vai, Francinny.

Francinny: Mas...não sei. Eu sempre disse que a Cia. Milkshakespeare é contra a tirania do estado. Sempre foi uma companhia libertária, anárquica. Receber dinheiro do estado, agora, na crise...

Anônimo da Bilheteria: Qualé, Francinny. Você sabe que quem escolhe é o mercado, não o estado.

Francinny: Mas quem paga é o contribuinte. Quem paga são professores miseráveis, trabalhadores da educação, pobres, miseráveis do Brasil.

Anônimo: Quem falou em Brasil? Menina, estamos em El Senor. Podemos continuar falando o que sempre falamos, que somos contra toda tirania do estado, governos, totalitarismos.

Francinny: Mas...e se alguém descobrir?

Anônimo (colocando as mãos na cintura): Escuta aqui, meu amor e revolução. Já cortamos vários atores no ajuste teatral. A coisa não pode continuar assim, senão você vai vender limão no sinal, fia. Não podemos montar Amleto com dois clowns e uma árvore seca, sacou?

Alguém da platéia: Eu já vi essa peça! É Esperando Godard.

Francinny: Sai fora, meu filho, que mané, nem me fala. Eu hein, engordar...(Volta-se para o Anônimo): Ah, não sei, fico me sentindo meio dividida, sabe.

Anônimo: Pois é, menina. Mas vê se te junta. E Junta os papéis da tua peça que eu tenho um esquema no Ministério da Cultura.

Francinny: Não tem clima, bicho. Vê o que fizeram com a Betânia agora, quase foi linchada.

Anônimo: É que Betânia e o Caetano não precisam da rede. Hoje eles são ricos. A única rede que eles precisam é a de deitar.

Francinny: Não conhece a rede e faz projeto para falar todo dia nela?

Alguém da platéia: Betânia vagabunda!

Anônimo: Não há nada além de moralismo udenista aqui!

Francinny: Não gosto de Reinaldo Azevedo, mas gosto de Jabor.

Anônimo: Jabor não rola, menina, ele não vai querer atuar na peça, o passe dele é alto.

Francinny: É preciso rever essa lei Rouanet. Com ela, medalhões ficam ganhando lucros fáceis. É que não existe política para a cultura, na prática, o mercado escolhe e o estado é quem paga, é contribuinte.

Anônimo: Gente, mas quem inventou esse negócio de ensaio aberto deveria ser um torturador astuto ou um coprófago. Fechem as cortinas que eu preciso falar com a diretora em particular, hein!

(Platéia sobe ao palco, joga tomates, grita).

Francinny (corre para recolher os tomates): Nooosa, pelo menos hoje a macarronada vai ter molho, geente!!! Obrigado, obrigado (Tenta fazer um leve gesto para agradecer, mas a chuva de tomates se adensa, o que obriga ela e Anônimo a saírem pela coxia).

Nenhum comentário: