terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nietzsche e suas composições de Maturidade (1864-1882)

Introdução

Nos últimos anos tem ficado mais conhecido do público o fato de que Friedrich Nietzsche, o filósofo, também compunha canções. Nesse artigo ficaremos conhecendo um pouco mais sobre elas.

2. Composições dos anos de maturidade

Vamos nos concentrar, por questão de brevidade, nas composições dos anos de maturidade. No ano de 1864, Nietzsche completou seus estudos em Schulpforta e começou seus estudos de Filologia e Teologia na Universidade de Bonn. Foi o seu mais produtivo ano em sua carreira de compositor, em se considerando a quantidade de composições completadas. Isso inclui a única peça para música de câmara que ele chegou a completar, uma fantasia para piano e violino, assim como um ciclo de canções. A partir de sua entrada na universidade, Nietzsche passa a ter menos interesse em expressar-se através da música.
Ele também reconheceu que, para poder ser bem sucedido em música, precisaria estudar profissionalmente, inclusive para ter melhor conhecimento da técnica do contraponto. Então, numa carta para mãe em fevereiro de 1865, Nietzsche declarou que preferia concentrar-se totalmente na filologia, decidindo-se a abandonar a composição pelo menos por algum tempo. Durante seus estudos em Bonn e Leipzig, realizou somente pequenos trabalhos corais, assim como deixou esboços de trabalhos maiores.
Embora Nietzsche tenha sido muitíssimo estimulado em sua carreira literária por Wagner, sua carreira musical não apresenta grande influência dele, mesmo depois de seu encontro com Cosima e com Wagner em novembro de 1868.
Somente entre 1871 e 1874 é que Nietzsche retomou a música por um período, já então estabelecido como professor em Basiléia. Ele fazia muitos duetos no piano com seu colega de universidade, o professor Franz Overbeck. Essa amizade fez com que Nietzsche compusesse peças para dueto no piano, assim como composições para orquestra nunca orquestradas. Nietzsche mandou a ele, como um presente, a composição Nachklang einer Sylversternnacht. Essa composição foi dedicada a um amigo de infância de Nietzsche, Gustav Krug; ela reflete o espírito alegre dos feriados de inverno. Anos depois, Nietzsche usou essa introdução como princípio de dois de seus trabalhos, Nachlang einer Sylvesternacht e Manfred Meditation.
Essa última, ao ser enviada para Hans Von Bullow, músico do círculo de Wagner, foi fortemente criticada e Nietzsche até afirmou que não escreveria mais música. Meses depois, no entanto, escreveu um dueto para piano, Monodie a Deux, e começou cedo depois de seu maior e último trabalho, Himnus auf die Freundschaft. Esse trabalho surgiu num tempo em que Nietzsche estava em processo de afastamento de Wagner e demonstra desejo de afastar-se totalmente de seu estilo. A composição surgiu entre abril de 1873 e abril de 1874. A versão final, depois de muitos estágios, é um hino em três partes. O hino foi composto sem letra, originalmente. Nas composições de Nietzsche, a música tem primazia sobre a letra, assim como as palavras se combinam com a música de forma a violar a natural fluência da dicção. Para esse Hino à Amizade, Nietzsche tentou anos escrever um texto, assim como convidou amigos a escreverem um texto para a música, mas sem sucesso. Ele finalmente encontrou um texto no poema Oração à Vida, de Lou Salomé, no verão de 1882. Com esse texto, ele transformou essa peça orquestral em uma canção para voz e piano. Seu amigo Peter Gast, em 1887, fez um arranjo para cordas e orquestra para essa composição (essa era originalmente a idéia de Nietzsche). Nietzsche enviou essa composição a Von Bullow, sem mencionar a ajuda de Peter Gast, comentando que no futuro ela seria cantada em sua memória, em memória de um filósofo que não tinha um presente nem queria ter um. Ele também esperava que essa canção fosse usada para que se entendesse melhor seu pensamento filosófico. O poema é o seguinte:

Oração à Vida
Tão certo quanto o amigo ama o amigo,
Também te amo, vida-enigma
Mesmo que em ti tenha exultado ou chorado,
mesmo que me tenhas dado prazer ou dor.

Eu te amo junto com teus pesares,
E mesmo que me devas destruir,
Desprender-me-ei de teus braços
Como o amigo se desprende do peito amigo.


Com toda força te abraço!
Deixa tuas chamas me inflamarem,
Deixa-me ainda no ardor da luta
Sondar mais fundo teu enigma.


Ser! Pensar milênios!
Fecha-me em teus braços:
Se já não tens felicidade a me dar
Vamos, ainda tens tua dor.


As composições de Nietzsche para orquestra não foram aqui estudadas. Fora Eine Sylvesternacht, da qual já tratamos acima, podemos tratar também de Nine Songs, Beschworung, Nachspiel, Standchen (Serenata, uma canção com texto de Sandor Petofi), Unendlich (Infinito), também um texto de Petofi; Verwelkt (Witted, de Petofi, também); Ungewitter (Tempestade), escrita a partir de um texto de Albert Von Chamisso (1781-1838). Outra é Gern und Gerner (Com Mais e Mais Prazer). Trata-se igualmente de uma canção com texto adaptado de Alberto Von Chamisso (1781-1838, poeta romântico e naturalista); Das Kind and die Erloschene Kerze (A Criança e o candelabro que se extingue), também uma adaptação desse último autor; Es Winkt und neigt sich (a autoria desse poema é desconhecida, sendo possivelmente de autoria de Nietzsche; não é possível que seja de Sandor Petofi); é curioso tratar de Petofi, pois é um poeta romântico húngaro (1823-1849) que é um ponto de convergência entre Nietzsche e Lukács. O crítico literário húngaro chamou Nietzsche de precursor de uma estética fascista em 1934, mas aparentemente também gostava de Petofi, uma vez que participou de um círculo nacionalista rebelde que o homenageava na Hungria, na época da contra-revolução de 1956. Felizmente, parece que no texto A Destruição da Razão Lukács reconheceu que Nietzsche é feliz em suas críticas de arte, passando a criticar determinadas passagens de sua obra que dão margem a uma interpretação a favor do imperialismo (ele falaria em decadência porque sentiria que o imperialismo é o capitalismo putrefato ou decadente, etc).
Prosseguindo no assunto da produção artística madura de Nietzsche, existem ainda as composições: Junge Fischerin (O Jovem Pescador), poema do próprio Nietzsche; Chore por aqueles (O Weint um sie), texto de Lord Byron, tirado de Melodias Hebraicas; Dias de Sol no Outono é um baseada num texto de Emanuel Geibel (1815-1884). Adeus, estou indo agora (Ade! Ich muss nun gehen), é para coro de vozes femininas. Outra é Fragment am sich, o Fragmento em si, peça para piano; Kirchengeschichtliches Responsorium (Responsório da História da Igreja); também peça para voz e piano. Monodie a Deux é um dueto para piano escrita em fevereiro como presente de casamento para Olga Herzen.

Um comentário:

Anônimo disse...

MUITO INTERESSANTE....ADOREI A FILOSOFIA E MÚSICA DE NEIETZSCHE