segunda-feira, 23 de abril de 2012

Da Crítica da Mercadoria à Mercadoria da Crítica

A polêmica Martinha X Lucrécia continua no outro capítulo da novela, digo, da Folha. Os dois velhinhos hora dessas vão partir para as bengaladas. Schwarz, crítico do fetichismo da mercadoria, debate na mídia sempre a propósito de vender coisas e, agora, lustrar o gume da Ilustríssima, tirando-a da irrelevância. Caetano há muito exerce seu lado vendilhão, aproveitando-se do papo rípi para vender disco.

Agora Schwarz responde dizendo que Caetano mencionou a esquerda tapada (eu?) como forma de não comentar o livro que ele está vendendo. 

Caetano deveria argumentar que a Escola de Frankfurt, dirigida agora pelo Axel Honneth, como se pode ler num artigo aqui nesse blog (o artigo se chama Instituto de Pesquisa Bob Dylan) agora, como uma tiete, atira-se aos pés do Bob Dylan, de olho na grana do patrão norte-americano, fazendo todo um livro sobre o que Gilberto Vasconcellos chamaria de "compositor popular Superxéu", encontrando conteúdo filosófico profundo nas canções de Bob Dylan como "Blowin´ in the Wind".

Xuárts assumiu uma posição mais cautelosa. Mas tudo nessa polêmica é requentado. Volta à baila até o conceito de ideias fora do lugar, o maior blefe da USP desde que eles deram bomba no Oswald de Andrade lá nos anos 50. Há muito Maria Sylvia Carvalho Franco e outros observaram que, desde os tempos da colônia, existiam homens livres e, portanto, as ideias liberais estavam no lugar, sim. E que a dicotomia ideias no lugar na Europa x ideias sem lugar no Brasil supõe que existe um lugar dono das ideias.  Na verdade, Schwarz com isso quer reclamar para si um lugar equilibrado, de centro, nem nacionalista curupira-caipira como José Ramos Tinhorão, Glauber Rocha e Ariano Suassuna nem papagaio/sabujo de Roland Barthes (como Silviano Santigo e Haroldo de Campos). Está é servindo de ideólogo da nova direita do PT, com Xyko-Calabar e Ana de Holanda comandando a restauração dos direitos autorais no MINC.

Mas, como um vovô que insiste nos velhos causos, Bob Preto continua vendendo esse feijão velho requentado. O mais repugnante é que a paternidade do argumento é litigiosa e atribuída ao garanhão Fernando Henrique Cardoso, que o teria concebido no ambiente promíscuo do seminário oportuno-kruchevista do Capital na USP. Eca! Que porcaria!

Caê, limitado intelectualmente, não consegue entender que Schwarz não é adepto de uma variante marxista-leninista maoísta, stalinista ou coreana juche, é euro-trotsko-marxiano. Isso é como confundir um punk com um emo!

Curiosamente, Schwarz esconde suas pretensões na entrevista. Ele quer mesmo é enfiar a teoria das ideias fora do lugar na análise da tropicália, impingindo que as ideias estiveram fora do lugar (sic) no Brasil dos anos 60, uma vez que a tropicália foi a expressão de ideias libertárias em plena ditadura militar. Ele agora é cordial, mas nos anos 60 a dúvida dele era se o pessoal da tropicália tinha se vendido de forma crítica ou acrítica.

O fato é que, no atual estado de coisas, ninguém chega a escritor conhecido sem fazer jogadas políticas. E a crítica literária está falida ou extinta, queima como um fogo fátuo: a crítica acadêmica é elogiosa ou puxa-saquística, dedicando-se a autores consagrados, enquanto a crítica de jornal é publicidade disfarçada para vender coisas. Nessa catástrofe geral, Peri não vai salvar Ceci como no dilúvio final de O Guarani.




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