Anos atrás, desiludido com o PT, eu conversava com um conhecido que tinha se passado para o PSB, então o partido dos petistas banidos. Meu conhecido estava no PSB e tentou me convencer a ir lá, me passando inclusive um livro de um dos téoricos do PSB na época, intitulado Bye, Bye, PT.
Estou surpreso, agora, por estar reencontrando, por no texto Aos Trotsquistas, o arrogante teórico Gilvan Rocha, que postula a tese mirabolante de que o trotsquismo é um stalinismo. Ele chega a desafiar, com sua tese, o hiper-trotsquista Álvaro Bianchi.
Gilvan, por trás de todas as suas falas existe uma oscilação interessante: o antileninismo. Você, na verdade, se opõe a Lênin, não simplesmente a Trotsky ou Stálin. Quando você contesta o partido de vanguarda, o centralismo democrático, os expurgos, você contesta o leninismo, embora não queria assumir, pois não é uma posição charmosa e você, no seu charlatanismo psolista, antes pesebista, é antileninista. Mas você vai mais além. Você aceita qualquer besteira anticomunista sobre Coreia do Norte, Cuba, sobre a União Soviética. Você é, em parte, um anticomunista. Você não argumentou e respondeu ao Álvaro Bianchi. Falta a você frequentar os livros.
Masa verdade sobre Trotsky é a seguinte: ele era um menchevique. Ele criticou Lenin durante anos, fazendo esses mesmos ataques que você ou ainda mais baixos. Chamou Lenin de ditador. Depois, aliou-se ao partido bolchevique e parecia ter mudado de ideia. Desempenhou um papel de valor na revolução russa, mas como tantos outros, não foi o gênio que ele mesmo celebra. No entanto, cheio de vaidade, voltou com o fracionismo de novo, reeditou seus velhos livros, pautou a revolução permanente, ou seja, as aventuras militaristas na Europa, dentro do partido. Puro bonapartismo. Quis suceder Lênin, mas a velha guarda bolchevique, que não gostava dele e de seu falso bolchevismo (notada por Lênin em famosa carta ao congresso), o derrotou em eleições para cargos importantes. Lenin também deixou claro que julgava Trotsky um burocrata. Derrotado, insistiu e rompeu o centralismo. Ao radicalizar, foi enquadrado e banido para o Casaquistão. Ao ousar mais ainda, foi novamente enquadrado na lei e exilado. Exilado, acochambrou a teoria da revolução permanente ao que lhe tinha acontecido: a revolução degenerou, foi traída politicamente A partir daí, passou a falar tudo o que dizia contra Lenin de Stalin --e muito mais: chamou de burocrata, ditador, acusou de envenenar Lênin, chamou de Rei Sol, comparou com Hitler, enfim, deu todos os argumentos para a burguesia e muito mais. A imprensa burguesa deliciou-se com Trotsky e mesmo as universidades se abriram para eles a partir do final dos anos 50.
Antes, porém, nos anos 30, nos últimos anos que viveu, Trotsky chegou ao extremo da traição ao estimular o que restava de seu grupo na União Soviética colaborar secretamente com os nazistas e os japoneses, como prova em artigo extensamente argumentado o professor Grover Furr.
Não tenho interesse em ler o livro O Homem que Amava os Cachorros, de Alejandro Padura, amigo de Yoani Sánchez, editado no Brasil pela Boitempo. Literatura trotsquista é sempre altamente vendável, como observou George Orwell sobre a biografia de Stalin por Trotsky. Pelo que li, é um olhar que simplesmente suprime o Jacson Monard histórico, sobrepondo-o à figura do tal agente stalinista Ramon Mercader.
No debate brasileiro sobre o Homem que Amava os Cachorros, de Alejandro Padura, noto a desfaçatez de Oswald Coggiola ao comentar o filme de Losey, datado de 72, onde a trotsquista Silvia Orthof seria representada como "feia". O debate conta com Alvaro Bianchi, Breno Altman, Frei Beto e outros luminares, mas mesmo assim, com exceção de Altman, que é cognominado último stalinista pelo hiper-ultra-trotquista Alvaro Bianchi, mostrando como os trotskos gostam de desconhecer a realidade. Altman, felizmente, cita o Domenico Losurdo, ou seja, o texto Stalin, uma Lenda Negra. Altman se destaca positivamente, dando um respiro de otimismo, enquanto os demais chafurdam e demonstram repugnante corporativismo trotsquista. Beto pensa que Trotsky é um herege queimado na fogueira como Giordano Bruno.
Nesse contexto, é nojento ver como a maioria dos trabalhos acadêmicos apenas regurgita clichês trotsquistas e da Guerra Fria, misturados a textos infestados por clichês anticomunistas, portanto ruins no nascedouro, os indefectíveis e quase obrigatórios Hobsbawn, Hannah Arendt e outros.
O papel mais feio é o de Coggiola, que parece que sente a morte de seu guru nesse episódio e ataca gratuitamente a imagem de Orthof no filme. No entanto, Padura, acenando para um stalinismo em Cuba que provavelmente nunca existiu, escreve esse romance que, pelo que li a respeito, pelo visto não dá voz a Jacson Monard, que negou terminantemente ser um agente de Stálin e que foi torturado pela polícia mexicana. Monard sempre afirmou que matou por ter se desiludido com Trotsky. Este o proibiu de casar-se com Silvia e sugeriu que fosse aplicar atentados e sabotagem na União Soviética. Horrorizado ao notar que o que se dizia sobre o guru era verdade, contrariado em sua paixão pela trotsquista, Monard decidiu matá-lo. Foi, segundo sua versão, em boa parte um crime passional.
O filme de Losey não mostra esses argumentos e é bastante parcial desde o início. No momento em que o filme deveria mostrar esses argumentos, ou seja, a versão de Monard dos acontecimentos, ele mostra a personagem de Silvia Orthof gritando: "MENTIRA! MENTIRA!"
O que se sabe, pelo general Sudoplatov, é que de fato existiu uma ação antitrotsquista dos comunistas no México. Ele não diz que Monard estava associado a essas ações, mas Sudoplatov, escrevendo muitos anos depois do fim da União Soviética, estava ainda convicto da culpa de Trotsky, que estaria colaborando com os nazis e japoneses, fato nunca mencionado.
Antes, porém, nos anos 30, nos últimos anos que viveu, Trotsky chegou ao extremo da traição ao estimular o que restava de seu grupo na União Soviética colaborar secretamente com os nazistas e os japoneses, como prova em artigo extensamente argumentado o professor Grover Furr.
Não tenho interesse em ler o livro O Homem que Amava os Cachorros, de Alejandro Padura, amigo de Yoani Sánchez, editado no Brasil pela Boitempo. Literatura trotsquista é sempre altamente vendável, como observou George Orwell sobre a biografia de Stalin por Trotsky. Pelo que li, é um olhar que simplesmente suprime o Jacson Monard histórico, sobrepondo-o à figura do tal agente stalinista Ramon Mercader.
No debate brasileiro sobre o Homem que Amava os Cachorros, de Alejandro Padura, noto a desfaçatez de Oswald Coggiola ao comentar o filme de Losey, datado de 72, onde a trotsquista Silvia Orthof seria representada como "feia". O debate conta com Alvaro Bianchi, Breno Altman, Frei Beto e outros luminares, mas mesmo assim, com exceção de Altman, que é cognominado último stalinista pelo hiper-ultra-trotquista Alvaro Bianchi, mostrando como os trotskos gostam de desconhecer a realidade. Altman, felizmente, cita o Domenico Losurdo, ou seja, o texto Stalin, uma Lenda Negra. Altman se destaca positivamente, dando um respiro de otimismo, enquanto os demais chafurdam e demonstram repugnante corporativismo trotsquista. Beto pensa que Trotsky é um herege queimado na fogueira como Giordano Bruno.
Nesse contexto, é nojento ver como a maioria dos trabalhos acadêmicos apenas regurgita clichês trotsquistas e da Guerra Fria, misturados a textos infestados por clichês anticomunistas, portanto ruins no nascedouro, os indefectíveis e quase obrigatórios Hobsbawn, Hannah Arendt e outros.
O papel mais feio é o de Coggiola, que parece que sente a morte de seu guru nesse episódio e ataca gratuitamente a imagem de Orthof no filme. No entanto, Padura, acenando para um stalinismo em Cuba que provavelmente nunca existiu, escreve esse romance que, pelo que li a respeito, pelo visto não dá voz a Jacson Monard, que negou terminantemente ser um agente de Stálin e que foi torturado pela polícia mexicana. Monard sempre afirmou que matou por ter se desiludido com Trotsky. Este o proibiu de casar-se com Silvia e sugeriu que fosse aplicar atentados e sabotagem na União Soviética. Horrorizado ao notar que o que se dizia sobre o guru era verdade, contrariado em sua paixão pela trotsquista, Monard decidiu matá-lo. Foi, segundo sua versão, em boa parte um crime passional.
O filme de Losey não mostra esses argumentos e é bastante parcial desde o início. No momento em que o filme deveria mostrar esses argumentos, ou seja, a versão de Monard dos acontecimentos, ele mostra a personagem de Silvia Orthof gritando: "MENTIRA! MENTIRA!"
O que se sabe, pelo general Sudoplatov, é que de fato existiu uma ação antitrotsquista dos comunistas no México. Ele não diz que Monard estava associado a essas ações, mas Sudoplatov, escrevendo muitos anos depois do fim da União Soviética, estava ainda convicto da culpa de Trotsky, que estaria colaborando com os nazis e japoneses, fato nunca mencionado.
Aliás, Trotsky era assim: quando estava em maioria, aceitava o centralismo e buscava calar os adversários. Quando estava em minoria, gritava por liberdade. Suponho que você também deva comportar-se assim, pois os partidos como PSOL, anticentralistas, em geral fazem isso.
Felizmente, com os equívocos do PSOL e do PSTU para analisar o golpe que instalou um regime nazista na Ucrânia, finalmente fica evidente o papel do trotsquismo como instrumento vulgar do imperialismo. Oxalá que superemos essa teoria errônea para sempre. Gilvan, você e essa pelegada maluca vão levar picareta é da realidade, não de um agente que vai sair das sombras ou de alguma nebulosa.
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