sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

André Glucksmann e a Esquerda Proletária

Nascido em 1937, morto em novembro de 2015, com pouca ou nenhuma repercussão na mídia brasileira, o filósofo André Glucksmann ficou famoso por passar do maoísmo à direita francesa. Em 1976, juntamente com o ex-secretário de Sartre(Victor para a GP,  o hoje místico judaico Benny Levy), compôs um grupo que se intitulou os "Novos Filósofos".


O grupo maoísta do qual Glucksmann participou na juventude, a Esquerda Proletária (Gauche Proletarienne), foi fundada em 1968 em pleno maio de 68 e era muito marcada pela divisão, existente na época, entre os mao-espontaneístas e os mao-stalinistas, em francês, mao-spontex e mao-stals.  Glucksmann era da linha espontaneísta, que interpretava Mao quase como um anarquista.


A Esquerda Proletária não praticava a luta armada como o grupo de Baader-Meinhof, mas atinha-se a gestos simbólicos: ocupavam uma estação de trem e distribuíam passagens gratuitas, pichavam bancos com mensagens pró-Palestina e pilhavam lugares chiques, distribuindo entre os pobres o resultado.


Não por acaso, o rock francês também tinha canções ligados a esse grupo, tido como "jovem guarda vermelha" em referência à jovem guarda chinesa. A canção Os Novos Partisans ilustra a ligação, hoje inusitada, entre os maoístas e o rock francês.


A canção ilustra a análise que os maoístas fizeram de Maio de 68 como parte da revolução socialista francesa: eles falavam em "tradição de maio". A situação seria semelhante à da resistência francesa contra os nazistas. Eles seriam os novos resistentes (partisans).


A Esquerda Proletária teve, em seu auge entre 1968-71, a simpatia de Althusser, Sartre e Foucault e vários outros filósofos interessados: Simone de Beauvoir, Deleuze, etc.


O atentado de Munique em 1972 foi um elemento dissolvente para a GP. A GP não fazia atentados buscando tirar vidas humanas. A partir daí, podemos supor que Victor (Bernard Henri-Levy, que debate com Foucault no livro Microfísica do Poder), Glucksmann e outros de origem judaica condenaram a morte dos atletas judeus, enquanto os pró-palestinos apoiaram o atentado. 


Dos anos 70 em diante, Glucksmann e Levy passaram mais em mais a posições de direita e de apoio a Israel e aos USA e suas intervenções e guerras no exterior. Criaram um grupo chamado Novos Filósofos em 1976 e passaram a acusar os ex-camaradas de "totalitários", associando nazismo e comunismo. Em resposta, Deleuze apontou que o grupo promovia fusão promíscua entre jornalismo e filosofia, degradando o filósofo ao papel do jornalista.


A Esquerda Proletária foi um grupo pioneiro por ser dividido em outras frentes de lutas específicas, tais como um grupo pró-palestino e um grupo pró-homossexual, etc. André Glucksmann em seu texto Novo fascismo, Nova Democracia que saiu na revista Tempos Modernos em maio de 1972, apresenta uma teorização ainda muito atual no Brasil, pois teorizava que o fascismo não é um movimento que toma de assalto o estado, mas que vem de dentro do próprio estado: “O Sr. Marcelin [um Eduardo Cunha da época] não tomou de assalto seu próprio escritório. Fascismo hoje já não significa tomar o Ministério do Interior por grupos de extrema direita, mas que a França é tomada a partir do Ministério do Interior [entregue a pessoas de extrema-direita]. O novo fascismo repousa, como nunca antes, sobre a mobilização bélica do aparelho de Estado, ele recruta menos excluídos do sistema imperialista do que camadas intermediárias autoritárias e produzidas pelo sistema (...). A peculiaridade do novo fascismo é que ele não pode realizar diretamente um movimento de massas (...). Agora é o próprio fascismo que é o trabalho do aparelho de Estado. São a polícia, justiça, informações do monopólio, burocracias autoritárias que, uma vez assegurados os alicerces da revolução fascista, tem agora de conquistar os postos avançados”.

3 comentários:

Paulo Falcão disse...

Interessante o artigo. Funciona como um concentrado de referências e informações a serem pesquisadas e desdobradas pelo leitor. Gostei.

Revistacidadesol disse...

Foi muito impressionante a transformação de Bernard-Henri Levy, de estudante maoísta a filósofo, escritor e cineasta conservador e herdeiro de uma grande empresa.

Revistacidadesol disse...

E sim, essas informações não estavam disponíveis em português.