terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Entrevista com Laerte Braga (31/10/2003)

Passando em Revista: Blitz Com Laerte Braga 
Lúcio Jr. (31/10/2003)


1. Lúcio: Gostaria que você contasse um pouco aquelas suas histórias. Seu pai era do partido republicano? 


Laerte: Meu pai era jornalista, tinha duas paixões na vida, Botafogo e PR. Partido republicano. Com a revolução de 30 isso aí começou a aparecer. Você tinha partido republicano paulista, tinha o paulista. Primeiro porque os partidos ficaram nacionais, e também porque o Vargas era um regime ditatorial. Não existia uma normalidade constitucional; de 1930 a 1934 foi um governo provisório. De 1934 a 1938 ele ocuparia o cargo e passaria adiante. Os candidatos, que eu saiba, eram Armando Salles e José Américo. 

Lúcio: Eu penso que em 1937 o Plínio Salgado também estaria concorrendo com a AIB. 

Laerte: Em 1937 ele deu o golpe. Ele ia ter que sair em 1938 mas antes deu o golpe. A desculpa para o golpe foi um tal de Plano Cohen, elaborado por um capitão chamado Olímpio Mourão Filho, um integralista. Em 1964, Mourão Filho foi um dos líderes do golpe militar. Foi um negócio como esse aí do Tony Blair, que junto com o serviço secreto inglês montou documentos para falar que o Iraque tinha armas químicas. Mourão Filho era ligado ao Juscelino, porque era de Diamantina. 

Lúcio: Ele usou essa carta várias vezes....Já em 1964 como general. 

Laerte: Mas, como ia dizendo, eu pai era jornalista, tinha paixão pelo Botafogo, foi amigo do João Havelange, foi dirigente do Botafogo e de alguns clubes aqui em Juiz de Fora. 

Lúcio: Acompanhava times do Rio e não de Minas (risos). 

Laerte: Até a UNESCO deu a ele o troféu Fairplay, pouco antes dele morrer. O melhor futebol de Minas era praticamente Juiz de Fora. Isso até a década de 70. Tinha um grupo chamado Guarani, de Conselheiro Lafaiete, que disputava campeonato aqui em Juiz de Fora e não em Belo Horizonte. O campeonato de Juiz de Fora era mais lucrativo do que o de Belo Horizonte [...]. 

Lúcio: Ele se dedicou mais ao futebol do que a política? 
Laerte: Ele gostava do Partido Republicano. O PR tinha uma vertente que se aliava ao PSD e outra à UDN. A vertente do papai se ligava ao PSD. Ele votou no Juscelino, no Jango, no Marechal Lott. Meu pai era, eu não diria de direita, mas era um conservador. 

Lúcio: O Getúlio foi assim um divisor de águas... 

Laerte: O PSD era um partido de gente com jogo de cintura. Um exemplo que dou seria um entrevista que deu o boçal do Eliseu Resende, dizendo que o Tancredo era velho demais. Aí o Tancredo disse que Nero tinha trinta e três anos quando pôs fogo em Roma. Muita gente defendeu o Tancredo, e inclusive o Cícero Sandroni fez um artigo dizendo que o PSD em Minas era a própria mineiridade. 

Lúcio: Eles eram as chamadas raposas. 

Laerte: Tancredo foi o único a não apoiar o Castelo em 1964. Ele tinha sido primeiro-ministro do governo anterior e não votou. Mesmo Ulisses Guimarães, Juscelino, todos votaram a favor. 

Lúcio: Tem gente que acha que o PSDB é aquele antigo PSD mais o B, mas eu acho que é sem o B. O que pensa, eles são social-democratas ou liberais? 

Laerte: O PSDB é um partido rançoso, udenista. O Aécio Neves é só o neto de Tancredo, se não fosse isso, não seria nem um síndico. São oligarquias: o Aécio Neves é filho do Tancredo Neves, o Renato Azeredo é o pai do Aécio. 

Lúcio: Fale para mim da sua relação com o jornalista e sambista Antônio Maria. 

Laerte: Quando eu fui para o Rio de Janeiro trabalhar em jornal. Meu trabalhava nos Diários Associados. Meu pai era amigo de Ary Barroso. Ele viveu algum tempo no Rio. Os mineiros iam muito para o Rio nessa época. Até hoje vão. Nosso governador Aécio Neves, na verdade, mora em Búzios. Como ia dizendo, a TV era incipiente naquela época. Eu acompanhava o Antônio Maria, meu pai me apresentou. Eu trabalhava em O Jornal, um grande jornal. 

Lúcio: O Antônio Maria era um sambista? 

Laerte: Ele era um poeta, um compositor. Ele escreveu Canção do Amor, é letra dele e música do Bonfá, muitos chamam de Manhã de Carnaval. 

Lúcio: Acho que entrou no filme Orfeu, aquele do Marcel Camus. Eu infelizmente nunca vi. 

Laerte: Esse filme foi uma produção franco-brasileira, e que ganhou o festival de Cannes. Não uma produção totalmente brasileira. 

Lúcio: Muita gente comenta esse filme até hoje. 

Laerte: Um detalhe interessante. Quem dava os pulos naquele filme, o filme tem uma cena de pulos para a favela, era o Ademar Ferreira da Silva, campeão mundial do salto tríplice. E quem fez o papel principal foi um centro-avante chamado Breno, jogador do Fluminense, reserva do Valdo, que depois foi vendido para o Atlético de Madrid. O primeiro Orfeu foi melhor que o segundo. Depois também o Pagador de Promessas também ganhou um prêmio lá em Cannes. 

Laerte: Mudando de assunto: Eu discuto muito o progresso. Só é progresso aquilo que faz bem à maioria. 

Lúcio: Eu queria falar sobre o Lula. Ele veio para reformar e foi reformado. Ele veio para mudar, mas ele é que mudou. O PT apareceu como uma nova alternativa de um socialismo, sempre dizendo batendo na tecla de que “o socialismo é com liberdade”. Ao mesmo tempo era ruptura. Ele se colocou como coisa nova. 

Laerte: Ele se rendeu. Vou procurar a frase do Millôr Fernandes, que define bem o Lula. 

Lúcio: Está difícil? 

Laerte: Millor diz que admira quem chega ao capitalismo pela esquerda. Para ele é o máximo da habilidade política. O governo Lula não quer fazer uma virada, fazer uma reforma agrária, acabar com as estruturas arcaicas. Ele e essa cúpula não querem fazer isso. Dizem que não há como impedir que plantem transgênicos no País. O que há é a apropriação de uma bandeira de luta popular por uma cúpula. Eles deviam fazer uma mudança como fez o Chávez. A empresa do Furlan é uma das maiores exportadoras de transgênicos. E, por outro lado, os latifundiários reagem, fazem o que querem, baseados em juízes corruptos. 

Lúcio: Eles estão encastelados no poder. 

Laerte: A tunga que vai se fazer com a Reforma da Previdência vai beneficiar fundos de pensão norte-americanos. É o desmanche dos serviço público em benefício desses fundos e de bancos norte-americanos, e isso junto com seus sócios. 

Lúcio: Eles querem o filé aqui, né? 

Laerte: O governo Lula é o que o César Benjamin disse: Ele dá o filé para a direita e os adereços para a esquerda. Eu vou encerrar dizendo assim: O governo Lula é uma falácia. 




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