Dois anos depois, o discurso de Luiz Ruffato em Frankfurt ainda repercute: Marcus Vinícius de Freitas, professor da UFMG, sentiu-se na obrigação de rebatê-lo no Suplemento Literário de Minas Gerais.
Marcus Vinícius começou o artigo falando sobre Paulo Coelho. Coelho não é um assunto literário e sim sociológico. Ele diz que Coelho comunica. Comunica o quê, mesmo?
O que mais me incomoda na posição de Freitas é essa posição estilo "o que vão pensar de nós". Ora, se um brasileiro diz a um alemão que existiu um holocausto indígena e negro a um alemão, isso é comunicar. Não é "falar mal do país no exterior", "falta de espessura histórica" ou "orgulho nacional às avessas" e muito menos "reclamar uma diferença absoluta".
O texto de Ruffato é o que ele sempre disse, é um protocolo de leitura de sua obra. Marcus mostra entender isso ao dizer que "se o Brasil melhorar, sua literatura está morta". A questão é bem essa: o Brasil muda pouco. Graciliano foi à URSS e sentiu-se anacrônico diante da sociedade nova, pensando nos famintos do Nordeste. No entanto, a URSS acabou e ainda existe fome no Nordeste, como mostrou recentemente uma reportagem no Piauí.
A parte que trata da antropofagia, a meu ver, foi a mais infeliz do artigo de Marcus Vinícius. Oswald diria que estamos muito mal na atualidade, ao misturar a malandragem brasileira ao neoliberalismo de Thatcher e Reagan. Ao mesmo tempo em que validamos Mises e Hayek em linhas de pesquisa na universidade, buscamos patrocínio para nossas famílias com a lei Roaunet e a Petrobrás.
Sempre quando alguém quer detonar a antropofagia, ele remete ao canibalismo puro e simples, sem lembrar que antropofagia é antes de mais nada uma bela intuição de um grande poeta. E é comunicabilidade: é ver o si mesmo no outro o gesto que está no coração dessa metáfora.
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