Um delírio ao qual nós já estamos acostumados aqui nesse blog penetrália e revista cidade sol. Aliás: a primeira vez que ele viralizou, foi partir do meu antigo blog .
Nos dias que correm, nunca vi um fenômeno como esse. A própria presidenta Dilma começou a falar em golpe, como se fosse uma militante política comum.
A esquerda, em peso, dedica-se a defender Lula, dando-lhe carta branca, a ele e ao partido, apesar da corrupção.
A manifestação do dia 15 de março foi contra a corrupção independente do partido, enquanto a do dia 18 foi a favor do partido, independente de corrupção.
Até agora, que eu saiba, somente a tendência CST do PSOL, o MNN, o MEPR, o PSTU, as Brigadas Populares e algumas poucas vozes isoladas como a de Luciano Andrade ergueram-se contra a falácia de que existe um golpe em curso no país. Li também um artigo excelente chamado A Falácia do Golpe ou o Golpe da Falácia. Fora isso, a esquerda em peso apoiou um discurso delirante, odioso, um discurso que incita a violência entre torcidas e que precisa ser combatido sem quartel. O MNN define muito bem a pequena burguesia que apoia o PT:
A única explicação, nos parece, é a seguinte: não só a burocracia vê suas condições de vida como vinculadas ao PT, mas também um setor social mais amplo, não diretamente dependente do Estado, formado por pessoas que construíram suas vidas, carreiras, reconhecimento e prestígio nas últimas décadas de estabilidade política e econômica. Queira-se ou não, tenha-se consciência disso ou não, tais décadas foram estáveis graças ao papel conciliador e traidor do PT na luta de classes brasileira. No seio da estabilidade proporcionada pelo PT à ordem do capital floresceu a pequena-burguesia brasileira, um segmento social pequeno mas não desprezível, pouco estável política e economicamente (pois localizado entre a burguesia e operariado, daí suas oscilações, histeria e confusão).
A pequena-burguesia é formada de proletários melhor remunerados (profissionais liberais, autônomos), pequenos empresários ou pessoas que vivem de renda. Dada a sua condição objetiva — de pessoas não centralizadas pelo processo produtivo, não forçadas a pensar em si mesmas como parte de uma categoria produtiva —, seus membros se veem em geral como autônomos e livres. Essa característica, o particularismo, ela compartilha com a burguesia, o que a torna propriamente a pequena-burguesia.
Assim como o “Lulinha”, a pequena-burguesia é adepta do “paz e amor”, ou seja, da conciliação de classes (justamente por estar entre as duas grandes classes sociais). O que ela mais odeia é a luta de classes, pois acentua sua instabilidade e põe em risco seus projetos pessoais e planos pré-estabelecidos. Ela gostaria que o mundo dos conflitos parasse, para que pudesse seguir em paz em suas pesquisas, suas descobertas e inovações técnicas ou artísticas, em suas salinhas, escritórios, laboratórios ou ateliês. Sua teoria social é uma colcha de retalhos de vários sistemas de pensamento: se nutre do marxismo, da dialética e de tradições revolucionárias do proletariado, mas também do idealismo burguês e da lógica formal. Esse ecletismo — que ela sempre pensa dar base a um novo sistema ou “anti-sistema” científico — expressa-se politicamente ou no utopismo ou no reformismo. Marx e Engels (nas críticas a Proudhon ou a Bakunin, na Crítica ao Programa de Gotha, nas cartas-circulares a Bebel, Liebknecht e Bracke e em vários outros textos) mostraram como esse tipo de teoria corresponde exatamente a esse setor social.
O PT representa e sempre representou essa visão de mundo reformista e pequeno-burguesa. Ele, por si (ou seja, apesar dos sindicatos), nunca foi um partido operário, com programa operário, mas majoritariamente pequeno-burguês e com programa pequeno-burguês. Como todo bom partido reformista e pequeno-burguês, sua função é tirar a centralidade do que é central; apagar a contradição fundamental existente na sociedade capitalista — a extração de mais-valia dos operários pelos capitalistas — e sobrevalorizar o que não deve ser sobrevalorizado. A fórmula é sempre a mesma: o problema central é abstraído em nome de problemas secundários. É como se a questão da mais-valia, o surgimento do capital, já estivesse resolvida e coubesse então reformar as condições de vida, ampliar direitos, melhorar aspectos sócio-culturais, acabar com opressões e o discurso de ódio, o “fascismo” do regime democrático-burguês, a alienação da população pela mídia, a crise na “pedagogia”, e tantos outros inimigos (dezenas ou centenas!) que ela descobre cotidianamente nas “teorias” que ela produz prolixamente.
Muitos, muitos mesmo, estão caindo no conto do operário Lula, no golpe do operário, como dizia Brizola.
Justiça seja feita, Heloisa Helena definiu muito bem: "quem estiver podre, que caia"! A consequência do discurso "não vai ter golpe" é a intolerância, como vimos na PUC de SP, quando os alunos contra o suposto golpe buscaram impedir um ato em favor do impiximã e foram impedidos disso pela PM de Alckmin. O discurso contra o golpe estimula a violência, pois a violência é viável nesse caso, uma vez que o outro quer restringir minha liberdade, ou seja, fazer violência contra mim.
Ou seja: vamos combater o discurso de "não vai ter golpe", pois é apenas mais um discurso de ódio oportunista e petista ao estilo de Marilena Chauí.
2 comentários:
Endosso 100% esta postura crítica contra a impostura de quem defende o indefensável. E terminar citando Marilena Chauí e sua ética relativa foi perfeito.
Oi, Paulo. Eu não sou contra a carreira de Chauí ou contra o amigo que publicou o artigo; sou apenas contra o discurso do golpe.
Para mim, há uma direita liberal que quer acelerar o ajuste fiscal, sim. E o PT não pode acelerar esse ajuste agora sem perder sua base social. Mas o horizonte tanto do psdb e de todos do é o ajuste fiscal.
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