Em debate com meu amigo Rafael Freitas, diferenciei esses três assim:
1) O marxista seria o marxista-leninista, o "ortodoxo". Seria o que acredita no projeto político de Marx, participa de algum partido ao estilo marxista-leninista, o marxista "gnoseológico". Um exemplo: Althusser, que foi do PCF até o fim da vida. Na atualidade, a vertente mais avançada do marxismo é o maoismo de Mao e de Abimael Guzman. Marxismo hoje é, pode-se dizer, marxismo-leninismo-maoismo-pensamento gonzalo.
2)O marxiano seria a vertente lukacsiana, "crítica", originalmente, de onde suponho ter surgido o termo. Em linhas gerais, é o chamado "revisionismo" e suas vertentes variadas. Os frankfurtianos seriam marxianos, ou seja, estudiosos de Marx, mas que não são "ortodoxos", ou seja, não participam de partidos, recusam Stálin, Mao, Hoxha, etc. A tônica do revisionismo, na esteira de Kruschev, é retirar tudo o que existe de revolucionário nessa linha de pensamento. O preço que ela paga para circular é cortar o projeto político marxista propriamente dito. Leia-se: falar mal de Stálin e, se possível, da URSS. Trotsky colaborou com muitos dos argumentos dessa vertente, embora, em geral, ela usa os argumentos de Trotsky sem mencioná-lo. Podemos considerar Trotsky parte dessa vertente.
Em geral, formam patotinhas na universidade: na UFMG é em torno de Ester Vaismann, na UNICAMP é Ricardo Antunes e Berriel, na USP é Safatle e outros. Um exemplo seria o "centro de difusão do comunismo" da UFOP, na verdade um centro de difusão do revisionismo que buscou se impor ignorando que a universidade não poderia simplesmente difundir e disseminar um pensamento e sim, por lei, precisaria estudar. O revisionismo é uma vertente que, embora goste de ser dizer democrática, falar em socialismo com liberdade é muito autoritária. Considera-se "a" verdadeira versão do marxismo. Ela implica, no entanto, em "adoçar" e "amansar" Marx. Por isso os revisionistas não gostam de debates e do contraditório. Pode-se dizer que essa vertente é frágil, pois nasce da falsificação sistemática do marxismo-leninismo. Daí que, uma vez confrontados, fecham-se e partem para confronto com insultos, argumentos contra o falante, etc.
Um outro bom exemplo de marxiano: José Paulo Netto, professor da UFRJ. Esse tipo vive propondo o "retorno a Marx". Os revisionistas trocam o culto da personalidade de Stálin pelo culto de Karl Marx, tanto que chegam a afirmar que "Engels foi o primeiro stalinista".
A vertente marxista presente nas universidades do mundo Ocidental seria uma versão revista do marxismo-leninismo. Até mais ou menos o período da morte de Stálin o pensamento oficial não permitia a entrada do marxismo nas universidades, uma vez que era um pensamento revolucionário. A partir de 1956, com a vertente revisionista ganhando poder na União Soviética, toda universidade do mundo ocidental produz sua versão do revisionismo.
3)O marxólogo. Seria o inimigo que expõe o pensamento de Marx de forma relativamente honesta. Fala sobre Marx e expõe seu pensamento, mas logo em seguida movimenta-se contra ele, por vezes de forma subterrânea. Hoje em dia escasseia ou está quase extinto. Exemplos: José Arthur Gianotti, da USP (FHC e seu grupo do Seminário de O Capital também são bom exemplo), Raymond Aron e, posso supor, o padre Maritain.
Raymond Aron, supomos, seria um dos autores a fazer essa diferenciação. Isso é complexo, pois não há durkhemista, durkhemiano e durkheimólogo. Isso ocorre em função do projeto político propriamente dito.
Um comentário:
Lúcio, achei muito instrutivo o post. Sou primo do Antonio Siúves — para referenciá-lo, embora não precisasse disso.
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