O livro de poemas de Makely Ka (o Ego Excêntrico, Selo Editorial, Coleção Poesia Porra!) veste a camisa de sua própria obra: sua capa tem barriga, umbigo, pentelhos e trocadilho. O livro vem acompanhado de um disco. Quando o laser lê o risco, digo, o disco, a voz segura vem declamar e atacar. Atacar sim, uma vez que a poesia não tem tido audiência e poetas novos não têm conseguido se projetar. Sempre me preocupei em comentar os poetas meus contemporâneos: escrevi no jornal Plenário (atual BHZSul) sobre Renato Negrão, Júlio Emílio Tentaterra, Johnny Batista Guimarães e produzi uma Composição Sobre Quadrilíneas a respeito do livro homônimo de Ramon Maia, editada apenas na Internet. Negrão está também presente neste livro de Makely, que vem acompanhado de um disco com “Poemas de Ouvido”. O poeta faz esforço para que os poemas entrem pelo ouvido sem pedir licença, batendo com a força de um coice para que eles escapem de serem olvidados. Makely Ka quer a música do Kaos, quer fazer poesia, porra! Trata-se de um mautneriano que curte Cioran, Mishima, Maiakósvski, Bukoswki, Leminski, Borges, Kafka, Nijinski, Natasha Kinski, Karl Kraus, Nick Drake, Fernando Pessoa, Kilkerry, Lautreámont, Georg Trakl, Borges. Que signo fica disso? Makely lida com a angustiante influência da poesia concreta com a sutileza de um mamute. A dois minutos do fim, o poeta remete à Antropofagia oswaldiana, quer muito falar, cala-se e tenta comer o leitor pela boca.
Uma de suas características nesse que imagino ser o seu primeiro livro acompanhado de CD é um tom mais ou menos assim: “Duvido que você esteja me lendo. Gostou? Não? Então vai se foder, cai fora, mas vai numa boa.” Ele deixa que a agressividade e uma necessidade de auto-afirmação tisne o discurso, e não aparece um cisne, se aparecer ele depena e bota para assar. Ele assume o risco e enfia a língua afiada, antropófaga, no cálice da cicuta e, em meio a um sarau da Filosofia, prova o doce veneno: a música expulsa a dialética, a musa única é uma dos motores do livro, é uma muleta para a poesia nesses tempos de tesouro & tesoura. Quem Kant seus males espante. Makely aquece a Filosofria no fogo da poesia.
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