sábado, 20 de agosto de 2022

Berenice: A Santa de Bom Despacho

 

Berenice: A Santa de Bom Despacho

 

            Nos idos do início dos anos 60, um crime chocou a cidade de Bom Despacho. Sanfona, um admirado jogador de futebol, militar, pessoa muito conhecida, brigou com sua esposa Berenice. Ela veio a falecer após a agressão com uma jarra de vidro que atingiu sua nuca. Foi traumatismo craniano. Sanfona, que curiosamente não tocava esse instrumento, era um excelente goleiro. Ele pulava ágil como uma sanfona que se abre, daí o curioso apelido. Como Sanfona e Berenice eram pessoas muito queridas, a tragédia chocou a cidade, na época pouco acostumada a tragédias, sendo uma pequena cidade pacata onde todos se conheciam.

            Sanfona era um goleiro querido, trabalhador, mas também namorador boêmio, tido como um belo moreno, e isso despertou o descontentamento da esposa. O seu crime chocou a cidade e Sanfona escondeu-se na casa de Constança, diz a lenda, uma das namoradas, num bairro próximo. Após sua morte trágica, seguindo a tradição dos mártires cristãos, a alma de Berenice foi tida como milagrosa.

            A memória dos milagres de Berenice persiste ainda hoje. Minha amiga Vanda, enfermeira, conversou com outra amiga chamada Aparecida Coutinho, e lembrou-se do fato, que ocorreu quando ela era ainda era criança. O irmão de Aparecida teria recebido um milagre muito grande graças a Berenice. A “santa de Bom Despacho” morava numa casa verde, numa esquina do bairro São Francisco, uma casa velha, onde atualmente é a casa do marido de Joana, diretora do Tiradentes. Foram atribuídas a Berenice graças muito importantes, além de milagres. Meu pai, coronel Lúcio, também guarda recordações do fato, acontecimento esse que marcou sua infância. Meu pai está escrevendo um romance a propósito. Ainda não sabemos se o romance se chamará Maldição da Lua. Também estamos pensando no título Berenice. Ele chegou a visitar o túmulo de Berenice e verificar que, além de velas, havia ali muitos pedidos sob a forma de pequenos pedaços de papel, como se fossem “votos”. Havia também muitas marcas de velas acesas em sua homenagem.

            Essa coluna busca, então reacender a memória dessa nossa santa da cidade, bem como gostaria que os cidadãos que receberam graças e milagres dessa nossa santa local enviassem para essa coluna seus registros, para que possamos divulgá-los aqui, para que saibamos a quantas andam as graças e os milagres dessa figura trágica e enigmática, Berenice, a santa de Bom Despacho.

 

 

 

 

 

 

 

 

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