quinta-feira, 13 de abril de 2023

UM NOVO PARTIDO

 

UM NOVO PARTIDO





Laerte Braga





Quando o sociólogo Chico Oliveira disse num testemunho no I Fórum Social

Brasileiro, em BH, no início de novembro, que não vou discutir caráter,

estou além disso, buscando decifrar o enigma das esquerdas brasileiras

no futuro, estava enterrando o PT lulista, uma página virada e

mostrando a fantástica vitalidade intelectual e ética de quem tem caráter.

Foi outra figura notável da esquerda brasileira, Plínio de Arruda

Sampaio, o pai, quem, noutra frase, definiu o que estava por vir e está

em plena ebulição, desde o show de sábado e domingo, ao custo de 150 mil

reais, para expulsar Heloísa Helena e os deputados Babá, João Fontes e

Luciana Genro. O primeiro pato a levantar é o que leva mais chumbo.

O que está claro na ação política do governo e do grupo paulista que

domina o partido e o governo, é que foi feita a opção pelo modelo

reformista, com políticas sociais assistencialistas, sem a menor

preocupação de mudanças, ou compromissos com a história e o caráter do

Partido dos Trabalhadores.

Li hoje uma frase dita por Lula, em que afirma que se fosse para ser

presidente e fazer o que FHC faz (a frase é de 2000) preferia perder a

vida. Não perdeu a vida e o que disse foi mero jogo demagógico e

mentiroso de quem faz igualzinho a FHC e quer continuar a fazer.

A principal lição que fica da destrambelhada do PT, ou do que Leonardo

Boff chama de ordem e caos, numa análise do caso Heloísa Helena, é que a

idéia de um novo partido não pode prescindir do movimento social.

Eleições são meios e não fim e Lula, na medida do que faz, prova isso.

Partido e movimento social têm que andar juntos.

A busca de mudanças nas estruturas políticas, econômicas e sociais do

País não pode, por exemplo, ficar à mercê do risco do deputado Paulo

Delgado virar ministro de alguma coisa. Ou de Luís Fernando Furlan e

Roberto Rodrigues integrarem um Ministério de um governo eleito sob a

égide das mudanças.

O governo Lula é o exemplo mais deslavado de mergulho nos salões do

poder podre das elites e o líder sindical forjado na luta, pelo visto,

buscava apenas sombra e água fresca, de preferência correndo o mundo e

brincando de messias. Com um diretor a tiracolo, para edições precisas,

efeitos especiais indispensáveis, além de um monte de figuras

desprezíveis, algumas tangenciando os negócios da burguesia, se

transformando em parte desse processo corrupto e podre que, segundo o

próprio Lula, antes de ser presidente, presidia e continua a presidir o

Brasil desde o descobrimento.

O novo partido vai ser uma realidade indispensável. Mas terá que ser

conseqüência de formulações que envolvam todo o conjunto da luta popular

e terá que refletir isso. Ter consigo, por exemplo, a tarefa e o

desafio, de trazer de volta o movimento sindical para seus objetivos

básicos e históricos.

A CUT, neste momento, é só uma Força Sindical do B. Os sindicatos, em

sua esmagadora maioria, não são mais que corporações distante da

compreensão da luta de classes. Há júbilo na CUT pelo simples fato que,

no 1º de maio de 2004, vai poder sortear apartamentos e carros,

apresentar shows com artistas regiamente pagos, nos moldes do negócio

concorrente, disputando público e atenções e, lógico, votos, afinal o

ano vai ser de eleições. Vicentinho é candidato, outra vez, a prefeito.

Questões decisivas para o futuro da luta popular, que não se esgotam na

conjuntura nacional, perpassam a América Latina, perceber a

globalitarização em curso e entender todo o processo que desemboca em

luta de resistência para sobrevivência.

O governo Lula não tem esse compromisso. É só uma continuação dos

outros. O que muda é o estilo. Um, o anterior, preferia a lógica do

cinismo científico, outro a lógica do cinismo messiânico.

Lula vai agora cuidar da Globo. Tal e qual fez FHC uns três meses antes

de sair. 250 milhões de dólares a fundo perdido. É só um detalhe, um

exemplo de opção.

Os transgênicos são outra realidade que o governo não terá força para

reverter, pelo simples fato que o jogo é de me engana que eu gosto.

A expulsão dos que lutaram pelo PT fiel aos seus compromissos, ao seu

programa, à sua história é o fator de demarcação dos campos. A cara de

Lula é um terno Armani.

O primeiro pato a levantar foi o governo. Vai ser preciso agora engolir

a dor do partido ultrajado na intolerância de meia dúzia de capatazes e

não nos assustarmos com as pesquisas que aprovam Lula.

O jogo hoje é jogado com equipamentos de última geração, máquinas

eletrônicas para votar e mostrarem os resultados desejados pelo poder e

a única mudança visível no processo de transformação do ser humano em

gado, está no apelo publicitário da calça que pretendia ser sinônimo de

liberdade. Neste momento, ela se apresenta como sinônimo de ousadia.

A degringolada no PT é inevitável e cada dia mais e mais vão se

aperceber disso.
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