A telenovela Caras e Bocas, segundo seu autor Walcyr Carrasco, pretende questionar a arte contemporânea e seus "códigos fechados".
Na verdade, trata de ridicularizar qualquer código artístico que não o utilizado nela própria. Ela já fez paródia, segundo a Veja, de Vik Muniz, com o derretimento (lambança) das tais esculturas de chocolate.
Embora se pretenda inspirada num chimpanzé que pintava arte abstrata, será que a telenovela brasileira está preparada para ter seus códigos criticados? Ela, que não pratica um realismo crítico lukacsiano (de jeito nenhum!) e fornece cimento social conservador (novela sem mansão não funciona)? A novela se vende como tendo uma relaçãop privilegiada com a realidade, ou como se ela fosse o verdadeiro realismo. E tome imitação dela em teatro e cinema. É o que Zé Celso chamou "padrão classe média".
A questão é: com seus truques de folhetim (você não é minha mãe!) e melodrama, seu realismo retrógrado, a novela está em posição de criticar alguém?
Não se pode negar que a química entre a chimpanzé expressionista e o ator chimpanzé inexpressionista Marcos Pasquim é ótima (eles já fizeram amooorrr?). Aliás, o grande ator dessa novela é a chimpanzé Keith. A que ponto chegamos! Que venha a grande zoofilia global! Já pensou? "Sua mãe não é um chimpanzé!"
Fora discutir sua ética (ou ausência dela). Eu me lembro bem de que em Que rei sou eu tinha um galã de novela (Edson Celulari) disputando com um barbudinho agressivo (Cássio Gabus) o que de certa forma influenciou a disputa Collor/Lula em 1989.