(Texto de Lúcio Jr premiado no concurso Imagens da Vida Universitária, Colação de Estudante II, março de 1997).
O hospital Borges da Costa, prédio em estilo neoclássico, datado do início do século, há dezesseis anos é protagonista de uma crise infindável. O prédio já foi morada de mendigos e depois foi tomado pelos estudantes de baixa renda.
O Borges da Costa retrata a crise urbana em nosso País: de prédio componente da elitista Faculdade de Medicina no início do século, tornou-se atualmente um refúgio dos deserdados. Foi do neoclássico ao neo-hippie. É um símbolo da universidade brasileira e de suas distorções.
O Borges da Costa não é Haight-Asbury, Belo Horizonte não é San Francisco. Ali não floresce nenhuma contracultura, nenhum underground. A necessidade é que obrigou os estudantes da ocupar o velho hospital de câncer. Os hippies dos Estados Unidos, que se juntavam em bairros como Haight-Ashbury em San Francisco, Greenwich Village e na Carnaby Street em Londres eram filhos da abundância, não da penúria. Os “bórgios” são estudantes carentes que geralmente levam adiante cursos pouco valorizados no mercado de trabalho (Filosofia, Sociologia, Letras, História, Belas-Artes) e que sofrem de solidão, desamparo, pobreza. Não estão fora do sistema, estão à margem, vivendo numa zona de litígio, numa terra de ninguém. São órfãos do milagre brasileiro (não é à toa que o Borges foi ocupado em 1980, ano do início da recessão e da ´década perdida`).
No livro Feliz Ano Velho, datado mais ou menos daquela época, Marcelo Rubens Paiva escrevia que, na UNICAMP, ele via três turmas distintas: a dos caretas, a dos revolucionários e dos desbundados. No Borges, há um rescaldo desse período: há os hippies recaídos, que não são inocentes como as “crianças da flor”, são jovens que buscaram modelos no passado e perambulam como sonâmbulos frustrados, ligados em alguma viagem psicodélica ou amargurados e agressivos com o fim do sonho.
O edifício Borges da Costa foi do neoclássico ao neo-hippie em meio século. Apesar do lado festivo e sonhador, existe também um lado barra pesada de dois suicídios: um deles, um estudante de Economia chamado Carlos Eduardo, eu conheci: era esquerdista radical, veio do interior, foi se desiludindo com o curso, com a política, teve atritos com os grupúsculos que dominam o Borges e, em meio à tristeza e à marginalidade, acabou se matando em dezembro de 1992.
Eu me lembro de tê-lo visto nas passeatas do impeachment daquele ano. Estávamos todos esperançosos naquele momento e ele não. Mantinha-se com reservas. Para ele ainda faltavam muitas coisas. Hoje sei que o Edu não agüentou esperar. Foi embora sem se despedir.
O Borges para mim é mistura de tudo isso, de dor e celebração doidivanas, de rabiscos coloridos e lamentos, de uma festa onde li meus poemas e da realidade da morte de Carlos Eduardo dias depois, de hippies e de mendigos, do sonho e do alcoolismo.
“Antes eu sonhava/Agora já não durmo”. O Borges é Legião Urbana. Uma Bósnia estudantil, uma guerra civil de todos contra todos, é Fernando Pessoa e César Pedroso, um poeta e morador que escrevia poemas como Mulher do Capitão: “Bota bota na xota”. Faço questão de reproduzi-lo assim mesmo, na íntegra. Eu me lembro das noites intermináveis em que minha turma do segundo período da Filosofia encontrava-se no Borges e, descrentes, chegávamos à conclusão de que valia, na vida, o poema de Maiakóvski: “Melhor morrer de vodka do que de tédio!” Escrevi um poema chamado Anjo Exterminador naquele final de 1992 e início de curso; sintetiza o que eu sentia naquela época:
Madrugada –sombras solitárias, rua morta
Não era mórbido o sorriso púrpura de seda
& o ar ficou pesado, choveu outra vez
Vai chover de novo.
O espectro flutuou transido nas colinas de mármore
E da própria garganta saiu o grito do assassino de si
Foi o deleite final do Anjo Exterminador
Das trevas surgem gêmeas siamesas dizendo, blasfemando:
“Dorme, dorme pálida criança, calma e vasta repousa a cidade
Cerra teus olhos enquanto o céu se abre
Em estertores vermelhos”.
Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
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terça-feira, 18 de maio de 2010
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Jardim de Infância (terceiro ato)
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Jardim de Infância (3° Ato)
Jardim. PETER PAN, PINÓQUIO e RAINHA FOGUETE de mãos dadas num círculo. Eles usam capacetes, do quais saem vários fios que seguem para fora do palco.
VOZ (Pedro Bial / Robô)
Vou revisar as regras pela última vez. Trata-se de jogar o jogo do “eu nunca” de outro modo. Ao invés de, às vezes, dizer a verdade, às vezes, dizer a mentira, os participantes precisam dizer a verdade sempre. Sempre! Ok? Vocês cantarolam (cantarolando): “eu nunca, eu nunca, eu nunca”. Assim, três vezes e, depois, um participante fala. A ordem das falas já foi sorteada e será (p.ex) Peter, Pinóquio e Rainha Foguete (é importante que a cada apresentação essa ordem mude e um diferente personagem vença). O participante que conseguir não mentir vence. Se o participante mentir, ele será elecutrado até a morte (ele ri). Brincadeirinha. Se o participante mentir, uma sirene será acionada e ele deverá deixar a roda. É preciso dizer a verdade sempre. A equipe do BBB instalou um dos mais avançados aparelhos detectores de mentiras do mundo e se algum de você mentir, esse alguém será eliminado. É preciso dizer impreterivelmente sempre a verdade. Dizer: “eu nunca X”. Esse X deve ser alguma coisa de verdade que aconteceu na vida de vocês. O vencedor ganhará um carro de batatas. Não um carro com ou cheio de batatas, mas um carro literalmente feito de batatas. Podemos começar? Todo mundo entendeu?
PETER PAN
Entendi.
PINÓQUIO
Ok. Bial.
VOZ (Pedro Bial / Robô)
Tudo certo, Rainha Foguete?
RAINHA FOGUETE
Certíssimo, Bial, me deseja boa sorte.
VOZ (Pedro Bial / Robô)
Boa sorte para você, Rainha Foguete, minha jujubinha. E para vocês também, Peter e Pinóquio. Então, vamos lá, um, dois, três, valendo!
TODOS
(cantarolando / rodando)
Eu nunca, eu nunca, eu nunca.
Isso é dito sempre depois que um personagem fala. Algumas falas possíveis a serem alternadas entre os personagens são as seguintes (o ideal seria que os atores criassem suas próprias histórias):
Eu nunca entendi as regras do jogo de eu nunca.
Eu nunca entendi se era para beber quando se fala a verdade ou a mentira.
Eu nunca fui queimada na mão por uma menina que disse: “quer ver como o ferro queima?” e eu disse “não” e ela disse: “quer ver?” e ela me fez ver me queimando quando eu tinha 7 anos e eu voltei para casa chorando para falar com a minha mãe e a minha mãe disse simplesmente para eu não falar mais com a menina, quando, na verdade, ela deveria ter ido lá bater nela, destruir ela, queimar ela, queimar a casa dela, queimar tudo dela para que eu não ficasse me remoendo acerca disso o resto da minha vida toda.
Eu nunca suportei o colégio a ponto de entrar chorando praticamente todos os dias do ano no 3° jardim e, de certo modo, nunca superar isso e nunca conseguir ficar numa sala de aula sem sentir que eu estava numa espécie de morte induzida e que todos ali eram porcos, todos ali eram porcos, os professores, os alunos, porcos, porcos.
Eu nunca quis ser um menino de verdade.
Eu nunca usei sutiã de enchimento, quando eu tinha 11 anos e falei para uma amiga e ela disse para turma inteira que riu da minha cara.
Eu nunca quis ser criança para sempre.
Eu nunca perdoei Brás Cubas por não amar Eugênia (“ Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? "), porque eu amaria Eugênia, eu amaria Eugênia perdidamente.
Eu nunca sonhei que eu estava numa casa cheia de baratas e elas queriam me comer viva.
Eu nunca estive com um amigo com bala ou doce nas mãos na rua Maria Quitéria em Ipanema no dia 13 de novembro de 2009, às 23:00 e PMs, como num susto, chegaram para acabar com a festa e eu joguei amedrontado / modernista safado a bala ou doce no chão e os PMs não acharam mas depois meu amigo achou e nós tomamos e fomos para a praia com uma galera e o doce ou a bala não eram nada demais, eram bem fracos, na verdade, e voltei melancolicamente às 5:00 da manhã para casa improvisando com a vontade de morrer, porque eu tinha encontrado com um velho conhecido que ficou falando de sua dieta a noite inteira.
Eu nunca apanhei de garotos brancos, pretos, ricos, pobres, fortes, fracos, bonitos, feios, gordos, magros durante todos os anos que eu estudei.
Eu nunca senti que eu estava virando um menino.
Eu nunca beijei uma menina.
Eu nunca encontrei bêbado e por acaso com uma ex-namorada na Lapa no dia 17 de agosto de 1998 e comecei a beber mais ainda com ela que estava sentada com uma amiga que tinha estado num hospital psiquiátrico e falava coisas sobre Lacan, Artaud e loucura e eu estava muito bêbado para responder e dizia para a minha ex-namorada que eu queria que ela viesse para a casa comigo, mesmo eu tendo nessa época, uma outra namorada, eu dizia isso e ela dizia que não podia, que ela tinha que ficar com o irmão, porque o pai dela estava viajando e eu fazia uma chantagem emocional do tipo você nunca me amou, você nunca me amou e ela cedia rapidamente, porque ela dizia que me amava, que sempre me amaria, que aceitaria tudo e eu dizia você não tem vergonha, você não me acha um canalha, e ela dizia eu afirmo o amor e ia para minha casa e eu ficava beijando todas aquelas tatuagens de flor até dormir.
Eu nunca senti vontade de ser estuprada.
Eu nunca abaixei as calças de um primo no meio da rua, quando eu tinha uns 9 e ele um 15 e ele ficou constrangido.
Eu nunca estive, em Cabo Frio, em 2005, numa madrugada com amigo e um amigo que viria a se matar em menos de um mês me disse que nós éramos muito novos para falar sobre suicídio e nisso, nós falávamos sobre suicídio e eu disse uma coisa como: “todo mundo que se mata, se mata jovem, qual é o sentido de se matar velho, é deprimente, eu quase admiro alguém que se mata jovem, eu quase acho charmoso” e ele se matou menos de um mês depois e eu continuei vivo, até certo ponto, relativamente otimista.
Eu nunca joguei futebol sem camisa com os meninos e jogava bem todos os dias no play até um 12 anos, quando um dia, eu desci sem camisa e fiquei subitamente muita constrangida e quis chorar e achei que era errado que eu não deveria jogar futebol sem camisa porque isso não era coisa que menina deveria fazer e me escondi atrás da pilastra como se a diferença sexual se explicitasse para mim agora e peguei o elevador e voltei para casa vermelha de chorar e nunca mais fui jogar futebol sem camisa e, de certo modo, nunca mais fui jogar futebol.
Eu nunca estive em Paris com a namorada alemã e perguntando como se diz “eu te amo” em alemão e falando como se fosse Hitler e pensando: “a brancura do branco, a brancura do branco” e ela dizendo “diga isso de forma mais doce” e ela de fato dizia de forma mais doce e em alemão e nisso eu a amando perdidamente do Louvre até o Arco do Triunfo a amando perdidamente no frio e eu me sentindo otimista e alemães andavam atrás de nós e ela dizia: “tem muito alemães em Paris, parece que nós vamos invadir essa cidade de novo” e eu gargalhava disso, eu gargalhava de modo constrangedor e amoroso e nós sentávamos num banco no final da Champs Élysées e eu dizia “eu tenho frio” e ela pegava as minhas mãos e as colocava delicadamente dentro de sua camisa e eu acariciava seus seios na Champs Élysées como se nós fôssemos tomar essa cidade para nós, porque “the night belongs to lovers, because the night belongs to us”, em 27 de novembro de 2006.
Eu nunca senti minhas maiores vontades de destruir tudo antes dos 12 anos.
Eu nunca quis ser uma princesa.
No final, o personagem que vence, comemora. Os outros, quando perdem, choram.
Postado por Felipe Moreira às 21:06
Jardim de Infância (3° Ato)
Jardim. PETER PAN, PINÓQUIO e RAINHA FOGUETE de mãos dadas num círculo. Eles usam capacetes, do quais saem vários fios que seguem para fora do palco.
VOZ (Pedro Bial / Robô)
Vou revisar as regras pela última vez. Trata-se de jogar o jogo do “eu nunca” de outro modo. Ao invés de, às vezes, dizer a verdade, às vezes, dizer a mentira, os participantes precisam dizer a verdade sempre. Sempre! Ok? Vocês cantarolam (cantarolando): “eu nunca, eu nunca, eu nunca”. Assim, três vezes e, depois, um participante fala. A ordem das falas já foi sorteada e será (p.ex) Peter, Pinóquio e Rainha Foguete (é importante que a cada apresentação essa ordem mude e um diferente personagem vença). O participante que conseguir não mentir vence. Se o participante mentir, ele será elecutrado até a morte (ele ri). Brincadeirinha. Se o participante mentir, uma sirene será acionada e ele deverá deixar a roda. É preciso dizer a verdade sempre. A equipe do BBB instalou um dos mais avançados aparelhos detectores de mentiras do mundo e se algum de você mentir, esse alguém será eliminado. É preciso dizer impreterivelmente sempre a verdade. Dizer: “eu nunca X”. Esse X deve ser alguma coisa de verdade que aconteceu na vida de vocês. O vencedor ganhará um carro de batatas. Não um carro com ou cheio de batatas, mas um carro literalmente feito de batatas. Podemos começar? Todo mundo entendeu?
PETER PAN
Entendi.
PINÓQUIO
Ok. Bial.
VOZ (Pedro Bial / Robô)
Tudo certo, Rainha Foguete?
RAINHA FOGUETE
Certíssimo, Bial, me deseja boa sorte.
VOZ (Pedro Bial / Robô)
Boa sorte para você, Rainha Foguete, minha jujubinha. E para vocês também, Peter e Pinóquio. Então, vamos lá, um, dois, três, valendo!
TODOS
(cantarolando / rodando)
Eu nunca, eu nunca, eu nunca.
Isso é dito sempre depois que um personagem fala. Algumas falas possíveis a serem alternadas entre os personagens são as seguintes (o ideal seria que os atores criassem suas próprias histórias):
Eu nunca entendi as regras do jogo de eu nunca.
Eu nunca entendi se era para beber quando se fala a verdade ou a mentira.
Eu nunca fui queimada na mão por uma menina que disse: “quer ver como o ferro queima?” e eu disse “não” e ela disse: “quer ver?” e ela me fez ver me queimando quando eu tinha 7 anos e eu voltei para casa chorando para falar com a minha mãe e a minha mãe disse simplesmente para eu não falar mais com a menina, quando, na verdade, ela deveria ter ido lá bater nela, destruir ela, queimar ela, queimar a casa dela, queimar tudo dela para que eu não ficasse me remoendo acerca disso o resto da minha vida toda.
Eu nunca suportei o colégio a ponto de entrar chorando praticamente todos os dias do ano no 3° jardim e, de certo modo, nunca superar isso e nunca conseguir ficar numa sala de aula sem sentir que eu estava numa espécie de morte induzida e que todos ali eram porcos, todos ali eram porcos, os professores, os alunos, porcos, porcos.
Eu nunca quis ser um menino de verdade.
Eu nunca usei sutiã de enchimento, quando eu tinha 11 anos e falei para uma amiga e ela disse para turma inteira que riu da minha cara.
Eu nunca quis ser criança para sempre.
Eu nunca perdoei Brás Cubas por não amar Eugênia (“ Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita? "), porque eu amaria Eugênia, eu amaria Eugênia perdidamente.
Eu nunca sonhei que eu estava numa casa cheia de baratas e elas queriam me comer viva.
Eu nunca estive com um amigo com bala ou doce nas mãos na rua Maria Quitéria em Ipanema no dia 13 de novembro de 2009, às 23:00 e PMs, como num susto, chegaram para acabar com a festa e eu joguei amedrontado / modernista safado a bala ou doce no chão e os PMs não acharam mas depois meu amigo achou e nós tomamos e fomos para a praia com uma galera e o doce ou a bala não eram nada demais, eram bem fracos, na verdade, e voltei melancolicamente às 5:00 da manhã para casa improvisando com a vontade de morrer, porque eu tinha encontrado com um velho conhecido que ficou falando de sua dieta a noite inteira.
Eu nunca apanhei de garotos brancos, pretos, ricos, pobres, fortes, fracos, bonitos, feios, gordos, magros durante todos os anos que eu estudei.
Eu nunca senti que eu estava virando um menino.
Eu nunca beijei uma menina.
Eu nunca encontrei bêbado e por acaso com uma ex-namorada na Lapa no dia 17 de agosto de 1998 e comecei a beber mais ainda com ela que estava sentada com uma amiga que tinha estado num hospital psiquiátrico e falava coisas sobre Lacan, Artaud e loucura e eu estava muito bêbado para responder e dizia para a minha ex-namorada que eu queria que ela viesse para a casa comigo, mesmo eu tendo nessa época, uma outra namorada, eu dizia isso e ela dizia que não podia, que ela tinha que ficar com o irmão, porque o pai dela estava viajando e eu fazia uma chantagem emocional do tipo você nunca me amou, você nunca me amou e ela cedia rapidamente, porque ela dizia que me amava, que sempre me amaria, que aceitaria tudo e eu dizia você não tem vergonha, você não me acha um canalha, e ela dizia eu afirmo o amor e ia para minha casa e eu ficava beijando todas aquelas tatuagens de flor até dormir.
Eu nunca senti vontade de ser estuprada.
Eu nunca abaixei as calças de um primo no meio da rua, quando eu tinha uns 9 e ele um 15 e ele ficou constrangido.
Eu nunca estive, em Cabo Frio, em 2005, numa madrugada com amigo e um amigo que viria a se matar em menos de um mês me disse que nós éramos muito novos para falar sobre suicídio e nisso, nós falávamos sobre suicídio e eu disse uma coisa como: “todo mundo que se mata, se mata jovem, qual é o sentido de se matar velho, é deprimente, eu quase admiro alguém que se mata jovem, eu quase acho charmoso” e ele se matou menos de um mês depois e eu continuei vivo, até certo ponto, relativamente otimista.
Eu nunca joguei futebol sem camisa com os meninos e jogava bem todos os dias no play até um 12 anos, quando um dia, eu desci sem camisa e fiquei subitamente muita constrangida e quis chorar e achei que era errado que eu não deveria jogar futebol sem camisa porque isso não era coisa que menina deveria fazer e me escondi atrás da pilastra como se a diferença sexual se explicitasse para mim agora e peguei o elevador e voltei para casa vermelha de chorar e nunca mais fui jogar futebol sem camisa e, de certo modo, nunca mais fui jogar futebol.
Eu nunca estive em Paris com a namorada alemã e perguntando como se diz “eu te amo” em alemão e falando como se fosse Hitler e pensando: “a brancura do branco, a brancura do branco” e ela dizendo “diga isso de forma mais doce” e ela de fato dizia de forma mais doce e em alemão e nisso eu a amando perdidamente do Louvre até o Arco do Triunfo a amando perdidamente no frio e eu me sentindo otimista e alemães andavam atrás de nós e ela dizia: “tem muito alemães em Paris, parece que nós vamos invadir essa cidade de novo” e eu gargalhava disso, eu gargalhava de modo constrangedor e amoroso e nós sentávamos num banco no final da Champs Élysées e eu dizia “eu tenho frio” e ela pegava as minhas mãos e as colocava delicadamente dentro de sua camisa e eu acariciava seus seios na Champs Élysées como se nós fôssemos tomar essa cidade para nós, porque “the night belongs to lovers, because the night belongs to us”, em 27 de novembro de 2006.
Eu nunca senti minhas maiores vontades de destruir tudo antes dos 12 anos.
Eu nunca quis ser uma princesa.
No final, o personagem que vence, comemora. Os outros, quando perdem, choram.
Postado por Felipe Moreira às 21:06
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domingo, 11 de outubro de 2009
Anticristo: trailer e texto do genial Felipe Moreira
Quarta-feira, 2 de Setembro de 2009
O Anticristo
Para Maíra.
Instruções para cena:
Precisa ficar imediatamente claro que MAÍRA MATTHES vai cortar seu clitóris até o final da cena e isso vai ser insuportável para você que mal conseguiu ler essa frase até o final. A cena, todavia, é de HUMOR. Mas um HUMOR dificilmente penetrável. Porque o Anticristo de Lars Von trier, segundo a Plastic Blond Beast lendo Lars Von Trier lendo o Anticristo consiste no seguinte: CHARLOTTE GAINSBOURG e WILLIAM DEFOE vão para a casa da Floresta, porque o filho deles caiu da janela. Isso, entretanto, tem grande humor. Casa da Floresta = Éden. Filho que caiu da janela = HUMANIDADE ou o PÓS-PARAÍSO. Daí também CHARLOTTE GAINSBOURG = PLASTIC EVA DEFORMADAMENTE DIZENDO ACERCA DA MULHER EM SI e WILLIAM DEFOE = PLASTIC ADÃO DIZENDO DEFORMADAMENTE ACERCA DO HOMEM EM SI. PLASTIC implica tentando CONCRETIZAR esse mito (por conseguinte, pretensamente a-histórico e verdadeiro) cinematograficamente, por meio de atores ocidentais representando conflitos ocidentais (CONCRETIZAR esse mito AGORA na sua frente falando sobre esse filme e colocando personagens de verdade –– FELIPE MOREIRA e MAÍRA MATTHES –– no lugar dos atores. Mas é imprescindível que a platéia "altamente erudita" se pergunte (embora a cena não se pergunte diretamente): seria MAÍRA MATTHES, o Anticristo, ou tratar-se-ia do inverso?). EM SI significa em si. A questão é: WILLIAM DEFOE diz que pode legislar acerca da natureza. CHARLOTTE GAINSBOURG diz que essa legislação é impossível e que, sendo assim, FELIPE MOREIRA é “so fucking arrogant”. Daí WILLIAM DEFOE repete todas as metafísicas que achavam que era possível falar a partir de um primeiro princípio natural. Daí CHARLOTTE GAINSBOURG –– THIS IS THE PLASTIC BLOND BEAST COMPANY SHOW –– vê que a história inteira do ocidente está desconstruída, porque CHARLOTTE GAINSBOURG é mulher, porque CHARLOTTE GAINSBOURG é intempestiva, porque CHARLOTTE GAINSBOURG é a própria VERDADE, porque CHARLOTTE GAINSBOURG, c´est moi ou CHARLOTTE GAINSBOURG = MAÍRA MATTHES e MAÍRA MATTHES vai cortar seu clitóris até o final da cena e isso vai ser insuportável, mas você, quero dizer, a platéia, vai achar isso tudo muito bem humorado, uma cena bem humorada de verdade, porque é a única maneira de lidar com o fato de que você não está entendendo nada e está odiando tudo que se passa na cena. Mas a coisa é muito simples: FELIPE MOREIRA é o próprio FALSO. E CHARLOTTE GAINSBOURG é O PRÓPRIO ANTICRISTO, porque WILLIAM DEFOE é CRISTO. Daí WILLIAM DEFOE (WILLIAM THE FOUNY (o falso)), WILLIAM THE FOU (o louco) diz que a morte do filho (a perda do paraíso) implica três estados: luto, dor, desespero. Para MAÍRA MATTHES, isso é uma relesmunda baboseira de psicólogo, porque só há uma IMPROVISAÇÃO acerca dessas três instâncias, à qual ela PLASTIC BLOND BEAST nomeia de os três mendigos e “quando os três mendigos aparecem alguém tem que morrer”. Daí FELIPE MOREIRA diz: “essa constelação, a dos três mendigos, não existe”. Daí CHARLOTTE GINSBOURG responde: “é claro que não existe, só há a deformação, eu estou artificialmente te impondo essa”. Porque WILLIAM DEFOE acha que ele pode curar MAÍRA MATTHES com a sua relesmunda baboseira de terapeuta, mas CHARLOTTE GINSBOURG sabe que não tem cura, que o paraíso está perdido, sempre esteve perdido e que aqueles que falam a partir do paraíso são perigosos. Porque CHARLOTTE GINSBOURG é a NOVA RAZÃO, a NOVA CONSCIÊNCIA e não um imbecil para além da razão, para além da consciência. Ela tem CONSCIÊNCIA de um artifício que se impõe ao CORPO e que é só artificialmente, plastic blond beastmente que se fala sobre o corpo e não LEGITIMAMENTE como FELIPE MOREIRA que é crente e crê poder dizer O QUE É NATURAL. FELIPE MOREIRA é em suma, segundo MAÍRA MATTHES, o último metafísico do Ocidente. Daí não foi exatamente MAÍRA MATTHES quem calçou os sapatos nos pés do filho e deformou os pés do filho fazendo-o tombar do parapeito da janela e morrer: os pés estão sempre deformados calçados deformadamente por sapatos / bocas para seus pés Maturi (Rua Visconde de Pirajá 475, Ipanema). Isso não pode ser negado. Precisa partir dessa improvisação constituinte. Mas WILLLIAM DEFOE acha que não, acha que existem calçados melhores que os calçados Maturi. Daí CHARLOTTE GINSBOURG precisa mostrar para ele a VERDADE e a VERDADE aparece assim: ela pega um bloco de CONCRETO e golpeia o pau de WILLIAM DEFOE. MAÍRA MATTHES masturba o pau de FELIPE MOREIRA e WILLIAM DEFOE goza sangue e desmaia. Daí ela enfia uma roda de CONCRETO na canela de WILLIAM DEFOE para que FELIPE MOREIRA reconheça que a técnica é constituinte dele também, para que ele entenda que a NATUREZA NÃO É NOSSA AMIGUINHA. Por conseguinte, ele não consegue mais andar. Porque CHARLOTTE GINSBOURG corta o seu clitóris na sua frente, porque ela só consegue legislar assim acerca do natural, porque ela tem CONSCIÊNCIA do caos e ela escolhe o caos, do qual WILLIAM DEFOE (que é fraco) se defende. Porque FELIPE MOREIRA é Cristo, é o reles que insiste reles-sendo, reles-indo e vindo reles-siando numa reles, reles pseudo / relativista que mata CHARLOTTE GINSBOURG / MAÍRA MATTHES / VANGUARDA sufocada. Daí WILLIAM DEFOE está sozinho na floresta (ele acha que está vivo): a floresta é o PRÓPRIO PRESENTE (a platéia acha que está viva, extraordinariamente viva, como WILLIAM DEFOE). A floresta / PRÓPRIO PRESENTE está cheio de MULHERES (elas acham que estão vivas), mas essas MULHERES não são mulheres, elas são HOMENS. Elas são WILLIM DEFOE. Porque a MULHER morreu. Mas a cena (o fato dela existir para te dizer que a MULHER morreu) é extremamente otimista, é extremamente bem humorada. Daí a platéia inteira precisa cortar o clitóris de rir.
Postado por Felipe Moreira às 08:29 20 comentários
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quinta-feira, 18 de junho de 2009
Gerald Thomas morreu: um encontro de Geraldo com Gerald
Gerald Thomas me revelou, recentemente em seu blog, que o Gerald Thomas do artigo Notas sobre o teatro de Gerald Thomas morreu. Mas não resisto a reproduzir um artigo sobre o falecido: o antigo Gerald Thomas continuará, assim, vivo em nossos corações.
Thursday, March 5, 2009
El ocaso en que descubrí a un tal Gerald.
Walter Greulach (Dibujo de Leo Noboa)
Con admiración y respeto, dedicado al maestro Gerald Thomas
El sol amenazaba con dejarnos en tinieblas, mientras la tarde, impávida, se esforzaba muy poco por evitarlo. Tres o cuatro turistas, tirados panza arriba, se empecinaban en disfrutar de los raquíticos haces de luz en la playa floridana.Aquel jueves de febrero me encontraba al final de la rutinaria tarea de acomoda- reposeras en la playa del National. Metía toallas y cobertores sucios en una bolsa negra, al tiempo que repasaba mentalmente los rótulos que se me habían ido adosando a lo largo de mis cuarenta y pico de infructiferos años. Hijo en Mendoza, estudiante en Córdoba, locutor en Entre Ríos, cocinero en Aruba, mozo en Miami y ahora también “beach attendant”. No muy prometedor para alguien que a los diecisiete años se pensaba el sucesor de Borges o al menos un pichón de Cortazar.
Mi colega Jairo, el chapín, me miró con desgano, señalándome la salida del hotel.
—Atiéndalo usted Walter —me dijo con fingido respeto, a la vez que agarraba una sombrilla tirada en la arena, simulando encontrarse muy ocupado.
—Semejante amabilidad me confunde —pensé divertido. Mi compañero solo hacia esto cuando tenía catalogado al huésped de turno como mal tipeador. Luego me contaría que ya lo había atendido otras veces y nunca recibió mas de cinco dólares.
Cerré con fuerza la bolsa y le salí al encuentro. Mediría unos pocos centímetros más que yo, de cincuenta y tantos años, tez blanca, pelo negrísimo y nariz prominente. Surcó por mi cabeza la idea de que me encontraba en presencia de alguien famoso y rico, un excéntrico personaje de esos que bajan del norte. Desbordaba personalidad. Un tipo con aura dominante, como dicen por ahí.
—¿Puedo ayudarlo señor, se hospeda usted en el National Hotel? —pregunté, con la misma cantaleta repetida mas de mil veces.
Me contestó que se estaba quedando en el cuarto 706 y su nombre era Gerald Thomas. Pese a su blancura casi espectral, descarté que se tratase del director británico de cine fallecido varias décadas atrás.
—Solo quiero que me cuide un rato estas cosas, mientras me pego un baño en el mar —agregó cortésmente, dándome una envoltorio de plástico con ropa y un par de lentes. Un billete de veinte dólares me ayudó a hacer la tarea más placentera.
Estaba un poco fresco, salíamos de un frente frío que bajó los termómetros a treinta y pico, por eso me extraño la naturalidad con la que mr.Thomas se zambulló en el océano.
Unos quince minutos más tarde regresó por sus pertenencias. Le agradecí con un aporreado ingles que denunciaba mi no pertenencia a estas tierras. Me interrogó de donde venia y al contestarle Argentina se le iluminaron los oscuros ojos.
—Ahh, Buenos Aires —exclamó en un español aportuguesado— una de las ciudades mas bellas del mundo. La mixtura justa entre la modernidad europea y el pintoresquismo sudamericano.
Sacudió con la mano unas gotas que pendían de su cabello, se colocó los lentes y agregó :—Hace pocos meses estuve allá, dando unos talleres de teatro en el San Martín. También voy regularmente a Córdoba, al festival internacional.
—¿Es usted un actor de teatro? —pregunté entre curioso y avergonzado por no poder aun reconocerlo.
—Director de teatro —acotó y volviendo al tema de la ciudad porteña que lo tenía fascinado, agregó :—Cuna de Borges y Cortazar, dos geniales escritores que ha dado la lengua española.Catalogó al famoso ginebrino como el más universal de los autores modernos y resaltó el compromiso social y la consecuencia de Julio, a quien dijo haber conocido poco antes de su muerte.
A esa altura yo estaba embobado, me pellizqué disimuladamente para saber si no soñaba. Me encontraba frente a un intelectual de primerísimo nivel y hablando de mis dos mas grandes amores. Luego le tocó el turno a “Rayuela” y el sismo que provocó en la aburguesada literatura de aquel entonces. “Casa tomada” era para él el mejor cuento del franco-argentino, para mi: “La noche boca arriba“. Del genio ciego elogiamos “Borges y yo”, cuento sobre el cual había realizado un cortometraje.
Luego le conté de mi pasión temprana por el teatro, allá en los ochenta, en tierras cordobesas y como la cruda vida me alejó de la mas autentica expresión artística del ser humano.
Cuando las sombras amenazaban la vieja casucha de madera, agarró su bolsita marrón y se despidió. Un grupo de alborotadas gaviotas, cuervos y palomas, habían armado un zafarrancho por un puñado de papas fritas que algún gracioso desparramó en la arena. Nos alejamos unos pasos del bullicio y aproveché para comentarle sobre mi libro de cuentos “El guionista de Dios…¿o del Diablo?”, que desde hacia unos días había salido humildemente al mercado.
—¿Bose escribió un libro? —preguntó sorprendido— me gustaría leerlo.
—Mañana sin falta se lo traigo, será un honor para mí. —exclamé sinceramente.
El viernes amaneció frío y ventoso, grandes olas rompían el otrora calmo horizonte. Sentado en un banquito oculto tras la cabaña, esa aburrida jornada, buscando algún nuevo error, repase mi libro por centésima vez. Mi nuevo amigo ni apareció por la playa. Temí se hiciesen realidad los vaticinios de Ernesto, mi hijo mayor.
—No creo que vuelvas a verlo —habia declarado mi vástago con su habitual optimismo— Seguro que te dijo eso solo por compromiso.
Guardé el libro en mi mochila y regresé a casa bastante decepcionado. Mi última chance de entregárselo seria el sábado, pues domingo y lunes estaba libre.
En la noche me perdí en la red buscando información sobre el tal Gerald Thomas. Tal como lo intuía, resultó ser un prestigioso director anglo-brasilero con una dilatada trayectoria. La verdadera dimensión de su tamaño me la dieron sus sitios en la Web(http://colunistas.ig.com.br/geraldthomas/ y http://www.geraldthomas.com/)
Allí encontré desde una foto suya junto al colosal Samuel Beckett, pasando por unos elogiosos y largos comentarios de Philip Glass, hasta recortes en los más importantes periódicos del planeta alabando sus obras.Asumí con tristeza mi ignorancia y hasta vergüenza sentí por no haber sabido de primeras con quien me enfrentaba.
El tipo, sin lugar a dudas, había revolucionado el teatro brasilero y mundial, ganándose un lugar en el panteón junto a los grandes innovadores de esta época. Parecía ser una de esas personas que se juegan el todo defendiendo sus convicciones. Alabado y denostado por igual. Cielo e infierno. Dios y el Diablo en un cocktail explosivo.
Pasado el mediodía del sábado, el desasosiego pasó a ser resignación. Al final en un acto “temerario”, decidí llamarlo al cuarto 706. Eso lo teníamos estrictamente prohibido y podía llegar a perder mi prestigiosa posición de acomoda reposeras.Me indicó que no se había olvidado de mi libro, solo había estado ocupado con algunos reportajes, y que bajaba a la playa como en diez minutos.
Apareció junto a una elegante y simpática carioca, les di la mejor ubicación, ya reservada desde tempranas horas. Tenia bastante trabajo esa tarde, así que no pude prestarle demasiada atención, además no deseaba caerle pesado estando en tan linda compañía. Como sea me las rebusqué y de tanto en tanto hablamos del bahiense Amado y su folclorismo excesivo, de sus conversaciones con Manuel Puig, de Héctor Babenco y su obra cumbre “Pixote”, etc, etc.
Antes de marcharse y cuando yo ya imaginaba el final de mi historia con el gran Gerald Thomas, me dio un fuerte apretón de manos y dijo: —Walter, me gustaría tomar un café contigo antes de volver a Nueva York.Ahí me enteré que se quedaba unos días mas y ni lerdo ni perezoso, lo invité a encontrarnos en un Starbucks el miércoles a la mañana.
No quiero fatigarlos haciendo estúpido alarde de este encuentro, no es ese el objetivo de esta nota. Vamos al meollo pues…
El miércoles, esperando frente al café, bajo un cielo amenazante, volví a pensar que no vendría. El vuelo suyo salía a la tarde y seguro ya estaría camino al aeropuerto. Llamó por teléfono disculpándose por el atraso, el New York Times le acababa de hacer un interview para saber su opinión sobre el discurso de Obama en el Congreso. Aunque sea unos minutos me dedicaría antes del vuelo y así lo hizo.
Charlamos mas que nada sobre mi libro, mis expectativas, de cómo lo estaba difundiendo y de cómo me podía ayudar. Quedamos que en los próximos días haría un resumen de él y lo mandaría a distintos periódicos. También lo pondría en su sitio(al que entran mas de diez mil personas por día).
Se despidió de mí afectuosamente, con un beso en la mejilla que me agarró desprevenido, invitándome a Nueva York y asegurándome que volveríamos a encontrarnos. Lo vi perderse en la distancia y me quede estático por un rato, tratando de descender de la nebulosa en que me hallaba. Había comenzado a lloviznar y ni siquiera me enteré.
No sé si el caprichoso destino o el imparcial azar volverán a cruzarlo en mi camino. Fue como la aparición de un ángel en el momento que mas lo necesitaba.
No sé si alguna vez saldré de estas arenas miamenses, de esta faena de sonrisas fingidas y frases hechas.
Solo sé que un ocaso de febrero del 2009, descubrí a un tal Gerard. No al director consagrado e intocable, sino a un hombre sencillo y bondadoso.
POSDATA: A los pocos dias, pude constatar en su blog que la promesa de ayudarme habia comenzado a cumplirse….¡GRACIAS GERALD!
Gerald Thomas New York - 03/Março/2009 Constatou-se que 15 por cento da população americana, hoje, oficialmente, é hispânica. Legal e ilegalmente, 15 por cento no habla sequer lo inglês. Eu estava discutindo isso com um brilhante intelectual, um autor argentino que mora em Miami de nome Walter. Acaba de publicar um livro que irei resenhar junto com o livro do Denny Yang, “New York – New York” (um brasileiro de origem chinesa que mora em Taiwan e cujo blog está linkado aqui). O Livro do Walter se chama “O guia de deus?” Ou do diabo?
Gerald Thomas, 05/Março/2009 Ou: “O guia de Deus ou do Diabo?” (Não, esse é o título do livro de Walter Greulach, um genial escritor Argentino (seguindo a tradição de geniais escritores argentinos). Estou num estado de raiva e de “justiçamento” que não tem explicação. Deve ser a idade. Ou a menopausa. Sim, devo estar passando pela menopausa. Nem mais um minuto a perder. Viro-me, me mexo, pulo para várias áreas de Manhattan (várias fechando por causa da recessão), mas tenho me concentrado em reconhecer talentos. Os verdadeiros talentos: os escritos que me caem aqui nessa enorme mesa de metal.Danny Yang, Walter Greulach, Judith Malina sobre Erwin Piscator, uma pilha de novos scripts e Hard Shoulder prosseguindo com o cenário sendo feito na Polônia.
Thursday, March 5, 2009
El ocaso en que descubrí a un tal Gerald.
Walter Greulach (Dibujo de Leo Noboa)
Con admiración y respeto, dedicado al maestro Gerald Thomas
El sol amenazaba con dejarnos en tinieblas, mientras la tarde, impávida, se esforzaba muy poco por evitarlo. Tres o cuatro turistas, tirados panza arriba, se empecinaban en disfrutar de los raquíticos haces de luz en la playa floridana.Aquel jueves de febrero me encontraba al final de la rutinaria tarea de acomoda- reposeras en la playa del National. Metía toallas y cobertores sucios en una bolsa negra, al tiempo que repasaba mentalmente los rótulos que se me habían ido adosando a lo largo de mis cuarenta y pico de infructiferos años. Hijo en Mendoza, estudiante en Córdoba, locutor en Entre Ríos, cocinero en Aruba, mozo en Miami y ahora también “beach attendant”. No muy prometedor para alguien que a los diecisiete años se pensaba el sucesor de Borges o al menos un pichón de Cortazar.
Mi colega Jairo, el chapín, me miró con desgano, señalándome la salida del hotel.
—Atiéndalo usted Walter —me dijo con fingido respeto, a la vez que agarraba una sombrilla tirada en la arena, simulando encontrarse muy ocupado.
—Semejante amabilidad me confunde —pensé divertido. Mi compañero solo hacia esto cuando tenía catalogado al huésped de turno como mal tipeador. Luego me contaría que ya lo había atendido otras veces y nunca recibió mas de cinco dólares.
Cerré con fuerza la bolsa y le salí al encuentro. Mediría unos pocos centímetros más que yo, de cincuenta y tantos años, tez blanca, pelo negrísimo y nariz prominente. Surcó por mi cabeza la idea de que me encontraba en presencia de alguien famoso y rico, un excéntrico personaje de esos que bajan del norte. Desbordaba personalidad. Un tipo con aura dominante, como dicen por ahí.
—¿Puedo ayudarlo señor, se hospeda usted en el National Hotel? —pregunté, con la misma cantaleta repetida mas de mil veces.
Me contestó que se estaba quedando en el cuarto 706 y su nombre era Gerald Thomas. Pese a su blancura casi espectral, descarté que se tratase del director británico de cine fallecido varias décadas atrás.
—Solo quiero que me cuide un rato estas cosas, mientras me pego un baño en el mar —agregó cortésmente, dándome una envoltorio de plástico con ropa y un par de lentes. Un billete de veinte dólares me ayudó a hacer la tarea más placentera.
Estaba un poco fresco, salíamos de un frente frío que bajó los termómetros a treinta y pico, por eso me extraño la naturalidad con la que mr.Thomas se zambulló en el océano.
Unos quince minutos más tarde regresó por sus pertenencias. Le agradecí con un aporreado ingles que denunciaba mi no pertenencia a estas tierras. Me interrogó de donde venia y al contestarle Argentina se le iluminaron los oscuros ojos.
—Ahh, Buenos Aires —exclamó en un español aportuguesado— una de las ciudades mas bellas del mundo. La mixtura justa entre la modernidad europea y el pintoresquismo sudamericano.
Sacudió con la mano unas gotas que pendían de su cabello, se colocó los lentes y agregó :—Hace pocos meses estuve allá, dando unos talleres de teatro en el San Martín. También voy regularmente a Córdoba, al festival internacional.
—¿Es usted un actor de teatro? —pregunté entre curioso y avergonzado por no poder aun reconocerlo.
—Director de teatro —acotó y volviendo al tema de la ciudad porteña que lo tenía fascinado, agregó :—Cuna de Borges y Cortazar, dos geniales escritores que ha dado la lengua española.Catalogó al famoso ginebrino como el más universal de los autores modernos y resaltó el compromiso social y la consecuencia de Julio, a quien dijo haber conocido poco antes de su muerte.
A esa altura yo estaba embobado, me pellizqué disimuladamente para saber si no soñaba. Me encontraba frente a un intelectual de primerísimo nivel y hablando de mis dos mas grandes amores. Luego le tocó el turno a “Rayuela” y el sismo que provocó en la aburguesada literatura de aquel entonces. “Casa tomada” era para él el mejor cuento del franco-argentino, para mi: “La noche boca arriba“. Del genio ciego elogiamos “Borges y yo”, cuento sobre el cual había realizado un cortometraje.
Luego le conté de mi pasión temprana por el teatro, allá en los ochenta, en tierras cordobesas y como la cruda vida me alejó de la mas autentica expresión artística del ser humano.
Cuando las sombras amenazaban la vieja casucha de madera, agarró su bolsita marrón y se despidió. Un grupo de alborotadas gaviotas, cuervos y palomas, habían armado un zafarrancho por un puñado de papas fritas que algún gracioso desparramó en la arena. Nos alejamos unos pasos del bullicio y aproveché para comentarle sobre mi libro de cuentos “El guionista de Dios…¿o del Diablo?”, que desde hacia unos días había salido humildemente al mercado.
—¿Bose escribió un libro? —preguntó sorprendido— me gustaría leerlo.
—Mañana sin falta se lo traigo, será un honor para mí. —exclamé sinceramente.
El viernes amaneció frío y ventoso, grandes olas rompían el otrora calmo horizonte. Sentado en un banquito oculto tras la cabaña, esa aburrida jornada, buscando algún nuevo error, repase mi libro por centésima vez. Mi nuevo amigo ni apareció por la playa. Temí se hiciesen realidad los vaticinios de Ernesto, mi hijo mayor.
—No creo que vuelvas a verlo —habia declarado mi vástago con su habitual optimismo— Seguro que te dijo eso solo por compromiso.
Guardé el libro en mi mochila y regresé a casa bastante decepcionado. Mi última chance de entregárselo seria el sábado, pues domingo y lunes estaba libre.
En la noche me perdí en la red buscando información sobre el tal Gerald Thomas. Tal como lo intuía, resultó ser un prestigioso director anglo-brasilero con una dilatada trayectoria. La verdadera dimensión de su tamaño me la dieron sus sitios en la Web(http://colunistas.ig.com.br/geraldthomas/ y http://www.geraldthomas.com/)
Allí encontré desde una foto suya junto al colosal Samuel Beckett, pasando por unos elogiosos y largos comentarios de Philip Glass, hasta recortes en los más importantes periódicos del planeta alabando sus obras.Asumí con tristeza mi ignorancia y hasta vergüenza sentí por no haber sabido de primeras con quien me enfrentaba.
El tipo, sin lugar a dudas, había revolucionado el teatro brasilero y mundial, ganándose un lugar en el panteón junto a los grandes innovadores de esta época. Parecía ser una de esas personas que se juegan el todo defendiendo sus convicciones. Alabado y denostado por igual. Cielo e infierno. Dios y el Diablo en un cocktail explosivo.
Pasado el mediodía del sábado, el desasosiego pasó a ser resignación. Al final en un acto “temerario”, decidí llamarlo al cuarto 706. Eso lo teníamos estrictamente prohibido y podía llegar a perder mi prestigiosa posición de acomoda reposeras.Me indicó que no se había olvidado de mi libro, solo había estado ocupado con algunos reportajes, y que bajaba a la playa como en diez minutos.
Apareció junto a una elegante y simpática carioca, les di la mejor ubicación, ya reservada desde tempranas horas. Tenia bastante trabajo esa tarde, así que no pude prestarle demasiada atención, además no deseaba caerle pesado estando en tan linda compañía. Como sea me las rebusqué y de tanto en tanto hablamos del bahiense Amado y su folclorismo excesivo, de sus conversaciones con Manuel Puig, de Héctor Babenco y su obra cumbre “Pixote”, etc, etc.
Antes de marcharse y cuando yo ya imaginaba el final de mi historia con el gran Gerald Thomas, me dio un fuerte apretón de manos y dijo: —Walter, me gustaría tomar un café contigo antes de volver a Nueva York.Ahí me enteré que se quedaba unos días mas y ni lerdo ni perezoso, lo invité a encontrarnos en un Starbucks el miércoles a la mañana.
No quiero fatigarlos haciendo estúpido alarde de este encuentro, no es ese el objetivo de esta nota. Vamos al meollo pues…
El miércoles, esperando frente al café, bajo un cielo amenazante, volví a pensar que no vendría. El vuelo suyo salía a la tarde y seguro ya estaría camino al aeropuerto. Llamó por teléfono disculpándose por el atraso, el New York Times le acababa de hacer un interview para saber su opinión sobre el discurso de Obama en el Congreso. Aunque sea unos minutos me dedicaría antes del vuelo y así lo hizo.
Charlamos mas que nada sobre mi libro, mis expectativas, de cómo lo estaba difundiendo y de cómo me podía ayudar. Quedamos que en los próximos días haría un resumen de él y lo mandaría a distintos periódicos. También lo pondría en su sitio(al que entran mas de diez mil personas por día).
Se despidió de mí afectuosamente, con un beso en la mejilla que me agarró desprevenido, invitándome a Nueva York y asegurándome que volveríamos a encontrarnos. Lo vi perderse en la distancia y me quede estático por un rato, tratando de descender de la nebulosa en que me hallaba. Había comenzado a lloviznar y ni siquiera me enteré.
No sé si el caprichoso destino o el imparcial azar volverán a cruzarlo en mi camino. Fue como la aparición de un ángel en el momento que mas lo necesitaba.
No sé si alguna vez saldré de estas arenas miamenses, de esta faena de sonrisas fingidas y frases hechas.
Solo sé que un ocaso de febrero del 2009, descubrí a un tal Gerard. No al director consagrado e intocable, sino a un hombre sencillo y bondadoso.
POSDATA: A los pocos dias, pude constatar en su blog que la promesa de ayudarme habia comenzado a cumplirse….¡GRACIAS GERALD!
Gerald Thomas New York - 03/Março/2009 Constatou-se que 15 por cento da população americana, hoje, oficialmente, é hispânica. Legal e ilegalmente, 15 por cento no habla sequer lo inglês. Eu estava discutindo isso com um brilhante intelectual, um autor argentino que mora em Miami de nome Walter. Acaba de publicar um livro que irei resenhar junto com o livro do Denny Yang, “New York – New York” (um brasileiro de origem chinesa que mora em Taiwan e cujo blog está linkado aqui). O Livro do Walter se chama “O guia de deus?” Ou do diabo?
Gerald Thomas, 05/Março/2009 Ou: “O guia de Deus ou do Diabo?” (Não, esse é o título do livro de Walter Greulach, um genial escritor Argentino (seguindo a tradição de geniais escritores argentinos). Estou num estado de raiva e de “justiçamento” que não tem explicação. Deve ser a idade. Ou a menopausa. Sim, devo estar passando pela menopausa. Nem mais um minuto a perder. Viro-me, me mexo, pulo para várias áreas de Manhattan (várias fechando por causa da recessão), mas tenho me concentrado em reconhecer talentos. Os verdadeiros talentos: os escritos que me caem aqui nessa enorme mesa de metal.Danny Yang, Walter Greulach, Judith Malina sobre Erwin Piscator, uma pilha de novos scripts e Hard Shoulder prosseguindo com o cenário sendo feito na Polônia.
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quarta-feira, 8 de abril de 2009
Bernardo: cartas da imprecisão e do delírio
Pessoal: taí um linque para a revista Broca Literária. Publiquei lá o meu conto
Bernardo: Cartas da Imprecisão e do Delírio. Esse e outros textos contém citações homenageando Walter Campos de Carvalho, Maura Lopes Cançado, Ramon Maia, Luiz Matta e Rafael Rodrigues.
http://www.thedrillpress.com/broca/broca.shtml
Walter Greulach: estou começando a ler seu livro e adorando. Eu estou me identificando muito: também sou colunista em jornal do interior e, como sou muito crítico, sinto certa paranóia, como Julio. O nome do meu avô paterno era Júlio, inclusive. Você consegue pegar a atenção da gente e vai longe, Walter. Evoé, Gerald, por ter descoberto o Walter! Gerald, o senso comum acha mesmo que artistas são putas e viados e não putos e viados (isso deve ser em Portugal: putos e raparigas). Mas...eu não cultivo preconceitos como quem cultiva plantas carnívoras. Deixo isso para lá. Feliz Páscoa judaica, que a benção do sol desça sobre você aí em Nova York!
Voltando às novelas: por que não fazer uma novela com focas e chimpanzés, cães e gatos e outros bichos, agindo e adestrados como atores? Assim poupariam Graze Massafera de refazer cenas como em Negócio da China e Miguel Fallabela teria diante de si um desafio animaaal...
E o autor da novela Caras e Bundas (ou seria Poucas e Boas?) ao entrar no blog do Gerald perguntaria: quem fez esses desenhos aí, uma foca ou um chimpanzé?
O Big Brother poderia virar Big Father, um big brother de crianças com Marisa (ou Maysa?) no papel de "Pedro Bial"! Que tal?
Bernardo: Cartas da Imprecisão e do Delírio. Esse e outros textos contém citações homenageando Walter Campos de Carvalho, Maura Lopes Cançado, Ramon Maia, Luiz Matta e Rafael Rodrigues.
http://www.thedrillpress.com/broca/broca.shtml
Walter Greulach: estou começando a ler seu livro e adorando. Eu estou me identificando muito: também sou colunista em jornal do interior e, como sou muito crítico, sinto certa paranóia, como Julio. O nome do meu avô paterno era Júlio, inclusive. Você consegue pegar a atenção da gente e vai longe, Walter. Evoé, Gerald, por ter descoberto o Walter! Gerald, o senso comum acha mesmo que artistas são putas e viados e não putos e viados (isso deve ser em Portugal: putos e raparigas). Mas...eu não cultivo preconceitos como quem cultiva plantas carnívoras. Deixo isso para lá. Feliz Páscoa judaica, que a benção do sol desça sobre você aí em Nova York!
Voltando às novelas: por que não fazer uma novela com focas e chimpanzés, cães e gatos e outros bichos, agindo e adestrados como atores? Assim poupariam Graze Massafera de refazer cenas como em Negócio da China e Miguel Fallabela teria diante de si um desafio animaaal...
E o autor da novela Caras e Bundas (ou seria Poucas e Boas?) ao entrar no blog do Gerald perguntaria: quem fez esses desenhos aí, uma foca ou um chimpanzé?
O Big Brother poderia virar Big Father, um big brother de crianças com Marisa (ou Maysa?) no papel de "Pedro Bial"! Que tal?
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