Escrevo sobre a banda Junkie Dogs pensando diferente do que eles próprios se definem em seu perfil no MySpace (http://www.myspace.com/thejunkiedogs). Eles se dizem “just another new band”, ou seja, só uma nova banda qualquer, no entanto, eles contam com uma densidade poética visível em suas letras, ainda que a maioria seja escrita
O nome da banda remete, por sua vez, a William Burroughs, autor de Junkie e Almoço Nu, escritor tido como inspirador da contracultura e do rock dos anos 60
as horas passam
os homens passam
as tardes caem
enfim
acabou
o século vinte
se apenas conseguisse comunicar sentimentos sem a lógica dos sentidos como quem ressuscita da semente para dizer adeus e caminhar na tempestade tentativa de atrasar um minuto perdido sonhando com os mitos elementares que ocupam o imaginário das cidades delirantes de tragédias anunciadas e sangue de juventude esgotada sem o princípio de uma nova vida em pleno inverno de pequenos objetos que consomem todo o nosso afeto e distraem direções de olhares para dramas em lâmpadas de querosene comburentes de noites inteiras na sua chama amarela onde vejo minha alma extinta nos braços de um amor que olha para mim e ri como se soubesse que sou cruel e verdadeiro e sempre o mesmo para além do sol que chicoteia meu crânio nas marcas de unha do chão que ficou para trás porque sei que a imagem colossal do mundo povoado pelo homem se baseia em meu reflexo estampado na superfície do espelho apavorado pela existência que contempla a si mesma eternamente até mesmo quando olha outra pessoa e vê o próprio olho nas descobertas retidas pelas mágoas do olhar de quem não mais o ama
(declamado com vigor e demência)
para os olhos
movimentos circulares no sentido horário
para o pescoço
movimentos circulares descendentes
no sentido anti-horário
(urro primal)
ah
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