Fiquei matutando, durante a noite, as questões pontuadas pelo professor de Teatro aí embaixo.
1) Ele quis ser o transparente possível em sua montagem de O Processo, de Kafka. No entanto, essa montagem não é transparente, pois O Processo é romance e não peça. Trata-se de um experimento autoral, sim, já realizado por Gerald Thomas, por exemplo. Para tanto, seria importante assumir um olhar autoral no Segundo Caderno, na forma cênica, etc. O olhar não é óbvio e Kafka tb não. Se mesmo assim cobraram a angústia kafkiana e o autor fez humor com Kafka, então não se está, aqui, tão longe dos escorregadios dogmas do teatro carioca. E se o malemolente teatro carioca é dogmático, o que será do alto clero da Igreja Católica e da magistratura brasiliense?
2) O autor se disse conservador e ficou temeroso em relação ao futuro de Bilontra, assim como em relação a seu próprio futuro. Porque ele sabe que a tendência é que fiquemos mais presos aos anos de formação com o passar do tempo. E ele é preso a cânone: afinal, é tão importante para um aluno entender bem o Ésquilo quanto fazer pastiche do estilo de Beckett, o que, afinal, é muito bom exercício de estilo se for bem conduzido -- aí o papel do mestre, do condutor das ovelhas do rebanho...
3) O papo do Afonso de ovelhas-guia me deixou intrigado, principalmente porque se relaciona com o fato da carta estar ligada a um movimento internacional para restabelecimento das peças compreensíveis e do cânone do sistema numa perspectiva anti-sistema. Ou entendi mal? Afonso é lobo solitário, pelo que deu a entender em sua resposta, mas um lobo solitário pode guiar uma ovelha desgarrada que entra em choque, ao mesmo tempo, com as chanchadogmas do teatro rebolado karyoka e as hipóteses da academia. Aliás, alguém da academia não pode começar "limpando a área". Deve pesquisar a área, ler e ter conhecimento das interpretações de Kafka, optando por uma delas, citando as demais. Mas começar "limpando a área"...Isso não seria um efeito meio "Hitler Reichstag 1933?" Ele também começou "limpando a área". Claro que sei que o diretor de Bilontra não teve essa intenção. Mas a interpretação é importante e só faço esse paralelo para ressaltar isso.
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