quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Luta total: Tô fora desse engodo

O PT e seus lacaios da Teologia da Mentira e os agentes das pastorais burguesas quebram desde o  nascedouro a "democracia de base". Tal feito é a estratégia gramscista de formatação de uma "casta dirigente" e de uma "massa de comandados". IGNORARAM completamente os trabalhadores, incluindo os não sindicalizados. E querem o quê agora? Estão arquitetando a extinção do SUS e a privatização de  portos, estradas, aeroportos, Banco do Brasil, CEF e Correio e outras empresas, sendo recentemente a BR DISTRIBUIDORA com a venda de cerca de 25% das açoes e, QUEREM O QUÊ MESMO? Se fortalecerem para continuarem a golpear o povo, e pior ainda, com o apoio dos movimentos sociais cabrestos, de Ongs picaretas e de lideranças de partidos paridos pelo petismo chacal... São tão mal intencionados que, assim como os milicos e os nazistas agiram, fabricam atentados, levianamente, assaltos e arrombamentos de  sedes e representações do partido, para assim justificarem o recrudescimento do sistema do qual perseguem alopradamente, ainda que levando de roldão os seus aliados de então.  Áh, e o jaguara da CUT ainda fala insanamente em armas nas mãos e entrincheirados, quando sabemos defensores da revolução passiva. Ai está o gramscismo. Desconstruindo todos os adversários. Estão desenterrando defuntos mas esqueceram do Stalin e de Mussolini. O gramscismo é siamês do fascismo. O gramscismo não tem nada a ver com marxismo leninismo, trotskismo ou socialismo, ideologias essas que tem na ação direta a sua ferramenta principal. O gramscismo é uma ideologia ainda em "tubos de ensaios". Sendo os países latino americanos os maiores e primeiros laboratórios desta farsa capitalista burguesa... Um exemplo? Métodos e referências de Paulo Freire colocando vergonhosamente a sétima economia do mundo com a humilhante e destruidora educação, na 81 posição mundial. Ficam idolatrando falsarios de métodos experimentais, de facetas revolucionárias, quando na verdade é apenas uma leitura plagiada dos escritos laboratoriais de Antônio Gramsci. Já estou vendo professores e educadores ventríloquos ou intelectualóides orgânicos me incinerando. Com a crise econômica e política em ebulição, indiscutivelmente à violência que já é gigante irá tornar-se uma tsunami ou, um grande genocídio. Se falarmos em retirada do direito de herança, estatização da propriedade privada incluindo o latifúndio e os meios de produção, rapidamente chamam nos de radicais. O gramscismo é porta fria de capitalista e burgueses com sonhos de comandantes de rebanhos de alienados ventríloquos... outras forças politicas se juntam nesta empreitada desumana  que  lhes colocam historicamente e de fato, em defensores de falácias. Ficam ai fazendo média e arrombando a vida dos trabalhadores, quando apoiam aqueles que lesam as categorias. Desde há muito que se fala: Uma vez petista sempre petista. Sairam do partido petrolão e ficam cheirando as cuecas do Lula. Linhas auxiliares petista, de consultores falcatruas do dinheiro do povo. Os petrolao dando golpe na nação. 

  
Derrotar o PT é abrir caminhos para a esquerda, inclusive ao marxismo revolucionário.  A frente de muitos sindicatos existe uma legião de carreiristas, funcionários públicos, professores universitários e outros, que utilizam as massas apenas para garantirem suas benesses. É um direito? Sim, claro que é, mas eu nunca vi manifestações exigindo salario minimo compatível com a dignidade do trabalhador. No Senado e na Câmara, as bancadas que vcs arrotam progressistas fecham fileiras com o governo petrolão que arrocha os trabalhadores. Querem o que mesmo neste dia 20? Manter a máfia fudendo os trabalhadores e dizendo que combatê-la é golpe? E, de boa mesmo, numa linguagem coloquial, que democracia vcs estão defendendo? A burguesa ou a proletária? Os custos ou as consequências de derrotar o PT, somente os proletarios e a história dirão, e nós temos que tentar, até porque o PT não nos representa,  só tem o nome. Somos cerca de 2 milhões de desempregados, num acréscimo de mais 8 milhões de brasileiros na rua da amargura, juntando-se com os outros milhões já existentes. É algo semelhante à toda  população da República do Uruguai, apenas nesta etapa da crise do governo corrupto do Partido dos Trabalhadores. 


  Collor e FHC não era golpe, mas gora qualquer mudança é golpe



Fonte: Luta Total

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Felipe Vasconcelos: comendo na lata de lixo da ideologia

Abaixo, meu debate com Felipe Vasconcellos, que eu saiba, militante do PCR. Felipe: você está comendo na lata de lixo de Marilena Chauí, Zizek e dos "petralhas". Para você, apoiar impiximã ou guerra popular é "opção aventureira" e tem "consequências para o futuro dos comunistas". Tese ousada!


Vou colocar em termos ainda mais ousados: se tiver impiximã de Dilma e não eleição de Lula, não vai ter pão com mortadela para os revisionistas do PCR, é isso? Deixe-me ver se entendi: para você, se tirarmos um grupo corrupto, ligado a setores empresariais da burguesia burocrática, se entrar um outro grupo, também corrupto, mas sem base sindical e que não travará as centrais sindicais e os trabalhadores no campo como hoje o PT trava, usando de carguinhos e trololós como esse seu, os "comunistas" no país não vão ter futuro? 


Será que você não quer dizer é que os revisionistas vão ter que malhar, perdendo sua tetinha no estado, seus carguinhos, suas ilusões eleitoreiras?  É preciso, então, manter um grupo corrupto no poder, corporativizando toda a economia?


Eu deveria dizer ao pessoal do MNN que eles fazem uma análise errada só porque partem de uma teoria errônea, o trotsquismo? Devo mentir, dizendo que não foram corajososos ao interferirem nas manifestações da classe média?


Se os participantes do dia 16 fazem discurso de ódio, eles têm razão: o PT, focando na classe média, propagou um radicalismo pequeno-burguês e focou na moralização; a classe média acreditou. Agora, quando se mostraram corruptos, não fazem autocrítica. Fingem-se de inocentes e saem acusando o outro setor empresarial com o mesmo moralismo anterior! Não expulsam os corruptos do próprio partido (afinal, seria preciso fazer uma verdadeira razzia. Não ficaria quase ninguém), a mídia, o judiciário, a ultra-esquerda...todos são culpados, menos o PT e seus novos aliados: Collor, Sarney, Kátia Abreu, Renan, etc.


O PT não pode dizer que não faz discurso de ódio, pois existe o discurso tolo de Marilena Chauí contra a classe média. Embora ela seja uma boa especialista em Spinoza, como analista social é detestável e justifica o nome de "marxilena Xuxaí" que lhe foi pespegado pelo poeta Bruno Tolentino. A partir de um pressuposição de que ela estaria em uma posição a favor da classe trabalhadora apenas por apoiar o partido dos trabalhadores, Marilena, que durante muito tempo escreveu na Folha e só parou de escrever porque suas críticas vazaram para a Folha através de um aluno, passa a acusar a classe média de inúmeras coisas, ignorando que: 1) o PT era originalmente formado por pequena burguesia radicalizada e a aristocracia da classe trabalhadora; 2) ela quer dizer que classe média =PSDB. 3) Lula já disse que seu sonho era ser classe média, Dilma disse querer um país de classe média. Eles já quiseram impiximã de Sarney, FHC, Collor e Itamar, em todo escândalo de corrupção, sempre visando dividendos eleitorais. Lula já falou no impiximã como "solução dos problemas nacionais", veja que demagogo ignorante! Lula e Dilma apenas colhem o que o PT plantou.

Bem possivelmente, Lula voltará em 2018 para mais uma rodada de neoliberalismo e arrocho. É o grande ás na mão dos ricos e poderosos, o líder popular que eles precisam para continuar o desmonte do estado. Devo ficar triste se tal figura asquerosa, suspeita de colaboração com a ditadura, com a Globo em 89, supostamente corrupta, certamente perniciosa --que se aproveita de sua origem de classe operária para atacar o marxismo-- for para atrás das grades e não consiga seu intento? E sobre Mao, sim, Mao foi além de Marx e Lênin, sim, é claro que diverge, pois algumas proposições de Lênin, por exemplo, estão superadas. Pannekoek respondeu muito bem às observações de Lênin em O Esquerdismo. Aquilo é muito válido para nós. Nesse nosso contexto, o melhor é votar nulo e boicotar eleições, não há mexer diretamente nisso, mas mesmo assim se pode influenciar indiretamente.

Aqui em minha cidade, por exemplo, eu fui o primeiro a propor o corte de salário para os vereadores. Meu artigo saiu no antigo Folha de Bom Despacho e chamava-se: quer ser vereador de graça? Um dos PACs de Dilma propõe a vereança gratuita em cidades de menos de 100 mil habitantes. Agora já apoiaram a iniciativa: o radialista Maurício Reis (embora jogando o corte para a metade), o professor Alexandre Cavalieri e, mais recentemente, o próprio vereador Zé Ivo.
Felipe Vasconcelos Carneiro disse...Me desculpe, Lúcio, mas que comparação precária que você fez, se assemelhando mesmo à algumas citações que o Mao fazia e não eram nada claras. Essa sua postagem só mostra que o maoísmo não passa de mais um revisionismo (talvez mais pernicioso por se dizer anti-revisionista, pró-Stalin (até a página 2) etc.), como é o trotskismo. Chega ao ponto de partidários do maoísmo e do trotskismo trabalharem em sinergia, por um objetivo aventureiro de apoiar o impeachment da Dilma, opção nesse momento mais que duvidosa em termos de consequências para o futuro dos comunistas no país.17 de agosto de 2015 09:23 Felipe Vasconcelos Carneiro disse...«¿Será casualidad que para denigrar a la Komintern y a Iósif Stalin hagan piña revisionistas soviéticos, chinos, yugoslavos, eurocomunistas, etc.? ¿Es igualmente casualidad que usen los mismos «argumentos» que la emplearían la socialdemocracia o Trotski? Para los marxista-leninistas de hoy en día, es un honor poder estudiar la experiencia de la Komintern con los medios que hoy disponemos. Para nosotros la Komintern de Lenin, Stalin, Dimitrov, y otros, y su historia debe de ser estudiada por todo marxista-leninista por su gran aportación al movimiento comunista internacional». (Equipo de Bitácora (M-L); Introducción a la obra de Shyqri Ballvora: «La importancia histórica de la Komintern en la denuncia y exposición de los revisionistas y su papel y lugar en la historia» de 1984, 4 de febrero de 2015)LEIA MAIS EM: http://bitacoramarxistaleninista.blogspot.com.br/2015/08/las-invenciones-del-thalmanniano.html17 de agosto de 2015 09:45 Revistacidadesol disse...Eu fui do PT e eles pediram impiximã de Sarney, Itamar, Collor e FHC. A cada novo escândalo de corrupção, pediam impiximã interessados em dividendos eleitoreiros. Agora apenas a classe média e alguns setores empresariais, manipulado por outro setor empresarial, pratica o que eles ensinaram.Igualmente, fizeram campanha pela moralização, mas praticaram a corrução largamente, dando ódio, pois os trabalhadores e a classe média sintam raiva, pois se sentiram traídos.
Não vi muita ligação com esse papo do Komintern e Stálin.Ninguém fez mais do que Mao pela memória de Stálin desde 56. Hoxhaísta nenhum começou nenhuma guerra popular --pelo contrário, serviram de base para a degeneraçaõ do pc do b e ainda hoje o pcr envolve-se em jogadas eleitoreiras.Não perca seu tempo, Felipe!Abs do Lúcio Jr.17 de agosto de 2015 10:06 Felipe Vasconcelos Carneiro disse...Claro que o PT está sendo vítima do moralismo burguês que pregou quando estava na oposição. Entretanto, pelo que eu saiba, o Fora Collor, o Fora FHC que o PT promovia não chegava a 1/10 em termos de movimentação do que está sendo o Fora Dilma atualmente."Ninguém fez mais do que Mao pela memória de Stálin desde 56."Essa frase é de rir pra não chorar, né Lúcio? É só dar uma lida um pouco mais atenta em algumas obras de Mao pra ver que ele divergia das posições de Lênin e Stálin em questões cruciais do marxismo-leninismo. É melhor você ler todo esse texto (que é grande) do link pra ver que Frentes Populares não são eleitoreiras e Guerras Populares podem ser aventureiras.


sábado, 15 de agosto de 2015

Uma resenha de Cuba

Uma resenha de Cuba: democracia ou ditadura? de Marta Harnecker.

A bolinha sorteada

Kafunga, um grande filósofo contemporâneo, contava que, em certa época, a Federação Mineira de Futebol havia encontrado a maneira perfeita de responder à acusação de que só escalava árbitros tendenciosos: três juízes eram pré-selecionados; um era escolhido por sorteio para apitar e os dois restantes iam para a bandeira. Toda imprensa podia ver um garoto enfiando a mão na sacolinha de pano e retirando a bolinha de madeira com o número do árbitro principal. O que ninguém via era o dirigente colocando a bolinha que seu filho iria sortear na geladeira.
O livro de Marta Harnecker pergunta: democracia ou ditadura? Eu acrescentaria ainda: socialismo ou capitalismo de estado?
Para responder estas perguntas é necessário conhecer a gênese da revolução cubana, ou melhor, como é que a bolinha do Partido Comunista Cubano foi parar na geladeira.
O mito da Revolução Cubana é muito conhecido: em 26 de julho de 53, Fidel e um punhado de companheiros tentou tomar de assalto o quartel de Moncada. Preso, foi para o exílio no México. Lá reuniu 80 homens que embarcaram no iate Granma. Foram emboscados e apenas 12 sobreviventes alcançaram a Sierra Maestra. Dois anos depois os guerrilheiros entravam em Havana.
O mito não persiste apenas no imaginário popular, ele inspirou uma geração de revolucionários por toda a América Latina. Regis Debray, um intelectual francês, deu forma teórica ao mito em seu livro “Revolução na revolução”. O próprio Che encontrou a morte na Bolívia tentando repetir a receita cubana.
Cuba era um país relativamente próspero sob Batista, apesar da grande desigualdade social e da existência de um governo corrupto e sanguinário. O grande partido de massas, de oposição, era o Partido Ortodoxo, de onde saíram os quadros que atacaram o quartel de Moncada. Seu símbolo era uma vassoura.
Os barbudos, como eram identificados os homens de Fidel, eram uns 300, ao final da luta. Do outro lado, havia o exército de Batista com 50.000 homens. Para entender como isto foi possível é preciso conhecer todas as forças envolvidas no processo.
Os estudantes tomaram parte ativa nesta luta, com suas federações. Os empregados no comércio e na indústria promoveram várias greves, inclusive a greve geral que impediu que o general indicado pelos americanos assumisse o lugar de Batista. Havia ainda o Diretório Revolucionário, que ajudou ativamente ao Che, na batalha decisiva de Las Villas e o Movimento 26 de Julho, muito amplo e abrigando várias tendências. Os camponeses tinham uma tradição de luta que vinha desde a guerra da independência. Fidel e seus homens foram acolhidos, logo depois do desembarque fracassado, por camponeses que já estavam organizados na luta contra Batista.
Pelo seu conteúdo, a revolução era essencialmente democrática burguesa. O Partido Comunista Cubano participava do governo Batista e condenou o levante armado. Apenas no final da luta, quando a balança já havia se inclinado para o lado dos rebeldes, é que eles apareceram na Sierra Maestra.
Segundo Marta Harnecker:
“Em 1959 existiam fundamentalmente três grupos revolucionários: o Movimento 26 de Julho, o Diretório Revolucionário e o Partido Socialista Popular (Partido Comunista) que agrupavam alguns milhares de militantes.”
O Partido Comunista era um grupo revolucionário que, não só não participava da revolução, como era contra ela!
“Esta longa luta começa sem que exista um partido revolucionário forte, mas contando com um líder indiscutível, Fidel Castro, que já antes do assalto ao quartel Moncada, juntamente com outros dirigentes do Movimento 26 de Julho, tinha feito sua a concepção marxista-leninista da história”. Harnecker, Marta.
Continua.

Socialismo e Democracia em Cuba

Socialismo e democracia em Cuba

Este é o primeiro de uma série de artigos que estou escrevendo para um grupo temático que estuda a Revolução Cubana.


Unidade!

Para deixar bem clara a minha posição, devo dizer que não concordo com a tese de que a democracia é um valor universal. Isso porque não se pode colocar em segundo plano o conteúdo material do governo. Além disso, as formas que pelas quais a democracia é exercida estão conformadas por uma série de circunstâncias. Eu diria, entretanto, que só pode haver socialismo com democracia.
Uma revolução só se faz com a quebra da legalidade anterior e a instauração de um governo provisório, que tratará de se institucionalizar. Em Cuba, o conteúdo da revolução era anti-imperialista e democrático-burguês. Havia o compromisso de todas as forças que se uniram contra Batista de adotar a Constituição de 1940 e colocar como presidente Urrutia, um juiz que se notabilizara por sua oposição ao ditador.
Ora, as eleições gerais e o voto universal, embora aparentemente democráticos, trazem embutidos uma série de distorções. Primeiramente o acesso à informação. A imprensa e os meios de comunicação eram controlados diretamente por Batista. O jornal Revolución, órgão oficial dos rebeldes, publicou a lista dos jornalistas que recebiam do ditador. Sem falar que os revolucionários só podiam atuar na clandestinidade, principalmente os combatentes das cidades. A grande notoriedade de Fidel se devia ao seu julgamento pelo assalto ao Quartel de Moncada e à sua atuação anterior, na juventude do Partido Ortodoxo. Neste sentido, os políticos tradicionais levavam uma grande vantagem.
Outro aspecto que deve ser levado em conta é a necessidade de se reestruturar toda a máquina do Estado. Esta máquina não é neutra, ela está montada para atender a determinados interesses de classe.  O novo poder necessitava de uma estrutura deliberativa ágil, que fosse ao mesmo tempo executivo e legislativo, para poder remontar a máquina estatal. Sem falar na criação de uma justiça revolucionária de exceção, para julgar os crimes políticos do regime de Batista.
O primeiro compromisso da Revolução era  com seu programa e o novo poder deveria acomodar dentro de si todas as forças que o apoiassem.
Não possuo elementos para dizer quais seriam as formas adequadas para contemplar estas exigências. A minha crítica se restringirá aos resultados alcançados com o poder revolucionário que se estendeu de 59 até meados da década de 70.
Primeiramente, houve o alijamento de uma série de forças que haviam participado do processo. Em relação a uma parte da burguesia cubana, este afastamento era inevitável.  Podemos caracterizar a relação entre os Estados Unidos e Cuba como neocolonialista. Com a ruptura destes laços, os interesses desta camada seriam prejudicados. A própria dinâmica de uma revolução, que traz em si um tensionamento constante, deveria deixar para trás alguns setores que não almejavam mais do que uma democracia formal, uma revolução política, mas não social.
Houve, desde o início, uma disputa entre os guerrilheiros da Sierra Maestra e os revolucionários clandestinos das cidades. Os barbudos acabaram por monopolizar o poder com o auxílio de uma terceira força, que só se havia definido pela Revolução ao final do processo, o PCC (Partido Comunista de Cuba). Fidel usou a estrutura verticalizada dos comunistas para ocupar a máquina estatal.
O discurso político da revolução cubana diz muito sobre a sua evolução. Nesta primeira etapa, em que há uma disputa de poder dentro das forças revolucionárias, a palavra de ordem que predomina é: Unidade!
Essa disputa não se deu apenas dentro do poder revolucionário. Estendeu-se também às organizações de massa, sindicatos e entidades estudantis. Nas primeiras eleições livres para a CTC (Confederação dos trabalhadores Cubanos), em 1959, os comunistas obtiveram menos de 10% dos votos. Fidel tentou a todo custo eleger uma direção em que eles tivessem uma participação maior, apelando em vão para a Unidade. Os trabalhadores, embora reconhecessem nele a liderança incontestável da revolução, elegeram uma direção que era puro Movimento 26 de Julho.
Este apelo se tornou se tornou uma constante. Cada vez que as forças revolucionárias se opunham à participação crescente dos comunistas, Fidel exigia que estas críticas cessassem, em nome da unidade.  O verdadeiro sentido desta Unidade era a aceitação incondicional da liderança carismática de Fidel e da participação cada vez maior dos comunistas.
As entidades sindicais e estudantis acabaram por serem esvaziadas. A grande liderança estudantil, Pedro Luís Boitel, exigia uma reforma universitária com autonomia e eleições livres. Em 60 foi preso e em 74 morreu na prisão, em conseqüência de uma greve de fome. Fidel colocou um comunista no Ministério do Trabalho e só muito mais tarde os sindicatos voltaram a ter uma participação importante, mas já totalmente subordinados ao governo.
Houve várias tentativas infrutíferas de fusão das forças revolucionárias, que acabaram com a criação do partido único, o PCC, cujo Comitê Central foi constituído em 65 e cujo primeiro congresso aconteceu em 75!
Quando finalmente o país ganhou uma constituição em 1976, esta, em seu preâmbulo, oficializou o mito de que a Revolução Cubana pode ser sintetizada através da luta dos guerrilheiros de Sierra Maestra, conduzidos por Fidel, sacramentando assim o resultado da disputa pelo poder. É uma das raras constituições socialistas do mundo que destaca a figura de um dirigente. Nem Lênin, nem Mao se arrogaram este privilégio. Já Kim Il-Song, da Coréia do Norte, se julgou  à altura desta honraria.
Ela também consagra o PCC como “a força dirigente superior da sociedade e do estado”. Até hoje a retórica de Fidel guarda resquícios de um humanismo, que, no seu início, tinha um viés anti-comunista. Para acomodar esta heterodoxia, declarou-se que o PCC é Martiniano e Marxista-leninista. 
continua.

Socialismo e Democracia em Cuba III

Socialismo e democracia em Cuba III

 Pátria o muerte!

No filme A chinesa, de Godard, há uma citação de Mao: “A revolução não é um banquete, não é uma obra, de arte. Ela não pode ser feita com elegância, tranqüilidade, delicadeza, amabilidade, cortesia, discrição e generosidade. A revolução é uma insurreição violenta na qual uma classe derruba a outra.”
Frases como esta costumam ser usadas para justificar os excessos cometidos em nome da revolução.  Mesmo assim, ela é verdadeira, se aplicada ao seu período inicial. É o que Marx chamava de solução plebéia. A guilhotina e o “paredón” são inevitáveis, até mesmo necessários.
Uma das peculiaridades da revolução cubana é que ela foi relativamente incruenta. Não houve uma guerra civil, não houve destruição de fábricas ou lavouras, as baixas em batalha foram poucas e praticamente toda a população apoiou os rebeldes. Quando o regime de Batista se desmantelou, o seu exército se rendia aos rebeldes mais rapidamente do que eles podiam avançar. Entretanto, houve uma repressão muito forte nas cidades, onde a resistência clandestina teve inúmeros mortos e a tortura e o assassinato eram práticas corriqueiras. Este quadro justifica o paredón, embora não explique porque o novo poder demorou quase 18 anos para dar uma nova Constituição ao país.
Fidel era a liderança incontestável da revolução, graças à visibilidade que havia adquirido com o assalto ao Quartel de Moncada e às transmissões da Rádio Rebelde. Cuba era um país relativamente próspero, com grandes desigualdades sociais e uma tradição de governantes corruptos.  No início, houve uma dualidade de poderes. Os revolucionários haviam assumido o compromisso de conservarem a Constituição de 1940 e de colocarem Urrutia, um juiz com mentalidade legalista,  à frente de um governo provisório que realizaria eleições gerais tão logo fosse possível.
O afastamento de Urrutia foi inevitável, já que o aprofundamento da revolução exigia uma série de medidas antiimperialistas e de combate às desigualdades sociais que não cabiam dentro da legalidade vigente. Inaugurou-se então o poder revolucionário.             
Os primeiros anos da revolução são anos de um voluntarismo e de um romantismo revolucionários exacerbados. Estes acabaram levando a revolução a uma radicalização desnecessária e a um estreitamento de sua base social.
Como mostramos em outro local, dentro do próprio campo das forças revolucionárias, havia uma luta pelo poder, que terminou com o predomínio dos “barbudos” e a entrega da máquina do estado ao PCC, em torno do qual se unificaram os rebeldes. Sindicatos e associações estudantis, que haviam jogado um grande peso na luta contra Batista, foram submetidos ao novo poder, que passou por cima destas instâncias.
Em 1961, logo após o episódio da Baía dos Porcos, Fidel declarou que o conteúdo da Revolução era socialista.  Segundo ele: “a revolução não tem tempo para eleições” e “não há governo mais democrático na América Latina que o governo revolucionário”.
Em relação a alguns segmentos sociais que haviam apoiado a revolução, houve um confronto desnecessário. Dos 3.000 médicos que havia em Cuba, apenas uns 1.000 permaneceram. O ensino privado e religioso foi abolido e a educação passou totalmente ao estado. No final da década de 60, as pequenas fábricas e prestadores de serviço foram nacionalizados.
O novo poder se lançou numa cruzada destinada a criação do homem novo cubano. Isto resultou numa política sectária em relação aos intelectuais, além da repressão sistemática aos homossexuais, hippies, crentes, prostitutas e toda uma série de elementos rotulados de parasitas, contra-revolucionários e anti-sociais.
A reforma agrária cubana merece um capítulo a parte. Com a existência da monocultura totalmente voltada para o mercado externo, predominava no campo o trabalho assalariado e temporário. Houve uma nacionalização das grandes propriedades, muitas das quais em mãos de americanos, com a formação de grandes cooperativas, onde os camponeses passaram a ser empregados do Estado. A pequena propriedade continuou existindo, embora toda a sua produção fosse destinada ao governo.
Logo no início dos anos sessenta, o aumento da renda e do consumo, além da ineficiência administrativa dos novos dirigentes, causaram a falta de alimentos e de vários produtos básicos, o que levou ao racionamento. Cuba optou pela adoção da libreta e a proibição do mercado livre dos gêneros racionados.
O próprio Fidel, em 1970, numa autocrítica, reconheceu que o fator subjetivo, a consciência de classe, estava muito atrasada em Cuba quando da derrubada de Batista. Isto não impediu que os revolucionários se lançassem a uma batalha completamente acima de suas forças. O novo poder tinha que ser, ao mesmo tempo, o executivo e o legislativo. A máquina de estado anterior era inútil para dirigir a nova economia. Os revolucionários precisavam administrar as fábricas nacionalizadas, mesmo sem a formação necessária.  Ao mesmo tempo, deviam enfrentar o inimigo externo, que promovia invasões e sabotagens. Internamente, num episódio pouco conhecido, teve que derrotar os rebelados da província de Escambray, que empreenderam uma guerra de guerrilhas de 60 a 66.
Franqui atribui o levante em Escambray a uma série de tropelias cometidas por Félix Torres, um membro do PCC que assumiu o governo da província. Ele prendeu e fuzilou arbitrariamente, tomou terras dos camponeses, ressuscitou o sistema de pagamento por trabalho, odiado pelos trabalhadores rurais, e, por fim, formou um harém de garotas camponesas.
Com tantos problemas, não é de se estranhar que a revolução não tivesse tempo para eleições. Isto não quer dizer que o poder não procurasse se legitimar de alguma maneira. Fidel é uma liderança carismática e, ao contrário de outros dirigentes socialistas, mantinha um contato permanente com as massas. As principais medidas do governo eram submetidas à aclamação, em grandes comícios na Praça da Revolução.
Paralelamente, havia duas instituições, as milícias e os Comitês de Defesa da Revolução, em que a população tinha voz ativa nas deliberações. Os CDR, criados em 1960 para enfrentar os inimigos internos e externos hoje abrangem 80% da população acima de 14 anos. Entretanto, a iniciativa não estava com as massas. Cabia a elas um papel passivo, de defesa das conquistas, cabendo ao governo propor os avanços a serem efetuados.
Na maioria da população, não havia uma reivindicação pela volta das eleições e de outras instituições representativas do antigo regime. A explicação está nos avanços sociais da revolução, que no primeiro momento realizou a palavra de ordem de Fidel: uma revolução dos pobres para os pobres. O poder revolucionário tinha legitimidade. Por outro lado, ainda era viva a lembrança dos vícios dos governos anteriores e de seus políticos tradicionais.
 Marta Harnecker traz este depoimento de um cubano sobre as primeiras eleições em Cuba, após a tomada do poder:

“Na época da República não era a vontade do povo que primava. Havia toda uma série de subterfúgios para fazer triunfar a vontade da minoria. Agora tudo se modificou radicalmente.
No passado, o cidadão via-se obrigado a votar por um homem que tinha convertido a função política numa profissão e que utilizava agências e aparelhos organizados por ele próprio para figurarem sempre nos boletins eleitorais.
E você sabe por que razão o voto era obrigatório? Porque sabiam que se não o faziam obrigatório ninguém votava. Não acha absurdo que quando uma pessoa tem um direito seja obrigada a exercê-lo?
E agora nas eleições do Poder Popular, sem propaganda, sem encher de pasquins os estabelecimentos, a porcentagem de votantes foi muito elevada, o que diz muito da consciência dos cidadãos.”
Antes da institucionalização do poder, com a adoção de uma Constituição e de eleições para a Assembléia Nacional, a adesão da população era mantida à base do apelo ideológico. Eram os tempos do “Patria o muerte!” A máquina estatal não estava azeitava e adotou-se uma planificação econômica arbitrária. Nas fábricas, o ganho material foi rejeitado como fator de incentivo à produção. Os dirigentes do PCC acumulavam as tarefas políticas com a administração. Os trabalhadores de vanguarda eram o modelo a ser seguido e sobre eles recaía a tarefa de conseguir as metas propostas. O descrédito com a adoção de metas irrealistas e a ineficiência dos gerentes, acabou por inibir a iniciativa dos trabalhadores e por aumentar o absenteísmo.
Marta Harnecker dá o exemplo de uma fábrica onde havia 640 trabalhadores, sendo 19 militantes e 140 trabalhadores de vanguarda. Estes recebiam como prêmio um diploma mensal (para os três mais destacados em cada oficina), além de planos de férias especiais, entradas para o teatro, além de prioridade para compraram os produtos racionados.
O apelo ideológico se traduzia em um vocabulário próprio. Quando um discurso pedindo o cumprimento de uma meta terminava com o slogan “Patria o muerte!”, isto significava que a tarefa era essencial à revolução e quem não a cumprisse seria considerado contra-revolucionário. Os contra-revolucionários eram “afetados” por todo tipo de influência nociva e o resultado da crítica e autocrítica públicas era a necessidade do criticado se “superar”.
A sovietização do cotidiano cubano foi muito além da importação dos udarniki (os trabalhadores de vanguarda). Foram criados os pioneiros, a juventude comunista, à maneira do komsomol, e a UNEAC, o equivalente cubano da União dos Escritores Soviéticos. Os CDR acabaram reproduzindo o modelo soviético de habitação coletiva, onde todos controlavam a vida de todos.   O fato de serem organizados por quarteirão facilitava este controle fino. Eu recomendo o romance Os filhos da Rua Arbat e o filme Morango e Chocolate, para ajudar a clarear o que seria este processo
Esta sovietização consolidou o caminho para um estado policial, nos moldes dos países socialistas. Uma pequena cronologia ajudará a traçar esta evolução:         
1959 – tomada do poder.
1961 – invasão da baía dos porcos e decretação do caráter socialistas da revolução. Fundação do Ministério do Interior, que abriga os órgãos de segurança do Estado.
1962 – crise dos mísseis. Fidel se ressente do papel de Krushev e Cuba se afasta ideologicamente dos soviéticos
1965 – É criado o CC do PCC.
1966 – É criada a OLAS, Organização Latino Americana de Solidariedade, que lança a palavra de ordem “criar um, dois, três Vietnãs”.
1967 – Morte do Che na Bolivia
1968 – Cuba apóia a Invasão da Tchecoeslováquia pelas tropas do pacto de Varsóvia.
1970 – Fracasso da safra de 10 milhões de toneladas de açúcar. Autocrítica de Fidel.
1971 – Prisão de Padilha e afastamento de vários intelectuais da revolução cubana.
1974 – Eleições experimentais em Matanzas
1975 – Primeiro Congresso do recriado PCC.
1976 – Aprovada a Constituição Cubana. Eleição da primeira Assembléia.
Para quem quiser conhecer em detalhes os mecanismos formais do  poder popular, recomendo este site:http://www.josemarti.com.br/man/Artigo_eleicoes_em_Cuba.pdf
O modelo cubano traz características interessantes: os candidatos não necessitam estar filiados ao PCC (não existe formalmente outro partido em Cuba). São indicados pelos próprios eleitores e podem ter o seu mandato revogado a qualquer momento. Em tese, seriam formas avançadas de democracia direta. Na prática, os candidatos não precisam nem morar na província pela qual serão eleitos e são indicados pelo PCC. As decisões de fato são tomadas por um pequeno círculo que as apresenta ao Bureau Político e depois ao CC do PCC para serem referendadas e adotadas pela Assembléia Nacional.
Resumindo: a Revolução Cubana despertou um enorme potencial revolucionário que foi malbaratado. Primeiro com a exclusão de organizações que haviam desempenhado um papel importante na revolução e com a criação artificial de um partido único, de cima para baixo. Depois com um processo voluntarista de radicalização, que tratou como inimigos importantes setores de classe e indivíduos. Mais tarde, com métodos de direção ineficientes e burocráticos, movidos a apelos ideológicos vazios. Quando finalmente se institucionalizou um poder popular, 18 anos após a queda de Batista, as massas já haviam perdido o seu ímpeto revolucionário.
As formas de democracia direta, que existem no modelo atual, não têm o menor conteúdo revolucionário. E, contraditoriamente, propostas mais avançadas de reforma do regime incluiriam a volta de antigas formas de democracia burguesa, como a liberdade partidária. Embora o regime esteja em plena marcha ré na economia, o apego de um pequeno círculo ao poder continua freando a reforma política. O que pode levar à perda definitiva da coesão social, já que a nova classe média que surge é muito permeável a influência das democracias ocidentais e as classes mais desfavorecidas correm o risco de perderem as conquistas sociais da revolução.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Análise do MNN sobre o momento atual


A classe trabalhadora precisa pensar com a mesma lógica, a lógica da luta de classes, e não se iludir com os falsários que falam, tanto e tanto, há anos, em seu nome, alimentando ilusões no parlamento burguês ou em reformas dentro da ordem do capital. A classe trabalhadora precisa exercer a sua política verdadeira, que é a resistência à extração cotidiana de mais-valia pelo capital. Mas para essa resistência e para essa política verdadeira, sem dúvida, é um fator muito positivo a saída do PT do poder. O PT, queira-se ou não, é o principal partido, para a burguesia, nessa verdadeira política, pois é o partido mais bem qualificado e preparado para manter a classe trabalhadora controlada e impotente diante do roubo cotidiano que o capital faz de sua vida. Se a burguesia tiver de afastar o PT do poder, é porque a situação chegou em um grau insustentável para sua dominação. O PT é o fiel da balança para a manutenção da ordem burguesa atual e, caso caia, será acelerada a queda de um bloqueio histórico à luta da classe trabalhadora, um bloqueio que há décadas impediu e impede a criação de uma alternativa revolucionária. Basta lembrar que há 35 anos a maioria da esquerda dita revolucionária entrou no PT em busca de um suposto atalho de construção, e saiu desse partido igual ou mais fraca do que entrou. O PT, com seu programa reformista e parlamentar, bloqueou por décadas e ainda bloqueia a esquerda e a classe trabalhadora. O afastamento do PT da presidência (mesmo que signifique sua manutenção na estrutura do governo) significa quebrar em grande medida o financiamento de sua base sindical e burocrática comprada, que se alimenta do Estado e age para paralisar a classe trabalhadora. Diminuir as verbas para as burocracias compradas é uma forma de enfraquecê-las materialmente. Enfraquecê-las tende a favorecer seu atropelo pelas lutas da classe trabalhadora que certamente virão.


Assim, se a saída de Dilma do governo não é ainda algo estratégico (no sentido da sua derrubada pelo poder autônomo e organizado da classe trabalhadora), é sem dúvida algo tático muito importante. A saída do PT do governo, ao favorecer a luta autônoma da classe trabalhadora, é hoje uma tática para acelerar o reagrupamento da esquerda revolucionária em torno de um novo projeto, ou melhor, em torno do velho projeto marxista da dualidade de poder.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Dia 16: Eu Vou!

Eu vou às manifestações no dia 16 aqui em Bom Despacho, assim como as estou apoiando. Elas serão na Praça da Inconfidência às 17 horas, domingo. Eu vou, mas vou levar reivindicações populares: mais educação, melhor transporte, melhor saúde. Fim do analfabetismo, fome, violência urbana.


Por que? Em poucas palavras: nacionalmente, são apoiadas por gente como Fernando Haliday e Kim Kataguiri, pela direita, pela mídia. Eles são apoiados pelos mesmos setores empresariais que apoiam o PSDB, mas não assumem, mostrando-se apartidários.  No entanto, seu programa é o "raio privatizador". Dilma e Lula estão agindo mais rápido e tomando conta desse programa, esvaziando-o, como esvaziaram a única bandeira de Aécio que "dava liga", a maioridade penal aos 16 anos combatendo-a de boca para fora, mas fazendo acordos por baixo dos panos para adotá-la e deixar a oposição sem bandeira para 2018.

 Há grande promiscuidade entre PT e PSDB nas cúpulas, mas nas bases há uma tendência a brigarem feito torcida de futebol --e de agora em diante haverá sangue. Quem não tiver o estado nas mãos tende a falir. O futuro de Veja é adotar um noticiário mais moderado quanto ao PT, assim como toda mídia. Em muitas cidades, PT e PSDB são aliados. Por isso, não tem fundamento esse discurso do PT de que "se aliar com o PSDB é se aliar com fascistas". É mais lúcida a análise da Unidade Vermelha: se for assim, é uma disputa interfascista.

  Kataguiri está certo quando fala que o atual regime é "um corporativismo", mas erra em pensar que isso não é capitalismo. É sim, um capitalismo burocrático, típico de país atrasado. Se o PSDB era tecnocrata, o critério do PT parece ser mais "cordial". Parecem ambicionar corporativizar todo o sistema econômico num grande esquemão, num combinado de amigos, parentes e compadres.

 Por isso enfrentam tanta resistência e tanto ódio: por eles, tudo ficaria nas mãos de um só grupo. Neste contexto, nem todo mundo, nem todos os setores podem ter uma tetinha e muitos não querem apoiar e fazer discurso falso sobre socialismo, pois temem disseminar esse discurso --e com alguma razão, pois essa jogada é em parte perigosa do ponto de vista da dominação. Assim como o PT tem uma militância e isso do ponto de vista da dominação é um constrangimento muito grande. 

Os grupos que se opõem no Brasil parecem os grupos oligárquicos de uma cidade do interior. O jogo todo parece Simão X Haroldo, Bias versus Andradas, etc. Só que a coloração falsa de esquerda e direita impede que vejamos o jogo como uma briga de feirantes. Um dos lados, o do PT, PC do B e outros, joga com manobras de esquerda razoavelmente bem sucedidas: cotas, médicos cubanos, bolsa-família, etc.


Há também um ato dia 20, me falam. Há rumores de que o PT apoia esse ato, que era para ser independente. Mas deixemos um esclarecimento: vazou para mim, através do marxiano Erik Haagensen, que internamente PSOL, PCB, PSTU e PCO querem, sim, manter o PT no poder, pois com o PT no poder, ele se desgasta e eles crescem. Com o PT na oposição, ele seria forte e ofuscaria essas pequenas siglas. Assim sendo, elas fazem atos só para inglês ver, atos mortos e paumolengas como o dia 20. Na prática, os "Trapalhões", como eu chamo carinhosamente essas siglas, que afinal abrigam tanto amigos, são governistas na prática e oposicionistas de boca. Aécio está certo em denunciar Luciana Genro como linha auxiliar do PT.








Reversal Brasileira (do blog Grande Dazibao)

Reversal brasileira



Aproveitando o infinito material de zoeira na internet, e a piadinha com os hoxhaístas, o Grande Dazibao trata de outro assunto, que chamaremos de “Reversal Brasileira”. Talvez muitos já conheçam aquele meme da reversal russa, que fala sobre situações ao contrário, coisas do tipo “Na União Soviética a televisão assiste você”, e coisas assim.
Observando o vai e vem da política em geral no Brasil, podemos observar algo parecido com uma reversal. A troca de papéis no cenário político...

Uma das piadinhas com a "reversal russa".
Que grande repercussão teve as manifestações do “fora Dilma/fora PT” perto da metade deste ano. Não estamos falando de um grupelho, mas estamos falando de uma grande massa que saiu às ruas pedindo a saída da presidente Dilma, o fim da corrupção e tantas outras reivindicações de caráter limitado. Isto porque como bem sabemos quem estava por detrás deste ato que reuniu tanta gente eram os setores mais retrógrados da política no Brasil, isto é, grandes empresários, organizações de direita em geral, fascistas, “viúvas da ditadura”, separatistas do sul e neoliberais.  

Mas quem ficou bem famoso com estas manifestações foi o jovem Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre. Interessante é analisar que o MBL surgiu no ano passado, era um grupo pequeno e rapidamente conseguiu a atenção da mídia e dos diversos elementos de direita, mas especialmente os ditos “liberais”. É claro que este movimento não conseguiria um apoio tão grande em tão pouco tempo se por trás de gente como Kim Kataguiri e Fernando Holiday, não houvesse a mão “santa” de empresários da grande mídia, maçons e toda a laia responsável pela manutenção da velha ordem no país. Engana-se quem acredita que Kim ou Fernando são as mentes brilhantes por trás de tudo isso. Na verdade não passam de meras testas de ferro.
Na Coréia do Norte, Kim é de esquerda, no Brasil, o Kim é de direita.

Claro que essa crescente onda da direita, que tentando se renovar e se limpar da imagem de ser formada por “velhos ranzinzas e travados” está utilizando uma nova forma de propaganda, utilizando a garotada como testa de ferro/porta voz da política velha que se diz inovadora. Porém, todo o questionamento levantando por essa “gurizada” soa como um tiro no pé, se olharmos os discursos de Kim Kataguiri por exemplo, vemos que ele tem razão quando fala que o Estado tem suas instituições completamente ineficientes de todas as formas, ele tem razão que os partidos são frouxos, tanto os de direita como os de esquerda, ele está certo quando diz que Jean Wyllys é um parasita dos recursos públicos. Só que o que parece novidade no opinião dele e aos ouvidos da massa desatenta já sabíamos. Nós os comunistas combativos desse país já sabíamos de tudo isto, desde que se organizou o primeiro Partido Comunista aqui em 1922. 

Mas então estamos fazendo coro com os “cabeças” do MBL? Porém, de certa forma, eles é que fazem coro conosco quando desacreditam o regime burocrático-burguês. E é neste sentido que nos referimos à reversal brasileira. A direita está tentando recuperar o fôlego, e para isto, descobriram como usar o povo em rebeldia que eles tanto temiam e diziam ser obra do “satã” e dos “vermelhos”, agora tentam imitar porém, dentro dos seus parcos limites político-ideológicos. Quer dizer, agora eles precisam da união da massa para tirar um governo corrupto e burocrático do poder, porém, sua meta é trocar este por outro tão ruim quanto. Estão criticando o sistema eleitoral brasileiro. Estão contestando as taxas e toda a burocracia do Estado e a ineficiência das instituições. Parece que a direita no Brasil está se esquerdizando.

Mas, se a direita no Brasil está dando umas esquerdizadas, como está a esquerda no Brasil? Bom, o blog Grande Dazibao assim como várias organizações combativas tem desmascarado a esquerda caviar e a esquerda maconheira. Nos últimos 35 anos, desde a promulgação da anistia em 1979, muitos partidos e organizações abandonaram a luta e passaram se inserir na legalidade, ainda sob o comando da ditadura militar. Partidos como o PCdoB que outrora eram combativos e revolucionários desde meados dos anos 70 já demonstravam interesse pela participação nas vias eleitoreiras. Mas a anistia em 1979 e o surgimento do Partido dos Trabalhadores, o PT em 1980 foi o que permitiu que a esquerda brasileira em geral assumisse uma linha oportunista de direita, abarcando desde a teologia da libertação até os que estavam em cima do muro durante a ruptura entre China e Albânia. Muitas das organizações se converteram em alas do PT ou do PMDB, e outras como o PCdoB obtiveram a legalidade depois do fim do regime militar e o surgimento da nova constituição.

Nos anos 90 em diante o PT começou a dar cria, ou seja, as alas trotskistas/social-democratas radicais começaram a sair, a primeira, dando origem ao PSTU, depois o PSoL e agora o PCO, ambos fazendo parte do podre sistema eleitoral, servindo de empecilho para a revolução brasileira. Estes partidos que apresentam um discurso pseudo-radical (na verdade é radical apenas para os velhos liberalóides) junto com o PCB que é um velho inimigo de lutas formam a esquerda caviar, que pensam estar defendendo o povo brasileiro lutando por legalização da maconha, reconhecimento da prostituição como profissão, e tantas outras baboseiras mais de cunho individualista do que coletivo, mas no final das contas só querem morder uma parte das finanças do Estado e servi-lo como bons cachorrinhos de estimação do imperialismo.

Portanto, nos últimos anos, o país viu a esquerda se elitizar, de guerrilheiros do povo à apoiadores de latifundiários, de defensores do pensamento Mao Tsé-tung a defensores das instituições que mataram nossos guerrilheiros. De perseguidos políticos à perseguidores de todos que lutam pelo Novo Amanhecer.

O fato de terem abandonado a linha correta para servir ao inimigo é de fato desmoralizante, algo que jamais beneficiou ao povo, porém, beneficiou ao inimigo, vemos aí os setores mais reacionários da sociedade se levantando para ressuscitar a antiga paranóia anticomunista, não se resumindo à apenas um grupo de meia dúzia de velhos ricos e rabugentos, mas vimos uma grande massa saindo às ruas e deixando ser levada pelo seu inimigo de classe. Apesar dos pesares, estejamos seguros pelo fato do povo ter desmascarado o social-liberalismo do governo do PT, assim como fizeram com o liberalismo do PSDB ou com o fascismo durante a ditadura militar e a era Vargas. Este retorno da direita será um dos seus últimos retornos, pois já são velhos conhecidos da massa brasileira. E além de serem velhos conhecidos do povo, desde o 2013 a massa brasileira tem se despertado para lutas cada vez mais ferrenhas, a crise, as novas leis que cortam direitos trabalhistas, as demissões em massa e o peleguismo dos sindicatos estão contribuindo para criar um rechaço geral da democracia burguesa brasileira e seus agentes.

O importante neste momento é não se intimidar, manter nossa linha divisória entre oportunistas e fascistas, ir se preparando para lutas cada vez mais agudas, e cada vez mais complexas. Preparar todo o nosso aço ideológico e nosso aço no sentido literal para a luta. SERVIR AO POVO DE TODO O CORAÇÃO e organizá-lo para tomar aquilo que lhe pertence por direito.    

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Entredentes Antropofágicos

Análise de uma peça de Gerald Thomas e Marco Nanini, disponível no scribd: Entredentes Antropofágicos.

A Guerrilha, uma amostra do partido

A guerrilha, uma amostra do partido



Capítulo 7 – A guerrilha, uma amostra do partido

Em conversas iniciais com alguns militantes antigos, obtive uma avaliação do efetivo total do PC do B à época do Araguaia - seria de no máximo uns 5.000 militantes. Segundo Elio, o teto máximo seria de 2.000. Esse último nos pareceu mais realista. Nesse caso, os 70 militantes que se dirigiram para o Araguaia representariam, no mínimo, 3,5% do total de militantes. Estatisticamente, é uma amostra significativa, que, se analisada criteriosamente, pode dizer muito sobre o tamanho e a composição do partido no início da guerrilha.
Em xadrez, existem problemas que usam a chamada análise reversa: dada a posição final, deve-se determinar a posição inicial. Nós faremos algo semelhante: tentaremos traçar um perfil do PC do B a partir da guerrilha.
Fizemos uma tabulação da origem dos militantes (movimento estudantil, bancário, profissional liberal, movimento operário, movimentos populares, dirigente e outros); do estado onde atuavam, quando foram enviados para o Araguaia e do seutempo de militância e da sua idade. São dados aproximados, mas suficientes para embasar as nossas conclusões.
Para o destacamento A, essa era a origem dos militantes (como origem entendemos o estado em que ele militava).

Para o destacamento B, essa era a composição:
 Finalmente, para o C:
 Consolidando os três destacamentos teremos:

Colocamos como outros, os militantes que atuavam na direção, ou cuja localização não foi possível determinar. Em 69, quando o PC do B lança o chamamento à revolucionarização do partido, a remessa de quadros para o Araguaia se intensificou. Todos os comitês Regionais se empenham na tarefa de selecionar quadros para o trabalho no campo. Segundo Elio, antes de 72, no Espírito Santo, não haveria mais do que uns vinte militantes. Destes, dois serão enviados para o Araguaia. Em Minas, num universo de no máximo cinqüenta militantes, seis serão enviados, o que indica uma proporção aproximada de 1 selecionado para cada 10 militantes.
Aqui se faz necessário estudar a composição por setor de atuação dos militantes enviados. Nós consolidamos os dados dos três destacamentos, já que as variações entre eles não são significativas. Como outros, entendemos os quadros de direção, ou aqueles que cuja área de atuação é impossível determinar.




 

O peso dos estudantes (universitários e secundaristas) é grande, chega a aproximadamente 66%, 2/3 do total. Em Minas, o autor calcula que o partido chegou a um máximo de 30 militantes no movimento estudantil, o que indicaria um total máximo de 45 militantes.  Para maior certeza de nossa estimativa, arredondamos esse total para 50.
Em 71, o partido elegeu 6 militantes para a diretoria da UNE, num total de 11. Cada um provinha de um estado diferente: Minas, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia,  Rio e Ceará.
Combinando essas informações, é razoável afirmar que o PC do B teria um trabalho significativo nesses 6 estados e algumas bases, talvez alguns contatos, nos outros estados. Se houvesse uma estrutura maior, ela, provavelmente, estaria representada no Araguaia. A cisão da Ala Vermelha ficou com as estruturas partidárias do Distrito Federal e de Goiás, a exceção dos militantes bem antigos, como Michéias e Divino. Em Pernambuco, outro estado com grande peso político, os militantes aderiram ao PCR[1]. Embora Amazonas e Pomar fossem do norte do país, eles haviam ficado tanto tempo fora que não conseguiram reconstruir o PC do B nessa região.
No caso de Minas e do Espírito Santo, estruturas pequenas, vimos que a relação entre militantes do partido e militantes enviados para a Guerrilha era de 10 para 1. Os outros estados, que contribuíram com mais guerrilheiros, certamente tinham um número maior de militantes.  Supondo um efeito de escala, ou seja, que uma estrutura maior tem mais facilidade de recrutar novos militantes, crescendo muito mais rápido do que uma estrutura pequena, usamos um fator de multiplicação de 20, para cada militante representado no Araguaia. Isso nos levaria a uma estimativa de uns 500 militantes no Rio, 200 em São Paulo, Ceará e Bahia, 50 em Minas e no Rio Grande do Sul e 20 no Espírito Santo - 1320, no total. O teto máximo de 2.000 militantes parece ser muito conservador.
Em entrevistas posteriores com outros militantes do PC do B na época, reduzimos o número de militantes no Ceará para uns 80, uma indicação de que o número total talvez fosse menor que 1.000.[2] Essas novas estimativas reforçam ainda mais a noção de que podemos tomar os destacamentos como uma amostra muito significativa da composição do PC do B.


[1] Cisão do PC do B. Até hoje se proclama adepta do maoismo.
[2] Em recente artigo sobre o Araguaia, Buonicore afirma que o PC do B não chegou a deslocar 20% dos seus efetivos para a guerrilha. Essa porcentagem significa que o número total de militantes estaria entre 400 a 500!



Capítulo 1--parte 2

Capítulo 1 - parte 2

Rumo ao Araguaia

Em junho de 66, quando o PC do B realizou a sua 6ª Conferência, Elio estava presente, como delegado do Espírito Santo. Como o partido reivindicava ser uma continuação do antigo PCB, a numeração de suas conferências foi mantida, bem como o nome do jornal do Comitê Central, A Classe Operária.
De 62 até 66, o Partidão havia sofrido uma série de rachas e de cisões, perdera muito da sua influência e se desmoralizara politicamente com a derrubada do governo João Goulart. Os olhares da maioria dos revolucionários brasileiros se voltavam para Cuba, onde uma revolução armada derrubara a ditadura de Fulgêncio Batista.
A Sexta Conferência aprovou um documento intitulado “União dos brasileiros para livrar o país da crise, da ditadura e da ameaça neocolonialista”, onde propunha a formação de um governo democrático, representativo de todas as forças patrióticas, como forma de aglutinar as forças que se opunham ao regime.
Tarzan de Castro havia sido colega de turma de Elio, em 65. Em entrevista ao Jornal Opção, Tarzan afirmou que guardava uma grata recordação dessa viagem: “Peguei na mão de Mao, num encontro no Palácio do Povo, em Pequim. Passamos uma tarde com ele, com o primeiro ministro Chu-En-Lai, toda a cúpula. Falamos sobre Brasil, América Latina, cultura. Foi um encontro muito agradável e proveitoso”.

Alegando que a proposta de um governo democrático era um recuo em relação ao governo popular revolucionário que constava no Manifesto Programa, Tarzan de Castro encabeçou o grupo de militantes que criou a Ala Vermelha do PC do B, mais conhecida como Ala Vermelha. A Ala criticava a inação do PC do B e cobrava o início imediato da luta armada.
A crítica à inação é improcedente, pois já estavam sendo dados os passos que levariam ao Araguaia. Embora a formulação teórica da luta armada não estivesse acabada, a VI Conferência assinalava que “a luta revolucionária em nosso país assumirá a forma de guerra popular”. Segundo depoimento de Elio, os militantes estavam conscientes de que a luta armada era inevitável e a ela se referiam como sendo “a quinta tarefa”.
Em 66, começam a chegar os primeiros militantes à área da futura guerrilha do Araguaia. Na verdade, o trabalho no campo é bem anterior. “A partir de 1964, pessoas e recursos começam a ser deslocados para o campo. O dirigente Maurício Grabois e o economista Paulo Rodrigues, militante comunista desde 1960, estão entre esses quadros... No intuito de localizar uma zona adequada ao propósito do Partido, os dois homens vão percorrendo parte do país de sul a norte.”[in Maia, Iano Flávio et alli, p. 39].
A área procurada deveria ter condições geográficas favoráveis à guerrilha e desfavoráveis às tropas regulares e uma população com bom potencial de luta. Nessa pesquisa os dois chegaram até Porto Franco, no Maranhão, de onde seguiram para o sul do Pará.
“Paralelamente, Pedro Pomar e Carlos Danielli também realizam expedições. Danielli... viaja pelo Nordeste. Mais especificamente pelo Ceará, Piauí, Maranhão e oeste da Bahia.... Pomar se desloca através de Goiás, Maranhão e sul do Pará, disfarçado de vendedor de remédios... Depois dessas viagens de reconhecimento, ele e Ângelo Arroyo ficam responsáveis por preparar a instalação de militantes em Goiás.” [in Maia, Iano Flávio et alli, p. 39]
“Pomar e Arroyo instalam militantes como fazendeiros, posseiros ou comerciantes em pequenas cidades de Goiás. Mas a região apresenta alguns pontos negativos. A população que seria a base de massa da guerrilha, é muito dispersa e tende a se movimentar acompanhando a mudança da fronteira agropecuária.” Grifos nossos.[idem]
Em 65, Vitória Grabois, filha de Maurício Grabois, seu marido, Gilberto Maria Olímpio, Osvaldão e Paulo Rodrigues se instalam em Guiratinga no Mato Grosso. Em depoimento dado à Deusa Maria de Souza, Vitória dá mais detalhes:

“Sobre esse episódio que eu saiba não há nada escrito, nem o PC do B fala algo. No início dos estudos para viabilizar a Guerrilha era necessário escolher uma região adequada para iniciar o movimento. Gilberto, Paulo, Osvaldão e eu fomos para o oeste de Mato Grosso. Gilberto e eu alugamos uma casa na cidade de Guiratinga. Paulo tinha um jeep e era “sócio” do Gilberto em um negócio de venda de roupas; Osvaldão era garimpeiro, na região e eu professora e dona de casa. Minha tarefa era o apoio logístico e também angariar o apoio das populações; a de Gilberto e Paulo era de reconhecimento de toda a região oeste de Mato Grosso; a de Osvaldão, inserção com as massas.
Foi um momento muito rico em minha vida. Ano de 1965, eu estava com 21 anos, recém casada e dona do meu próprio espaço.
Trabalhei com a população local como professora e me tornei uma pessoa muito popular. Após 8 meses, o grupo se desfez e voltei para SP e fiquei grávida, não retornando mais à região.”
Analisando o reconhecimento feito, o partido chegara à conclusão de que a área não era adequada. A busca prosseguiu rumo ao norte: centro-oeste e norte de Goiás e sul do Maranhão e Pará.
Ozeas Duarte ingressou no PCB em 1961, por ocasião da renúncia de Jânio Quadros. Em 64, logo depois do golpe, se juntou ao PC do B. Em 66, era o delegado do Ceará à VI Conferência. Em correspondência trocada conosco, ele fala de mais três áreas:
“Sei de mais três regiões de trabalho no campo: no Vale do Ribeira, trabalho embrionário conduzido por Pomar, ao que me parece, muito problemático, até mesmo pela localização. Não deu certo. Outro foi na Serra da Ibiapaba, área do bispo D. Fragoso, sujeito de esquerda, que mantinha contato e trabalhava com o partido sem nenhum problema. Quem estava à frente era Vladimir Pomar. Essa área foi abandonada, queimada por uma panfletagem absurda que fizeram por lá. E outra era no sul da Bahia, que mudou para MG e depois para MT. A repressão dava em cima, mas como era um movimento de massa um pouco mais amplo, o pessoal botava o povo dentro de ônibus, formava a caravana e se mudava, posseiros em novas terras devolutas. Dessa área saiu um torneiro mecânico que foi para o Araguaia. Virou armeiro, arrumador de armas que não tinha como arrumar.”

Em outubro de 67, Che é assassinado na Bolívia. No Brasil e no mundo, 1968 é marcado por manifestações estudantis e greves operárias. Aqui, a partir de 69, o aumento da repressão e a impossibilidade de se repetirem as grandes passeatas, levou várias organizações revolucionárias a optarem por ações armadas nas cidades. Eram inspiradas pela teoria do foco , uma generalização apressada da experiência cubana. (O foco era o embrião da guerrilha. Deveria se localizar no campo e era formado por um pequeno número de militantes oriundos das cidades).
Esse diálogo entre José Dirceu e Wladimir Palmeira, que em 68 eram duas lideranças estudantis de projeção nacional, é esclarecedor:
“Para a linha geral do movimento, na esquerda revolucionária, foi a Revolução Cubana que influenciou decisivamente. Primeiro, pelo mito do Che Guevara que nós tínhamos já antes do maio francês. Che era adorado. O curioso é que a esquerda brasileira nunca repetiu o que houve em Cuba. Ela dizia “vamos assaltar bancos para financiar o foco”, mas como nunca acumulou dinheiro suficiente, assaltar bancos virou ação. Fazia propaganda armada, mas nunca se chegou sequer a ser como um foco cubano, embora a motivação original de se pegar em armas fosse montada nessa concepção. Geraríamos o foco guerrilheiro e as massas adeririam, uma concepção que está em A Revolução na revolução, o livro do Régis Debray.
Zé Dirceu: O foco foi concebido pela ALN e pelo Carlos Marighella. Depois a ALN e o Molipo tentaram implantá-lo em Goiás, em algumas regiões, mandando pessoas para lá. Evoluiria para uma coluna guerrilheira, que no fundo é um foco. Mas nunca foi além de levar armas, comprar propriedade e levar umas cinco ou seis pessoas. Nunca passou disso.
Vladimir Palmeira: É tudo uma baboseira, sabe por quê? Porque o Régis Debray não conhece nada de Cuba.
Zé Dirceu: Nem da América Latina.[in Blog do Zé Dirceu].
Em 68, o PC do B publicou o documento “Alguns problemas ideológicos da revolução na América Latina”. O documento critica as concepções que negavam o aspecto nacional e democrático da revolução, condena a posição reformista do PCB e, indiretamente, a posição dúbia de Cuba, frente ao chamado revisionismo soviético. Há uma frase, atribuída a Fidel, que ilustra com muita felicidade esse posicionamento: “meu coração está com a China, mas meu estômago está com a União Soviética.” Entretanto, a formulação da guerra popular, junto com uma avaliação crítica de outros caminhos para a luta armada, só será feita em 69.
Em Havana, o Museu da Revolução, antiga sede do governo de Batista, ainda guarda as marcas de bala em suas escadarias. Na área do museu, pode-se ver o Gramma, que mais se pode chamar de barquinho, do que de iate. É inacreditável que 80 homens pudessem caber nele. No segundo andar, vendo os mapas e as maquetes militares, deparamos com algo mais inacreditável ainda: em apenas dois anos, os 12 sobreviventes do desembarque conseguiram derrubar o ditador Fulgêncio Batista!
Não cabe aqui analisar as causas da vitória da revolução cubana, mas, certamente, entre os fatores decisivos estavam: a existência de um amplo movimento de massas nas cidades; o isolamento de Batista, cuja ditadura foi uma das mais sangrentas dessa parte do mundo e um movimento camponês com tradição de luta. Não foi o exemplo heróico de um punhado de guerrilheiros que colocou toda essa massa em ação; ao contrário, foi a existência desse enorme potencial revolucionário que assegurou o êxito da luta armada.
De novo, recorremos à opinião de Wladimir Palmeira:
Vladimir Palmeira: No dia em que Fidel iria desembarcar, naquela aventura, havia uma insurreição popular com cinco mil militantes, na segunda cidade mais importante de Cuba, Santiago. Transposta para o Brasil, equivaleria a uma insurreição no Rio. Só que o barco do Fidel atrasou dois ou três dias. A insurreição foi derrubada nesse período, e ao desembarcar Fidel estava vendido. Mesmo assim, ele tinha contato no campo. Não foi chegar e botar os caras sem nenhum contato. São essas são bobagens que Debray exacerbou. Existia em Cuba uma tradição de guerrilha rural, desde que o país ficou independente. Debray fez um manual que descaracterizava a história da Revolução Cubana. Nem a revolução foi como ele disse – que tinha uma certa dose de aventura. Fidel era um cara excessivamente voluntarioso, mas contava com uma base política e de apoio enormes. Não tinha nada a ver com aquilo que tentamos fazer aqui. Imagina, você chegar numa cidade como o Rio e fazer uma insurreição por três dias. O livro do Debray prejudicou muito. A questão da luta armada devia ser tratada de forma mais séria.” [ in Blog do Zé Dirceu]
Nenhum dos quadros iniciais da guerrilha cubana tinha uma formação política mais sólida. O próprio Che tinha apenas tinturas de marxismo. Não é de se estranhar, que essa rica experiência ficasse reduzida a uma fórmula mágica, a teoria do foco.
O documento do PC do B, de janeiro de 69, “Guerra Popular, caminho da luta armada no Brasil”, faz um resumo bem apropriado dessa teoria. “Esta teoria não tem em conta a situação objetiva, as forças de classe em presença e o processo político em curso. É uma concepção voluntarista. Segundo os teóricos do “foco”, a guerrilha se desenvolve harmonicamente, “a partir de um núcleo central único”, situado em regiões pouco acessíveis e com combatentes provindos das cidades. Esse núcleo cresce até se transformar numa coluna-mestra que, ao atingir 120 a 150 homens, dá origem a outra coluna que, por sua vez, origina mais outra e assim por diante. Sua existência e manutenção dependem fundamentalmente dos centros urbanos. Seu método não tem em vista ganhar as massas para que elas mesmas façam a sua guerra. O “foco”, segundo seus defensores, por si só, através de atos heróicos de pequenos grupos, atrai novos combatentes e conduz a revolução à vitória. A guerrilha é o próprio partido.”
Em contraste, vejamos o resumo dos aspectos básicos da guerra popular, segundo o PC do B: “... será uma guerra de cunho popular, travar-se-á fundamentalmente no interior e mobilizará as grandes massas camponesas, será prolongada, deverá apoiar-se em recursos do próprio país, empregará o método da guerrilha em grande escala, forjará o exército popular, estabelecerá bases de apoio no campo. Terá que se orientar, durante muito tempo, pelos princípios da defensiva estratégica e deverá guiar-se por uma política correta.”
Em dezembro de 69, o PC do B lançou o documento “Responder ao banditismo da ditadura com o avanço da luta do povo”. Internamente, ele se tornou conhecido como o documento da “revolucionarização”. Considerando o agravamento da repressão e sabendo que em breve o partido poderia iniciar ações armadas no campo, a direção procurava preparar os quadros e os militantes para a nova situação.
“Impõe-se a revolucionarização cada vez maior do Partido. Seus dirigentes e militantes precisam dedicar-se integralmente à tarefa de aplicar a orientação partidária. Cada comunista tem que organizar sua vida de maneira a consagrar o máximo de seu tempo ao Partido, transformar-se num autêntico soldado da causa do povo, pronto a executar qualquer atividade e onde quer que seja. Tem que evitar tudo que possa prejudicar sua militância revolucionária. Deve estar preparado, moral e ideologicamente para arrostar todas as dificuldades e enfrentar todos os sacrifícios. Para ser um autêntico servidor do povo tem de subordinar sua vida e atividade às necessidades do Partido e da revolução,estar sempre pronto a realizar o trabalho mais difícil que a luta revolucionária exige.” Grifos nossos.
A partir de 1970, se acelera o envio de militantes para a região do Araguaia. Eram muitos os que se ofereciam como voluntários para ir para o campo, onde era esperado que fosse se travar a luta armada. Por outro lado, o partido era cobrado tanto internamente, pelos seus militantes, quanto externamente, pelos militantes das organizações que já haviam iniciado as ações armadas, pela demora em dar uma resposta efetiva ao endurecimento do regime militar.
Ao final desse livro, pretendemos fazer uma ampla avaliação da política do PC do B em relação ao Araguaia, entretanto, fazem-se necessários dois reparos iniciais. Primeiro: é preciso examinar com muito critério a afirmação de alguns sobreviventes da guerrilha de que não tinham noção do tipo de trabalho que encontrariam no Araguaia. Embora a localização da futura guerrilha não fosse conhecida até por parte do Comitê Central, o sentimento geral no partido era de que em breve seriam desencadeadas ações armadas no campo. O autor se lembra bem de que, em Porto Alegre, um militante havia “dado um prazo” para que a guerra popular começasse, sob pena de ele não acreditar que o partido estivesse falando sério. Isso foi um pouco antes do começo da guerrilha.
Segundo: é falso dizer que o PC do B estivesse abandonando o trabalho legal e as entidades de massas, legais ou clandestinas. Essa era a visão das organizações foquistas, que recrutavam a grande maioria dos seus militantes entre os estudantes. Como não era mais possível repetir as passeatas de 68, elas teorizavam que o papel do movimento estudantil era o de fornecer quadros para a revolução. Mesmo a atuação nas entidades legais, estreitamente vigiadas, poderia “queimar” os militantes. Preferiam organizar círculos de leitura e de estudos entre a chamada vanguarda.
O caso da UNE é emblemático. Embora tivessem um grande peso no movimento estudantil em 68 e 69, essas organizações abandonaram a entidade e, na diretoria eleita no XXXI congresso, realizado em 71, só havia militantes do PC do B e da AP , que já eram majoritários nas entidades legais (a AP estava cindida em duas grandes correntes). A AP era uma organização revolucionária, originada da esquerda católica, que evoluiu até o maoísmo. Teve grande influência nos movimentos populares da década de 60. Betinho, o irmão do Henfil, foi um dos seus fundadores.
Em linhas gerais, essa foi a trajetória política do PC do B da ruptura até o Araguaia: desligou-se do PCB em 62, em virtude de sua política reformista; optou desde o início pela luta armada; alinhou-se ao lado da China na cisão do movimento comunista internacional; iniciou desde 64 a preparação do trabalho do campo e a escolha de uma área com potencial para futuros conflitos armados; definiu, em 66, na VI Conferência, uma plataforma política capaz de unir as grandes massas do país no quadro de uma revolução nacional e democrática; delineou, em 69, o que seriam os princípios básicos da guerra popular e, a partir desse ano, intensificou a remessa de militantes e a preparação ideológica do partido para os futuros confrontos. Ao mesmo tempo, manteve a sua atuação nas cidades, nas entidades de massas, legais ou não.