A Recepção de Oswald de Andrade no Orkut
Juliana Bruno (UFTM)
1. Introdução
A sociabilidade contemporânea, principalmente da década de 90 em diante, está marcada pela internet e pelas redes de relacionamento que nela se instalaram. Esse artigo, optou-se por investigar a recepção de um autor brasileiro consagrado, Oswald de Andrade (1890-1954) no site de relacionamentos fundado pelo turco Orkut Buyokutten, mas freqüentado majoritariamente por brasileiros. Esse artigo busca investigar como é a recepção do escritor Oswald de Andrade no site de relacionamentos Orkut.No referido site de relacionamentos, as pessoas entram com um perfil com inúmeros dados a seu respeito e se encontram nas comunidades, geralmente organizadas em torno de algum objeto de culto, seja um filme, uma pessoa ou uma personalidade. No caso, Oswald de Andrade é objeto de culto em várias comunidades: uma delas tem cerca de três mil participantes e é mais numerosa. Mário de Andrade, curiosamente, é mais popular do que Oswald no Orkut, pois sua comunidade mais numerosa tem cinco mil componentes. Existe uma comunidade com o nome de Oswald e que possui cerca de mil componentes; existem outras, mas as demais reúnem apenas algumas dezenas de integrantes e, na prática, não funcionam, ou seja, os integrantes não interagem postando tópicos e debatendo.O objetivo desse artigo será, com auxílio da estética da recepção, buscar responder a algumas questões que a obra do escritor levanta diante de seus virtuais leitores: como Oswald de Andrade é visto nesse ambiente? Que debates ele suscita? Qual parte de sua obra é privilegiada? Sua obra é debatida ou é sua biografia que prepondera? Quem é leitor de Oswald de Andrade no Orkut? Qual o seu perfil? Que tipo de recepção é a do Orkut? Como ela funciona, quais são suas características? 2. Caiu na rede é peixe: Oswald no Orkut dos outros é refresco Pelo que pode se ver nas postagem das duas comunidades do Orkut dedicadas a Oswald de Andrade, o escritor é visto no Orkut mais como poeta do que como prosador. Os usuários em geral repetem seus poemas curtos, ou fragmentos deles. Os debates sobre algum ponto da obra são mais raros. A pesquisa, aqui, tratou de saber, conforme a estética da recepção, de como o leitor de hoje (em boa parte, jovem) em dia constrói o sentido para uma obra produzida há sessenta anos. Conforme a teoria da recepção desenvolvida por Hans Robert Jauss, pode-se dizer que: Nessa teoria, o leitor passa a ser o agente ativo na elaboração de sentido e, por conseguinte, na construção final da obra (...). As teorias concentravam-se no modo como o texto é recebido pelo leitor seu contemporâneo, bem como seu reflexo na evolução da obra no tempo (...). O teórico alemão determina que a relação receptor/obra é dialógica, ou seja, a cada nova leitura acontece uma atualização da obra, fator responsável pela perpetuação histórica do texto. Um dos pontos principais do trabalho de Jauss é a ideia de que a obra é um espaço em que o leitor/obra/autor se encontram. Em outras palavras: é o encontro dos três processos – produção (poiesis), recepção (aisthesis) e comunicação (catarsis) – da experiência estética. O teórico assume que desenvolveu seu trabalho a partir das concepções criadas por Hans-Georg Gadamer (Hermenêutica Literária), que sustenta que o significado da obra não se esgota nas intenções impostas pelo autor, ela adquire novos significados por meio de novas leituras –novos contextos históricos, muitas vezes não esperados pelo autor ou mesmo por seu público contemporâneo. Nesta teoria, o leitor é tratado como instância constitutiva da obra, ou seja, o receptor deixa de ser considerado destinatário passivo para tornar-se agente ativo, que participa na elaboração do sentido e, por extensão, na construção final da obra (GUINSKI, 2008, p. 102). Os leitores, no Orkut, colocam-se como leitores ativos: repetem trechos da obra de Oswald, suas frases, debatem de forma por vezes ácida seus poemas, manifestos, opinando contra ou a favor dele, satirizando-o e roubando seu “perfil” tal qual uma máscara para fazer brincadeiras. E, de forma surpreendentemente criativa, atualizam suas sátiras aos políticos dos anos 30 de forma a criticar os de hoje em dia.Publicada nos anos 20, a poesia de Oswald possui ampla recepção na literatura brasileira, tendo sido um pioneiro dos versos livres e dos poemas curtos. O fato é que os poemas curtos de Oswald, além de terem influenciado uma série de poetas brasileiros, desde Carlos Drummond de Andrade até Régis Bonvicino, possibilitam uma rápida transcrição no pouco espaço disponível para os “scraps” (recados curtos) disponibilizados no Orkut.Curiosamente, Oswald de Andrade também possui um perfil falso no Orkut, um espaço onde, tal como na pós-modernidade, as identidades se fragmentam e se descentram (JAMESON, 2002).O perfil falso é chamado pelos usuários de “fake” e serve para que o usuário se divirta com a liberdade do anonimato. No “fake” de Oswald de Andrade estão outros “fakes” deixando recados para ele: Mário de Andrade, Rui Barbosa, Pagu e até Otto Von Bismarck, num diálogo surrealista que provavelmente agradaria ao espírito satírico do autor. É a questão de se perguntar: por que alguém se dá ao trabalho de criar um perfil falso de um escritor ou personalidade histórica, sem nenhuma intenção artística ou lucrativa envolvida? A resposta é o desejo lúdico de brincar, de ser livre para jogar com a identidade. Embora não exista a comunidade “eu odeio Oswald de Andrade”, existe uma comunidade de treze membros que o ridiculariza nos seguintes termos: "Horrosvald" de Andrade... autor "de exceção" da literatura tupiniquim. Escritor de obras imortais, como "Memórias Sentimentais de João Miramar" e daquelas coisas que ninguém ousava chamar de "poesias". Imortais sim, porque, não correndo o risco de que alguém as folheie, elas se conservarão mais do que qualquer outra...Um bufão engravatado. O Duchamp brasileiro. Queria parecer sério em sua comicidade sem saber que soava ainda mais bobo do que pretendia. Suas obras eram engraçadíssimas... para rir dele, não com ele -é claro. Reclamava que as pessoas gostavam mais de Bandeira do que dele próprio; por que será?... O sujeito quis travestir o vulgar de poético. Literalmente. Comunidade para aqueles que acreditam que quem nasceu para ser bobo da corte nunca virá a ser rei (nem da Vela, rsrs...) (ORKUT, 2009). A comunidade é “contra” Oswald claramente devido ao esclarecimento que prestam as comunidades às quais está ligada: “descontruir Duchamp”, “odeio gente moderna”, “arte moderna até eu faço”, “arte ou merda?” etc. Curiosamente, o estilo do fragmento acima, teoricamente “contra” Oswald, aproxima-se bastante de seu estilo telegráfico. O que sugere que Oswald deixa sua marca até entre os aquele que o negam ou ignoram: Oswald, em boa parte de seus textos, parece desejar que o leitor ria, pois ele faz sátira, humor, piadas, trocadilhos.O leitor que escreve no Orkut é em geral jovem e escreve descompromissado com regras gramaticais e com a chamada “norma culta”. O prazer é comunicar, brincar, “gozar”. Nada existe de sagrado, tudo é dessacralizado: reina a gargalhada, o escárnio, o hedonismo da sociedade de consumo, marcado pelo prazer não só texto, mas de transformar tudo em objeto de consumo, gozação, tudo é acessível, toda vida íntima é exposta sem pudores.No Orkut existe, por exemplo, a comunidade que satiriza o filósofo Habermas, sob o título “com o Habermas entre as pernas”, que não constitui uma exceção e sim um exemplo de como toda a cultura é processada nesse meio de comunicação. As mensagens são rápidas, limitadas até mesmo pela própria natureza da rede, a pequenos recados. Na abertura da comunidade Oswald de Andrade que possui três mil componentes, pode-se encontrar a seguinte passagem do Manifesto Antropófago: Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de pazTupi, or not tupi that is the question.Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos (ANDRADE, apud: ORKUT, 2009). A mensagem tem um claro propósito de apresentar a antropofagia oswaldiana também como ligação para a “tribo” congregada na comunidade, que estaria, então, unida socialmente, economicamente e filosoficamente. A outra comunidade, tendo por volta de mil membros, abre-se com um poema de Pau-Brasil: Senhor Feudal Se Pedro SegundoVier aquiCom históriaEu boto ele na cadeia (ANDRADE, 2006, p. 127). A escolha de Pau Brasil é significativa: dentre todas as obras de Oswald, os freqüentadores fizeram uma pesquisa perguntando qual é a obra preferida. Foram 227 votantes e Pau Brasil venceu com 60 votos. Outra pesquisa foi inspirada em uma realizada em O Homem do Povo, jornalzinho mantido por Oswald e Pagu no início dos anos 30 e que perguntava: “qual é o maior bandido vivo do Brasil?” A mesma enquête foi repetida na comunidade do Orkut de Oswald e venceu Paulo Maluf. Vale a pena reproduzir o texto da referida pesquisa na comunidade: Em 1931, Oswald de Andrade lançou no jornal "O Homem do Povo" um concurso para eleger "O Maior Bandido Vivo do Brasil". Como o país sempre foi pródigo em trambiques de toda espécie, a coisa pegou como rastilho de pólvora. No auge do Cangaço, Virgulino Ferreira, o temido Lampião, amargou um tímido décimo primeiro lugar. Não chega a ser surpresa que a liderança do ranking foi ocupada por políticos, militares, religiosos e empresários. Passados mais de 75 anos, quem seria, afinal, "O Maior Bandido Vivo do Brasil"?Criado por: Bonobo29 votos (16%)FHC, o entreguista comprador de votos30 votos (17%)Lula, o assassino das utopias33 votos (19%)Maluf, o duro de matar31 votos (17%)Edir Macedo, o novo messias1 voto (0%)Antonio Ermínio, o lobo em pele de cordeiro10 votos (5%)Collor, o bizarro20 votos (11%)Os omissos, que nada fazem p/ brecar os larápios7 votos (4%)Os fazendeiros de cana-de-açúcar, escravocratas10 votos (5%)ACM, o malvadeza2 votos (1%)Cecílio Rego Almeida, o maior grileiro do mundoTotal: 173 votos (COMUS, apud: ORKUT, 2009). Oswald de Andrade parece ser, no entendimento de Haroldo de Campos, o mais radical dos poetas modernistas brasileiros. Suas experimentações com a forma do verso livre, com o ready made, com a paródia e a montagem o aproximam dos vanguardistas europeus mais radicais do Futurismo, do Cubismo e mesmo do Dadaísmo. O que nos parece que mais difere o ritmo do poema oswaldiano para o ritmo de Manuel Bandeira e Mário de Andrade é a mudança de foco da relação poesia/música para poesia/cinema. Por que o leitor do Orkut identifica-se com Oswald? Pode-se dizer que eles possuem em comum uma dessacralização da poesia, assim como abandono da retórica. No Orkut, tudo é manipulável, acessível, tudo é passível de virar fake, jogo e prazer hedonista. Nada é sagrado, nada tem aura. Como escreve Haroldo de Campos: O que está aí é um programa de dessacralização da poesia, através do despojamento da “aura” de objeto único que circundava a concepção poética tradicional. Essa aura que nimbava a aparição radiante da poesia como um produto para a contemplação, foi posta em xeque, mostra-nos Walter Benjamin, com o desenvolvimento dos meios de reprodução próprios da civilização industrial (técnicas de impressão, fotografia e sobretudo o cinema) (CAMPOS, 1990, p. 20). Em geral, os tópicos das duas comunidades de Oswald de Andrade não rendem uma discussão mais ampla, ou seja, os tópicos em geral não possuem muitas respostas, não “rendem.” Um assunto amplamente discutido foi a relação Oswald/Caetano: 23/05/07Eliane CristinaOswald X Caetano VelosoGente, tô querendo saber qual é o fio que une essas duas grandes representações artísticas. Desafio vocês a tentar descobrirem...23/05/07Luizé o tropicalismo que teve como base a fonte antropofágica.24/05/07Eliane CristinaOk, luiz, mas de que forma isso ocorreu?27/06/07Caetano & OswaldPois é, eu acho que o Caetano e o Gil apropriaram-se da metáfora do Oswald de estarem "comendo" Hendrix, Beatles e outros. Calhou. Mas, no fim das contas, o axioma de Glauber, de que ele era o pai, Caetano o filho e o Espírito Santo era Oswald não funciona muito bem.Caetano e Gil e o grupo deles em geral não são muito utópicos, são pragmáticos. Glauber interessava-se em Caetano, sim, mas sempre trocava farpas. Chamou o grupo de "tropicanalha". Disse que Rui Guerra era de esquerda e Caetano de direita. Caetano só elogia Terra em Transe, que lhe deu a chave para Tropicália, canção que lançou o movimento musical. Ele quase não comenta os demais filmes; de fato, é amigo íntimo de Júlio e Rogério. O Gullar diz que aconteceu assim: ele estimulou o grupo concreto a falar em Oswald. Oswald em vida elogiou Gullar. Os concretos tomaram uma frase de um manifesto do Oswald e disseram-se "concretistas". Haroldo, aproximando-se de Oswald, afastava-se um pouco de Antonio Candido, seu ex-orientador e abria uma frente de polêmica, uma vez que Oswald estava praticamente esquecido e por todo o lado era combatido. Caetano conheceu os concretos e eles lhe aplicaram Oswald; calharam algumas idéias e metáforas. E a coisa aconteceu.19/07/07RobsonO Oswald não tem interlocutores hojeTambém vejo Caetano atuando à Mario. Se fosse pra levar Oswald realmente à sério, Caetano teria radicalizado e sido colocado à margem há tempos; mas estaria também falando em, ai, “status-quo capitalista”, demonizando “o sistema”, reclamando e reclamando e reclamando. Não dá pra fazer de conta que ainda estamos em 22. Alguém falou aí num Caetano pragmatista. Se Caetano exagerou ao marioandradizar-se, já está na hora de pragmatizarmos Oswald, atualizá-lo. Vanguardismo raivoso é coisa de quem perdeu o bonde da história.29/07/07RobsonMelhor que 22 ter acontecido ao Oswald pré-comunista é vê-lo largar a velharia do PC antes da morte. A frase não é de Oswald, e no entanto ele também sabia que, de fato, não é preciso ser burro para ser de esquerda.StéfanoEly ManoelInfelizmente você não entende nada de tropicalismo. Como disse o Caetano: "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) se vocês forem em política como são em estética estamos feitos."Bestética, Stéfano. Esse discurso tem sentido no contexto. Tou de saco cheio de ouvi-lo de alunos de licenciatura de Letras. Esse discurso de Caets agora é discurso de velhote espiritual que quer malhar em ferro frio. Caetano é MCLUHANAÍMA, HERÓI SEM NENHUM CARÁTER (...) (ELIANE, LUIZ, ROBSON, STÉFANO, apud: ORKUT, 2009). Assim, da postagem acima pode-se concluir que muitas vezes o que leva a um debate sobre a figura de Oswald de Andrade é a recepção dada a ele por parte dos concretistas e tropicalistas. Como ainda existem grupos que possuem influência nas instituições culturais ligadas a Augusto de Campos e Décio Pignatari, assim como a Caetano Veloso e Gilberto Gil (ex-ministro da cultura), existe controvérsia a respeito da obra.Um dos únicos tópicos do fórum da comunidade Oswald de Andrade que possui mais de dez postagens é aquele que refere-se aos poemas de Oswald de Andrade. Cada participante cita um pequeno poema. O primeiro que é citado é o seguinte poema, também de Pau Brasil: PRONOMINAIS Dê-me um cigarroDiz a gramáticaDo professor e do alunoE do mulato sabidoMas o bom negro e o bom brancoDa Nação BrasileiraDizem todos os diasDeixa disso camaradaMe dá um cigarro (ANDRADE, apud: Orkut, 2009). O poema Pronominais mostra um pouco da diversidade do uso da língua em função da situação comunicativa. O texto fala sobre a linguagem culta (dicionário) "gramática" e a linguagem coloquial (cotidiano). Ele faz uma referência, que existem dentro da língua portuguesa, maneiras distintas para expressar uma mesma idéia e não existe uma maneira certa ou errada para se expressar.Este texto (assim como a maior parte dos textos dos participantes do Orkut) coloca em discussão o padrão culto da língua portuguesa normatizado pela gramática (“Dê-me um cigarro...”) e o modo como a língua é usada no dia-a-dia pelos falantes do português brasileiro (“Me dá um cigarro”). A partir dessa concepção, pode-se afirmar que a língua aceita variações usada pelos falantes ou escritores conforme a situação de comunicação. Deve-se lembrar que as línguas não são estáticas e nem inalteráveis. A todo o momento, as pessoas criam palavras, frases e formas de expressões diferentes daquelas que são consideradas padrão. A preferência dos participantes do Orkut identifica-se com esse descompromisso em relação ao padrão culto (nem tanto nessa comunidade, mas na maior parte delas) expressa-se sem preocupação com normas e gramática. Embora tenham sempre que escrever para relacionar-se na rede social, eles valorizam a oralidade: daí a valorização desse tipo de poema de Oswald, que, como os participantes do Orkut, valoriza a fala popular.Um dos participantes da comunidade Oswald de Andrade, Luiz de Almeida, mantém um blog (literalmeida.blogspot.com) especializado sobre o modernismo, mantendo altíssimo nível de postagens e textos. No entanto, ele não posta diretamente na comunidade, apenas faz propaganda das postagens de seu blog a respeito de Oswald e Pagu, o discurso de Oswald no Trianon, etc. A morte de Rudá, filho de Oswald e Pagu em 27 de janeiro de 2009, também foi registrada na comunidade. Pesquisadores em busca da revista O Pirralho ou querendo trocar exemplares da Revista de Antropofagia, assim como alunos que precisam de informações sobre textos que estão estudando também surgem. Ambas as comunidades possuem como “avatar” (uma espécie de imagem que acompanha seu texto de abertura) retratos modernistas de Oswald de Andrade.O Rei da Vela é um texto bastante lembrado, demonstrando que a repercussão da montagem de José Celso nos anos 60 ainda ecoa como divulgação da obra de Oswald. Um exemplo de bom nível é a participação de um ator que participou de uma montagem recente dessa mesma peça de Oswald, fato raro: Eu atuei em O Rei da Vela, Thiago. Serve? Em 97, exatamente 30 anos após a estréia da lendária montagem do Oficina, minha companhia(Tropel)encenou a peça no Teatro João Caetano no Rio e no SESC-Nova Iguaçu. Foi a primeira montagem profissional do Rei desde a original. Como eu fiz os irmãos Totó Fruta-do-Conde e Perdigoto, sou suspeito para falar dessas cenas do segundo ato. Gosto muito da cena do Intelectual Pinote. Para nós na época, foi impressionante como ela podia ainda ser tão relevante 60 anos depois de escrita! Até mesmo as partes que se referem ao socialismo: nomenclaturas e momentos históricos à parte, as metáforas e associações estão todas presentes. Até mesmo hoje, em 2006! Abraços (VICTOR, apud: ORKUT, 2009). O teatro de Oswald raramente é montado e as montagens contemporâneas não conseguem obter o mesmo impacto da famosa montagem de José Celso: o contexto histórico, social e de costumes é outro, assim como desde então ocorreu uma retomada oswaldiana e o autor agora é estudado nas universidades de Letras, (o vestibular de 1992 da UFMG adotou Pau-Brasil como livro de leitura obrigatória, por exemplo) e sua obra é reposta no mercado, continuamente, por uma editora de bom nível e que edita os volumes em preços acessíveis (Editora Globo). A maior parte dos componentes do Orkut parece ter lido os livros nas edições proporcionadas por ela. 3. Conclusão A recepção de Oswald de Andrade no Orkut é principalmente a do poeta de Pau-Brasil. Essa obra de Oswald, em especial, fornece poemas curtos, facilmente adaptáveis à velocidade da rede social, local onde os contatos ocorrem através de um recado (scrap), contendo um número restrito de palavras. Outro aspecto que atualiza sua obra diante dos jovens é o humor. Os leitores se servem da obra de Oswald, assumem sua identidade como uma máscara (“fake”), criticando-o de forma ácida, considerando-o o Duchamp brasileiro, um bufão, mas ainda assim reproduzindo o estilo de seus manifestos. A antropofagia, inclusive, é um conceito muito presente; o próprio Manifesto Antropófago abre uma dessas comunidades. A relação com as artes plásticas está ilustrada nos quadros modernistas reproduzidos nos “avatares”, imagens que acompanham o texto de abertura das comunidades.Foi registrada, também, a repercussão da montagem de O Rei da Vela por José Celso Martinez Correa. Boa parte da obra de Oswald, que possui estilo hermético, não é citada nem debatida, claramente por apresentar maiores dificuldades para a reprodução e entendimento.Nas comunidades sobre Oswald, pode-se verificar também o quanto a música de Caetano e Gil, assim como a tropicália em geral, são fundamentais para o entendimento da obra dos dois. Pode-se dizer que “a massa” está comendo, ainda que em parte, o “biscoito fino” que Oswald fabricava, até mesmo em redes sociais como o Orkut, com auxílio da Editora Globo.
Juliana Bruno, de Uberaba (MG), graduada em Letras pela UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro).
4. Bibliografia:
CAMPOS, Haroldo de. Uma Poética da Radicalidade. In: ANDRADE, Oswald de. Obras Completas: Pau-Brasil. Rio de Janeiro: editora Globo, 1990. COMUS, moderador. Oswald de Andrade. http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=124771. GUINSKI, Lílian Deise de Andrade. Estudos literários e culturais na sala de aula de língua portuguesa e estrangeira. Curitiba: Ibpex, 2008. JAMESON, Fredric. Pós-Modernismo: A lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 2002.
Dou risada de Oswald de Andrade. http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=30330795. .
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