quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Colônia de Carapebus: Bom Despacho à Beira-Mar

 

Colônia de Carapebus: Bom Despacho à Beira-Mar

 

            Chorando pelo campo: Em Busca do Tempo Perdido

 

            Há alguns meses, em abril, fiz uma visita à colônia de férias da Polícia Militar de Minas Gerais em Carapebus, lugar onde não ia há trinta anos. A colônia está situada no município de Serra, próximo a Vitória, no estado do Espírito Santo. O nome do município derivado do nome tupi dado um tipo de peixe saboroso, semelhante ao acará, possível de encontrar em lagoas.

            O lugar não mudou muito nesses anos todos. Reencontrei a casa estilo “bangalô” onde passamos aquele veraneio em 1988. A rua continua a ser uma rua de terra, mas o passado parece ter acontecido em outra vida. Lembro-me especialmente do primo Roberto de Melo Queiroz Neto e do filho do amigo colunista professor Tadeu, o Bruno, pois juntos pegávamos as ondas, que, como pude observar, não são pequenas. Hoje há até surfistas nessa praia, em número considerável. Ao observar o mar e as pedras ao fundo, ou um lugar da colônia onde havia mato e eucaliptos, sempre há uma outra imagem mental que reaparece e se sobrepõe. Ao fundo, no horizonte, pode-se ver o porto de Vitória, bastante movimentado.

            Desde então, estive em muitas praias, Trancoso, Floripa, mas nenhuma me trouxe essa curiosa sensação de paz e reencontro com algo que parece que é interior e não exterior. É um como o bolinho chamado Madeleine (que, segundo a professora Jeanne Marie Gagnebin, é como uma quitanda mineira) que desencadeia a série de lembranças que inicia os romances Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust.

Num bangalô vizinho encontrei um coronel aposentado também de Bom Despacho, coronel Edgar. Estava cheio de roupas coloridas dependuradas parecendo um festival que é me é bastante familiar. Essa colônia é um pedacinho de Bom Despacho à beira mar. Daquele tempo, lembro-me especialmente de uma canção que tocava em rádio naquele tempo, Chorando no Campo, de autoria de Lobão, sucesso de 1987: “a chuva cai chorando/ e o meu amor vai e vem (...) Pela estrada enquanto eu passo/O cinema é só ilusão/Vou chorando pelo campo/No meio do temporal”. E a canção dá saudade, mas no caso é de um lugar onde eu fui (ao contrário da letra, que fala de um lugar onde o eu lírico nunca foi). Era um tempo em que era preciso deixar a fita cassete engatilhada no aparelho para gravar a canção quando ela passasse no rádio.

 

Vamos a la Playa

 

            A praia não é excepcionalmente bonita, mas é muito agradável e minha filha fez belas fotos (ela, Isa Júlia, tem talento para fotografia que pode ser conferido no instagram, na página chamada Flora Photos, recomendo muito aos leitores). Há um encontro de um lago com o mar ao lado da colônia que, ao lado dos coqueiros, produz essa “imagem de paraíso”. No passado, o restaurante da colônia tinha uma excelente vista do lago e era muito agradável nadar ora na água doce, ora na salgada. Em abril, o restaurante não funciona, éramos alguns dos poucos hóspedes a ocupar a colônia naquela Semana Santa. Agora o lago, alguém avisou, está poluído e achei melhor evitar. A colônia, curiosamente, tem história: o casarão que domina o cenário, prédio mais antigo do lugar, que agora está sendo reformado, era um cassino nos anos 40, que em mim evoca a era Vargas e a Segunda Guerra Mundial. Li em algum lugar que a batalha dos PMs mineiros por esse lugar de veraneio no Espírito Santo teve dimensões épicas. Na minha memória, o local era muito movimentado. Hoje é bastante sossegado e tenho vontade de passar um mês lá. Embora seja uma praia vazia, onde encontramos somente um bar, há um bom restaurante onde é possível comer a moqueca capixaba, prato de peixe do qual sou suspeito para falar, acho especialmente adorável.

 

            O Mineiro Não Perde o Trem

 

Desta vez, ao invés de vir de carro ou ônibus, eu e minha filha fizemos a viagem de trem de lá (Vitória/ES) até Belo Horizonte. Essa viagem teve uns contratempos, como o ar condicionado extremamente refrescante, senão congelante, quase viramos picolés, mas valeu muito a pena pelas paisagens e pelo romantismo do passeio ferroviário, raro em nosso país. O próprio trem, conforme soube através de pesquisa, é importado da Europa. Igualmente, se você for idoso e não trouxer o documento para comprovar, não adianta insistir. Meu pai acabou não embarcando devido a isso. As passagens, como são setenta reais, a metade da passagem do ônibus, são compradas anteriormente e, se esquecer ou falta um documento, não há como comprar outra na hora. Você ficará sem embarcar, como infelizmente aconteceu com meu pai, que teve de voltar de ônibus depois de sonhar fazer essa viagem de trem, ele que é neto de ferroviário.

            Não são propriamente memórias de um vendaval, mas é uma “noite além da noite”, sem dúvida, pois dá vontade de voltar a esse lugar que eu nunca imaginei ter tanta magia.

 

 

 

 

 

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