Colônia
de Carapebus: Bom Despacho à Beira-Mar
Chorando
pelo campo: Em Busca do Tempo Perdido
Há alguns meses, em abril, fiz uma
visita à colônia de férias da Polícia Militar de Minas Gerais em Carapebus,
lugar onde não ia há trinta anos. A colônia está situada no município de Serra,
próximo a Vitória, no estado do Espírito Santo. O nome do município derivado do
nome tupi dado um tipo de peixe saboroso, semelhante ao acará, possível de
encontrar em lagoas.
O lugar não mudou muito nesses anos
todos. Reencontrei a casa estilo “bangalô” onde passamos aquele veraneio em
1988. A rua continua a ser uma rua de terra, mas o passado parece ter
acontecido em outra vida. Lembro-me especialmente do primo Roberto de Melo
Queiroz Neto e do filho do amigo colunista professor Tadeu, o Bruno, pois
juntos pegávamos as ondas, que, como pude observar, não são pequenas. Hoje há
até surfistas nessa praia, em número considerável. Ao observar o mar e as
pedras ao fundo, ou um lugar da colônia onde havia mato e eucaliptos, sempre há
uma outra imagem mental que reaparece e se sobrepõe. Ao fundo, no horizonte,
pode-se ver o porto de Vitória, bastante movimentado.
Desde então, estive em muitas
praias, Trancoso, Floripa, mas nenhuma me trouxe essa curiosa sensação de paz e
reencontro com algo que parece que é interior e não exterior. É um como o
bolinho chamado Madeleine (que, segundo a professora Jeanne Marie
Gagnebin, é como uma quitanda mineira) que desencadeia a série de lembranças
que inicia os romances Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust.
Num
bangalô vizinho encontrei um coronel aposentado também de Bom Despacho, coronel
Edgar. Estava cheio de roupas coloridas dependuradas parecendo um festival que
é me é bastante familiar. Essa colônia é um pedacinho de Bom Despacho à beira
mar. Daquele tempo, lembro-me especialmente de uma canção que tocava em rádio
naquele tempo, Chorando no Campo, de autoria de Lobão, sucesso de 1987:
“a chuva cai chorando/ e o meu amor vai e vem (...) Pela estrada enquanto eu
passo/O cinema é só ilusão/Vou chorando pelo campo/No meio do temporal”. E a
canção dá saudade, mas no caso é de um lugar onde eu fui (ao contrário da
letra, que fala de um lugar onde o eu lírico nunca foi). Era um tempo em que
era preciso deixar a fita cassete engatilhada no aparelho para gravar a canção
quando ela passasse no rádio.
Vamos
a la Playa
A praia não é excepcionalmente
bonita, mas é muito agradável e minha filha fez belas fotos (ela, Isa Júlia,
tem talento para fotografia que pode ser conferido no instagram, na
página chamada Flora Photos, recomendo muito aos leitores). Há um
encontro de um lago com o mar ao lado da colônia que, ao lado dos coqueiros,
produz essa “imagem de paraíso”. No passado, o restaurante da colônia tinha uma
excelente vista do lago e era muito agradável nadar ora na água doce, ora na
salgada. Em abril, o restaurante não funciona, éramos alguns dos poucos
hóspedes a ocupar a colônia naquela Semana Santa. Agora o lago, alguém avisou,
está poluído e achei melhor evitar. A colônia, curiosamente, tem história: o
casarão que domina o cenário, prédio mais antigo do lugar, que agora está sendo
reformado, era um cassino nos anos 40, que em mim evoca a era Vargas e a
Segunda Guerra Mundial. Li em algum lugar que a batalha dos PMs mineiros por
esse lugar de veraneio no Espírito Santo teve dimensões épicas. Na minha
memória, o local era muito movimentado. Hoje é bastante sossegado e tenho
vontade de passar um mês lá. Embora seja uma praia vazia, onde encontramos
somente um bar, há um bom restaurante onde é possível comer a moqueca capixaba,
prato de peixe do qual sou suspeito para falar, acho especialmente adorável.
O Mineiro Não Perde o Trem
Desta
vez, ao invés de vir de carro ou ônibus, eu e minha filha fizemos a viagem de
trem de lá (Vitória/ES) até Belo Horizonte. Essa viagem teve uns contratempos,
como o ar condicionado extremamente refrescante, senão congelante, quase
viramos picolés, mas valeu muito a pena pelas paisagens e pelo romantismo do
passeio ferroviário, raro em nosso país. O próprio trem, conforme soube através
de pesquisa, é importado da Europa. Igualmente, se você for idoso e não trouxer
o documento para comprovar, não adianta insistir. Meu pai acabou não embarcando
devido a isso. As passagens, como são setenta reais, a metade da passagem do
ônibus, são compradas anteriormente e, se esquecer ou falta um documento, não
há como comprar outra na hora. Você ficará sem embarcar, como infelizmente
aconteceu com meu pai, que teve de voltar de ônibus depois de sonhar fazer essa
viagem de trem, ele que é neto de ferroviário.
Não são propriamente memórias de um
vendaval, mas é uma “noite além da noite”, sem dúvida, pois dá vontade de
voltar a esse lugar que eu nunca imaginei ter tanta magia.
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