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Gênero e Diversidade em Impressões de Cinema, de Alberto
Coimbra
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (doutorando em
EstudosLiterários/UNICAMP)1.IntroduçãoResumoEsse texto busca fazer algumas
observações críticas a respeito da obraliterária
Impressões de Cinema
, de autoria de Alberto Coimbra. O textoinvestiga os
diferentes gêneros literários presentes na obra, assim como aproblematização
que o texto faz das questões de gênero e diversidade. Oartigo fez a
contextualização histórica do livro, assim como a seguir trata dosgêneros
dentro do livro, para logo em seguida associar o texto à intervençãocultural
realizada por Alberto Coimbra em Bom Despacho, Minas Gerais.Palavras chave:
intervenção cultural, cinema, literatura, prosa, vida, arte
A VOZ DE UM
ENGENHEIRO - Evidentemente, coagido pela força bruta, vencido pelo
número,vejo-me forçado a continuar o meu caminho sem chapéu. Mas esse puto
(Cristo) me paga!(som de castanholas. Tumulto).VOZES - Viva la gracia! Outro
toro! Mi cago en dios! Viva o senhor do Sábado! Tira o chapéu,Flávio! Péo, péo!
Fora! Não tira! Deus da burguesia! Fora! Põe o chapéu! Desacata esse
veado! Fora! Fora!”
Trecho da peça
O Homem e o Cavalo
, de Oswald de Andrade.O livro
Impressões de Cinema
é um retrato de
Alberto Coimbra e suacabeça. Ele pensa cinema. E protagonizou intervenções
culturais que játransformaram o cotidiano das pessoas de Bom Despacho. E que
entrarampara o folclore: colocou máscara de Piu Piu e ergueu-se durante a
eucaristia.Para Alberto Coimbra, a intervenção com a máscara de Piu Piu
aconteceuporque Jesus, para ele, é um homem.
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Outra intervenção cultural aconteceu quando ele vestia
saia, blusa doCruzeiro, chapéu e levando uma mala, dizendo que ia pegar a
(inexistente)ferrovia para Martinho Campos. Alberto e seu livro fazem pensar em
José Agrippino de Paula: temos queviver as coisas que Oswald de Andrade
escreveu. Alberto vive a contraculturados anos 60 e o modernismo de 22.O livro
mistura crônicas autobiográficas em que ele insere BomDespacho no mundo do
cinema com poemas sempre inspirados por umdeterminado filme. Em sua imagética
somos levados a uma Bom Despachoque não existe mais, a Bom Despacho em que a
biblioteca pública era ao ladodo cinema e o cinema apresentava produções que
tinham interesse tanto paraos intelectuais quanto apelo para a imprensa e as
massas. Alberto éprofundamente marcado pela história e memória de Bom Despacho,
numaverdadeira geografia sentimental: cinema, biblioteca e a Mata do
Batalhão.Escrevendo de forma bela sobre sua infância em Bom Despacho nos
anos1980, ele coloca a cidade dentro do cinema. Escrever sobre cinema de
certoforma é estar no cinema, é de certa forma fazer cinema. Alberto também é
umpensador sofisticado.1. Contexto Histórico de
Impressões de Cinema
Alberto nasceu nos
anos 60, sua juventude foi nos anos 80. Foi da geraçãoX, a que fez a difícil
transição entre a geração 68 e a geração do novo milênio,assim como viveu a
mudança da ditadura militar para a democracia emmeados dos anos 1980. Alberto,
filho de militar e músico, neto do maestro José Milagre Coimbra,seu avô. Ele
identifica-se com o feminino e com a esquerda. Primeiro, ele teveuma infância
feliz, brincando na Mata do Batalhão atrás de sua casa e depoisbrincou no pasto
de uma fazenda de gado no bairro Esplanada onde foi morar.Paralelamente à
chamada globalização e ao neoliberalismo, Albertodesfrutou do avanço dos
costumes. Caminhando contra o vento, prosseguiu
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imbuído de luminosas utopias, num tempo em que elas estavam
se desfazendocom a utopia
hippie
e a utopia comunista
tornando-se ultrapassadas. Alberto sempre observa a realidade e pensa em
melhorá-la. Na UFMG leu olivro,
1968, Ano que Não Terminou
, do jornalista Zuenir Ventura. Leu sobrereligião na visão
de Rubem Alves. Assistiu várias palestras de Rose MarieMuraro e Rubem Alves.
Após estudar na UFMG, estudou a pós-modernidadequando o pensador Francis
Fukuyama falou do fim da História. E aprendeu emSemiótica que todos os filmes
foram feitos e hoje eles passam na Sessão daTarde. O jornalista Emerson Penha
que foi seu colega no curso de Jornalismona UFMG fala de questões ambientais e
políticas. Assim sendo, tendo atribuído esse olhar ao seu curso de Jornalismo
naUFMG nos anos 90. Alberto passou os anos 90 esboçando
Impressões deCinema
e um embrião do
livro nasceu durante seu curso de jornalismo, quandoele freqüentava o
Savassi Cineclube
no início dos anos
90 em Belo Horizonte. Alberto Coimbra defende Lula, comparando-o a Juscelino
Kubitschek,assim como faz o elogio de Brasília e de Oscar Niemeyer e Lúcio
Costa.Coimbra relembra a interessante reportagem que deslinda a música
Ponta de Areia
, pois existe uma realidade por trás dessa música: o
jornalista EmersonPenha investigou a ferrovia que existia entre
Araçuaí
e
Ponta de Areia
naBahia. Atualmente,
Emerson Penha está fazendo um filme sobre isso.
Impressões de Cinema
fala sobre questões
ambientes, questões humanas emesmo sobre o empreendedorismo: o sucesso
profissional de uma pessoadepende muito mais da organização do que de
inteligência.Felipe Cunha, funcionário da secretaria de cultura local, disse
que Alberto foi importante para Bom Despacho como Copérnico foi para
ahumanidade. Depois de sua intervenção cultural construíram
parklets
nos baresde Bom
Despacho. Alberto disse a Padre Antônio que entrar na igreja de vestido e salto
altopara dizer às pessoas que características masculinas e femininas são
próximasde ser um artista
Pop
e assim dedicou sua
vida aos outros.
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E também quis mostrar que características masculinas e
femininas estãomais próximas do que a gente pensa. E que seu gesto foi um gesto
de amor aopovo de Bom Despacho. O Padre Antônio concordou. Alberto também disse
aoPadre Pedro que foi funcionário público e dedicou sua vida aos outros.
Nãorealizou, então, seu sonho de ser um artista
pop
e assim dedicou sua vida aosoutros
. O Padre Pedro respondeu: “você é Jesus, Alberto. Agora é
a vez deMaria.”
Alberto Coimbra
comenta que em Bom Despacho a maioria dos padreso respeitaram e o acolheram. A
vida do pobre é difícil, é preciso rezar menos eviver independente de Deus,
como na religiosidade grega, que era não-coercitiva, não existindo a figura do
sacerdote como surgiu posteriomente. Alberto Coimbra possui um senso agudo de
história. Para ele, o
ottocento
trouxe os elevadores, bicicletas, luz e telefone. O século
XIX lia peloprazer da leitura e os jornais traziam textos literários. Seu texto
teoriza sobre aascensão da burguesia capitalista e as conseqüências de uma nova
civilizaçãoconstruída sobre a ciência e a tecnologia, assim como hoje houve
odesenvolvimento digital.O governo Lula trouxe a ascensão das classes D e E,
uma novacivilização parece, então, começar no século XXI, produzindo um
novocomportamento e novas tecnologias, com a diferença que no início do
séculoXXI há um fortalecimento das idéias de igualdade, liberdade e
fraternidade. Adependência da Igreja começa a cair. A declaração dos direitos
do homemcompletou 70 anos.Nesse contexto, Brigitte Bardot agora protege
animais, assim como omeio ambiente. A ONG criada por Michael Jackson cuida das
crianças e jovensno mundo inteiro. Mick Jagger teve filho com uma brasileira.
Madonna tentouadotar uma criança africana afirmando que quando ela crescesse
ajudaria seupaís na África. O dinheiro nos últimos 30 anos mudou de mãos.
Grandesartistas têm renda financeira.
Impressões de Cinema
é influenciado ao
mesmo tempo pela mitologiagrega de Eros e Psiquê e pelo decadentismo do século
XIX e século XXI é.
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Hoje vivemos a prosperidade de uma era tecnológica nunca
vista antes. Outrasde suas influências: Émile Zoula, Gustave Flaubert,
Germinal
, Naná,
MadameBovary,
Bouvard e Pecouchet
. O documentári
o Imagine
sobre a vida de
JohnLennon também foi muito influente, bem como o modernismo de 22 e
acontracultura de 1968. Ele diz do documentário
Imagine
sobre John Lennon notexto
O Artista
.
Impressões de Cinema
é um livro que
deseja ser a obra de arte total,integrando cinema, poesia, Filosofia, música e
dança. Em
Você é Lindo
existea música, em
Seu Nome é Rita Hayworth
, cinema, música e dança.2.Gênero e Diversidade em
Impressões de Cinema
Impressões de Cinema
é um livro que
mistura gêneros em muitossentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade
quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como
diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida
na juventude.Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de
repressão.O livro
Impressões de Cinema
também contêm
códigos sexuais. O autordescobriu-se travesti após uma longa trajetória de vida
enquanto bibliotecário e jornalista. Seu campo de interesse volta-se para o
jogo com os signos sexuais,indo além do que a sociedade define que é homem e
mulher, como ele mesmoescreve em uma passagem de
Impressões de Cinema
: “Pichita pega o jovem
guapo e o veste de donzela e ela de belo tenente
” (COIMBRA, 2017, p. 60).
Alberto pensa
cinema, tem muito boa memória cinematográfica. Associae aprecia o modernismo de
22 e a contracultura dos anos 60. Ele diz sobre ofilme
O Artista
: “Eu vou me alimentando de você. De nossos olhares. De
nosso
carinho. De mãos dadas no parque. Lucy no céu com
diamantes. E beijos e
beijos e beijos...” (COIMBRA, 2017, P. 48).
A memória
cinematográfica faz com que ele veja a própria vida enquantoum filme e vice-
versa, que aplique na vida o que vê nos filmes: “quando
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escol
hemos um amor, não temos certeza do final” (COIMBRA, 2017,
P. 50).
Alberto utilizou-se
bastante do processo do
flashback
, voltando às suas
memórias de infância e adolescência: “roubávamos mexericas
e íamos para a
casa chupá-las, falar das meninas e soltar
o periscópio” (COIMBRA, 2017, p.
51). A chave para a compreensão de
Impressões de Cinema
está naredescoberta
da identidade de Alberto Coimbra. Num dos textos, fala do Aterrodo Flamengo,
mas quer tratar de como sua identidade homossexual ficousoterrada. A questão da
sublimação da homossexualidade do autor está nopoema
Seu Nome, Rita Hayworth
.
A partir daí, eu só
tinha olhos para o bailado de Rita Hayworth a me seduzir!/Rita,Gilda, Carmen,
Salomé ou a musa grega Terpsícore, da dança e da música. ComoRita fico
conhecida, a atriz dançava ou melhor, saracoteava sorrindo! (...) E o meudesejo
adolescente frente a um espelho real não se conteve e o estilhaçou. Realidadeou
não, Rita Hayworth não morreu, adormeceu no meu coração e aqui mora
(COIMBRA, 2017, P.
66).Tanto esse texto acima quanto a crônica
Uma Sessão de Cinema noCine Roxy
é uma homenagem à
atriz e bailarina Rita Hayworth. Jair Coimbracolocou a coluna de Nina Chaves em
1981, sobre a cama, a crônica contandoque Rita estava com 64 anos e com mal de
Alzheimer em Beverly Hills. Sevocê quer ser uma mulher, que seja uma
interessante e elegante como RitaHayworth. Isso está no texto acima,
Seu Nome é Rita Hayworth
. Está tambémo Cine Regina e a cidade de Bom Despacho.
Igualmente, pode-se dizer que opoema
Seu Nome é Rita Hayworth
também aborda também
o momento emque fez terapia com Marco Aurelio Baggio. Essa terapia o fez
implodir suahomossexualidade. Ele queria ser uma mulher como Rita Hayworth.
Albertoexplicou em uma entrevista:
No primeiro ano de Grupo meu pai, no final do ano, me falou
para enviar um cartão deNatal para minha professora Vera Couto. Enviei. Em 1988
quando eu fazia terapiacom o psicanalista Marco Aurélio Baggio descobri que a
Pantera Gil do seriado AsPanteras, que a Fanch Fawcett-Majors era a Dona Vera.
É porque quando eu tinha
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onze anos eu via a Fanch Fawcett-Majors no seriado eu
fiquei fã dela. Fui a banca derevista e pedi uma revista Cinerium como pôster
de atriz. Na sessão de psicanálisecom Marco Aurelio ele me dises que meu pai me
fez o pedido me mostrando que aVera Couto era uma mulher que vale a pena. Eu
queria era ser uma mulher como aFarrah. E gritei. Em 1980 era o footing. As
pessoas ficavam andando na Praça aoredor da Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom
Despacho
(COIMBRA, 2018).
Alberto faz, em
Impressões de Cinema
, uma micro-história, uma históriadas mentalidades. A Mata
do Batalhão é patrimônio. Toda uma épocadesapareceu, era um
footing
, as pessoas ficavam andando. Nos anos 90,existia a noite
dos bilhetinhos, agora tudo é pelo
zap
e pelo
facebook,
não hámais paquera
como antes.Um grande triunfo de Alberto foi ter feito análise durante dez
anos.Resolveu seu trauma com seu pai e tornou-se seu amigo. Viveu sua
lendapessoal, para ele, todo mundo tem que desenvolver o seu dom e fazer o
quegosta. A psicanálise torna-nos melhores amigos.O livro traz textos que ele
escreveu ao longo da vida, tendo o cinemacomo mediador. No poema
Leolo
, inspirado no filme de mesmo nome, Albertodescreve a
confusão de lidar com a homossexualidade na adolescência, o queo deixou
inseguro. Bianca representou seu tesão hetero que virou uma ruínaromana.
Semelhante a cena final do filme Satiricon de Federico Fellini, só queno caso
de Alberto a ruína romana é seu desejo por mulher
: “O meu desejo emsilêncio! A Itália! (...). Grito seu nome
entre ruínas romanas! Minha solidão...”
(COIMBRA, 2017, p. 44). Alberto entrou no corredor central
da Igreja Matriz de Bom Despachodurante a missa, usando roupa feminina. No
entanto, ele fez isso com aintenção de mostrar às pessoas que a vida não é só
rezar e a diferença entremasculino e feminino é menor do que a gente pensa.
Alberto estudou a vida deJesus na UFMG e ele viu que aconteceram fatos e
pessoas da época pegaramesses fatos e atitudes e criaram o personagem de Jesus
na Bíblia. Jesusvoltou, é um travesti e trabalha para o mundo da moda.
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Durante o filme
Cléopatra
, de Elizabeth Taylor, viu a imagem deCleópatra deitada na
cama e a cobrinha andando no chão. Alberto ficou paradona porta e ficou
pensando em sua homossexualidade. Era um indício. Alberto vivenciou sua
homossexualidade nos anos 90, pois queria ter umrelacionamento sério com um
homem, mas depois recalcou-a, vivendo comuma companheira, mas voltou a ser
gay
depois da morte de
sua ex-mulher,desistindo então das mulheres. Alberto conta que, nos anos 90, os
homens nãoo desejavam para namorar e relacionar a sério. Ficou triste e
decepcionado e,para se reorganizar, leu os livros
Filosofando
e
Iniciação à
Filosofia
de MarilenaChauí.3.
Alberto e suas Intervenções Culturais no Cotidiano da CidadeOs filmes que
passavam na Sessão da Tarde nos anos 1980, anos da juventude de Alberto eram
filmes dos anos 1930, 1940, 1950 e 1960.O cinema serve de lente através da qual
ele vê a própria vida. Elerelembra a atitude do modernista que, nos anos 50,
saiu vestindo saias,causando choque na cidade de São Paulo. A atitude de
Alberto Coimbrarelembra essa atitude, buscando fazer uma intervenção no
cotidiano da cidadee buscando mostrar que a vida é mais do que o labor diário
pela sobrevivência.Ele tem uma filosofia de vida própria, uma filosofia aplicada.Para
Alberto Coimbra, quando Gustave Flaubert construiu
MadameBovary
, ele recorreu ao seu lado mulher, à sua bissexualidade
interna. Outrosautores que inspiram
Impressões de Cinema
são: Nietzsche,
Sartre, Foucault,Simone, Albert Camus, Umberto Eco, os filósofos gregos,
Tchecov,Dostoiévsky, Tolstói, Kafka. O professor Tadeu Teixeira Araújo leu o
livro de Alberto e disse para o autor: Anna Karenina.Outros que o influenciaram
foram: Homero, Gilberto Freyre, SérgioBuarque de Holanda, Chico, Caetano, Fernando
Brant e Milton; além deEngenheiros do Havaí, Titãs, Barão, Renato Russo,
Cazuza. A linguagem de
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Alberto é
jornalística como a de Ernest Hemingway. As influências de literaturabrasileira
são: Machado de Assis, Clarice Lispector, Rubem Braga, João doRio, Jorge Amado,
Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Outras obras queinfluenciam são:
o Romanceiro da Inconfidência
. Outras obras revolucionáriassão tais como
Grande Sertão Veredas
.Os artistas homens recorrem a esse lado feminino para
construirpersonagens femininos, mais do que somente a uma observação externa.
Alberto deseja que
suas “performances” sejam
intervenções no cotidiano dacidade. Ele já realizou
experiências tais como as de Flávio de Carvalho, andoupelas ruas de Bom
Despacho de roupa feminina e se comportando muitoeducadamente. Não é atualmente
assim. Entrou de salto alto e leque na torcidado Atlético. Foi aceito e tentou
entrar de salto na torcida do Cruzeiro, tendo sidoreprimido lá. Flávio de
Carvalho, ao sair de minissaia, experimentou algosemelhante:
Situação parecida se deu em outubro de 1956, porém desta
vez a experiência forapremeditada e resultara de suas reflexões em torno do que
definiu com Dialética daModa. Flávio de Carvalho caminhou de saia pelo centro
de São Paulo: era aExperiência n º 3. Para ele, a roupa era o fator que mais
influenciava o homem"porque é aquilo que está mais perto do seu corpo e o
seu corpo continua sempresendo a parte do mundo que mais interessa ao
homem". Denominou o curiosomodelito que trajava de "new look"
para "o novo homem dos trópicos". O "new look"era composto
por saia cor-de-rosa prissada -acima dos joelhos antes de Mary Quant,camisa
verde e... meia arrastão e sandália de couro cru. Portanto, a despeito de
seupensamento sobre a condição da moda, está explícita a intenção performática
dechamar atenção ao corpo na ação (MACHADO, 2018).
Alberto entrou na
Igreja com uma cabeça de veado. O dia em que opadre Douglas tornou-se padre, Alberto
entrou com a cabeça de um veado(estátua) e um chapéu de bruxa, no dia em que
estava presente o bispo deBom Despacho. O dia 25 de dezembro na Idade Média era
o dia do grandeveado e a Igreja Católica escolheu o dia para ser o nascimento
de Jesus.Ele identifica-se com a frase de Pessoa: se você não pode
escreverpoemas como Baudelaire, pode ao menos pintar os cabelos de verde.
Asperformances de Alberto são como pintar os cabelos de verde, mas com uma
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aspiração de ir um passo além de um Flávio Carvalho. As
experiências nãoseriam extraordinárias, o extraordinário tornou-se cotidiano. A
frase, paraPessoa, está num contexto em que o poeta faz uma dura crítica aos
diluidores:
A grande multidão de
fascinados inferiores, incapazes de criar (...), falhos de inibição ede senso
crítico, na impossibilidade de, (com razoável êxito (salvo um declarado
[?]delírio de grandezas) imitar os poemas de Musset ou os de Verlaine, podem
contudo,com maior aproximação, plagiar ao primeiro o copo [?] gigantesco com
que seembriagava quotidianamente, e ao segundo a sua incurável vagabundagem
eamoralidade de degenerado típico. Quem não pode fazer versos como
Baudelairepode, porém, tingir os cabelos de verde. A prática da pederastia,
embora nem sempre
fácil [...], é contudo mais fácil que a produção de uma
segunda “Salomé”
(PESSOA,2018).
Alberto assume a
intervenção cultural não como algo inferior, mas comofusão da arte e da vida,
além de uma atitude apologética, de pioneiro, dealguém que, ao intervir no
espaço público, atrai para si ouvidos que queremouvir as verdades que têm a
dizer. No final do livro, no texto
Neblina
SobreTeresópolis
, ele utiliza a metáfora do desastre ocorrido na cidade
comometáfora para a morte de sua heterossexualidade e o renascimento de
suahomossexualidade. Alberto viu isso como perda de vidas e perda de vida
paraele mesmo, por ter vivido anos reprimido. O poema
Neblina Sobre Teresopolis
,além de referir-
se à frase “Diadorim é minha neblina”, uma bela passagem em
Grande Sertão, Veredas
:
Abracei Diadorim,
como as asas de todos os pássaros. Diadorim é minha neblina. Sóse pode viver
perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gentetem
amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Oamor é
a gente querendo achar o que é da gente (ROSA, 2018).
Atualmente, ele diz
que é importante ser mutante na sociedade, fugir da
“normose”.
Desde que era aluno
de Jornalismo, é um mutante que foge danormose. Normose é um termo criado pelo
Dr. Hermógenes no seu livro que Alberto leu nos anos 1980. Mutante é o termo
criado por Roberto Crema,diretor da Universidade Holística de Brasília. Ser
mutante para Alberto é ter um
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pensamento e comportamento libertário inserido no meio da
sociedade. Opoema
Neblina Sobre Teresópolis
é o encontro de um
rapaz com um homemmais velho que é referência para ele:
Era o ano de 1984. Deixa-me contar direito, tenho 17 anos,
um senhor se aproxima demim sorrindo e se apresenta: --Meu nome é Edgar. Um
homem de seus 36 anos. Alto,olhos bonitos.
–
Ei, meu jovem! Posso ajudá-lo, Sr?
–
Respondo.
–
É a primeira vez quevejo o mar, sou de Minas.
–
Eu também sou, Responde Edga
r
(COIMBRA, 2017,
p.138).Ele quer mudar comportamentos e mentalidades e uma das vias queescolheu
é a literatura. Uma outra são as intervenções culturais no cotidiano deuma
cidade do interior que Alberto protagoniza. São intervenções que
remetemBaudelaire e que estão intimamente ligadas à sua produção literária:
A primeira vez que
visitou o escritor Maxime Du Camp, Baudelaire foi apresentado aele com os
cabelos pintados de verde. Como o malicioso Du Camp não queria nada
observar, Baudelaire gritou: “você não vê nada de anormal
em mim?” E seuinterlocutor impassível respondeu: “Todo o mundo tem os cabelos
mais ou menos
verdes; se os seus fossem azuis da cor do céu, isso poderia
me surpreender: mascabelos verdes, há muitos chapéus em Paris. A anedota,
contada por Du Camp elemesmo, é divertida. O leitor divertido pelas provocações
baudelairianas descobriuoutros dentro da soma biográfica consagrada ao poeta
por Marie-Christine Natta. Aespecialista em dandismo traça o retrato de um
escritor insaciável, adepto da artearistocrática de desagradar
(HAYAT, 2018). Alberto Coimbra faz, em Bom Despacho, o
papel de uma ativista dacontracultura. Para Alberto, é importante mudar sua
mente, mudando seucorpo. Ele acredita que é preciso rezar menos. Para ele,
inspirado na Grécia Antiga, os mistérios da vida são mistérios
gozosos.Inspirado em
As Bruxas de Salem
, filme de Wynona Ryder, Albertoentrou na Igreja matriz de
Bom Despacho com uma cabeça de veado. O dia emque o padre Douglas tornou-se
padre, Alberto entrou com a cabeça de umveado como se fosse uma estátua e um
chapéu de bruxa. Nesse dia estavapresente o bispo local. Alberto remete a
Flávio de Carvalho, mas dá um passo
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adiante: insere suas experiências no cotidiano, não as
considera excepcionaise sim banais, rotineiras. Para Alberto Coimbra, devemos
ser mais eróticos enão ficar rezando, pois a vida do pobre é difícil.
Deveríamos ser mais eróticos,começar uma fala mais erótica junto às pessoas.
Alberto Coimbra relembra as bruxas para poder lembrar que asexualidade é
natural e os eleitores de Bolsonaro julgam o corpo algo sujo. Alberto, em suas
performances, mistura-se na multidão, ao mesmo tempo estánela como uma
personalidade, como, ao mesmo tempo, ator e espectador. Alberto está à vontade
no espaço público. Ele se inspira em
Bruxas de Salém
,
A Garota da Capa
Vermelha
e
Caça às Bruxas
. Alberto Coimbra, com seu livroé tão revolucionário quanto
Grande Sertão Veredas
por ocasião de
seulançamento em 1956.Ele também já se travestiu de mulher e foi ao estádio
Mineirão em jogosdo Clube Atlético Mineiro (em que foi bem recebido) e do
Cruzeiro (onde houveagressão). No jogo do Atlético, usou a camisa com o rosto
de Brigitte Bardot.Para Alberto, bem como para Baudelaire, só com o mergulho
namultidão é que o poeta pode tornar-se moderno. Assim o poeta
mergulha,embriagado, no outro e experimenta a comunhão universal. Alberto
Coimbra pretende, com seu livro
Impressões de Cinema
, ser tãorevolucionário quanto
Grande Sertão Veredas
foi em seu tempo, ao
levantar,pioneiramente, a questão do gênero e diversidade ao tratar do amor
deRiobaldo por Diadorim. A linguagem jornalística de Alberto Coimbra pode
serassociada a Ernest Hemingway. Antes de viver em Paris, Pamplona, Cayo Hueso
e Havana, Hemingwaynasceu e viveu até os seis anos em uma casa de três andares
e estilo vitorianono bairro de Oak Park, na periferia de Chicago, que o
escritor costumava definir
como “um lugar de jardins largos e mentes estreitas”. No
bairro se encontra um
pequeno museu dedicado à sua memória, na mesma rua
arborizada onde estásua casa natal.
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No interior do museu está exposta uma caricatura desenhada
para a
Vanity Fair
, em 1933, em que Hemingway aparece vestido com uma tanga e
jogando tônico capilar nos peitorais. Em outro mostruário está uma foto
doescritor quando bebê. Aparece vestido de menina, algo comum no começo
doséculo XX, quando os bebês eram vestidos dessa forma durante seu primeiroano
de vida. Mas sua mãe, uma pintora e cantora de ópera chamada Grace,decidiu
prolongá-lo por muitos anos mais. De fato, criou Hemingway e sua
irmãMarcelline, 18 meses mais velha, como se fossem gêmeos, e os
vestiuindistintamente como se ambos fossem meninos ou meninas, segundo
seuhumor.Para Hemingway, esse capítulo seria um grande trauma que
terminariaprovocando uma ansiedade que desembocou em sua exagerada virilidade,
deacordo com a biografia que Kenneth S. Lynn publicou em 1987, que
permitiualterar sua imagem pública e também abrir sua obra a novas
interpretações.Quando são relidos romances e contos de Hemingway, ganhador do
Nobel deLiteratura em 1954, sobressaem menos os super-heróis e mais os
homensinseguros. Como o protagonista de
A Curta Vida Feliz
de Francis Macomber
,envergonhado por sair correndo quando tentava atirar em um
leão em umsafári, muitos deles tentam alcançar um ideal de masculinidade
impossível.Outro de seus biógrafos, Paul Hendrickson, autor de
Hemingway´s Boat
,sobre o apego do escritor por um barco batizado como
Pilar, não acredita queessa hombridade superlativa e quase paródica possa ser
vista como uma
atuação ao público. “A hipermasculinidade foi uma parte do
que ele era. Foi
real e autêntica. Talvez fosse uma máscara conveniente ao
seu ego, mas nãoera fr
audulenta”, afirma o professor da Universidade da
Pensilvânia e antigo
jornalista do
The Washington Post
. “Acho que foi homossexual, mas com
muitos sentimentos contraditórios em relação ao seu gênero.
Nunca encontreia menor prova que sugerisse que se sent
ia atraído por outros homens”.
Hendrickson também
descreve sua difícil relação com seu filho maisnovo, Gregory, que praticou o
transformismo por toda sua vida e acaboumudando de sexo aos 63 anos. Morreu com
o nome de Gloria em uma prisão
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para mulheres na Flórida, na qual acabou por praticar
exibicionismo em viapública. Uma vez, quando era pequeno, Hemingway o
surpreendeu provandoas meias-
calças de sua mãe. Mais tarde lhe diria: “Você e eu viemos
de umatribo estranha”. Para Hendrickson, Gregory/Gloria r
ealizou o que seu pai só
admitia em seu foro interior e em algum texto clandestino.
“Por isso existia umarelação de amor e ódio entre eles”, afirma. Dearborn diz
que essa foi a cela deonde nunca conseguiria escapar: “Em um mundo melhor, Hemingway
teria
f
urado as orelhas”.
Impressões de Cinema
é um livro que
mistura gêneros em muitossentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade
quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como
diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida
na juventude.
Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de
repressão.” O
livro
Impressões de Cinema
também contêm
códigos sexuais.4. Conclusão Alberto confessa que fez a intervenção cultural na
cidade de BomDespacho por ser jornalista e porque ouviu bom-despachenses
reclamando dopapo ruim da cidade pequena que provocou fobias e depressão em
pessoas. Etambém porque as cidades grandes brasileiras estão esgotadas. É
preciso umaintervenção cultural e econômica para que cidades pequenas sejam
atrativaspara viver. Alberto homenageia a cidade do Rio de Janeiro como um
flaneur
passeando pelo seu centro histórico descrevendo lindamente
locais, ruas e suaarquitetura.
Impressões de Cinema
foi um livro pensado
como obra de arte total,fundindo música, cinema, poesia, prosa poética e dança.
Trata-se de um livroque funde vários gêneros textuais e pensa gênero e
diversidade, pois o livrotrata da retomada da homossexualidade de Alberto
Coimbra após um períodoem que ele viveu com uma mulher.
15
O livro não pode ser entendido sem um mergulho na vida e
nasintervenções culturais de Alberto Coimbra, grande artista, escritor e
ativista dacontracultura em Bom Despacho. Na prosa albertiniana, obra e arte estãofundidas.
Coimbra dá um passo adiante de Flávio de Carvalho, o famoso
performer
que saiu de
minissaia em São Paulo em 1956. Alberto assume aposição do
flaneur
no Rio de Janeiro, assim como vai mais além dos
cabelosverdes de Baudelaire, atitude que também o inspira em sua fusão
arte/vida. Eleincorpora em sua prosa a contracultura e o Modernismo de 22,
assim como ocinema mundial e outras artes.5.Referências Bibliográficas:HAYAT,
Jeanine.
Le Cheveux deBaudelaire
<<https://www.huffingtonpost.fr/jeannine-hayat/les-cheveux-verts-de-baudelaire_a_23220350/
>>
COIMBRA, Alberto.
Impressões de Cinema
. Divinópolis: Adelante, 2017.Experiência Número 2 de
Flávio de Carvalho.<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VEMACHADO,
Vanessa. As
Experiências.<<http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernidade/eixo/cam/artistas/carvalho3.html
>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de 2018>>.
16
VICENTE
1
Gênero e Diversidade em Impressões de Cinema, de Alberto
Coimbra
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (doutorando em
EstudosLiterários/UNICAMP)1.IntroduçãoResumoEsse texto busca fazer algumas
observações críticas a respeito da obraliterária
Impressões de Cinema
, de autoria de Alberto Coimbra. O textoinvestiga os
diferentes gêneros literários presentes na obra, assim como aproblematização
que o texto faz das questões de gênero e diversidade. Oartigo fez a
contextualização histórica do livro, assim como a seguir trata dosgêneros
dentro do livro, para logo em seguida associar o texto à intervençãocultural
realizada por Alberto Coimbra em Bom Despacho, Minas Gerais.Palavras chave:
intervenção cultural, cinema, literatura, prosa, vida, arte
A VOZ DE UM
ENGENHEIRO - Evidentemente, coagido pela força bruta, vencido pelo
número,vejo-me forçado a continuar o meu caminho sem chapéu. Mas esse puto
(Cristo) me paga!(som de castanholas. Tumulto).VOZES - Viva la gracia! Outro
toro! Mi cago en dios! Viva o senhor do Sábado! Tira o chapéu,Flávio! Péo, péo!
Fora! Não tira! Deus da burguesia! Fora! Põe o chapéu! Desacata esse
veado! Fora! Fora!”
Trecho da peça
O Homem e o Cavalo
, de Oswald de Andrade.O livro
Impressões de Cinema
é um retrato de
Alberto Coimbra e suacabeça. Ele pensa cinema. E protagonizou intervenções
culturais que játransformaram o cotidiano das pessoas de Bom Despacho. E que
entrarampara o folclore: colocou máscara de Piu Piu e ergueu-se durante a
eucaristia.Para Alberto Coimbra, a intervenção com a máscara de Piu Piu
aconteceuporque Jesus, para ele, é um homem.
2
Outra intervenção cultural aconteceu quando ele vestia
saia, blusa doCruzeiro, chapéu e levando uma mala, dizendo que ia pegar a
(inexistente)ferrovia para Martinho Campos. Alberto e seu livro fazem pensar em
José Agrippino de Paula: temos queviver as coisas que Oswald de Andrade
escreveu. Alberto vive a contraculturados anos 60 e o modernismo de 22.O livro
mistura crônicas autobiográficas em que ele insere BomDespacho no mundo do
cinema com poemas sempre inspirados por umdeterminado filme. Em sua imagética
somos levados a uma Bom Despachoque não existe mais, a Bom Despacho em que a
biblioteca pública era ao ladodo cinema e o cinema apresentava produções que
tinham interesse tanto paraos intelectuais quanto apelo para a imprensa e as
massas. Alberto éprofundamente marcado pela história e memória de Bom Despacho,
numaverdadeira geografia sentimental: cinema, biblioteca e a Mata do
Batalhão.Escrevendo de forma bela sobre sua infância em Bom Despacho nos
anos1980, ele coloca a cidade dentro do cinema. Escrever sobre cinema de
certoforma é estar no cinema, é de certa forma fazer cinema. Alberto também é
umpensador sofisticado.1. Contexto Histórico de
Impressões de Cinema
Alberto nasceu nos
anos 60, sua juventude foi nos anos 80. Foi da geraçãoX, a que fez a difícil
transição entre a geração 68 e a geração do novo milênio,assim como viveu a
mudança da ditadura militar para a democracia emmeados dos anos 1980. Alberto,
filho de militar e músico, neto do maestro José Milagre Coimbra,seu avô. Ele
identifica-se com o feminino e com a esquerda. Primeiro, ele teveuma infância
feliz, brincando na Mata do Batalhão atrás de sua casa e depoisbrincou no pasto
de uma fazenda de gado no bairro Esplanada onde foi morar.Paralelamente à
chamada globalização e ao neoliberalismo, Albertodesfrutou do avanço dos
costumes. Caminhando contra o vento, prosseguiu
3
imbuído de luminosas utopias, num tempo em que elas estavam
se desfazendocom a utopia
hippie
e a utopia comunista
tornando-se ultrapassadas. Alberto sempre observa a realidade e pensa em
melhorá-la. Na UFMG leu olivro,
1968, Ano que Não Terminou
, do jornalista Zuenir Ventura. Leu sobrereligião na visão
de Rubem Alves. Assistiu várias palestras de Rose MarieMuraro e Rubem Alves.
Após estudar na UFMG, estudou a pós-modernidadequando o pensador Francis
Fukuyama falou do fim da História. E aprendeu emSemiótica que todos os filmes
foram feitos e hoje eles passam na Sessão daTarde. O jornalista Emerson Penha
que foi seu colega no curso de Jornalismona UFMG fala de questões ambientais e
políticas. Assim sendo, tendo atribuído esse olhar ao seu curso de Jornalismo
naUFMG nos anos 90. Alberto passou os anos 90 esboçando
Impressões deCinema
e um embrião do
livro nasceu durante seu curso de jornalismo, quandoele freqüentava o
Savassi Cineclube
no início dos anos
90 em Belo Horizonte. Alberto Coimbra defende Lula, comparando-o a Juscelino
Kubitschek,assim como faz o elogio de Brasília e de Oscar Niemeyer e Lúcio
Costa.Coimbra relembra a interessante reportagem que deslinda a música
Ponta de Areia
, pois existe uma realidade por trás dessa música: o
jornalista EmersonPenha investigou a ferrovia que existia entre
Araçuaí
e
Ponta de Areia
naBahia. Atualmente,
Emerson Penha está fazendo um filme sobre isso.
Impressões de Cinema
fala sobre questões
ambientes, questões humanas emesmo sobre o empreendedorismo: o sucesso
profissional de uma pessoadepende muito mais da organização do que de
inteligência.Felipe Cunha, funcionário da secretaria de cultura local, disse
que Alberto foi importante para Bom Despacho como Copérnico foi para
ahumanidade. Depois de sua intervenção cultural construíram
parklets
nos baresde Bom
Despacho. Alberto disse a Padre Antônio que entrar na igreja de vestido e salto
altopara dizer às pessoas que características masculinas e femininas são
próximasde ser um artista
Pop
e assim dedicou sua
vida aos outros.
4
E também quis mostrar que características masculinas e
femininas estãomais próximas do que a gente pensa. E que seu gesto foi um gesto
de amor aopovo de Bom Despacho. O Padre Antônio concordou. Alberto também disse
aoPadre Pedro que foi funcionário público e dedicou sua vida aos outros.
Nãorealizou, então, seu sonho de ser um artista
pop
e assim dedicou sua vida aosoutros
. O Padre Pedro respondeu: “você é Jesus, Alberto. Agora é
a vez deMaria.”
Alberto Coimbra
comenta que em Bom Despacho a maioria dos padreso respeitaram e o acolheram. A
vida do pobre é difícil, é preciso rezar menos eviver independente de Deus,
como na religiosidade grega, que era não-coercitiva, não existindo a figura do
sacerdote como surgiu posteriomente. Alberto Coimbra possui um senso agudo de
história. Para ele, o
ottocento
trouxe os elevadores, bicicletas, luz e telefone. O século
XIX lia peloprazer da leitura e os jornais traziam textos literários. Seu texto
teoriza sobre aascensão da burguesia capitalista e as conseqüências de uma nova
civilizaçãoconstruída sobre a ciência e a tecnologia, assim como hoje houve
odesenvolvimento digital.O governo Lula trouxe a ascensão das classes D e E,
uma novacivilização parece, então, começar no século XXI, produzindo um
novocomportamento e novas tecnologias, com a diferença que no início do
séculoXXI há um fortalecimento das idéias de igualdade, liberdade e
fraternidade. Adependência da Igreja começa a cair. A declaração dos direitos
do homemcompletou 70 anos.Nesse contexto, Brigitte Bardot agora protege
animais, assim como omeio ambiente. A ONG criada por Michael Jackson cuida das
crianças e jovensno mundo inteiro. Mick Jagger teve filho com uma brasileira.
Madonna tentouadotar uma criança africana afirmando que quando ela crescesse
ajudaria seupaís na África. O dinheiro nos últimos 30 anos mudou de mãos.
Grandesartistas têm renda financeira.
Impressões de Cinema
é influenciado ao
mesmo tempo pela mitologiagrega de Eros e Psiquê e pelo decadentismo do século
XIX e século XXI é.
5
Hoje vivemos a prosperidade de uma era tecnológica nunca
vista antes. Outrasde suas influências: Émile Zoula, Gustave Flaubert,
Germinal
, Naná,
MadameBovary,
Bouvard e Pecouchet
. O documentári
o Imagine
sobre a vida de
JohnLennon também foi muito influente, bem como o modernismo de 22 e
acontracultura de 1968. Ele diz do documentário
Imagine
sobre John Lennon notexto
O Artista
.
Impressões de Cinema
é um livro que
deseja ser a obra de arte total,integrando cinema, poesia, Filosofia, música e
dança. Em
Você é Lindo
existea música, em
Seu Nome é Rita Hayworth
, cinema, música e dança.2.Gênero e Diversidade em
Impressões de Cinema
Impressões de Cinema
é um livro que
mistura gêneros em muitossentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade
quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como
diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida
na juventude.Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de
repressão.O livro
Impressões de Cinema
também contêm
códigos sexuais. O autordescobriu-se travesti após uma longa trajetória de vida
enquanto bibliotecário e jornalista. Seu campo de interesse volta-se para o
jogo com os signos sexuais,indo além do que a sociedade define que é homem e
mulher, como ele mesmoescreve em uma passagem de
Impressões de Cinema
: “Pichita pega o jovem
guapo e o veste de donzela e ela de belo tenente
” (COIMBRA, 2017, p. 60).
Alberto pensa
cinema, tem muito boa memória cinematográfica. Associae aprecia o modernismo de
22 e a contracultura dos anos 60. Ele diz sobre ofilme
O Artista
: “Eu vou me alimentando de você. De nossos olhares. De
nosso
carinho. De mãos dadas no parque. Lucy no céu com
diamantes. E beijos e
beijos e beijos...” (COIMBRA, 2017, P. 48).
A memória
cinematográfica faz com que ele veja a própria vida enquantoum filme e vice-
versa, que aplique na vida o que vê nos filmes: “quando
6
escol
hemos um amor, não temos certeza do final” (COIMBRA, 2017,
P. 50).
Alberto utilizou-se
bastante do processo do
flashback
, voltando às suas
memórias de infância e adolescência: “roubávamos mexericas
e íamos para a
casa chupá-las, falar das meninas e soltar
o periscópio” (COIMBRA, 2017, p.
51). A chave para a compreensão de
Impressões de Cinema
está naredescoberta
da identidade de Alberto Coimbra. Num dos textos, fala do Aterrodo Flamengo,
mas quer tratar de como sua identidade homossexual ficousoterrada. A questão da
sublimação da homossexualidade do autor está nopoema
Seu Nome, Rita Hayworth
.
A partir daí, eu só
tinha olhos para o bailado de Rita Hayworth a me seduzir!/Rita,Gilda, Carmen,
Salomé ou a musa grega Terpsícore, da dança e da música. ComoRita fico
conhecida, a atriz dançava ou melhor, saracoteava sorrindo! (...) E o meudesejo
adolescente frente a um espelho real não se conteve e o estilhaçou. Realidadeou
não, Rita Hayworth não morreu, adormeceu no meu coração e aqui mora
(COIMBRA, 2017, P.
66).Tanto esse texto acima quanto a crônica
Uma Sessão de Cinema noCine Roxy
é uma homenagem à
atriz e bailarina Rita Hayworth. Jair Coimbracolocou a coluna de Nina Chaves em
1981, sobre a cama, a crônica contandoque Rita estava com 64 anos e com mal de
Alzheimer em Beverly Hills. Sevocê quer ser uma mulher, que seja uma
interessante e elegante como RitaHayworth. Isso está no texto acima,
Seu Nome é Rita Hayworth
. Está tambémo Cine Regina e a cidade de Bom Despacho.
Igualmente, pode-se dizer que opoema
Seu Nome é Rita Hayworth
também aborda também
o momento emque fez terapia com Marco Aurelio Baggio. Essa terapia o fez
implodir suahomossexualidade. Ele queria ser uma mulher como Rita Hayworth.
Albertoexplicou em uma entrevista:
No primeiro ano de Grupo meu pai, no final do ano, me falou
para enviar um cartão deNatal para minha professora Vera Couto. Enviei. Em 1988
quando eu fazia terapiacom o psicanalista Marco Aurélio Baggio descobri que a
Pantera Gil do seriado AsPanteras, que a Fanch Fawcett-Majors era a Dona Vera.
É porque quando eu tinha
7
onze anos eu via a Fanch Fawcett-Majors no seriado eu
fiquei fã dela. Fui a banca derevista e pedi uma revista Cinerium como pôster
de atriz. Na sessão de psicanálisecom Marco Aurelio ele me dises que meu pai me
fez o pedido me mostrando que aVera Couto era uma mulher que vale a pena. Eu
queria era ser uma mulher como aFarrah. E gritei. Em 1980 era o footing. As
pessoas ficavam andando na Praça aoredor da Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom
Despacho
(COIMBRA, 2018).
Alberto faz, em
Impressões de Cinema
, uma micro-história, uma históriadas mentalidades. A Mata
do Batalhão é patrimônio. Toda uma épocadesapareceu, era um
footing
, as pessoas ficavam andando. Nos anos 90,existia a noite
dos bilhetinhos, agora tudo é pelo
zap
e pelo
facebook,
não hámais paquera
como antes.Um grande triunfo de Alberto foi ter feito análise durante dez
anos.Resolveu seu trauma com seu pai e tornou-se seu amigo. Viveu sua
lendapessoal, para ele, todo mundo tem que desenvolver o seu dom e fazer o
quegosta. A psicanálise torna-nos melhores amigos.O livro traz textos que ele
escreveu ao longo da vida, tendo o cinemacomo mediador. No poema
Leolo
, inspirado no filme de mesmo nome, Albertodescreve a
confusão de lidar com a homossexualidade na adolescência, o queo deixou
inseguro. Bianca representou seu tesão hetero que virou uma ruínaromana.
Semelhante a cena final do filme Satiricon de Federico Fellini, só queno caso
de Alberto a ruína romana é seu desejo por mulher
: “O meu desejo emsilêncio! A Itália! (...). Grito seu nome
entre ruínas romanas! Minha solidão...”
(COIMBRA, 2017, p. 44). Alberto entrou no corredor central
da Igreja Matriz de Bom Despachodurante a missa, usando roupa feminina. No
entanto, ele fez isso com aintenção de mostrar às pessoas que a vida não é só
rezar e a diferença entremasculino e feminino é menor do que a gente pensa.
Alberto estudou a vida deJesus na UFMG e ele viu que aconteceram fatos e
pessoas da época pegaramesses fatos e atitudes e criaram o personagem de Jesus
na Bíblia. Jesusvoltou, é um travesti e trabalha para o mundo da moda.
8
Durante o filme
Cléopatra
, de Elizabeth Taylor, viu a imagem deCleópatra deitada na
cama e a cobrinha andando no chão. Alberto ficou paradona porta e ficou
pensando em sua homossexualidade. Era um indício. Alberto vivenciou sua
homossexualidade nos anos 90, pois queria ter umrelacionamento sério com um
homem, mas depois recalcou-a, vivendo comuma companheira, mas voltou a ser
gay
depois da morte de
sua ex-mulher,desistindo então das mulheres. Alberto conta que, nos anos 90, os
homens nãoo desejavam para namorar e relacionar a sério. Ficou triste e
decepcionado e,para se reorganizar, leu os livros
Filosofando
e
Iniciação à
Filosofia
de MarilenaChauí.3.
Alberto e suas Intervenções Culturais no Cotidiano da CidadeOs filmes que
passavam na Sessão da Tarde nos anos 1980, anos da juventude de Alberto eram
filmes dos anos 1930, 1940, 1950 e 1960.O cinema serve de lente através da qual
ele vê a própria vida. Elerelembra a atitude do modernista que, nos anos 50,
saiu vestindo saias,causando choque na cidade de São Paulo. A atitude de
Alberto Coimbrarelembra essa atitude, buscando fazer uma intervenção no
cotidiano da cidadee buscando mostrar que a vida é mais do que o labor diário
pela sobrevivência.Ele tem uma filosofia de vida própria, uma filosofia aplicada.Para
Alberto Coimbra, quando Gustave Flaubert construiu
MadameBovary
, ele recorreu ao seu lado mulher, à sua bissexualidade
interna. Outrosautores que inspiram
Impressões de Cinema
são: Nietzsche,
Sartre, Foucault,Simone, Albert Camus, Umberto Eco, os filósofos gregos,
Tchecov,Dostoiévsky, Tolstói, Kafka. O professor Tadeu Teixeira Araújo leu o
livro de Alberto e disse para o autor: Anna Karenina.Outros que o influenciaram
foram: Homero, Gilberto Freyre, SérgioBuarque de Holanda, Chico, Caetano, Fernando
Brant e Milton; além deEngenheiros do Havaí, Titãs, Barão, Renato Russo,
Cazuza. A linguagem de
9
Alberto é
jornalística como a de Ernest Hemingway. As influências de literaturabrasileira
são: Machado de Assis, Clarice Lispector, Rubem Braga, João doRio, Jorge Amado,
Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Outras obras queinfluenciam são:
o Romanceiro da Inconfidência
. Outras obras revolucionáriassão tais como
Grande Sertão Veredas
.Os artistas homens recorrem a esse lado feminino para
construirpersonagens femininos, mais do que somente a uma observação externa.
Alberto deseja que
suas “performances” sejam
intervenções no cotidiano dacidade. Ele já realizou
experiências tais como as de Flávio de Carvalho, andoupelas ruas de Bom
Despacho de roupa feminina e se comportando muitoeducadamente. Não é atualmente
assim. Entrou de salto alto e leque na torcidado Atlético. Foi aceito e tentou
entrar de salto na torcida do Cruzeiro, tendo sidoreprimido lá. Flávio de
Carvalho, ao sair de minissaia, experimentou algosemelhante:
Situação parecida se deu em outubro de 1956, porém desta
vez a experiência forapremeditada e resultara de suas reflexões em torno do que
definiu com Dialética daModa. Flávio de Carvalho caminhou de saia pelo centro
de São Paulo: era aExperiência n º 3. Para ele, a roupa era o fator que mais
influenciava o homem"porque é aquilo que está mais perto do seu corpo e o
seu corpo continua sempresendo a parte do mundo que mais interessa ao
homem". Denominou o curiosomodelito que trajava de "new look"
para "o novo homem dos trópicos". O "new look"era composto
por saia cor-de-rosa prissada -acima dos joelhos antes de Mary Quant,camisa
verde e... meia arrastão e sandália de couro cru. Portanto, a despeito de
seupensamento sobre a condição da moda, está explícita a intenção performática
dechamar atenção ao corpo na ação (MACHADO, 2018).
Alberto entrou na
Igreja com uma cabeça de veado. O dia em que opadre Douglas tornou-se padre, Alberto
entrou com a cabeça de um veado(estátua) e um chapéu de bruxa, no dia em que
estava presente o bispo deBom Despacho. O dia 25 de dezembro na Idade Média era
o dia do grandeveado e a Igreja Católica escolheu o dia para ser o nascimento
de Jesus.Ele identifica-se com a frase de Pessoa: se você não pode
escreverpoemas como Baudelaire, pode ao menos pintar os cabelos de verde.
Asperformances de Alberto são como pintar os cabelos de verde, mas com uma
10
aspiração de ir um passo além de um Flávio Carvalho. As
experiências nãoseriam extraordinárias, o extraordinário tornou-se cotidiano. A
frase, paraPessoa, está num contexto em que o poeta faz uma dura crítica aos
diluidores:
A grande multidão de
fascinados inferiores, incapazes de criar (...), falhos de inibição ede senso
crítico, na impossibilidade de, (com razoável êxito (salvo um declarado
[?]delírio de grandezas) imitar os poemas de Musset ou os de Verlaine, podem
contudo,com maior aproximação, plagiar ao primeiro o copo [?] gigantesco com
que seembriagava quotidianamente, e ao segundo a sua incurável vagabundagem
eamoralidade de degenerado típico. Quem não pode fazer versos como
Baudelairepode, porém, tingir os cabelos de verde. A prática da pederastia,
embora nem sempre
fácil [...], é contudo mais fácil que a produção de uma
segunda “Salomé”
(PESSOA,2018).
Alberto assume a
intervenção cultural não como algo inferior, mas comofusão da arte e da vida,
além de uma atitude apologética, de pioneiro, dealguém que, ao intervir no
espaço público, atrai para si ouvidos que queremouvir as verdades que têm a
dizer. No final do livro, no texto
Neblina
SobreTeresópolis
, ele utiliza a metáfora do desastre ocorrido na cidade
comometáfora para a morte de sua heterossexualidade e o renascimento de
suahomossexualidade. Alberto viu isso como perda de vidas e perda de vida
paraele mesmo, por ter vivido anos reprimido. O poema
Neblina Sobre Teresopolis
,além de referir-
se à frase “Diadorim é minha neblina”, uma bela passagem em
Grande Sertão, Veredas
:
Abracei Diadorim,
como as asas de todos os pássaros. Diadorim é minha neblina. Sóse pode viver
perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gentetem
amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Oamor é
a gente querendo achar o que é da gente (ROSA, 2018).
Atualmente, ele diz
que é importante ser mutante na sociedade, fugir da
“normose”.
Desde que era aluno
de Jornalismo, é um mutante que foge danormose. Normose é um termo criado pelo
Dr. Hermógenes no seu livro que Alberto leu nos anos 1980. Mutante é o termo
criado por Roberto Crema,diretor da Universidade Holística de Brasília. Ser
mutante para Alberto é ter um
11
pensamento e comportamento libertário inserido no meio da
sociedade. Opoema
Neblina Sobre Teresópolis
é o encontro de um
rapaz com um homemmais velho que é referência para ele:
Era o ano de 1984. Deixa-me contar direito, tenho 17 anos,
um senhor se aproxima demim sorrindo e se apresenta: --Meu nome é Edgar. Um
homem de seus 36 anos. Alto,olhos bonitos.
–
Ei, meu jovem! Posso ajudá-lo, Sr?
–
Respondo.
–
É a primeira vez quevejo o mar, sou de Minas.
–
Eu também sou, Responde Edga
r
(COIMBRA, 2017,
p.138).Ele quer mudar comportamentos e mentalidades e uma das vias queescolheu
é a literatura. Uma outra são as intervenções culturais no cotidiano deuma
cidade do interior que Alberto protagoniza. São intervenções que
remetemBaudelaire e que estão intimamente ligadas à sua produção literária:
A primeira vez que
visitou o escritor Maxime Du Camp, Baudelaire foi apresentado aele com os
cabelos pintados de verde. Como o malicioso Du Camp não queria nada
observar, Baudelaire gritou: “você não vê nada de anormal
em mim?” E seuinterlocutor impassível respondeu: “Todo o mundo tem os cabelos
mais ou menos
verdes; se os seus fossem azuis da cor do céu, isso poderia
me surpreender: mascabelos verdes, há muitos chapéus em Paris. A anedota,
contada por Du Camp elemesmo, é divertida. O leitor divertido pelas provocações
baudelairianas descobriuoutros dentro da soma biográfica consagrada ao poeta
por Marie-Christine Natta. Aespecialista em dandismo traça o retrato de um
escritor insaciável, adepto da artearistocrática de desagradar
(HAYAT, 2018). Alberto Coimbra faz, em Bom Despacho, o
papel de uma ativista dacontracultura. Para Alberto, é importante mudar sua
mente, mudando seucorpo. Ele acredita que é preciso rezar menos. Para ele,
inspirado na Grécia Antiga, os mistérios da vida são mistérios
gozosos.Inspirado em
As Bruxas de Salem
, filme de Wynona Ryder, Albertoentrou na Igreja matriz de
Bom Despacho com uma cabeça de veado. O dia emque o padre Douglas tornou-se
padre, Alberto entrou com a cabeça de umveado como se fosse uma estátua e um
chapéu de bruxa. Nesse dia estavapresente o bispo local. Alberto remete a
Flávio de Carvalho, mas dá um passo
12
adiante: insere suas experiências no cotidiano, não as
considera excepcionaise sim banais, rotineiras. Para Alberto Coimbra, devemos
ser mais eróticos enão ficar rezando, pois a vida do pobre é difícil.
Deveríamos ser mais eróticos,começar uma fala mais erótica junto às pessoas.
Alberto Coimbra relembra as bruxas para poder lembrar que asexualidade é
natural e os eleitores de Bolsonaro julgam o corpo algo sujo. Alberto, em suas
performances, mistura-se na multidão, ao mesmo tempo estánela como uma
personalidade, como, ao mesmo tempo, ator e espectador. Alberto está à vontade
no espaço público. Ele se inspira em
Bruxas de Salém
,
A Garota da Capa
Vermelha
e
Caça às Bruxas
. Alberto Coimbra, com seu livroé tão revolucionário quanto
Grande Sertão Veredas
por ocasião de
seulançamento em 1956.Ele também já se travestiu de mulher e foi ao estádio
Mineirão em jogosdo Clube Atlético Mineiro (em que foi bem recebido) e do
Cruzeiro (onde houveagressão). No jogo do Atlético, usou a camisa com o rosto
de Brigitte Bardot.Para Alberto, bem como para Baudelaire, só com o mergulho
namultidão é que o poeta pode tornar-se moderno. Assim o poeta
mergulha,embriagado, no outro e experimenta a comunhão universal. Alberto
Coimbra pretende, com seu livro
Impressões de Cinema
, ser tãorevolucionário quanto
Grande Sertão Veredas
foi em seu tempo, ao
levantar,pioneiramente, a questão do gênero e diversidade ao tratar do amor
deRiobaldo por Diadorim. A linguagem jornalística de Alberto Coimbra pode
serassociada a Ernest Hemingway. Antes de viver em Paris, Pamplona, Cayo Hueso
e Havana, Hemingwaynasceu e viveu até os seis anos em uma casa de três andares
e estilo vitorianono bairro de Oak Park, na periferia de Chicago, que o
escritor costumava definir
como “um lugar de jardins largos e mentes estreitas”. No
bairro se encontra um
pequeno museu dedicado à sua memória, na mesma rua
arborizada onde estásua casa natal.
13
No interior do museu está exposta uma caricatura desenhada
para a
Vanity Fair
, em 1933, em que Hemingway aparece vestido com uma tanga e
jogando tônico capilar nos peitorais. Em outro mostruário está uma foto
doescritor quando bebê. Aparece vestido de menina, algo comum no começo
doséculo XX, quando os bebês eram vestidos dessa forma durante seu primeiroano
de vida. Mas sua mãe, uma pintora e cantora de ópera chamada Grace,decidiu
prolongá-lo por muitos anos mais. De fato, criou Hemingway e sua
irmãMarcelline, 18 meses mais velha, como se fossem gêmeos, e os
vestiuindistintamente como se ambos fossem meninos ou meninas, segundo
seuhumor.Para Hemingway, esse capítulo seria um grande trauma que
terminariaprovocando uma ansiedade que desembocou em sua exagerada virilidade,
deacordo com a biografia que Kenneth S. Lynn publicou em 1987, que
permitiualterar sua imagem pública e também abrir sua obra a novas
interpretações.Quando são relidos romances e contos de Hemingway, ganhador do
Nobel deLiteratura em 1954, sobressaem menos os super-heróis e mais os
homensinseguros. Como o protagonista de
A Curta Vida Feliz
de Francis Macomber
,envergonhado por sair correndo quando tentava atirar em um
leão em umsafári, muitos deles tentam alcançar um ideal de masculinidade
impossível.Outro de seus biógrafos, Paul Hendrickson, autor de
Hemingway´s Boat
,sobre o apego do escritor por um barco batizado como
Pilar, não acredita queessa hombridade superlativa e quase paródica possa ser
vista como uma
atuação ao público. “A hipermasculinidade foi uma parte do
que ele era. Foi
real e autêntica. Talvez fosse uma máscara conveniente ao
seu ego, mas nãoera fr
audulenta”, afirma o professor da Universidade da
Pensilvânia e antigo
jornalista do
The Washington Post
. “Acho que foi homossexual, mas com
muitos sentimentos contraditórios em relação ao seu gênero.
Nunca encontreia menor prova que sugerisse que se sent
ia atraído por outros homens”.
Hendrickson também
descreve sua difícil relação com seu filho maisnovo, Gregory, que praticou o
transformismo por toda sua vida e acaboumudando de sexo aos 63 anos. Morreu com
o nome de Gloria em uma prisão
14
para mulheres na Flórida, na qual acabou por praticar
exibicionismo em viapública. Uma vez, quando era pequeno, Hemingway o
surpreendeu provandoas meias-
calças de sua mãe. Mais tarde lhe diria: “Você e eu viemos
de umatribo estranha”. Para Hendrickson, Gregory/Gloria r
ealizou o que seu pai só
admitia em seu foro interior e em algum texto clandestino.
“Por isso existia umarelação de amor e ódio entre eles”, afirma. Dearborn diz
que essa foi a cela deonde nunca conseguiria escapar: “Em um mundo melhor, Hemingway
teria
f
urado as orelhas”.
Impressões de Cinema
é um livro que
mistura gêneros em muitossentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade
quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como
diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida
na juventude.
Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de
repressão.” O
livro
Impressões de Cinema
também contêm
códigos sexuais.4. Conclusão Alberto confessa que fez a intervenção cultural na
cidade de BomDespacho por ser jornalista e porque ouviu bom-despachenses
reclamando dopapo ruim da cidade pequena que provocou fobias e depressão em
pessoas. Etambém porque as cidades grandes brasileiras estão esgotadas. É
preciso umaintervenção cultural e econômica para que cidades pequenas sejam
atrativaspara viver. Alberto homenageia a cidade do Rio de Janeiro como um
flaneur
passeando pelo seu centro histórico descrevendo lindamente
locais, ruas e suaarquitetura.
Impressões de Cinema
foi um livro pensado
como obra de arte total,fundindo música, cinema, poesia, prosa poética e dança.
Trata-se de um livroque funde vários gêneros textuais e pensa gênero e
diversidade, pois o livrotrata da retomada da homossexualidade de Alberto
Coimbra após um períodoem que ele viveu com uma mulher.
15
O livro não pode ser entendido sem um mergulho na vida e
nasintervenções culturais de Alberto Coimbra, grande artista, escritor e
ativista dacontracultura em Bom Despacho. Na prosa albertiniana, obra e arte estãofundidas.
Coimbra dá um passo adiante de Flávio de Carvalho, o famoso
performer
que saiu de
minissaia em São Paulo em 1956. Alberto assume aposição do
flaneur
no Rio de Janeiro, assim como vai mais além dos
cabelosverdes de Baudelaire, atitude que também o inspira em sua fusão
arte/vida. Eleincorpora em sua prosa a contracultura e o Modernismo de 22,
assim como ocinema mundial e outras artes.5.Referências Bibliográficas:HAYAT,
Jeanine.
Le Cheveux deBaudelaire
<<https://www.huffingtonpost.fr/jeannine-hayat/les-cheveux-verts-de-baudelaire_a_23220350/
>>
COIMBRA, Alberto.
Impressões de Cinema
. Divinópolis: Adelante, 2017.Experiência Número 2 de
Flávio de Carvalho.<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VEMACHADO,
Vanessa. As
Experiências.<<http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernidade/eixo/cam/artistas/carvalho3.html
>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de 2018>>.
16
VICENTE, Alex. Um Supermacho em Dúvida. A Face Oculta de
Hemingwayhttps://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/21/cultura/1508590742_519728.html.
<<Acesso em 26 de julho de 2018>>.PESSOA, Fernando.
A Imoralidade das
Biografias.
<<http://arquivopessoa.net/textos/3748>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de2018>>.6. Videografia:COIMBRA, Alberto.
Impressões de Cinema
.<<https://www.youtube.com/watch?v=BkfpBMGr7KY&t=360s>>.
<<Acesso em5 de dezembro de 2018>>.FRECHETTE, Alex. Experiência
Número 2 de Flávio de Carvalho.<<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VE>>.
<<Acesso em 5 dedezembro de 2018>>.PROGRESSO, Pedro. Maria Betânia:
Grande Sertão
Veredas.Diadorim.<<https://www.youtube.com/watch?v=oOdGvuzQjbA>>.
<<Acessoem 5 de dezembro de 2018>>.MENEZES, Gustavo. Top Show do Gu
(Entrevista com Alberto
Coimbra).<http://revistacidadesol.blogspot.com/2018/09/entrevista-com-alberto-coimbra-top-show.html>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de 2018>>., Alex. Um Supermacho em Dúvida. A Face Oculta de
Hemingwayhttps://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/21/cultura/1508590742_519728.html.
<<Acesso em 26 de julho de 2018>>.PESSOA, Fernando.
A Imoralidade das
Biografias.
<<http://arquivopessoa.net/textos/3748>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de2018>>.6. Videografia:COIMBRA, Alberto.
Impressões de Cinema
.<<https://www.youtube.com/watch?v=BkfpBMGr7KY&t=360s>>.
<<Acesso em5 de dezembro de 2018>>.FRECHETTE, Alex. Experiência
Número 2 de Flávio de Carvalho.<<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VE>>.
<<Acesso em 5 dedezembro de 2018>>.PROGRESSO, Pedro. Maria Betânia:
Grande Sertão
Veredas.Diadorim.<<https://www.youtube.com/watch?v=oOdGvuzQjbA>>.
<<Acessoem 5 de dezembro de 2018>>.MENEZES, Gustavo. Top Show do Gu
(Entrevista com Alberto
Coimbra).<http://revistacidadesol.blogspot.com/2018/09/entrevista-com-alberto-coimbra-top-show.html>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de 2018>>.
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (doutorando em
EstudosLiterários/UNICAMP)1.IntroduçãoResumoEsse texto busca fazer algumas
observações críticas a respeito da obraliterária
Impressões de Cinema
, de autoria de Alberto Coimbra. O textoinvestiga os
diferentes gêneros literários presentes na obra, assim como aproblematização
que o texto faz das questões de gênero e diversidade. Oartigo fez a
contextualização histórica do livro, assim como a seguir trata dosgêneros
dentro do livro, para logo em seguida associar o texto à intervençãocultural
realizada por Alberto Coimbra em Bom Despacho, Minas Gerais.Palavras chave:
intervenção cultural, cinema, literatura, prosa, vida, arte
A VOZ DE UM
ENGENHEIRO - Evidentemente, coagido pela força bruta, vencido pelo
número,vejo-me forçado a continuar o meu caminho sem chapéu. Mas esse puto
(Cristo) me paga!(som de castanholas. Tumulto).VOZES - Viva la gracia! Outro
toro! Mi cago en dios! Viva o senhor do Sábado! Tira o chapéu,Flávio! Péo, péo!
Fora! Não tira! Deus da burguesia! Fora! Põe o chapéu! Desacata esse
veado! Fora! Fora!”
Trecho da peça
O Homem e o Cavalo
, de Oswald de Andrade.O livro
Impressões de Cinema
é um retrato de
Alberto Coimbra e suacabeça. Ele pensa cinema. E protagonizou intervenções
culturais que játransformaram o cotidiano das pessoas de Bom Despacho. E que
entrarampara o folclore: colocou máscara de Piu Piu e ergueu-se durante a
eucaristia.Para Alberto Coimbra, a intervenção com a máscara de Piu Piu
aconteceuporque Jesus, para ele, é um homem.
2
Outra intervenção cultural aconteceu quando ele vestia
saia, blusa doCruzeiro, chapéu e levando uma mala, dizendo que ia pegar a
(inexistente)ferrovia para Martinho Campos. Alberto e seu livro fazem pensar em
José Agrippino de Paula: temos queviver as coisas que Oswald de Andrade
escreveu. Alberto vive a contraculturados anos 60 e o modernismo de 22.O livro
mistura crônicas autobiográficas em que ele insere BomDespacho no mundo do
cinema com poemas sempre inspirados por umdeterminado filme. Em sua imagética
somos levados a uma Bom Despachoque não existe mais, a Bom Despacho em que a
biblioteca pública era ao ladodo cinema e o cinema apresentava produções que
tinham interesse tanto paraos intelectuais quanto apelo para a imprensa e as
massas. Alberto éprofundamente marcado pela história e memória de Bom Despacho,
numaverdadeira geografia sentimental: cinema, biblioteca e a Mata do
Batalhão.Escrevendo de forma bela sobre sua infância em Bom Despacho nos
anos1980, ele coloca a cidade dentro do cinema. Escrever sobre cinema de
certoforma é estar no cinema, é de certa forma fazer cinema. Alberto também é
umpensador sofisticado.1. Contexto Histórico de
Impressões de Cinema
Alberto nasceu nos
anos 60, sua juventude foi nos anos 80. Foi da geraçãoX, a que fez a difícil
transição entre a geração 68 e a geração do novo milênio,assim como viveu a
mudança da ditadura militar para a democracia emmeados dos anos 1980. Alberto,
filho de militar e músico, neto do maestro José Milagre Coimbra,seu avô. Ele
identifica-se com o feminino e com a esquerda. Primeiro, ele teveuma infância
feliz, brincando na Mata do Batalhão atrás de sua casa e depoisbrincou no pasto
de uma fazenda de gado no bairro Esplanada onde foi morar.Paralelamente à
chamada globalização e ao neoliberalismo, Albertodesfrutou do avanço dos
costumes. Caminhando contra o vento, prosseguiu
3
imbuído de luminosas utopias, num tempo em que elas estavam
se desfazendocom a utopia
hippie
e a utopia comunista
tornando-se ultrapassadas. Alberto sempre observa a realidade e pensa em
melhorá-la. Na UFMG leu olivro,
1968, Ano que Não Terminou
, do jornalista Zuenir Ventura. Leu sobrereligião na visão
de Rubem Alves. Assistiu várias palestras de Rose MarieMuraro e Rubem Alves.
Após estudar na UFMG, estudou a pós-modernidadequando o pensador Francis
Fukuyama falou do fim da História. E aprendeu emSemiótica que todos os filmes
foram feitos e hoje eles passam na Sessão daTarde. O jornalista Emerson Penha
que foi seu colega no curso de Jornalismona UFMG fala de questões ambientais e
políticas. Assim sendo, tendo atribuído esse olhar ao seu curso de Jornalismo
naUFMG nos anos 90. Alberto passou os anos 90 esboçando
Impressões deCinema
e um embrião do
livro nasceu durante seu curso de jornalismo, quandoele freqüentava o
Savassi Cineclube
no início dos anos
90 em Belo Horizonte. Alberto Coimbra defende Lula, comparando-o a Juscelino
Kubitschek,assim como faz o elogio de Brasília e de Oscar Niemeyer e Lúcio
Costa.Coimbra relembra a interessante reportagem que deslinda a música
Ponta de Areia
, pois existe uma realidade por trás dessa música: o
jornalista EmersonPenha investigou a ferrovia que existia entre
Araçuaí
e
Ponta de Areia
naBahia. Atualmente,
Emerson Penha está fazendo um filme sobre isso.
Impressões de Cinema
fala sobre questões
ambientes, questões humanas emesmo sobre o empreendedorismo: o sucesso
profissional de uma pessoadepende muito mais da organização do que de
inteligência.Felipe Cunha, funcionário da secretaria de cultura local, disse
que Alberto foi importante para Bom Despacho como Copérnico foi para
ahumanidade. Depois de sua intervenção cultural construíram
parklets
nos baresde Bom
Despacho. Alberto disse a Padre Antônio que entrar na igreja de vestido e salto
altopara dizer às pessoas que características masculinas e femininas são
próximasde ser um artista
Pop
e assim dedicou sua
vida aos outros.
4
E também quis mostrar que características masculinas e
femininas estãomais próximas do que a gente pensa. E que seu gesto foi um gesto
de amor aopovo de Bom Despacho. O Padre Antônio concordou. Alberto também disse
aoPadre Pedro que foi funcionário público e dedicou sua vida aos outros.
Nãorealizou, então, seu sonho de ser um artista
pop
e assim dedicou sua vida aosoutros
. O Padre Pedro respondeu: “você é Jesus, Alberto. Agora é
a vez deMaria.”
Alberto Coimbra
comenta que em Bom Despacho a maioria dos padreso respeitaram e o acolheram. A
vida do pobre é difícil, é preciso rezar menos eviver independente de Deus,
como na religiosidade grega, que era não-coercitiva, não existindo a figura do
sacerdote como surgiu posteriomente. Alberto Coimbra possui um senso agudo de
história. Para ele, o
ottocento
trouxe os elevadores, bicicletas, luz e telefone. O século
XIX lia peloprazer da leitura e os jornais traziam textos literários. Seu texto
teoriza sobre aascensão da burguesia capitalista e as conseqüências de uma nova
civilizaçãoconstruída sobre a ciência e a tecnologia, assim como hoje houve
odesenvolvimento digital.O governo Lula trouxe a ascensão das classes D e E,
uma novacivilização parece, então, começar no século XXI, produzindo um
novocomportamento e novas tecnologias, com a diferença que no início do
séculoXXI há um fortalecimento das idéias de igualdade, liberdade e
fraternidade. Adependência da Igreja começa a cair. A declaração dos direitos
do homemcompletou 70 anos.Nesse contexto, Brigitte Bardot agora protege
animais, assim como omeio ambiente. A ONG criada por Michael Jackson cuida das
crianças e jovensno mundo inteiro. Mick Jagger teve filho com uma brasileira.
Madonna tentouadotar uma criança africana afirmando que quando ela crescesse
ajudaria seupaís na África. O dinheiro nos últimos 30 anos mudou de mãos.
Grandesartistas têm renda financeira.
Impressões de Cinema
é influenciado ao
mesmo tempo pela mitologiagrega de Eros e Psiquê e pelo decadentismo do século
XIX e século XXI é.
5
Hoje vivemos a prosperidade de uma era tecnológica nunca
vista antes. Outrasde suas influências: Émile Zoula, Gustave Flaubert,
Germinal
, Naná,
MadameBovary,
Bouvard e Pecouchet
. O documentári
o Imagine
sobre a vida de
JohnLennon também foi muito influente, bem como o modernismo de 22 e
acontracultura de 1968. Ele diz do documentário
Imagine
sobre John Lennon notexto
O Artista
.
Impressões de Cinema
é um livro que
deseja ser a obra de arte total,integrando cinema, poesia, Filosofia, música e
dança. Em
Você é Lindo
existea música, em
Seu Nome é Rita Hayworth
, cinema, música e dança.2.Gênero e Diversidade em
Impressões de Cinema
Impressões de Cinema
é um livro que
mistura gêneros em muitossentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade
quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como
diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida
na juventude.Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de
repressão.O livro
Impressões de Cinema
também contêm
códigos sexuais. O autordescobriu-se travesti após uma longa trajetória de vida
enquanto bibliotecário e jornalista. Seu campo de interesse volta-se para o
jogo com os signos sexuais,indo além do que a sociedade define que é homem e
mulher, como ele mesmoescreve em uma passagem de
Impressões de Cinema
: “Pichita pega o jovem
guapo e o veste de donzela e ela de belo tenente
” (COIMBRA, 2017, p. 60).
Alberto pensa
cinema, tem muito boa memória cinematográfica. Associae aprecia o modernismo de
22 e a contracultura dos anos 60. Ele diz sobre ofilme
O Artista
: “Eu vou me alimentando de você. De nossos olhares. De
nosso
carinho. De mãos dadas no parque. Lucy no céu com
diamantes. E beijos e
beijos e beijos...” (COIMBRA, 2017, P. 48).
A memória
cinematográfica faz com que ele veja a própria vida enquantoum filme e vice-
versa, que aplique na vida o que vê nos filmes: “quando
6
escol
hemos um amor, não temos certeza do final” (COIMBRA, 2017,
P. 50).
Alberto utilizou-se
bastante do processo do
flashback
, voltando às suas
memórias de infância e adolescência: “roubávamos mexericas
e íamos para a
casa chupá-las, falar das meninas e soltar
o periscópio” (COIMBRA, 2017, p.
51). A chave para a compreensão de
Impressões de Cinema
está naredescoberta
da identidade de Alberto Coimbra. Num dos textos, fala do Aterrodo Flamengo,
mas quer tratar de como sua identidade homossexual ficousoterrada. A questão da
sublimação da homossexualidade do autor está nopoema
Seu Nome, Rita Hayworth
.
A partir daí, eu só
tinha olhos para o bailado de Rita Hayworth a me seduzir!/Rita,Gilda, Carmen,
Salomé ou a musa grega Terpsícore, da dança e da música. ComoRita fico
conhecida, a atriz dançava ou melhor, saracoteava sorrindo! (...) E o meudesejo
adolescente frente a um espelho real não se conteve e o estilhaçou. Realidadeou
não, Rita Hayworth não morreu, adormeceu no meu coração e aqui mora
(COIMBRA, 2017, P.
66).Tanto esse texto acima quanto a crônica
Uma Sessão de Cinema noCine Roxy
é uma homenagem à
atriz e bailarina Rita Hayworth. Jair Coimbracolocou a coluna de Nina Chaves em
1981, sobre a cama, a crônica contandoque Rita estava com 64 anos e com mal de
Alzheimer em Beverly Hills. Sevocê quer ser uma mulher, que seja uma
interessante e elegante como RitaHayworth. Isso está no texto acima,
Seu Nome é Rita Hayworth
. Está tambémo Cine Regina e a cidade de Bom Despacho.
Igualmente, pode-se dizer que opoema
Seu Nome é Rita Hayworth
também aborda também
o momento emque fez terapia com Marco Aurelio Baggio. Essa terapia o fez
implodir suahomossexualidade. Ele queria ser uma mulher como Rita Hayworth.
Albertoexplicou em uma entrevista:
No primeiro ano de Grupo meu pai, no final do ano, me falou
para enviar um cartão deNatal para minha professora Vera Couto. Enviei. Em 1988
quando eu fazia terapiacom o psicanalista Marco Aurélio Baggio descobri que a
Pantera Gil do seriado AsPanteras, que a Fanch Fawcett-Majors era a Dona Vera.
É porque quando eu tinha
7
onze anos eu via a Fanch Fawcett-Majors no seriado eu
fiquei fã dela. Fui a banca derevista e pedi uma revista Cinerium como pôster
de atriz. Na sessão de psicanálisecom Marco Aurelio ele me dises que meu pai me
fez o pedido me mostrando que aVera Couto era uma mulher que vale a pena. Eu
queria era ser uma mulher como aFarrah. E gritei. Em 1980 era o footing. As
pessoas ficavam andando na Praça aoredor da Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom
Despacho
(COIMBRA, 2018).
Alberto faz, em
Impressões de Cinema
, uma micro-história, uma históriadas mentalidades. A Mata
do Batalhão é patrimônio. Toda uma épocadesapareceu, era um
footing
, as pessoas ficavam andando. Nos anos 90,existia a noite
dos bilhetinhos, agora tudo é pelo
zap
e pelo
facebook,
não hámais paquera
como antes.Um grande triunfo de Alberto foi ter feito análise durante dez
anos.Resolveu seu trauma com seu pai e tornou-se seu amigo. Viveu sua
lendapessoal, para ele, todo mundo tem que desenvolver o seu dom e fazer o
quegosta. A psicanálise torna-nos melhores amigos.O livro traz textos que ele
escreveu ao longo da vida, tendo o cinemacomo mediador. No poema
Leolo
, inspirado no filme de mesmo nome, Albertodescreve a
confusão de lidar com a homossexualidade na adolescência, o queo deixou
inseguro. Bianca representou seu tesão hetero que virou uma ruínaromana.
Semelhante a cena final do filme Satiricon de Federico Fellini, só queno caso
de Alberto a ruína romana é seu desejo por mulher
: “O meu desejo emsilêncio! A Itália! (...). Grito seu nome
entre ruínas romanas! Minha solidão...”
(COIMBRA, 2017, p. 44). Alberto entrou no corredor central
da Igreja Matriz de Bom Despachodurante a missa, usando roupa feminina. No
entanto, ele fez isso com aintenção de mostrar às pessoas que a vida não é só
rezar e a diferença entremasculino e feminino é menor do que a gente pensa.
Alberto estudou a vida deJesus na UFMG e ele viu que aconteceram fatos e
pessoas da época pegaramesses fatos e atitudes e criaram o personagem de Jesus
na Bíblia. Jesusvoltou, é um travesti e trabalha para o mundo da moda.
8
Durante o filme
Cléopatra
, de Elizabeth Taylor, viu a imagem deCleópatra deitada na
cama e a cobrinha andando no chão. Alberto ficou paradona porta e ficou
pensando em sua homossexualidade. Era um indício. Alberto vivenciou sua
homossexualidade nos anos 90, pois queria ter umrelacionamento sério com um
homem, mas depois recalcou-a, vivendo comuma companheira, mas voltou a ser
gay
depois da morte de
sua ex-mulher,desistindo então das mulheres. Alberto conta que, nos anos 90, os
homens nãoo desejavam para namorar e relacionar a sério. Ficou triste e
decepcionado e,para se reorganizar, leu os livros
Filosofando
e
Iniciação à
Filosofia
de MarilenaChauí.3.
Alberto e suas Intervenções Culturais no Cotidiano da CidadeOs filmes que
passavam na Sessão da Tarde nos anos 1980, anos da juventude de Alberto eram
filmes dos anos 1930, 1940, 1950 e 1960.O cinema serve de lente através da qual
ele vê a própria vida. Elerelembra a atitude do modernista que, nos anos 50,
saiu vestindo saias,causando choque na cidade de São Paulo. A atitude de
Alberto Coimbrarelembra essa atitude, buscando fazer uma intervenção no
cotidiano da cidadee buscando mostrar que a vida é mais do que o labor diário
pela sobrevivência.Ele tem uma filosofia de vida própria, uma filosofia aplicada.Para
Alberto Coimbra, quando Gustave Flaubert construiu
MadameBovary
, ele recorreu ao seu lado mulher, à sua bissexualidade
interna. Outrosautores que inspiram
Impressões de Cinema
são: Nietzsche,
Sartre, Foucault,Simone, Albert Camus, Umberto Eco, os filósofos gregos,
Tchecov,Dostoiévsky, Tolstói, Kafka. O professor Tadeu Teixeira Araújo leu o
livro de Alberto e disse para o autor: Anna Karenina.Outros que o influenciaram
foram: Homero, Gilberto Freyre, SérgioBuarque de Holanda, Chico, Caetano, Fernando
Brant e Milton; além deEngenheiros do Havaí, Titãs, Barão, Renato Russo,
Cazuza. A linguagem de
9
Alberto é
jornalística como a de Ernest Hemingway. As influências de literaturabrasileira
são: Machado de Assis, Clarice Lispector, Rubem Braga, João doRio, Jorge Amado,
Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Outras obras queinfluenciam são:
o Romanceiro da Inconfidência
. Outras obras revolucionáriassão tais como
Grande Sertão Veredas
.Os artistas homens recorrem a esse lado feminino para
construirpersonagens femininos, mais do que somente a uma observação externa.
Alberto deseja que
suas “performances” sejam
intervenções no cotidiano dacidade. Ele já realizou
experiências tais como as de Flávio de Carvalho, andoupelas ruas de Bom
Despacho de roupa feminina e se comportando muitoeducadamente. Não é atualmente
assim. Entrou de salto alto e leque na torcidado Atlético. Foi aceito e tentou
entrar de salto na torcida do Cruzeiro, tendo sidoreprimido lá. Flávio de
Carvalho, ao sair de minissaia, experimentou algosemelhante:
Situação parecida se deu em outubro de 1956, porém desta
vez a experiência forapremeditada e resultara de suas reflexões em torno do que
definiu com Dialética daModa. Flávio de Carvalho caminhou de saia pelo centro
de São Paulo: era aExperiência n º 3. Para ele, a roupa era o fator que mais
influenciava o homem"porque é aquilo que está mais perto do seu corpo e o
seu corpo continua sempresendo a parte do mundo que mais interessa ao
homem". Denominou o curiosomodelito que trajava de "new look"
para "o novo homem dos trópicos". O "new look"era composto
por saia cor-de-rosa prissada -acima dos joelhos antes de Mary Quant,camisa
verde e... meia arrastão e sandália de couro cru. Portanto, a despeito de
seupensamento sobre a condição da moda, está explícita a intenção performática
dechamar atenção ao corpo na ação (MACHADO, 2018).
Alberto entrou na
Igreja com uma cabeça de veado. O dia em que opadre Douglas tornou-se padre, Alberto
entrou com a cabeça de um veado(estátua) e um chapéu de bruxa, no dia em que
estava presente o bispo deBom Despacho. O dia 25 de dezembro na Idade Média era
o dia do grandeveado e a Igreja Católica escolheu o dia para ser o nascimento
de Jesus.Ele identifica-se com a frase de Pessoa: se você não pode
escreverpoemas como Baudelaire, pode ao menos pintar os cabelos de verde.
Asperformances de Alberto são como pintar os cabelos de verde, mas com uma
10
aspiração de ir um passo além de um Flávio Carvalho. As
experiências nãoseriam extraordinárias, o extraordinário tornou-se cotidiano. A
frase, paraPessoa, está num contexto em que o poeta faz uma dura crítica aos
diluidores:
A grande multidão de
fascinados inferiores, incapazes de criar (...), falhos de inibição ede senso
crítico, na impossibilidade de, (com razoável êxito (salvo um declarado
[?]delírio de grandezas) imitar os poemas de Musset ou os de Verlaine, podem
contudo,com maior aproximação, plagiar ao primeiro o copo [?] gigantesco com
que seembriagava quotidianamente, e ao segundo a sua incurável vagabundagem
eamoralidade de degenerado típico. Quem não pode fazer versos como
Baudelairepode, porém, tingir os cabelos de verde. A prática da pederastia,
embora nem sempre
fácil [...], é contudo mais fácil que a produção de uma
segunda “Salomé”
(PESSOA,2018).
Alberto assume a
intervenção cultural não como algo inferior, mas comofusão da arte e da vida,
além de uma atitude apologética, de pioneiro, dealguém que, ao intervir no
espaço público, atrai para si ouvidos que queremouvir as verdades que têm a
dizer. No final do livro, no texto
Neblina
SobreTeresópolis
, ele utiliza a metáfora do desastre ocorrido na cidade
comometáfora para a morte de sua heterossexualidade e o renascimento de
suahomossexualidade. Alberto viu isso como perda de vidas e perda de vida
paraele mesmo, por ter vivido anos reprimido. O poema
Neblina Sobre Teresopolis
,além de referir-
se à frase “Diadorim é minha neblina”, uma bela passagem em
Grande Sertão, Veredas
:
Abracei Diadorim,
como as asas de todos os pássaros. Diadorim é minha neblina. Sóse pode viver
perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gentetem
amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Oamor é
a gente querendo achar o que é da gente (ROSA, 2018).
Atualmente, ele diz
que é importante ser mutante na sociedade, fugir da
“normose”.
Desde que era aluno
de Jornalismo, é um mutante que foge danormose. Normose é um termo criado pelo
Dr. Hermógenes no seu livro que Alberto leu nos anos 1980. Mutante é o termo
criado por Roberto Crema,diretor da Universidade Holística de Brasília. Ser
mutante para Alberto é ter um
11
pensamento e comportamento libertário inserido no meio da
sociedade. Opoema
Neblina Sobre Teresópolis
é o encontro de um
rapaz com um homemmais velho que é referência para ele:
Era o ano de 1984. Deixa-me contar direito, tenho 17 anos,
um senhor se aproxima demim sorrindo e se apresenta: --Meu nome é Edgar. Um
homem de seus 36 anos. Alto,olhos bonitos.
–
Ei, meu jovem! Posso ajudá-lo, Sr?
–
Respondo.
–
É a primeira vez quevejo o mar, sou de Minas.
–
Eu também sou, Responde Edga
r
(COIMBRA, 2017,
p.138).Ele quer mudar comportamentos e mentalidades e uma das vias queescolheu
é a literatura. Uma outra são as intervenções culturais no cotidiano deuma
cidade do interior que Alberto protagoniza. São intervenções que
remetemBaudelaire e que estão intimamente ligadas à sua produção literária:
A primeira vez que
visitou o escritor Maxime Du Camp, Baudelaire foi apresentado aele com os
cabelos pintados de verde. Como o malicioso Du Camp não queria nada
observar, Baudelaire gritou: “você não vê nada de anormal
em mim?” E seuinterlocutor impassível respondeu: “Todo o mundo tem os cabelos
mais ou menos
verdes; se os seus fossem azuis da cor do céu, isso poderia
me surpreender: mascabelos verdes, há muitos chapéus em Paris. A anedota,
contada por Du Camp elemesmo, é divertida. O leitor divertido pelas provocações
baudelairianas descobriuoutros dentro da soma biográfica consagrada ao poeta
por Marie-Christine Natta. Aespecialista em dandismo traça o retrato de um
escritor insaciável, adepto da artearistocrática de desagradar
(HAYAT, 2018). Alberto Coimbra faz, em Bom Despacho, o
papel de uma ativista dacontracultura. Para Alberto, é importante mudar sua
mente, mudando seucorpo. Ele acredita que é preciso rezar menos. Para ele,
inspirado na Grécia Antiga, os mistérios da vida são mistérios
gozosos.Inspirado em
As Bruxas de Salem
, filme de Wynona Ryder, Albertoentrou na Igreja matriz de
Bom Despacho com uma cabeça de veado. O dia emque o padre Douglas tornou-se
padre, Alberto entrou com a cabeça de umveado como se fosse uma estátua e um
chapéu de bruxa. Nesse dia estavapresente o bispo local. Alberto remete a
Flávio de Carvalho, mas dá um passo
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adiante: insere suas experiências no cotidiano, não as
considera excepcionaise sim banais, rotineiras. Para Alberto Coimbra, devemos
ser mais eróticos enão ficar rezando, pois a vida do pobre é difícil.
Deveríamos ser mais eróticos,começar uma fala mais erótica junto às pessoas.
Alberto Coimbra relembra as bruxas para poder lembrar que asexualidade é
natural e os eleitores de Bolsonaro julgam o corpo algo sujo. Alberto, em suas
performances, mistura-se na multidão, ao mesmo tempo estánela como uma
personalidade, como, ao mesmo tempo, ator e espectador. Alberto está à vontade
no espaço público. Ele se inspira em
Bruxas de Salém
,
A Garota da Capa
Vermelha
e
Caça às Bruxas
. Alberto Coimbra, com seu livroé tão revolucionário quanto
Grande Sertão Veredas
por ocasião de
seulançamento em 1956.Ele também já se travestiu de mulher e foi ao estádio
Mineirão em jogosdo Clube Atlético Mineiro (em que foi bem recebido) e do
Cruzeiro (onde houveagressão). No jogo do Atlético, usou a camisa com o rosto
de Brigitte Bardot.Para Alberto, bem como para Baudelaire, só com o mergulho
namultidão é que o poeta pode tornar-se moderno. Assim o poeta
mergulha,embriagado, no outro e experimenta a comunhão universal. Alberto
Coimbra pretende, com seu livro
Impressões de Cinema
, ser tãorevolucionário quanto
Grande Sertão Veredas
foi em seu tempo, ao
levantar,pioneiramente, a questão do gênero e diversidade ao tratar do amor
deRiobaldo por Diadorim. A linguagem jornalística de Alberto Coimbra pode
serassociada a Ernest Hemingway. Antes de viver em Paris, Pamplona, Cayo Hueso
e Havana, Hemingwaynasceu e viveu até os seis anos em uma casa de três andares
e estilo vitorianono bairro de Oak Park, na periferia de Chicago, que o
escritor costumava definir
como “um lugar de jardins largos e mentes estreitas”. No
bairro se encontra um
pequeno museu dedicado à sua memória, na mesma rua
arborizada onde estásua casa natal.
13
No interior do museu está exposta uma caricatura desenhada
para a
Vanity Fair
, em 1933, em que Hemingway aparece vestido com uma tanga e
jogando tônico capilar nos peitorais. Em outro mostruário está uma foto
doescritor quando bebê. Aparece vestido de menina, algo comum no começo
doséculo XX, quando os bebês eram vestidos dessa forma durante seu primeiroano
de vida. Mas sua mãe, uma pintora e cantora de ópera chamada Grace,decidiu
prolongá-lo por muitos anos mais. De fato, criou Hemingway e sua
irmãMarcelline, 18 meses mais velha, como se fossem gêmeos, e os
vestiuindistintamente como se ambos fossem meninos ou meninas, segundo
seuhumor.Para Hemingway, esse capítulo seria um grande trauma que
terminariaprovocando uma ansiedade que desembocou em sua exagerada virilidade,
deacordo com a biografia que Kenneth S. Lynn publicou em 1987, que
permitiualterar sua imagem pública e também abrir sua obra a novas
interpretações.Quando são relidos romances e contos de Hemingway, ganhador do
Nobel deLiteratura em 1954, sobressaem menos os super-heróis e mais os
homensinseguros. Como o protagonista de
A Curta Vida Feliz
de Francis Macomber
,envergonhado por sair correndo quando tentava atirar em um
leão em umsafári, muitos deles tentam alcançar um ideal de masculinidade
impossível.Outro de seus biógrafos, Paul Hendrickson, autor de
Hemingway´s Boat
,sobre o apego do escritor por um barco batizado como
Pilar, não acredita queessa hombridade superlativa e quase paródica possa ser
vista como uma
atuação ao público. “A hipermasculinidade foi uma parte do
que ele era. Foi
real e autêntica. Talvez fosse uma máscara conveniente ao
seu ego, mas nãoera fr
audulenta”, afirma o professor da Universidade da
Pensilvânia e antigo
jornalista do
The Washington Post
. “Acho que foi homossexual, mas com
muitos sentimentos contraditórios em relação ao seu gênero.
Nunca encontreia menor prova que sugerisse que se sent
ia atraído por outros homens”.
Hendrickson também
descreve sua difícil relação com seu filho maisnovo, Gregory, que praticou o
transformismo por toda sua vida e acaboumudando de sexo aos 63 anos. Morreu com
o nome de Gloria em uma prisão
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para mulheres na Flórida, na qual acabou por praticar
exibicionismo em viapública. Uma vez, quando era pequeno, Hemingway o
surpreendeu provandoas meias-
calças de sua mãe. Mais tarde lhe diria: “Você e eu viemos
de umatribo estranha”. Para Hendrickson, Gregory/Gloria r
ealizou o que seu pai só
admitia em seu foro interior e em algum texto clandestino.
“Por isso existia umarelação de amor e ódio entre eles”, afirma. Dearborn diz
que essa foi a cela deonde nunca conseguiria escapar: “Em um mundo melhor, Hemingway
teria
f
urado as orelhas”.
Impressões de Cinema
é um livro que
mistura gêneros em muitossentidos: tanto os gêneros ligados à sexualidade
quanto os gêneros literários: é
autobiografia, prosa poética, ensaio sobre cinema, e, como
diz o autor, “um
diálogo do autor com sua homossexualidade que foi reprimida
na juventude.
Existe uma homossexualidade que aflorou depois de anos de
repressão.” O
livro
Impressões de Cinema
também contêm
códigos sexuais.4. Conclusão Alberto confessa que fez a intervenção cultural na
cidade de BomDespacho por ser jornalista e porque ouviu bom-despachenses
reclamando dopapo ruim da cidade pequena que provocou fobias e depressão em
pessoas. Etambém porque as cidades grandes brasileiras estão esgotadas. É
preciso umaintervenção cultural e econômica para que cidades pequenas sejam
atrativaspara viver. Alberto homenageia a cidade do Rio de Janeiro como um
flaneur
passeando pelo seu centro histórico descrevendo lindamente
locais, ruas e suaarquitetura.
Impressões de Cinema
foi um livro pensado
como obra de arte total,fundindo música, cinema, poesia, prosa poética e dança.
Trata-se de um livroque funde vários gêneros textuais e pensa gênero e
diversidade, pois o livrotrata da retomada da homossexualidade de Alberto
Coimbra após um períodoem que ele viveu com uma mulher.
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O livro não pode ser entendido sem um mergulho na vida e
nasintervenções culturais de Alberto Coimbra, grande artista, escritor e
ativista dacontracultura em Bom Despacho. Na prosa albertiniana, obra e arte estãofundidas.
Coimbra dá um passo adiante de Flávio de Carvalho, o famoso
performer
que saiu de
minissaia em São Paulo em 1956. Alberto assume aposição do
flaneur
no Rio de Janeiro, assim como vai mais além dos
cabelosverdes de Baudelaire, atitude que também o inspira em sua fusão
arte/vida. Eleincorpora em sua prosa a contracultura e o Modernismo de 22,
assim como ocinema mundial e outras artes.5.Referências Bibliográficas:HAYAT,
Jeanine.
Le Cheveux deBaudelaire
<<https://www.huffingtonpost.fr/jeannine-hayat/les-cheveux-verts-de-baudelaire_a_23220350/
>>
COIMBRA, Alberto.
Impressões de Cinema
. Divinópolis: Adelante, 2017.Experiência Número 2 de
Flávio de Carvalho.<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VEMACHADO,
Vanessa. As
Experiências.<<http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernidade/eixo/cam/artistas/carvalho3.html
>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de 2018>>.
16
VICENTE, Alex. Um Supermacho em Dúvida. A Face Oculta de
Hemingwayhttps://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/21/cultura/1508590742_519728.html.
<<Acesso em 26 de julho de 2018>>.PESSOA, Fernando.
A Imoralidade das
Biografias.
<<http://arquivopessoa.net/textos/3748>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de2018>>.6. Videografia:COIMBRA, Alberto.
Impressões de Cinema
.<<https://www.youtube.com/watch?v=BkfpBMGr7KY&t=360s>>.
<<Acesso em5 de dezembro de 2018>>.FRECHETTE, Alex. Experiência
Número 2 de Flávio de Carvalho.<<https://www.youtube.com/watch?v=_g4S0Lc30VE>>.
<<Acesso em 5 dedezembro de 2018>>.PROGRESSO, Pedro. Maria Betânia:
Grande Sertão
Veredas.Diadorim.<<https://www.youtube.com/watch?v=oOdGvuzQjbA>>.
<<Acessoem 5 de dezembro de 2018>>.MENEZES, Gustavo. Top Show do Gu
(Entrevista com Alberto
Coimbra).<http://revistacidadesol.blogspot.com/2018/09/entrevista-com-alberto-coimbra-top-show.html>>.
<<Acesso em 5 de dezembro de 2018>>.
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