sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Eduardo Lucas Andrade: Psicólogo, Poeta, Editor

 

Eduardo Lucas Andrade: Psicólogo, Poeta, Editor

 

Eu sempre penso que é incrível que Bom Despacho tenha um criador do quilate de Eduardo Lucas Andrade e nem todo mundo o conheça. Ele tem trinta e um anos e tem trinta livros escritos, é uma potência. Eduardo foi o aluno mais aplicado e estudioso do meu amigo Alexandre Aurélio, professor, psicólogo e poeta já falecido e que fez junto a mim a revista Unimpacto, revista da Unipac (citada na minha última crônica em que tratei da sempre elegante professora Socorro Santiago; Alexandre era o diretor da revista). Alexandre amava o curso de Psicologia da UNIPAC, hoje herdado pela UNA, como seu filho amado. Eduardo, ainda que filho da Unipac, tem uma visão crítica e arguta do curso de Psicologia que o formou, sem ser injusto. Isso é algo raro, muito raro, admirável. Ele tem esse dom, o dom de ser equilibrado em suas análises. O também editor da Editora Contraponto, César Benjamin, costuma dizer que para entender uma flor, não é preciso tirar suas pétalas, observá-las no microscópio. O importante, enfim, seria tornar-se flor e, com olhos de flor, entender o que é a flor. Eduardo tem esse talento.

Foi emocionante fazer a revista da primeira universidade de nossa cidade, contando com um professor e educador competente e conceituado como Alexandre. Era um amigo sempre bem humorado e franco, do tipo que encontramos um ou dois vida afora. Alexandre Aurélio foi grande amigo de meu tio Bil e fez um livro de poesias juntamente ao meu tio Cláudio (Lonjuras e Minha Vida). Infelizmente, Alexandre deixou esse mundo muito cedo. É muito bom que, ao menos, ele tenha nos deixado um discípulo tão brilhante quanto Eduardo.

            Eduardo, natural de Araújos, tem esse dom agudo da palavra que os poetas têm. Ele é um analista apaixonado (esse, inclusive, é um título de um livro de poemas dele). Ele saboreia as palavras com vagar, dá a elas colorido, é um talento que salta aos olhos. Ao descobrir-se diabético, escreveu um livro chamado Formiga, pois foram as formigas que o ajudaram a descobrir essa condição. Escreveu um livro sobre autoextermínio, mas pleno de vida. Em literatura infantil, escreveu o livro As Lágrimas do Crocodilo João, colocou o personagem de um passarinho que usa saia. Curiosamente, foram os professores e não as crianças que sentiram estranhamento em relação ao personagem. Eduardo, como Freud, explica: esse obstáculo já estava lá, na mente do educador, mas não existe na mente da criança.

Morando aqui, Eduardo Lucas editou um texto de Elisabeth Roudinesco, biógrafa do grande psicanalista Jacques Lacan, grande historiadora de expressão francesa. E entrou em contato com ela, o texto foi cedido especialmente para ele. Anos atrás, comprei uma biografia de Jacques Lacan escrita por essa autora e adorei. É fantástico comprar uma biografia de Lacan de uma autora francesa e depois encontrá-la, como quem encontra uma amiga, traduzida por outra amiga (Luciene Guimarães) e com artigos inéditos enviados para a série de livros Psicanálise e Vida Cotidiana. Luciene Guimarães estava, no início de agosto, a debater Hiroshima Mon Amor, roteiro de Marguerite Duras, na biblioteca Mário de Andrade em São Paulo. E isso confirma o que disse o cronista Alexandre Magalhães em texto recente: Bom Despacho é o Aleph de Jorge Luís Borges.

            Eduardo coloca a literatura em destaque na nossa cidade e região com a editora Literatura em Cena. Editou inúmeros autores de nossa cidade, do presente e do passado: Eudes, Alberto Coimbra, Paulo Campos, Fernando Humberto. Eduardo é elogiado por profissionais de peso como Marisa, Boleka, Tânia Nakamura. No futuro, essa produção toda será lembrada pelas novas gerações e adquirirá a centralidade em nossa cultura que ela ainda não tem. Li um texto de Eduardo sobre a psicanálise em cidades pequenas e achei brilhante, original. Houve quem observasse que ele é um autor pioneiro no tema, há muito pouco a respeito. Só porque as pessoas “ouviram” falar de nós, “ouviram” falar de algo a nosso respeito, não quer dizer que nos conheçam. Nós somos muito mais.

            Encontrei Eduardo na Feira Literária de Araxá e, pude, numa mesa de debate sobre Psicologia das Personagens, vi como Eduardo é respeitado e como ele tem sempre esses lances brilhantes, lancinantes. Essas tiradas de mineiro letrado, unindo a tradição de Freud a Guimarães Rosa. A Feira tinha nomes de expressão nacional como Itamar Ferreira Júnior e nosso amigo foi escalado nessa “seleção”. É prata da casa, uma honra para Araújos e Bom Despacho. Na Fliaraxá, Eduardo Lucas Andrade e eu encontramos a ministra do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia, “geraizeira” que admiramos, que tem cultura literária, que fala sobre feminismo, uma mulher democrata, que citou maravilhosamente Guimarães Rosa em uma entrevista. Ela lembrou que há os mineiros e os geraizeiros, há os mineiros da região da mineração e os geraizeiros dos campos gerais, do norte de Minas E que ambos têm temperamentos diferentes. A ela Eduardo ofertou seus livros, um deles um infantil para o neto dela. Donde fizemos a foto que ilustra essa coluna. Evoé, poeta!

 

 

Nenhum comentário: