sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Poemas para Pedro Moraleida

Como no quadro de um homem nu Pintado por Pasolini No quadro nenhum monstro de moral Animal de enigma pintando Um corpo luminoso, preto, laranja Verde com pinça nos mamilos Os traços são violentos São fibras da carne viva Da própria carne canibália O poeta não está mais nem aí, Nevermind Shit’n’ walkin’ como na Revista Negócio Showbizz! Pop-fuckers Separando o joyo do trygo E publicando o joyo. Réquiem para um peso-pesado Para Jim Morrison Paris foi pouco Mucho loco! O amor fati é amar a dor Para que haja o superómi é preciso MORTE! Mas a morte é contra-revolucionária... O nada é de direita... Surgem novos valores, Gabeira de tanga John Travolta caindo na gandaia Superação ou morte? Ou não! A Internet é mar risonho & vagalhante Tomo um banho de lua, Fico branco como a neve, Num protesto viril contra a própria impotência. Mas há contradições: Os mitos se orientaram contra o socialismo, O colonizado se olhou com as lentes do colonizador. & esqueceu o socialismo como doença superada. A luta pelo mínimo estado & clama contra o fantasma de Vargas, vox rouca Na terra de sol: em todas as palavras do nórdico há um grão de desprezo O Anticristo da Bahia retruca, gira os guizos do mundo girassol & Deleuze: “Eu digo para mim mesmo: quem é hoje o jovem nietzschiano? (...) Será aquele que produz enunciados nietzschianos no decorrer de uma ação, Uma paixão, uma experiência?” Quero ordenhar-vos, vacas das alturas! Os nietzschianos brazyleyros TRANSBORDAM Traficam pornografia com criança e fogem para a França! O superómi pulará & se for fraco, fenecerá Como uma mariposa Como mosca nas rosas secas Como feto no Arrudas Como na planície dos MORTOS Cristo é que soube morrer, pois sim! Madalena é que gozava com o pau do outro Na última tentação de Cristo O amor banal O amor pungente dos animais A virtuose perversa da linguagem Feito Hamlet Feito Paulo Martins/Caetano Veloso Nos quadros de Bosch parece que vemos Moraleyda parece que também viu Caranguejos do sexo É assim que se vive nesse mundo merda “You don’t know me Bet you never get to know me” Dizia Rotten em Roliúde m Poema para Moraleida Mautner queria fazer os ditirambos de Dionísio Em ritmo de rock Será que Nietzsche gostaria? O artista botando frutos envenenados Para matar as gralhas do jardim plantado À beira-mar. Todo mundo tem Jesus Cristo demais Inclusive quem estava falando que seu sangue era nobre demais & se limpou na carne de Dionísios E não na lamacenta água de Jesus Cristo pensante Sem pensar, pirando e engolindo a tragédia Aos pedaços Pensando aos pedaços Amando aos pedaços O pulo é a morte O pulo é a trama do Superman Que não trepa com a Mulher Maravilha A elite planetária aparece no desenho animado Colonizado & colorizado por computador & com puta dor A dor do parto póstumo A virgem recebeu o anjo Tendo entre as pernas o amor fati! A verdade é como uma vaca!

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Lúcio Júnior — Efeitos Especiais de Georg Lukács

Lúcio Júnior — Efeitos Especiais de Georg Lukács Publicado em 13/07/2012 por Marcio Lukács é um autor interessante. Tido por stalinista por alguns, é um dos grandes inspiradores do marxismo ocidental, juntamente com Trotsky e Gramsci. Em um artigo recente de Brian Williams na revista Socialist Action, Williams explicou bem as diferenças entre Lenin e Lukács. Resumindo, são as seguintes: para Lukács, o importante é que o sujeito conheça o objeto, ou seja, que a classe proletária tome consciência de si mesma: aí ela está pronta para a revolução. Para Lenin, a revolução não depende somente da própria classe operária e sim da correlação das classes, massas, partidos e forças, assim como, num dado país, a revolução só irá acontecer quando a classe superior não puder levar as coisas da mesma maneira e quando a classe operária não puder mais viver da antiga maneira. Além disso, é preciso estudar e levar em conta todas as forças e classes que estão em jogo – e não somente se trata de uma identificação entre a classe operária consigo mesma, numa tomada de consciência iluminadora que enche o seu ser de poder. O poder é exterior, não está na consciência. Lukács tende ao idealismo subjetivo, a pensar que a consciência da revolução gera a revolução, a ideia gera a matéria. Lenin escreve: “O Partido Comunista (…) deve agir segundo princípios científicos. Ciência…demanda que se tome conta de todas as forças, grupos, partidos, classes e massas operando num dado país”. (Lenin V. I., 1920, p. 81, apud: WILLIAMS, 2011). Para Brian Williams, é Lenin que está de acordo com Marx e é bem claro. Por seu turno, Lukács escreve uma teoria diferente em um ensaio sobre o Oportunismo e o Golpismo: “Por causa de sua noção de mecânica da luta de classes, oportunistas e golpistas são igualmente obrigados a ter um conceito estático da classe, vendo-a como algo que é para sempre, algo invariável numa dada realidade, e não como o que emerge, cresce e é trazido à vida no curso da luta. No entanto, é somente quando a constituição do proletariado como classe é considerada como o objetivo e a tendência da revolução que podemos descobrir uma base firme para as táticas em constante mudança de atividade comunista. A realidade econômica e científica da classe [trabalhadora] é, naturalmente, o ponto de partida para considerações táticas. Mas a outra realidade, a realidade de vida da classe afetada pelo proletariado – só é interessante como um alvo da ação revolucionária. Todo verdadeiro ato revolucionário diminui a tensão, o abismo entre o ser econômico e consciência ativa do proletariado. Uma vez que essa consciência atingiu, penetrou e iluminou o ser [do proletário], ele é imediatamente possuído do poder de superar todos os obstáculos e de completar o processo da revolução”. (Lukács, 1920a, p.79, apud: WILIAMS, 2011). Como se pode ler acima, muito embora Lukács tenha até um livro sobre o pensamento de Lenin, eles divergem num determinado ponto, claramente. Lenin refutou Lukács em termos duros: “Seu marxismo é puramente verbal; sua distinção entre táticas ‘ofensivas’ e ‘defensivas’ é artificial; ele não fornece uma análise concreta, precisa e definida das situações históricas; não leva em conta o que é essencial”. (Lenin V. I., Kommunismus, 1920b, p.165, apud: WILLIAMS, 2011). E numa questão que Lukács atacará em Stalin: a questão das táticas. Em 1951, ele ainda tinha certeza de que Lenin e Stalin eram a mesma linha de pensamento, o que ele irá negar depois: “É um grande mérito de Lenin e Stalin de haver concretizado também as doutrinas do marxismo e ter-las desenvolvido nas circunstâncias do imperialismo, nas vésperas das guerras mundiais e revoluções”. (LUKÁCS, 1966, p. 486). Como a proposição de Lenin em questão acima é bem mais próxima da de Marx, portanto, para Williams toda a moldura teórica de História e Consciência de Classe está errada, pois parte desse pressuposto. Williams vê nas posições do jovem Lukács um ultra-esquerdismo tal como o de Karl Korsch, Pannekoek e de outros. Lenin percebeu que Lukács estava em desacordo com ele. Já o Lukács maduro parece dado, em seus próprios termos, a fazer mimetismo teórico. O que seria isso? Mudar algo em sua aparência conforme uma situação exterior desfavorável, permanecendo o mesmo e ficando a salvo de transtornos. Vejamos como ele faz esse movimento, que tem desdobramentos sérios devido à sua associação com Kruschev. Na introdução à edição italiana de 1957 de seu trabalho Introdução a uma Estética Marxista, Lukács escreve que: “Muitas coisas aconteceram no mundo, e também no âmbito da teoria marxista, desde 1954, ano no qual o presente volume apareceu nas línguas alemã e húngara (…). O leitor atento comprovará sem dificuldade que minha conferência refuta diretamente –ou corrige, pelo menos, de um ponto substancial – as afirmações de Stalin em dois pontos importantes (…). Essa polêmica contra Stalin não podia expressar-se mais que sob: 1) uma superestrutura pode também atacar a base existente, e, até pode tentar desagregá-la e destruí-la, mas não somente servir a uma base determinada e somente a uma. 2) Para Stalin, ao desaparecer a base, tem que desaparecer a superestrutura inteira. Eu, ao contrário, quero demonstrar que esse destino não afeta em absoluto a toda a superestrutura”. (LUKÁCS, 1966). Ele fala que foi obrigado a fazer “mimetismo teórico”, mas o artigo não trata em absoluto disso. Entender o que ele afirma acima foi absolutamente impossível para mim, como leitor. O artigo em questão é sobre a língua como superestrutura, foi pronunciado na Hungria e é de 1951, ou seja, antes da morte de Stalin e da subida de Kruschev, com quem Lukács se alinhou, renegando Stalin e dissociando Stalin de Lenin. É um artigo totalmente elogioso e que de forma alguma apresenta as posições que Lukács escreve acima. Na verdade, pelo que pude observar lendo o texto, ele afirma exatamente o contrário do que escreve nessa introdução. Tanto que, na edição, o texto dele sobre Stalin ficou sendo o último texto, provavelmente devido a oportunismos miméticos. Provavelmente foi pouco lido, porque nele Lukács elogia desvairadamente as posições de Stalin: “Não faz mais do que um ano que apareceram os trabalhos de Stalin sobre as questões de linguística, mas já agora podemos dizer que essas introduções têm uma importância histórica (….). E aqui precisamente se manifesta o caráter superestrutural da linguagem, definido por Stalin (…). Com apoio das importantes afirmações de Stalin (…). As tradições do marxismo se concretizam e se desenvolvem com as afirmações de Stalin sobre o seu caráter superestrutural (…). Nosso exemplo confirma inclusive e sublinha a correção da afirmação de Stalin”. (LUKÁCS, 1966, p. 488, 489, 491). Donde subentende-se que as posições apresentadas na introdução são uma revisão completa, uma volta em torno de si mesmo (possivelmente para aliar-se com o poder) que Lukács elaborou. Stalin argumentou – e Lukács concordou –que a literatura e a arte pertencem à superestrutura, mas a língua não. Já a respeito da superestrutura, ele apenas concorda com Stalin: “Tudo isto confirma de outro ponto de vista uma velha afirmação de Stalin, por todos conhecida: uma superestrutura não somente reflete a realidade, senão toma ativamente posição a favor ou contra a velha ou nova base, e quando a superestrutura deixa de exercer esta função, deixa também de ser superestrutura”. (LUKÁCS, 1966, p. 505). Essa é apenas uma das afirmações totalmente positivas que ele volta e meia faz a favor de Stalin no artigo. Lukács sempre mostrou divergências, fez autocrítica, voltou a elas de maneira transformada. Segundo um “marxiano” como Chasin, Lukács teria feito apenas um despiste, agregando palavras críticas a elogios apenas formais de Stalin, mas pelo visto é algo mais grave. No entanto, há uma grande riqueza em Lukács. O problema é que passa por um filósofo exemplarmente marxista-leninista, senão “stalinista”, o que é falso. Ele é sempre um filósofo que tenta conciliar sua formação hegeliana com a teoria marxista-leninista, e também ambiciona associar-se ao poder: é um camaleão fazendo mimetismo teórico

Nietzsche Sobre os Judeus

Nietzsche sobre os Judeus (...) Por exemplo, sobre os judeus: ouçam. –Ainda não encontrei nenhum alemão que tivesse afeição pelos judeus; e por mais incondicional que possa ser repúdio ao antissemitismo propriamente dito da parte de todos os cautelosos e políticos, essa cautela e política não se dirige, no entanto, contra o gênero do próprio sentimento, mas somente contra seu perigoso descomedimento, em particular contra a repugnante e vergonhosa expressão desse sentimento descomedido –sobre isso não nos podemos iludir. Se é para falar do “eu”, Nietzsche tinha como amigo Paul Rée. Rée fez o livro Origem das Sensações Morais, no qual está inspirado o livro Genealogia da Moral, um dos mais importantes do próprio Nietzsche. E sobre a expressão descarada do antissemitismo, ele parece estar falando sobre ele mesmo, afinal, não fica bem para um filósofo trabalhar com ideias preconcebidas, tal como dizer que “todo alemão gosta de comer chucrute” e colocar isso em meio aos seus textos. Que a Alemanha tem judeus mais que o bastante, que o estômago alemão, o sangue alemão tem dificuldade (e ainda por muito tempo terá dificuldade) para dar conta desse quantum de ‘judeu’ –como deram conta o italiano, o francês, o inglês graças a uma digestão mais vigorosa--:tal é o claro enunciado e linguagem de um instinto geral, ao qual é preciso dar ouvidos, pelo qual é preciso agir. `Não deixar entrar mais judeus! E em especial ao Oriente (e mesmo à Áustria) aferrolhar os portões!” –Assim ordena o instinto de um povo cuja espécie ainda é fraca e indeterminada, de modo que poderia facilmente ser extinguida por uma raça mais forte. Lendo isso eu entendo porque o nacionalista judeu Theodore Herzl gostava de ser Nietzsche: judeu é raça mais forte e poderia, então, extinguir os alemães, que tornaria todos judeus (!). Retomando: judeus nem são raça, são um grupo religioso. Mas creio que isso é simplesmente um preconceito religioso disfarçado de raciocínio sobre raça. E por trás disso, está a cobiça da burguesia alemã de expropriar os judeus, que eram um grupo desde a Idade Média bem estabelecido como comerciantes, ou seja, burgueses. Os pressupostos raciais e nacionais só escondem a ambição de uma classe. E os judeus são, sem dúvida nenhuma, a raça mais forte, mais tenaz e mais pura que vive agora na Europa; eles sabem impor-se, mesmo sobre as piores condições (e é até mesmo melhor do que sob as favoráveis), graças a algumas virtudes que hoje em dia se prefere taxar de vícios –graças, antes de tudo, a uma resoluta crença, que não precisa envergonhar-se, diante das ´ideias modernas´; eles só se modificam, quando se modificam, do mesmo modo que o império russo faz suas conquistas –como um império, que não tem tempo e não é de ontem --: ou seja, segundo o princípio: ´o mais lentamente possível!´ Um pensador, que tem na consciência o futuro da Europa, contará, em todos os projetos que faz consigo sobre esse futuro, com os judeus assim como com os russos, como os fatores que, de imediato, se apresentam como os mais seguros e prováveis no grande jogo e combate de forças (...). Para além de Bem e de Mal, parágrafo 251. Aqui, a respeito dos russos tudo bem, fez a maior diferença a revolução russa porque a Rússia czarista era um peso enorme a favor da reação na Europa. Só que vamos lembrar: os russos eram muito ruins justamente na adoção das tais “ideias modernas”. Foram uma autocracia absolutista até 1905. Já judeus só tiveram esse peso para a Europa depois da criação do estado sionista de Israel.

domingo, 17 de agosto de 2025

O Vietnã de Jones Manoel: Elogio da Fábrica Exploradora Global

O Vietnã de Jones Manoel: Elogio da Fábrica Exploradora Global Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior Resumo Esse artigo debate o revisionismo vietnamita e suas características, conforme apresentado de forma apologética em textos de Jones Manoel e Breno Altman. O Vietnã gerou muita esperança internacionalmente, no período de sua guerra com o imperialismo estadunidense, mas logo em seguida, de forma frustrante, passou a agressor, ao atacar o vizinho Cambodja. Os dois comentadores, que são de esquerda, tendem a fazer o elogio da “fábrica exploradora global” que é o Vietnã hoje. Nesse artigo tentamos investigar como esses autores fazem uma leitura propagandística do capitalismo desse “tigre asiático”. Palavras-chave: Vietnã, revisionismo, Jones Manoel, vídeos, maoismo Introdução Em vídeo recente, o ativista, professor e historiador Jones Manoel informou que vai ao Vietnã em novembro de 2025 e expôs sua análise a respeito desse país. A seguir, em uma série de três vídeos, baseado principalmente em reportagens liberais do jornalista Breno Altman sobre o Vietnã, teceu uma imagem predominantemente favorável a esse país autointitulado socialista. Embora não trabalhe diretamente com a hipótese de que o Vietnã é socialista, Jones Manoel deixa essa ideia implícita em suas considerações. Ele caminhou, então, para a apologia disfarçada desse revisionismo em específico e do revisionismo como um todo, bem como do caminho burguês burocrático-latifundiário. Nesse artigo vamos analisar esse debate sobre o socialismo vietnamita à luz do marxismo e, para tanto, buscaremos um enfoque alternativo, na linha do marxismo-leninismo-maoismo. 1.Jones, Que Socialismo é Esse? Tanto Sangue Para Quê? Jones Manoel começou sua abordagem do Vietnã sem definir o que ele considera socialismo. Suas análises são baseadas, nos três vídeos, não em um autor marxista-leninista, mas em reportagens elogiosas a “fábrica exploradora global” que se tornou o Vietnã por parte do jornalista liberal Breno Altman. Em certa altura, Jones comentou que: (...) Na realidade a reforma em abertura começa no campo a partir de uma descentralização da estrutura produtiva comunas são desmontadas e surgem milhares de pequenas propriedades familiares com responsabilidade familiar com obrigações ainda de cotas de produção e tal não sei o quê mas com liberdade para negociar o excedente como as famílias quiserem o Vietnã seguiu um caminho parecido e segue um caminho parecido dentro de uma lógica bem errada que o Vietnã adotou que era eh no período por assim dizer de economia centralmente comandada os agricultores no Vietnã eram meio que obrigados a entrarem nas cooperativas né e nas fazendas públicas só que não existia incentivos econômicos para entrar nas cooperativas e fazendas públicas né então do ponto de vista de acesso a crédito do ponto de vista de acesso a maquinário do ponto de vista de apoio técnico não existia diferença para o agricultor está numa cooperativa ou não isso foi imposto meio que juridicamente politicamente o que prejudicou bastante a produtividade no campo isso remete inclusive ao clássico debate da União Soviética que veja você pode achar o Bukharin ruim revisionista traidor não sei o quê enfim não tô entrando nesse mérito mas assim Bukharin tinha uma razão quando ele fazia o debate de que a coletivização forçada ia criar um problema porque ia antagonizar o camponês soviético com o estado soviético e que o caminho mais adequado seria buscar uma coletivização progressiva a partir das cooperativas em que o Estado soviético ia garantir incentivos econômicos para se cooperativizar evitando traumas políticos e violência o Bukharin tinha razão do ponto de vista de princípio geral (MANOEL, 2025). Nessa passagem Jones Manoel apresentou oposição justamente a uma política que podemos definir como socialismo: cooperativas socialistas no campo. E ele deu razão a Bukharin em querer uma diferente coletivização, mas não foi isso o que o teórico russo propôs, que era, sutilmente, apoiar os grandes fazendeiros (kulaks) que, enquanto classe, deixaram bem claro que se opunham ao poder soviético durante a guerra civil, fato registrado por Lênin. No entanto, para Lênin, a pequena propriedade sempre gera e gerou capitalismo. No Vietnã não tinha como ser diferente. Bukharin já foi consagrado como um inspirador da restauração do capitalismo na União Soviética e na China e um revisionista, no sentido em que o revisionismo é a burguesia dentro do partido. Isso aniquila as inquietações em que Jones e Jabbour pensam que, apenas porque formalmente não há partidos burgueses no poder, um partido formalmente comunista está ali, mas, como aliado das multinacionais chinesas e yankees, dos bilionários (burguesia imperialista), no caso da China. Bukharin dizia que era preciso “desenvolver forças produtivas” primeiro, posição revisionista clássica. Os maoistas do Vietnã comentaram a respeito: Os revisionistas assumem a teoria das forças produtivas, semelhantes a Deng Xiaoping em todos os lados. Isso liquidou o Partido, transformando-o num cãozinho de estimação dos imperialistas estrangeiros. O Vietnã atualmente é um Estado policial, uma ditadura burguesa. A economia é fortemente controlada pelos imperialistas ianques e chineses, o estado também possui uma relação de camaradagem com corporações e imperialistas estrangeiros, pois cooperam com eles contra o povo em geral e o proletariado em particular (GRUPO VALE DOS PALMARES, 2025). Ao observar o Vietnã com um olhar marxista, verificamos que depois de uma guerra tão dura contra o imperialismo francês e o arquiimperialismo estadunidense, os que tomaram o poder no Vietnã era mais nacionalistas do que marxistas-leninistas. Aliaram-se a União Soviética e, depois de vitoriosos, criaram o que a URSS propunha para eles: o mesmo modelo soviético a partir de 56, um capitalismo de estado, onde a sociedade torna-se uma grande corporação. É muito diferente tomar como referência um marxista para falar do Vietnã e tomar Breno Altman, Bukharin ou algum pensador vietnamita revisionista como Dai Luoc. O marxismo que deveria ser o ponto de partida sempre esteve no que o presidente Gonzalo disse em 1988: Se olharmos para o Vietnã, o caminho que ele segue é o de um instrumento da União Soviética, que hoje clama por socorro ao imperialismo, com uma economia em crise e ruína; tanto sangue, para quê? Havia um Ho Chi Minh lá, um homem indefinido, como evidenciado em seu famoso testamento, onde ele diz que lhe dói ver a luta dentro do Movimento Comunista Internacional, quando o problema era qual lado tomar na luta entre o marxismo e o revisionismo, e um comunista só tem uma solução: ficar do lado do marxismo; Ho Chi Minh nunca ficou. Então veio Le Duan, um revisionista podre. Daí a situação atual no Vietnã (GONZALO, 2025). A diferença, então, é muito grande para o ponto de vista de Altman e Manoel, que converge para fazer o elogio do Vietnã depois do revisionismo e da “reforma” de Doi Moi, que na realidade transformou o Vietnã, de uma semi-colônia soviética, em uma semi-colônia dos chineses e dos estadunidenses. Igualmente, Jones Manoel, outrora apoiador do ataque do Vietnã contra o Cambodja democrático, parece ter silenciado esse tema intencionalmente, dado o evidente drama humanitário causado por esse ataque, claramente a mando do social-imperialismo soviético –e também pelo fato de nós o termos denunciado com contundência nesse ponto. O que na realidade Altman e Manoel estão elogiando é um capitalismo burocrático pintado de vermelho. Essa hipótese não é sequer aventada por Jones e Altman, o que é exaltado é seu suposto crescimento econômico (mesmo dependente ou explorador da classe operária sob forma de ditadura burguesa). Como explicou o professor César Aprile: Por outro lado, países de capitalismo burocrático “vermelho” como Vietnã e Laos, que não são considerados ameaças diplomáticas ou possuem maior abertura ao capital ocidental, enfrentam menos agressões do arquiimperialismo estadunidense (APRILE, 2023, p. 94). De fato, parece-nos que há um diferente tratamento dado a Cuba e Coreia do Norte e China e Vietnã: esses dois últimos estão incluídos no sistema swift (sistema financeiro internacional) e recebem investimentos dos Estados Unidos e seus aliados. Podemos supor que o Vietnã nem sequer completou a revolução democrática (como Cuba, Laos e, possivelmente, até Coreia do Norte) e todos esses caíram nas garras de um outro imperialismo. Como se lê no texto O Aborto da Revolução: [A ] experiência no Vietnã e em outros lugares demonstrou que o processo de desenvolvimento da revolução democrática burguesa e da revolução socialista envolve tarefas extremamente complexas e difíceis, e que existem muitas armadilhas e obstáculos. Como a luta deve passar pela primeira etapa da luta pela libertação nacional e como a classe trabalhadora e o partido comunista devem tentar unir todos os setores da nação, incluindo muitos elementos capitalistas, que lutarão por esse objetivo, há uma tremenda atração espontânea pela ideologia do nacionalismo, para ver as coisas do ponto de vista dos interesses da nação (na verdade, dos capitalistas da nação), em vez do ponto de vista da classe trabalhadora e seu objetivo final de erradicar a exploração e a opressão em todo o mundo e construir um mundo sem classes. O nacionalismo é uma forma de ideologia burguesa, a perspectiva da classe capitalista. E foi essa ideologia burguesa, primeiro na forma de nacionalismo e depois como revisionismo descarado, que infectou e, por fim, levou a liderança da revolução vietnamita a um beco sem saída — com a consequência de que nem mesmo o primeiro estágio da revolução foi concluído, e o Vietnã caiu nos braços dispostos de mais uma potência imperialista (PCSUA, 2025). E, como podemos ver acima, foi no interesse de uma potência social-imperialista (URSS), no caso, que o Vietnã atacou o Cambodja, ao contrário do que postula uma youtuber governista como Luna Oi, que alinhada ao revisionismo soviético e ao nacionalismo vietnamita, utilizando os piores clichês idênticos aos chavões ocidentais anticomunistas contra Pol Pot e o partido comunista do Cambodja. Podemos definir que socialismo ocorre quando existe economia planificada, cooperativas socialistas no campo e a democracia popular no campo da política. E no campo da política, o que temos? Veja o que diz um pensador do Vietnã citado pelo próprio Jones: O velho socialismo morreu, afirma Dai Luoc não existe mais nenhum país socialista no mundo, apenas nações que estão em transição para esse sistema, o Vietnã é uma delas, mas esse objetivo só é possível com o desenvolvimento riqueza e prosperidade, a garantia de que seguiremos esse processo é o poder político dos trabalhadores (ALTMAN, apud: MANOEL, 2025). O ponto é justamente esse da última linha: não existe mais o poder político dos trabalhadores e sim o oposto, o estado revisionista servindo as corporações sob a forma de capitalismo de estado, uma grande corporação (o que Jones chama de sociedade de comando). Essa reflexão acima nos pareceu ilustrativa e deveria ser levada a sério. Se Jones Manoel a levasse realmente a sério, partiria da hipótese de que Cuba e Coreia Popular estão incluídos nos países que não são socialistas e estão apenas em processo de transição, logo vale debater, sim: (...) E o Vietnã ainda for uma experiência socialista considerando que para mim Cuba e Coreia Popular não existe debate viu assim para mim quem não considera Cuba e Coreia Popular experiências socialistas é isso enfim dá pra gente conversar e tal mas eu acho meio absurdo (MANOEL, 2025). Jones deveria levar em conta que, se não existe mais país socialista no mundo, conforme o pensador vietnamita, então Cuba e Vietnã não são experiências socialistas e sim capitalismos que se dizem em transição ao socialismo –mas notem: são capitalismos, existe burguesia, ainda existe exploração assalariada, então estão “preparando” e não experimentando o socialismo. Ou seja, o debate sobre Cuba e Coreia Popular serem países socialistas hoje não é fora de cogitação, conforme Dai Luoc. O próprio Jones Manoel postou em seu blog um artigo sobre a China chamando “Neoliberalismo com Características Chinesas”? que, ainda que nessa posição errônea e de apologia ao revisionismo como a de agora, ao menos deixa entrever a hipótese, ao nosso ver correta, de que Deng Siaoping e seu regime são apenas capitalismo (neoliberalismo) com características chinesas. A cegueira de Jones quanto ao drama da invasão do Cambodja democrático, no entanto, parece ter diminuído devido a uma série de vídeos nossos direcionados a ele, alguns com audiência bastante significativa. Sendo assim, temos: negação das cooperativas no campo em prol da pequena propriedade, que é a base do capitalismo no campo em um país capitalista desenvolvido. E nega-se, acima, que exista socialismo no Vietnã e sim, possivelmente, assume que existe escravidão assalariada e o capitalismo de estado na atualidade. Na realidade, a Doi Moi representou o final de um processo de vitória da linha oportunista de direita do partido começada com a morte de Ho Chi Minh em 1969 e, com ela, a restauração total do capitalismo no Vietnã. O centrismo de Ho Chi Minh no grande debate e sua negação do marxismo quando da luta do marxismo contra o revisionismo preparou o caminho para a vitória do oportunismo e do revisionismo. O imperialismo estadunidense conciliou-se em grande parte com o país e colocou-o no sistema financeiro internacional, passando também a investir capital no Vietnã. Mas por que tanta conivência de Jones Manoel, professor e ativista comunista com a “fábrica exploradora global” que é o Vietnã e ainda alguém que se diz comunista ficar exaltando um crescimento econômico semi-colonial? Pela simples razão que tanto Breno Altman quanto Jones preconizam o mesmo caminho para o Brasil: o caminho do desenvolvimento burocrático-latifundiário feudal. Breno Altman e Jones apenas imaginam que poderiam fazer parte dessa burocracia gestora, na prática capitalista, conciliadora com o imperialismo yankee, o social-imperialismo chinês e até o imperialismo russo, mas com disfarce eficaz de “comunista”. Querem posições confortáveis na gerência desse capitalismo burocrático pintado de vermelho. E pior: para os maoistas vietnamitas, mesmo a semifeudalidade não foi superada no país. E isso converge com a opinião de Elias Jabbour a respeito: em seu livro sobre China, ele argumentou, discretamente, que existem resíduos “pré-capitalistas” em “áreas rurais atrasadas” no Vietnã e na China. 2.Lógica de mercado e sem planejamento soviético Jones, em outros vídeos, deixa bem claro alguns pontos acima expostos. Ele se nega a comentar sobre o Cambodja, como fez anteriormente, mas se opõe ao ataque da China ao Vietnã –mas uma coisa só aconteceu devido a outra. Jones acredita no revisionismo vietnamita, mas não considera a invasão de Cambodja algo desastroso ou reacionário, uma guerra de agressão inspirada pelo social-imperialismo soviético. Ele, que já falou sobre o assunto, agora a omite. Igualmente, Jones mesmo comentou que mesmo o setor estatal do Vietnã “segue a lógica do mercado”. Mas não há, nesse estágio da economia capitalista, livre mercado: existe a economia mundial dominada por grandes monopólios, uma boa parte associada ao arquiiimperialismo americano, um imperialismo que dominou os demais, outros nem tanto. O que se chama “Brics”, para um marxista, é associação entre dois imperialismos, o imperialismo russo e o social-imperialismo chinês (esse seria seu núcleo, os demais países são semicoloniais). O que não quer dizer que ambos não estejam, até certo ponto, ainda tendo que negociar e se dobrar ao arquiimperialismo estadunidense. Ou seja: o setor estatal segue a lógica capitalista e logo, burguesa e com selo de classe contra o proletariado. Ao mesmo tempo Jones mostra-se seguro de que no Vietnã existe socialismo afirmando ter certeza de que “a burguesia não tem influência no partido”. Se as estatais seguem a lógica do mercado, é um indício claro de que as estatais já comportam-se abertamente como burguesas e os dirigentes estatais, como parte das classes dirigentes e dos patrões. Na União Soviética esta tendência já foi estudada: Ainda que a organização empresarial seja uma organização monopolista, a empresa estatal do revisionismo soviético tem sido desde muito tempo uma empresa capitalista. Nas em presas do revisionismo soviético, as massas trabalhadoras tem sido rebaixadas de donas das empresas a escravos da burguesia monopolista burocrática. Os diretores das empresas são agentes do grupo dirigente do revisionismo soviético. De acordo com as normas de “Regulação das Empresas de Produção do Estado Socialista”, o diretor da empresa exerce a “faculdade de contratar e demitir pessoas e toma decisões quanto aos prêmios e castigos para os funcionários da empresa”. Tem a autoridade para fixar os salários e as bonificações da organização e dos trabalhadores, e também para vender ou alugar os meios de produção da empresa. Em suma, ainda que sem o truste, o diretor e chefe de planta são já patrões que tem todas as faculdades nas empresas estatais, enquanto as massas trabalhadoras são já escravas da burguesia monopolista burocrática. Agora, com o truste como organização monopolista, a burguesia monopolista burocrática pode fortalecer seu controle sobre o pulso da economia nacional da União Soviética. Esta grande burguesia de novo tipo, fazendo uso das empresas do Estado e dos trustes, controla e se aproveita do Estado, utiliza a arrecadação tributária e os ganhos recebidos para roubar sem medida os frutos do trabalho do trabalhador soviético, para financiar o extravagante estilo de vida dos poucos capitalistas monopolistas, reprimindo o povo soviético, levando a agressões e seguindo uma política social-imperialista (PCCH, 2025). Sendo assim, foi esse o modelo de empresas estatais acima que a URSS exportou depois de 1956 para o Vietnã, mas numa conjuntura em que o Vietnã caiu no domínio de outro imperialismo. Podemos supor, então, que a transição da revolução democrática para a socialista é acidentada e cheia de obstáculos e recuos. Um obstáculo é o nacionalismo, que tem de ser entendido como ideologia burguesa e que acabou, no final desse processo, facilitando o revisionismo e a exploração da classe trabalhadora. E quando ouvimos a youtuber vietnamita Luna Oi, observamos o quanto é difícil enfrentar e desmentir todas essas propagandas do governo e outros tópicos falaciosos. Luna Oi é uma youtuber que produz conteúdo governista é bastante diferente, implica em censura, cerceamento, processos e prisão. A liberdade de imprensa no Vietnã é muito cerceada. Ao contrário de Jones Manoel, é bastante descarada a defesa que Luna Oi faz da invasão do Cambodja aliado do social-imperialismo russo, indicando, inclusive, o filme Primeiro Mataram Meu Pai, filme que toma o partido escancarado do imperialismo yankee no episódio. Luna Oi, youtuber governista, faz apologia de anticomunismo mais gritante. A posição de Jones foi também de apoio obsceno às agressões do social-imperialismo russo: É nesse contexto que surge Pol Pot e o Khmer Vermelho. Não temos a mínima intenção defendê-lo. Seu governo foi genocida e autoritário. Mas não foi uma deriva necessária da ideologia comunista. A lunática idéia de Pol Pot de deportação em massa da cidade para o campo foi resultado de fugas em massa do campo para a cidade para fugir dos bombardeios dos EUA. Uma sociedade destruída, arrasada e com a imensa maioria do seu povo vítima de violências brutais produz fenômenos aberrantes como Pol Pot. O Khmer Vermelho também comprava armas do governo neoliberal de Margaret Thatcher (que não tinha quaisquer problemas em vender). O presidente do EUA Ronald Reagan, outro neoliberal, também apoiou nas sombras o Khmer Vermelho, pois ele em seu confronto com o Vietnã enfraquecia o campo socialista na Ásia (MANOEL, 2014). Ao mesmo tempo, Jones Manoel afirmou também que no Vietnã “nunca teve o planejamento soviético” e sim “economia de comando”. Mas o que seria essa “economia de comando”, senão um capitalismo de estado, um sistema corporativista? E o pior: na conjuntura de um capitalismo burocrático pintado de vermelho, conforme muito bem explicou o professor Aprile. Em dado momento de outro vídeo, Jones Manoel admitiu que o Vietnã não segue o que Marx previu como sendo a transição para o socialismo em Crítica do Programa de Gotha. O que Marx falava para a transição era estatizar os meios de produção – e é evidente que o Vietnã está privatizando e não estatizando. E tampouco tem ditadura do proletariado –Jones evita cuidadosamente esse termo, utilizando, na melhor das hipóteses, o termo “poder popular”, utilizado usualmente em Cuba. Mas o que efetivamente o Vietnã não segue e está nesse texto? Com certeza não segue a ditadura do proletariado; se não segue, é ditadura da burguesia. Não há outra alternativa, não há outros “socialismos”, os outros são a burguesia em evolução. O próprio Jones admite que o Vietnã não tem nem planejamento econômico ao estilo soviético e nem as cooperativas socialistas, substituídas desde 1986 pelo minifúndio. E podemos colocar em dúvida se mesmo antes essas cooperativas não eram meramente fazendas estatais capitalistas e, antes de privatizadas depois de 1986, muitas empresas não eram apenas parte de um capitalismo de estado em país de capitalismo associado a algum imperialismo, ou seja, capitalismo burocrático. 3.Conclusão Jones, em seus textos e vídeos sobre Vietnã, não definiu o que ele chamou de socialismo e seu ponto de partida teórico. O que se tem são as reflexões de um liberal conivente (Breno Altman) com a transformação do país na “fábrica exploradora global”, caminho do capitalismo burocrático e latifundiário que Jones seguiu e desenvolveu de forma conivente. Enquanto Jones e Altman exaltam o capitalismo burocrático pintado de vermelho, sonhando em um dia gerenciar algo semelhante no Brasil, verificamos o quanto o nacionalismo é uma ideologia burguesa e que complica a transição da revolução democrática para a revolução socialista. A experiência vietnamita mostra o quanto essa transição tem idas e vindas, tendo o nacionalismo como um ingrediente complicador, uma vez que é ideologia burguesa. Podemos dizer, então, que o Vietnã nem sequer completou a revolução democrática e caiu nas garras do social-imperialismo soviético (o Cambodja e o Laos seria uma situação semelhante). Tivemos, então, a tragédia: o Vietnã, de guerra de libertadora em tudo semelhante a uma guerra popular maoista, transformou-se em um agressor contra o Cambodja apoiado por uma potência imperialista de fato e socialista de boca –ou seja, uma enorme tragédia e um retrocesso que buscamos entender aqui como foi possível. Podemos dizer que, então, ao não definir socialismo, Jones Manoel abriu para que o critério para conceituar socialista seja chamar os seus aliados de socialistas por critérios obscuros, ou seja, critérios oportunistas. Não se importou, portanto, que o Vietnã não tenha tanto o planejamento econômico, a ditadura do proletariado e as cooperativas socialistas no campo. E nem levou em conta a reflexão do próprio pensador vietnamita citado: não existem países socialistas hoje, apenas países capitalistas que afirmam estar em transição ao socialismo, o que é uma hipótese para ser posta em dúvida. Se Cuba e Coreia Popular estão somente em transição, abre-se a necessidade de debater o fato de que ainda não são experiências socialitas. De acordo com nossas reflexões, essas transições são apenas promessas vãs realizadas por partidos revisionistas que, ao lado de grandes corporações imperialistas, impõem uma ditadura capitalista aos seus povos. 4.Bibliografia: APRILE, César Alexandre da Silva. O Novo Paradigma do Imperialismo. São Paulo: SP, 2023. CAP Chu Van; Tạp chí Cộng Sản. Tradução de Gabriel Deslandes. Consenso sobre a economia ‘socialista de mercado’ do Vietnã <>. ESPÍRITO SANTO JÚNIOR. Lúcio Emílio. >>. <>. __________________________________.<>. <>. GONZALO. Entrevista do Século. São Paulo: Ciências Revolucionárias, 2023. GRUPO VALE DOS PALMARES. Entrevista com o Servir ao Povo (Vietnã): Comunistas em um País Revisionista. >. PCCH. O Capitalismo Monopolista de Estado é a Principal Base Econômica do Social-Imperialismo. <> PCUSA. Vietnam, Miscarriage of Revolution. The magazine Revolution, vol. 4, #7 8, July/August 1979, published by the Revolutionary Communist Party, USA. <>. LUNA OI. <>. <>. MANOEL, Jones. Chegou o momento de falar do Vietnã. <>. ________________. Vietnã: um país forjado na guerra e na luta anticolonial. <>. MANOEL, Jones. SONNENBERG, Victória Hissa Hirosue. Neoliberalismo com características chinesas? Notas sobre a estratégia de desenvolvimento chinês. <>

quarta-feira, 16 de julho de 2025

O Náufrago do Socialismo

O livro Náufrago da Utopia (editora Geração Editorial), publicado em 2005 pelo ex-integrante da Vanguarda Popular Revolucionária de Lamarca, Celso Lungaretti não tem um título muito bom, pois ele não é um náufrago do socialismo utópico, não é “utopia” e sim ciência, mas do socialismo cientifico. Os pontos mais interessantes do livro estão na parte especificamente da militância revolucionária do autor, bem como suas considerações sobre teoria e prática. Se sua reconstrução como jornalista dos monopólios é pouco interessante, sem dúvida nesse livro ele provou um ponto, uma obsessão: a área da guerrilha rural teria sido entregue para ele, enquanto ele entregou aos militares, sob tortura, apenas uma área desativada, mas que, por azar, tinha voltado a ser utilizada por Lamarca. Por mais que Celso tenha fraquejado ao passar informações e aceitar o arrependimento público, de forma alguma creio que é justificável a atitude de Lamarca de dar entrevista para a imprensa estrangeira condenando a ele e a Massafumi. Trata-se de uma grotesca confusão entre frustrações pessoais e os interesses do grupo revolucionário. O fato é que há lições históricas a tirar dessa situação. Justiça seja feita, Lungaretti acertou ao prever nos anos 90 que Lula no poder desembocaria em um golpe militar (ainda que frustrado, por hora). Lungaretti tem o mérito de ter continuado na esquerda, o que não aconteceu com muitos de seus contemporâneos, como, por exemplo, o economista burguês Pérsio Arida. Depois da fase revolucionária, a voltagem do livro baixa e Celso passou a trabalhar em antros como O Estado de São Paulo, foi chamado de “traidor da revolução” em partidos oportunistas e eleitoreiros, esteve em agências de publicidade vendendo porcarias, perdeu-se nas drogas em comunidades alternativas onde delirava com conspirações contra ele por parte de um “Stálin” imaginário, entre outras trapalhadas e desastres. Altamente desastroso é Lungaretti, além de defender sua inocência, defender a de Trotsky (conforme pesquisas do professor Grover Furr, comprovadamente um traidor). Em outros textos, ele vai além, elogiando um Hermínio Sachetta, figura suspeita e elogiada até por Boris Casoy (que na revista O Cruzeiro saiu como um integrante do Comando de Caça aos Comunistas, mau jornalismo, segundo Casoy, que processo Lungaretti por bafejar essa matéria ainda hoje). A parte mais valiosa e atual, que são as discussões numa organização revolucionária, é importante porque apresenta dilemas que até hoje não enfrentamos e resolvemos. Em determinado momento, Lungaretti queixa-se de que Lamarca “não sabia o beabá do marxismo”. Mas será que Lungaretti não falha nesse mesmo ponto, exatamente? Leia-se o seguinte: Se percebesse onde desemboca o conceito de ditadura do proletariado, decerto ficaria conflitado. Mas, acredita que a posição marxista seja exatamente a defendida por Lênin no mais libertário dos seus textos, sem imaginar que a prática do mestre tenha sido bem diferente nos primeiros anos da URSS (LUNGARETTI, 2008, p. 67). Lungaretti, como Gabeira, parece o tempo todo investir na ideia de ter tido uma “visão” de que a luta armada estava perdida, o marxismo ortodoxo era apenas a saída disponível, etc. Mas onde desemboca esse conceito de ditadura do proletariado? Lungaretti parece pensar que camarilhas como a de Castro, Kruschev e Brejnev são na verdade produto do conceito de ditadura do proletariado. Aí existe a ideia de que: 1) Lênin seria contra a ditadura do proletariado em O Estado e a Revolução e que esse texto seria passível de uma leitura anarquista, propondo o fim do estado após a revolução; 2) a prática de Lênin nos primeiros anos da URSS (1917-24) seria diferente de sua teoria (no mau sentido, no sentido de traí-la). Lungaretti elencou O Estado e a Revolução ao lado de Fantasma de Stálin de Sartre e A Rússia Depois de Stalin, de Isaac Deutscher, dois livros trotskistas e antileninistas, misturando alhos e bugalhos. Sartre tinha acabado de voltar da URSS, onde diz ter experimentado “total liberdade de expressão”, mas por oportunismo, dizendo que sua filosofia é situacional, escreveu um livro trotskista e rompeu com o PC francês. E a partir daí ele prosseguiu: “De Deutscher a Sartre vem a visão de como o Estado se desvirtuara na União Soviética, subjugando a classe operária em vez de libertá-la. Júlio percebe que a URSS antevista nesses livros é tão odiosa quanto o ogro norte-americano” (LUNGARETTI, 2008, p. 67). O erro acima é situar em que momento histórico o estado tornou-se estado burguês; Lungaretti erra ao situar no período Stálin, pois foi a partir do revisionismo de 56 com Kruschev; só que justamente quando isso aconteceu o discurso antistalinista de Deutscher e Sartre chegou ao poder, ainda que não atribuído a eles; um discurso bastante semelhante. Lungaretti afirma que a VPR foi a primeira organização brasileira a considerar a União Soviética uma potência imperialista. No entanto, não avançou na compreensão de que Cuba era linha soviética também. Lamarca adaptou o foquismo, mas não fez a crítica necessária da teoria cubana original. Os quadros permaneceram nas cidades, onde a repressão é sempre maior. Sem essa guerrilha, talvez não tivéssemos nem o efêmero milagre brasileiro. Sem resistência, o neoliberalismo veio nos anos 90 e enraizou-se no poder, estando até hoje. Ele demonstrou saber que a vitória não advém de um grupo de guerrilheiros armados, salvadores da pátria, mas da convergência de todas as lutas, não da guerrilha rural em si, que ele pensava como algo móvel tal como o cangaço ou coluna Prestes. No entanto, surgem vários problemas, tais como qual seria a base de apoio dessa coluna, já que ele não pensa em “embasamento na região” –ele menosprezou, então, como no foquismo, as bases de apoio. Outros erros estão em pensar que o Brasil é país capitalista avançado e não existem relações feudais no campo. São erros fatais inspirados por um não- marxista chamado Gunder Frank e outros da nociva “teoria da dependência”, pois levaram a deixar os quadros nas cidades, não atacando o já doente semifeudalismo, a serem esmagados onde a repressão sempre era maior. Esse debate não deixou de ser atual, pois o país mais e mais se reprimarizou e está nas mãos de latifundiários, fazendo nascer reflexos macabros como o oito de janeiro. Outro momento rico é o debate entre militaristas e massistas, no qual ocorre o péssimo manejo da luta das duas linhas, resolvida com o racha. Lungaretti associou-se aos militaristas, os que desejam fazer a guerrilha rural e abandonar o trabalho de massas, trabalho esse bastante fraco e que poderia fazer cair todo o restante da organização. Não entregou comida de nenhum supermercado sequer, nem lutou ao lado dos que lutavam pela terra no campo. Seus gestos eram espetaculares, mas sem resultados efetivos para a continuidade da luta. O debate das Teses do Jamil, de autoria do professor Ladislau Dowbor, levantou um ponto interessante: mesmo a luta por nacional-desenvolvimentismo no Brasil sempre será barrada e será colocada a questão do desenvolvimento no socialismo. Em suma, estado de bem-estar social brasileiro, seja inspirado em Vargas ou Saint-Simon, sempre será um fracasso e ficará numa encruzilhada: ou radicaliza para o socialismo ou retrocede aderindo a perspectiva de apenas gerenciar a situação colonial, negando sua natureza reformista em ambos os casos. Uma vez ao assumir como gerente semicolonial, o nacional-desenvolvimento será barrado; o período Vargas foi uma exceção histórica com data de vencimento. O texto de Lungaretti valeu, então, por trazer à luz pontos ainda hoje não resolvidos no pensamento marxista brasileiro: a inviabilidade do nacional-desenvolvimentismo, que fatalmente evoluirá, diante das circunstâncias, para um socialismo ou abrirá mão de seu programa por inaplicável. Lungaretti confunde leninismo com trotskismo, sem saber que mesmo Sartre também mudou de uma posição simpática à URSS para uma próxima dos trotskistas; ele jamais chega a avaliar que trotskismo é errôneo e o faz descrer do marxismo e o levou a um anarquismo muito ultrapassado. A teorização equivocada de “Brasil feudal” e “capitalista completo” é equivocada, mas o debate que introduz, de militaristas (que queriam guerrilha rural) e massistas (queriam luta de massa nas cidades), trouxe uma questão chave, fora a necessidade de manejo da luta entre duas linhas. Igualmente importante é assinalar a desconfiança que Brizola deve sempre inspirar na esquerda revolucionária, nunca se iludindo que o trabalhismo possa ser vanguarda numa luta da esquerda revolucionária, nunca se deve acreditar neles tomando a dianteira. A formulação da guerrilha rural, ao ser abordada por Lungaretti, deixou totalmente de lado a questão do latifúndio e da condição semifeudal. O foquismo foi criticado de forma insuficiente: não se sabia que era a linha soviética mesmo assim que se estava seguindo, acreditou-se ingenuamente numa “linha cubana” — e estava-se também ligando-se a uma potência capitalista tão detestável quanto o imperialismo yankee. Os métodos de Lamarca eram ruins, como dar entrevistas expondo chagas internas da guerrilha, seu manejo da luta de duas linhas, insuficiente.

terça-feira, 15 de julho de 2025

A Campanha das Cem Flores: Educação e os Intelectuais na China entre 1951-57

A Campanha das Cem Flores: Educação e os Intelectuais na China entre 1951-57 Bruna Barbara Silva Basílio Resumo Esse artigo busca debater a educação e os intelectuais na China nos anos 50, período anterior ao Grande Salto Adiante. O artigo irá debater a relação controversa e entre o Partido Comunista Chinês e os intelectuais, em especial, em relação a escritores: Wu Xun, Yu Pingbo e Hu Feng, escritores que acabaram combatidos pelo partido e associados ao liberalismo. Esses escritores chineses foram combatidos por campanhas do partido. Wu Xun é hoje considerado o pioneiro da educação pública chinesa. Igualmente, iremos falar sobre como essa Campanha ficou ligada à chamada Campanha dos Cem Flores (conhecida na China como Campanha da Retificação), seguida pela Campanha Antidireitista. Especialmente interessante é a trajetória dos indivíduos criticados pelo partido, tais como Wu Xun. Ele é um dos símbolos do liberalismo chinês e por isso é um filme inspirado em sua vida foi o primeiro filme proibido na República Popular da China. Há todo um contexto envolvendo essa radicalização, como a participação da esposa de Mao e de Mao mesmo no processo. Wu foi pioneiro da educação pública chinesa e hoje teve sua reputação restaurada, após um período de banimento durante a revolução cultural chinesa. A ´partir daí, podemos entender como formou-se a moderna pedagogia chinesa. Palavras-chave: China, educação, escritores, intelectuais, pedagogia Summary This article seeks to discuss education and intellectuals in China in the 1950s, the period before the Great Leap Forward. The article will discuss the controversial relationship between the Chinese Communist Party and intellectuals, especially in relation to writers: Wu Xun, Yu Pingbo and Hu Feng, writers who ended up being fought by the party and associated with liberalism. These Chinese writers were opposed by party campaigns. Wu Xun is now considered the pioneer of Chinese public education. Likewise, we will talk about how this Campaign became linked to the so-called Campaign of the Hundred Flowers (known in China as the Rectification Campaign), followed by the Anti-Rightist Campaign. Especially interesting is the trajectory of individuals criticized by the party, such as Wu Xun. He is one of the symbols of Chinese liberalism and so it is a film inspired by his life, it was the first film banned in the People's Republic of China. There is a whole context surrounding this radicalization, such as the participation of Mao's wife and Mao himself in the process. Wu pioneered Chinese public education and has now had his reputation restored after a period of banishment during the Chinese Cultural Revolution. 'From there, we can understand how the modern Chinese pedagogy was formed. Keywords: China, education, writers, intellectuals, pedagogy 1.Introdução O interesse desse período chinês e o dessa pesquisa deve-se ao fato de que existe muito pouco material em português. Nesse período surgiram grandes campanhas de caráter educativo, campanhas essas que marcam a política educativa do estado chinês até hoje, daí a importância em estudá-las. A educação chinesa da República Popular da China foi marcada pelas grandes campanhas populares de caráter educativo. Campanhas como essa existem até hoje, mas em menor escala. Hoje em dia o cidadão é menos estimulado a criticar autoridades. Na história da China, a tendência é ocorrer uma abertura de crítica ao sistema e, logo a seguir, um fechamento. O último movimento nesse sentido ocorreu nos anos 80. O sistema, no entanto, não estimulou tanto a crítica ás autoridades como nos anos 60. Testadas em menor escala nos anos 50, com a Campanha de Retificação e a Campanha Antidireitista, as grandes campanhas educativas, com grande participação da população, mostraram a vitalidade e a capacidade dos socialistas chinesas de conseguirem grandes feitos. De certa forma, as campanhas dos anos 50 foram um embrião da Grande Revolução Cultural Proletária que ocorreu a partir dos anos 60. 2. Campanha Contra Wu Xu A primeira controvérsia na década de 50 foi em torno de Wu Xu, educador chinês que viveu entre 1838 e 1896. O livro A Vida de Wu Xu, filme lançado em 1950, contou a vida desse educador e fez grande sucesso na China. Inicialmente, as recepções foram calorosas. Wu originalmente era Wu Qi. Nasceu em Wuzhuang, hoje parte do condado de Guan. Depois da morte de seu pai, Wu ficou só e muito pobre, sem poder frequentar a escola local. Wu, então, passou a defender publicamente a educação gratuita universal. Ele pedia contribuições, vivendo como um mendigo sem endereço fixo. No entanto, mesmo assim, estudou por contra própria e reuniu algum dinheiro e mostrou grande talento para empreendimentos comerciais. Tornou-se, então, um empresário. Ao tornar-se grande fazendeiro, criou suas próprias escolas, todas beneficentes, voltadas para a caridade. O nome Xun foi uma homenagem da corte imperial a ele (dinastia Quing), ocorrida posteriormente. Wu Xun foi venerado com um templo memorial no condado de Guan e ele foi celebrado como um herói adepto das ideias do sábio chinês Confúcio. O espírito de Wu Xun virou sinônimo de ideal de progresso através da educação, bem como as ideais tradicionais de serviço confucionistas. Após recepção positiva, surgiram críticas ao filme sobre a vida de Wu Xun, que foi tida como contrarrevolucionária por intelectuais do partido. A esposa de Mao, posteriormente uma líder que presidiu o país, iniciou uma campanha contra o filme e contra o reformismo burguês representado por Wu Xu. Mao, inspirado por Jiang Qing, foi denunciado como promotor da cultural feudal. Os críticos ligados ao Partido Comunista Chinês diziam que a história tinha sido falsificada e que Wu era, na verdade, um latifundiário que estava sendo mistificado, o que resultava na promoção da cultura feudal. Por fim, o filme acabou proibido. Na Revolução Cultural, houve novamente uma tentativa de destruir o culto de Wu. Ele foi julgado como contrarrevolucionário e seus restos mortais, queimados publicamente pelos Guardas Vermelhos. Depois da morte de Mao e da derrubada da esposa em 1976, a reputação de Wu foi restaurada. O jornal Diário do Povo tocou no assunto em 1985, ajudando Wu a recuperar seu prestígio como educador e ídolo do liberalismo chinês. Na atualidade, com a reputação de Wu restaurada, o filme foi exibido em sessão privada em 2005 lançado em DVD em 2012. Mao Tsé pessoalmente criticou Wu como sendo um liberal em cujo programa de alfabetização considerava-se que a revolução não era necessária. Foi o primeiro caso de uma campanha contra um filme na República Popular da China, e isso depois do filme ter entrado entre os dez melhores filmes daquele ano de 1950. A partir daí, o partido passou a interferir na indústria do cinema chinesa. A reputação do filme e de Wu Xun só foram completamente restauradas em 1986. 3. Campanha contra Yu Bingbo Outro caso de uma campanha ocorreu contra Yu Pingbo (1900-1990), um ensaísta, poeta, historiador e crítico literário. Foi um estudioso seguidor de Hu Shih, que não era apoiador do comunismo, o que comprometeu Yu Pingbo posteriormente, pois Hu Shih chegou a escrever contra os comunistas. Depois da revolução de 49, quando Yu Pingbo estava como professor em Pequim, a ordem era reinterpretar os clássicos do pensamento e da cultura chinesa com as ideias de Marx e do materialismo histórico. Em 1923, Yu publicou uma crítica a Sonho do Quarto Vermelho, dando força à interpretação de que os primeiros oitenta capítulos do original Sonho do Quarto Vermelho tinham sido escritos por Cao Xuegin e os demais por Gao. Ele estabeleceu, então, um novo campo de estudo que, basicamente, reforçou o movimento de Nova Cultura que substituiria a antiga cultura chinesa por uma versão ocidentalizada. O texto Águas de Primavera, publicado ao lado de “Diário de um Louco” de Lu Xun no jornal A Juventude, foi considerado uma das primeiras composições a serem escritas em vernáculo chinês contemporâneo. Uma crítica ao estudo de Li Pingbo foi promovida por Mao Tsé Tung de dois estudantes recém-formados para poder criticar o idealismo de Hu Shih, grande mestre de Pingbo. Mao escreveu pessoalmente uma carta aos dois estudantes, elogiando sua coragem ao criticar uma autoridade estabelecida, “uma grande peruca burguesa”, no entender de Mao. A Revolução Cultural Chinesa foi muito marcada por atitudes como essa: alguém, mesmo num estrato inferior, numa perspectiva hierarquicamente mais baixa, sem efetivamente estar consolidado profissionalmente e sendo jovem, podia ativamente criticar uma autoridade estabelecida. O critério da origem de classe e da necessidade da classe operária dirigir tudo era muito levado em conta, para além dos meros critérios técnicos. Para o entendimento pedagógico maoísta, que influencia o moderno sistema educacional e pedagógico chinês, como se pode ver no filme Rompendo com Velhas Ideias (1976) e no Livro Vermelho de Mao Tsé, a teoria não pode ser dissociada da prática, ambas sempre devem andar juntas. Uma grande intensidade dramática é o que podemos encontrar em Rompendo com Velhas Ideias, um filme da República Popular da China -que foi um país socialista até 1976- e cuja filmagem ocorreu durante o Grande Proletariado Revolução Cultural daquela nação (1966-1976), liderada pelo ex-presidente Mao Tse Tung. Lançado em 1975, sob a direção de Wenhua Li, é considerado uma das poucas obras cinematográficas que ampliou a visualização da importância de transformar o antigo ensino em uma educação proletária, científica a serviço do povo. No decorrer da história, destaca-se o tema central, a reforma da educação e em seu caráter essencial e peremptório pôr fim aos problemas da classe trabalhadora da cidade e do campo, onde esta última é a que apresenta com mais dificuldades, que são muito diversas, tanto para aquele contexto quanto para o momento atual. Resistir na busca por métodos populares de ensino para construir tijolo por tijolo a nova sociedade foi a missão dos líderes, que apesar das incessantes barreiras impostas pela burguesia, levantaram essa luta aplicada unindo a teoria à prática. Ressaltando o título deste filme, segue-se que devemos romper com velhas ideias. 4. Campanha contra Feng Xuefeng Feng Xuefeng (1903-1976) foi um escritor e ativista chinês que, após ter contribuído significativamente para a crítica literária socialista, era membro importante do partido comunista chinês, era também especialista no escritor Lu Xun, mas foi acusado de contrarrevolucionário e passou o final da vida sob perseguição. Como Feng era um militante antigo e consagrado do partido comunista chinês, redigiu editoriais críticos ao governo e, a seguir, foi rotulado de contrarrevolucionário. Foi, então, pego na Campanha Antidireitista e obrigado a passar por reeducação pelo trabalho. Posteriormente, em 61, foi absolvido. Não conseguiu, no entanto, terminar o romance que ambicionava escrever sobre a Longa Marcha. Viveu até 1976, quando morreu de câncer no pulmão. Igualmente, o escritor e crítico literário Hu Feng (1902-1985), militante histórico do Partido Comunista, tinha uma teoria literária própria e que recusava as formas nacionais, consideradas historicamente ligadas ao confucionismo. Nisso, ele entrava em choque com Mao Tse Tung e outras autoridades. Ele foi, no entanto, reabilitado parcialmente em 1980 e, postumamente, totalmente reabilitado em 1988. 5. Campanha da Retificação ou das Cem Flores O nome da campanha foi tirado de uma fala histórica, ainda do tempo da monarquia, quando foi proclamada a liberdade de pensamento e de religião e, por fim, prevaleceram o confucionismo e o taoísmo. Depois das campanhas contra escritores e intelectuais em geral, pode-se dizer que o partido viu que foi longe demais e proclamou que todos apresentassem suas críticas. Muitas eram apresentadas nas escolas em grandes murais chamados dazibaos. Os intelectuais estavam, devido ás campanhas anteriores, muito afastados do partido. Como as críticas foram ganhando força, o partido lançou, logo a seguir, a Campanha Antidireitista, que prendeu e processou muitos intelectuais, educadores e escritores entre 1957-59. Mao, ao abrir a Campanha das Cem Flores, fez uma alusão ao período da história chinesa chamada período dos reinos combatentes. A Campanha Antidireitista direcionou-se muito contra as críticas que supostamente não eram construtivas. Afetaram muito os educadores chineses que tinham estudado e permanecido ligado a instituições ocidentais. Muitos deles foram processados e punidos, por vezes reenviados para campos de reeducação no campo. Por essa época, Mao Tsé Tung afirmou, em frase posteriormente recolhida no Livro Vermelho: A única via para resolver as questões de natureza ideológica ou as controvérsias no seio do povo é o uso do método democrático, da discussão, da crítica, persuasão e educação, e nunca o uso de métodos de coerção ou repressão (MAO TSE TUNG, 2004, p. 49). Como explicou Mao, a educação do povo tem que ter em vista que surgem contradições entre os comunistas e o povo, mas que devem ser resolvidas de forma que os comunistas possam distinguir entre si mesmos e a burguesia, bem como entre a verdade e o erro. Pode-se dizer que, se não forem sanadas, essas contradições tornam-se, de não-antagônicas, em antagônicas. Essa era a explicação de Mao para o fenômeno do levante popular contra um governo de democracia popular como a Hungria em 1956: essas contradições não haviam sido identificadas e tratadas a tempo. A explicação que Mao deu é que, mesmo nas sociedades socialistas, apresentam-se as ideias burguesas e pequeno-burguesas. O dilema passa ser entre continuar com a ditadura do proletariado ou restaurar o capitalismo e a burguesia. A resposta dada, e que norteou as campanhas e a educação chinesa dos anos 60 até 1976, mas ainda com reflexos hoje em dia, foi a necessidade do debate democrático. A ideologia burguesa não deveria ser impedida de manifestar-se, deve ser dada a oportunidade, para então ser combatida com argumentos e críticas apropriadas. As ideias errôneas são como as ervas daninhas, devem ser arrancadas e, para isso, deve ser usado o método dialético, com análise científica e argumentação convincente. 6. Conclusão Pode-se dizer que, através dessa pesquisa, ficamos sabendo mais sobre uma tema a respeito do qual há muito pouco material em português: as campanhas movidas contra intelectuais considerados contrarrevolucionários no período 1951-57. Especialmente interessante para nossa área de atuação foi a história da vida de Wu Xu, educador chinês considerado o ídolo dos reformistas burgueses e liberais chineses, filme proibido em 1950 na República Popular da China. Posteriormente, nos anos 80, Wu Xu teve sua reputação restaurada e o filme saiu em DVD e passou a passar em sessão privada na China. As questões envolvendo a educação, literatura e pedagogia chinesas, como pudemos observar nessa pesquisa, envolvem a opção realizada por grandes campanhas nacionais de caráter educativo desde os anos 50. Aqui foi analisada a primeira dessas campanhas, a campanha de Retificação, conhecida também como Campanha das Cem Flores. Ela foi seguida pela Campanha Antidireitista. Os intelectuais acima citados foram todos criticados e punidos na Campanha Antidireitista. A Campanha dos Cem Flores evocava uma raiz histórica, um período onde floresceram várias linhas de pensamento no tempo da monarquia. Há também a hipótese de que Mao e seu grupo desejavam, com isso, saber quem eram os inimigos do comunismo. Sendo assim, deixar as cobras saírem de suas tocas seria um objetivo dessa campanha, daí a punição logo a seguir. No entanto, através dos dazibaos (grandes cartazes com jornais) sem dúvida a crítica chegou às massas. O período da Campanha Antidireita coincide com a leitura do Relatório Kruschev na URSS e o levante húngaro de 1956, eventos que o partido julgou ameaçadores. No entanto, houve um consenso de que havia contradições no seio do povo e que deveriam ser resolvidas através da educação e não da repressão. A Revolução Cultural, ocorrida nos anos 60, foi um desdobramento que gerou novas grandes campanhas educativas, campanhas que existem até hoje. Essas campanhas marcam uma grande diferença entre o socialismo tecnocrático da União Soviética e o socialismo chinês. Os chineses sempre convocavam as massas para suas realizações. 7. Referências: AUDREY, Francis. China: 25 anos, 25 séculos. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1976. BUENO, André. A visão chinesa do passado em Beltrão, Cláudia (org.) A busca do antigo. Rio de Janeiro: Nau, 2011, p.19-23. LINK, Perry. 23 de julho de 2007. Legado de uma injustiça maoísta. O Washington Post . pág. A19. MA, Ron. Art for Politics’ Sake: The Reasons and Progress of the Criticism Campaign Against The Life of Lu Xun. >. <>, MITTER, Rana. China Moderna. Porto Alegre: L&PM, 2011. SHU, Sheng. Os intelectuais e a China maoísta. Curitiba: Apris, 2019. SINOBABBLE. Let the Hundred Flowers Blossom? >. <>, SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. TUNG, Mao Tsé. O Livro Vermelho. São Paulo: Martin Claret, 2004.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Cuba: Contrapunto al Mito

Cuba: contrapunto al mito Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior Cuba: contrapunto al mito Primera edición - 2025 Escrito por: Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior Revisión: Lúcio Emílio do Espírito Santo Junior Proyecto gráfico: Gabriel Dos Anjos Diseño: Gabriel dos Anjos Para mi madre, mi padre y amigos Márcio, Gabriel y los demás del grupo de estudio del profesor Lúcio Junior. ÍNDICE 1. Introducción: Socialismo ficticio ............................................................... 8 2. La dolorosa lección de Cuba ................................................................. 13 3. Del focismo al bolivariismo .................................................................... 51 4. ¿Qué nos proporciona Youvarismo ....................................................... 58 4.1-Cuál es la teoría del guevarismo? ............................................ 59 4.2-¿Cuáles son las enseñanzas? .................................................. 60 4.3-¿Qué dicen tus seguidores? ..................................................... 62 4.4-¿Quién hace la revolución? ..... ................................................ 65 4.5-Las fuerzas del movimiento ...................................................... 68 4.6-Idealismo y verdades eternas.................................................... 68 4.7-Fochismo: "Eje principal" de la lucha armada ........................... 71 4.8-El focismo no tiene nada en común con la guerra Popular ........ 73 4.9-¿La organización de la vanguardia armada o de clase? ........... 75 5- Pluralismo ideológico o hegemonía proletaria? ...................................... 78 6- sobre el estado: ¿Quién? Anarquistas o Revisionistas? ........................ 80 6.1- Los "creadores marxistas" ................................................................... 82 6.2- Pequeño internacionalismo burgués o Internacionalismo proletario.... 84 6.3- Nacionalismo como programa ..............................................................89 7- Economía política: la dulce forma del neocolonialismo ........................ 118 7.1- La concentración del poder político……………………………………. 121 7.2- Cómo el imperialismo soviético mantiene a Cuba en la línea............ 126 7.3- La composición social del Partido………………………………………137 7.4- ¿Dónde están las mujeres? ¿Dónde están los negros? ................... 140 7.5- El papel de los trabajadores en la planificación y la gestión141 7.6- Cuba: arma alquilada para imperialismo social Soviet ..................... 145 7.7- El papel de Cuba en Etiopía ............................................................. 151 7.8- más cerca de casa: Cuba y los sandinistas ...................................... 157 8- Inversión estratégica en Cuba: Castro aumenta La tapa.......................161 8.1- Castro apoya a los fascistas argentinos .......................................... 163 8.2- El neocolonialismo del imperialismo social Soviet ............................ 233 9- La transformación del camino socialista de la liberación nacional En una ruta capitalista................................................................................................... 241 10-La humillación de Cuba por ser un apéndice para el Social-Imperialismo .................................................................................................................... 243 11-Conclusión ............................................................................................ 251 12- Bibliografía ........................................................................................... 254 13-videografía .............................................. 259 "No creemos nada más que ciencia, significa que no es necesario tener mitos. Ya sea para los chinos o extranjeros, son los vivos y los muertos, lo que es justo es justo, lo que está mal está mal, de lo contrario tienes el mito. Mao tsetung Introducción: socialismo ficticio En julio del 2021, se publica por primera vez en televisión, la presencia de una izquierda, demostraciones de protesta cubana en las calles, engran parte, jóvenes pidiendo "libertad" y resultó ser noticia el arresto de varias de ellas. La manifestación había escalado en violencia y terminó en el desfalco de algunas tiendas. El blog de uno de los prisioneros nombrado “El blog Comunista” publicó que en 2023 hubo una migración de 90 000 cubanos, en su mayoría jóvenes, la mayor migración desde 1981. Es a esta coyuntura que este libro busca responder, criticando la línea cubana por la línea china. Cuba respondió mejor que la mayoría de los países a Coronavirus Public Health Wires-Cov-2, que se originó en China en diciembre de 2019. Sin embargo, cuando Cuba cerró las puertas a los turistas como con la propagación del virus potencialmente mortal, su economía ya asombrosa salió de las vías y el PIB se desplomó 11 por ciento para 2020, según datos gubernamentales. Para empeorar las cosas, a fines de 2020, la administración Trump impuso nuevas sanciones económicas, incluidas las limitaciones en el uso del dinero de los Estados Unidos, un elemento clave para su economía. A pesar de que tienen estos tiempos inciertos, Raúl Castro siguió siendo fiel a su palabra y renunció como el Secretario General del Partido en el octavo Congreso del Partido Cubano en abril de 2021, diciendo que se estaba retirando con la sensación de "cumplir su misión y seguro en el futuro de la patria". Fue reemplazado como Secretario General por Díaz-Canel. En 2021, varios factores se combinaron con una tormenta perfecta en Cuba: Trump evitó el dinero de Cuba, la pandemia y la falta de turismo durante dos años comprometieron la economía del país: el desempleo, la escasez de alimentos, entre otros temas, mostraron que el problema no es solo el embargo estadounidense. Los jóvenes, por su parte, muestran actitudes de jactancia hacia el régimen, ya que se producen los géneros primarios y los recortes de energía frecuentes. ¿Cómo llegaron a esta situación?; las exportaciones de Cuba son productos principales. Esto manifiesta una situación semi-colonial. ¿Cómo se puede transitar del semicolonialismo a una revolución supuestamente socialista?. En Cuba, miles de jóvenes asocian la ideología comunista con represión y pobreza. Paradójicamente, la propaganda de la burguesía burocrática estatal cubana ha sido efectiva para hacer que las personas crean que el desastre económico actual y la política represiva contra todos los tipos de disidencia es parte del socialismo. Desafortunadamente, incluso frente a estos hechos, un sector considerable de la juventud cubana está decidido a asumir una postura neoliberal frente a este escenario, con la esperanza de que después de eso habrá tiempos de abundancia. "Nada puede ser peor que esto", es una frase común entre los jóvenes cubanos que les resulta imposible existir una Cuba con una crisis económica de megamagnitud y un gobierno peor. La prohibición expresa de otras organizaciones, la imposibilidad de difundir físicamente la propaganda política y crítica, de reunirse legalmente para articular propuestas independientes, o ejercer críticas en medios abiertos: periodistas privados de medios privados para los medios oficiales, se exponen a una fuerte presión y acoso por los mecanismos estatales, los mecanismos estatales, significa que cualquier intento de lucha revolucionaria contra el supuesto socialismo dominante, se produce en un escenario clandestino. Por otro lado, décadas de burocratización política y los factores enumerados anteriormente desmovilizaron a la clase trabajadora cubana, causando el crecimiento de la apatía y el miedo a cualquier propuesta de oposición. Existe la hipótesis de que la razón principal por la cual Cuba no es socialista (y nunca lo fue) radica en que nunca se regía por un proletariado revolucionario decidido a transformar la economía del capitalismo en el comunismo. Es decir, la importancia de este aspecto (o principio) de lo que realmente es el socialismo, este principio maoísta. Por supuesto, las condiciones objetivas significaban que una transformación completa para el comunismo solo en Cuba estaba fuera de discusión. (Por lo general, los marxistas creemos que esto solo puede completarse en todo el mundo). Sin duda, muchos más pasos en esta dirección podrían haberse tomado. La oposición de Castro a la gran revolución cultural proletaria en China y su apoyo al capitalismo estatal soviético habla por sí mismos. Y todos los cambios en la sociedad cubana apuntan a la dirección del capitalismo monopolístico de estilo occidental, nunca en el comunismo. En nuestro libro debatimos algunos tabúes sobre Cuba: ¿cómo fue el proceso de aprobar la revolución democrática a la revolución socialista en Cuba, si el socialismo desaparecía desde 56 en la Unión Soviética? Nuestra hipótesis es que esta transición no sucedió. Suponemos que la revolución cubana era un embrión de una revolución democrática, sí, pero de tipo antiguo, es decir, que no pasó al socialismo. Esto contradice la comprensión de casi todo hegemónico que queda en Brasil. ¿Cómo explicar? Nuestra hipótesis es la del presidente Gonzalo: Cuba es un estado burgués más evolucionado donde un paso de la revolución democrática (no se completó) por lo que no es socialismo. Y también debemos una explicación de cómo el revisionismo cubano ha pasado de la teoría de los pies al bolivariismo. 1 El presidente Gonzalo es el seudónimo de la cabeza del partido Comunista de Perú, que fue reconstituido por él en 1978-1979. Abimael Guzmán Reynoso [nombre original] ha sido responsable de la deposición de elementos directitas y revisionistas del Partido Comunista del Perú desde 1960, cuando el revisionismo soviético ha aumentado al poder, predicando el cretinismo parlamentario y el desglose de la lucha revolucionaria. Además, en su viaje revolucionario incluso visitó la China maoísta de la época de la gran revolución cultural proletaria para tomar un curso de formación político-ideológico. Incluso asume que el marxismo-leninismo pensó que Mao Tsetung como la mayor expresión del marxismo de esa época. Más tarde, definirá el maoísmo como la "tercera etapa nueva y superior del marxismo-leninismo". De hecho, demostró la universalidad del maoísmo en la guerra popular prolongada peruana, que ocurrió en la década de 1980-1990, enfrentando el estado reaccionario peruano y contó como el apoyo incluso de la URSS socialista, Alemania Oriental y Corea del Norte con armas, suministros y mucho más. - NE.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Rosemberg Rodrigues de Castro: “Todo Anjo é Terrível”

Rosemberg Rodrigues de Castro: “Todo Anjo é Terrível” Eu, infelizmente, tive pouco contato com essa curiosa figura, Rosemberg, falecido em março passado aos 64 anos de pneumonia, curiosamente pouco tempo antes do amigo Célio Luquini. Esse amigo tão bem definido por essa frase de Rilke, citada pelo poeta hondurenho Fabricio Estrada: “todo anjo é terrível”. Célio e Rosemberg parecem ter combinado a partida. Rosemberg foi uma figura que faz lembrar Pantagruel, o gigante comilão da peça de Rabelais, como o amigo Laender, também já falecido. Triste isso. A gente vai envelhecendo e os amigos vão morrendo. É como Millôr Fernandes falou: “caminho aflito: tantos amigos já granito”. Anos atrás, em 2009, quando o presidente de Honduras, pequeno país da América Central, foi deposto num golpe e escondeu-se na embaixada do Brasil, criando uma crise diplomática para o presidente Lula, indiquei ao Rosemberg um blog da resistência ao golpe em Honduras, o “Bitácora del Párvulo”. Rosemberg reproduziu postagens desse blog, de autoria do poeta Fabricio Estrada, ativista “melista” (o nome do presidente era Mel Zelaya). Algum tempo depois, o presidente Zelaya saiu do país, mas tempos depois voltou e sua esposa Xiomara é hoje a presidenta do país. O poeta e dono do blog mandou o seguinte recado para mim nessa ocasião, no ano de 2009: “Lúcio: Quanto mais espalharmos a nossa voz, mais conseguiremos resistir. O Brasil precisa entender perfeitamente que Honduras é seu litoral mais próximo, um território livre que busca se aproximar a cada dia de uma América Latina praticamente fragmentada.” Rosemberg era radialista autodidata e personalidade destacada da diminuta esquerda local. Ele no passado foi do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) junto com Célio Luquini e atualmente era lulista. Durante muito tempo trabalhou na prefeitura junto ao meu tio Bil, no tempo do Célio, bem como na rádio Difusora. Tínhamos muitas diferenças. Revendo seus vídeos e blog lembro-me que Rosemberg era apaixonado por Bom Despacho e sua política, ele a vivia intensamente. Rosemberg criticava-me dizendo que eu não tinha a paixão pela política de Bom Despacho como ele, ficava mais interessado na revolução na Nicarágua. O que não deixa de ser excelente observação! Eu retruquei chamando Rosemberg de “Montanha”, pois em alemão seu nome significa “Montanha de Rosas”. Eu queria fazer um blog que fosse Observatório da Imprensa local, assumindo o papel da odiada figura do “ombudsman”. Obtive muitas reclamações de muita gente. Ele puxou-me a orelha. Rosemberg, então, contou-me que existia uma regra de ouro de comportamento não escrita no jornalismo local: eu poderia fazer qualquer coisa, menos criticar ou fazer alguma coisa que contrariasse o professor Tadeu de alguma forma (!) Rosemberg tinha uma forma muito curiosa de escrever. Ele fazia umas enumerações assim: “Lúcio + Tadeu + Roberta – Vander =Jornal de Negócios”. Nosso querido “Montanha de Rosas” queixou-se a todo mundo no PT, em esfera estadual, que eu falava só no imperativo, dando ordens. Rosemberg me deu o mesmo apelido de Fidel Castro, o “comandante”. Em 2015, nosso amigo, então jornalista da Câmara, gravou uma participação minha lá e falou de mim como se eu fosse vereador. Na época, por incrível que pareça, estávamos discutindo a vereança gratuita em cidades de menos de 100 mil habitantes, proposta então presente no Plano de Aceleração do Crescimento de Dilma Rousseff. Diante dos acontecimentos recentes, a proposta agora pareceu-me incrível. A participação a favor da vereança gratuita, muito oportuna, continua no youtube (pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=LZio7O3MCyQ). Curiosamente, colegas de escola mandaram mensagens extasiadas comentando que “cheguei à vereança”, equivocados com a legenda amalucada do vídeo –colocada, como sempre, pelo amigo Rosemberg! No facebook, a atuação de Rosemberg era destacada, era novamente o gigante guloso: quando curtíamos algo que ele postava, prontamente ele dominava nossa rede, ele nos marcava em tudo. O nosso facebook passava a ser praticamente dele, só dava ele. Rosemberg tinha tanta admiração pelo Papa Francisco que seu retrato na rede era o Papa dando uma boa risada. Bem a propósito, certa feita enviei a Rosemberg uma entrevista do antigo cardeal Bertone (publicado no site eleconomistaamerica.com.br em 2013) onde o futuro Papa, ainda cardeal Jorge Mario Bergoglio, dizia: “O império da dependência criada por Hugo Chávez, com falsas promessas, mentindo para eles ajoelharem-se diante de seu governo. Dando-lhes o peixe sem deixá-los pescar. Se alguém aprende a pescar na América Latina, é punido e seus peixes confiscados pelos socialistas. Liberdade é punida. A região é controlada por um bloco de regimes socialistas, como Cuba, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Nicarágua. Quem os salvou dessa tirania?” O companheiro Rosemberg até sapateou de raiva, mas eu prezo por perder o amigo, mas não a piada. O tempo dos blogs passou, o do amigo Rosemberg também, mas fica a saudade. O poeta do Bitácora del Párvulo, do qual tanto gostou Rosemberg e até fez postagens a partir dele em seu blog, fez um belo poema que eu reproduzo em homenagem ao amigo falecido, Sou um Homem Morto: Muito bem: como é um homem morto? Quem é que vê e prefere ver um homem morto? Sou um homem morto. Um poeta aniquilado. Um poeta esfumado (bela conquista de Da Vinci - sfumato) Muito bem: tenho poucas horas. Me procuram. Sou uma espiral galáctica que se encerra e busca o núcleo, que se desfaz sobre si mesma, que se contém e logo explode. Sou um homem morto e todos esperam a notícia. Apenas feito menor pela pobreza dos detalhes, a pobreza do obituário...me arde a pouca beleza do meu epitáfio. Não mandarei cartas e revisarão de maneira póstuma o que agora escrevo. Pouca profundidade deu o tempo ao fóssil e assim, os ossos foram pasto de museus, estudo para os sábios, folclore para os humanóides. Levanto cedo e simulo ser cidadão. Mostro a todos a cicatriz dos cravos. Santo Tomás toma de novo sua lança, escava e apenas crê que a morte é o final de uma ilusão. Sou um homem morto. E ninguém acredita.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Dona Sebastiana

O documentário A Filha de São Sebastião (Caturra digital, disponível no youtube no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=6nHORCY-EEE), datado de 2013, focalizou Dona Tiana (Sebastiana Geralda Ribeiro da Silva) matriarca do Quilombo “Carrapatos da Tabatinga”, falecida há alguns anos (2019), na fase madura de sua trajetória. A equipe que realizou o filme foi: Juliana Braga, Luciana Katahira, Larissa Cardoso, José Francisco Duarte e Ana Paula Ferreira de Lima. O documentário contou também com a colaboração de Sandra Maria da Silva, Gabriela Gois, bem como de toda a comunidade Carrapatos da Tabatinga. Em Bom Despacho existem três matrizes afro-brasileiras: Dona Fiota (já falecida) e Marquinhos Bacará com a Língua do Negro da Costa (pesquisada mais a fundo por Benício Cabral e Sônia Queiroz), a matriz de Tiana, Sandra e Graça Epifânio e a de Zé Geraldo. Um dos indicativos de que existiu um quilombo aqui na região é a presença, bastante rara, da Língua do Negro da Costa, a chamada “língua da Tabatinga”. Anos atrás, eu, Tânia Nakamura e equipe da antiga UNIPAC (hoje grupo UNA) e colocamos Dona Tiana em contato com a Fundação Palmares, que já existia desde 1988. Foi uma sintonia maravilhosa, com a comunidade seguindo adiante com suas próprias pernas e prescindindo de nós pesquisadores e intelectuais para travar suas próprias lutas. Sandra, em especial, está organizando um museu em homenagem a Tiana, já foi candidata a deputada pelo PSOL e foi objeto de estudo de dissertações. A Fundação Palmares parte do pressuposto de que todo lugar onde há resistência negra pode ser chamado de quilombo. Desde 2008 ela reconheceu a região da Tabatinga como um território quilombola. Uma das dissertações que enfocou a comunidade é a de Ana Carolina Oliveira Teixeira Vertelo em sua dissertação O Processo de Constituição Identitária dos Moradores do Quilombo Carrapatos da Tabatinga. Em 1966, convidada por Dona Elisa Queiroz, chegou em Bom Despacho no longínquo ano de 1966, em uma das antigas “jardineiras” (antigos ônibus). Ela tinha vindo fazer trabalho de assistência social e sentiu carência de eventos culturais. Passou a morar aqui e montou peças teatrais e grupos de dança. Fundou o corte de reinado Moçambique de São Benedito, bem como uma escola de samba que em 1988 obteve o primeiro lugar no carnaval de Bom Despacho. Esta mulher chamava-se Sebastiana Geralda Ribeiro da filha de São Sebastião, sincretizado na umbanda como orixá Oxóssi. Oxóssi é o grande orixá das florestas e das relações entre o reino animal e vegetal. Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar os corações dos cristãos, enfraquecidos diante das torturas. Por volta do ano 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas, que se tornaram símbolo constante na sua iconografia. Dona Sebastiana recebeu o seu nome em homenagem ao guerreiro mártir, foi batizada pelos seus avós como filha de Oxóssi. Ela era também capitã da guarda de Moçambique, posto que, segundo ela, era apenas ocupado por homens. Dona Sebastiana era mãe-de-santo, revelava verdades sem meias palavras. A fé e a terra eram fontes de força para o dia-a-dia da sua comunidade, que hoje ainda vive com poucos recursos financeiros. Sua primeira atitude foi construir a casa para abrigar seu santo de proteção: São Sebastião, ou Oxóssi, senhor das matas. Dona Tiana alegou que precisou ir até o bispo em Belo Horizonte para poder participar da festa de Reinado local da Igreja Católica (tudo indica, motivado pelo fato de que ela fundou o seu próprio centro espírita de orientação afro), conforme ela alegou em seu depoimento no documentário. Quem teria enfim revertido a situação teria sido Dom Serafim Fernandes de Araújo, que finalmente deu a autorização para que ela pudesse rezar onde queria. A ideia do documentário foi recolher histórias como essa e mostrar a cultura do povo de Tiana através da luta política e assistência social, além da religião, canto e dança. O filme mostrou como Dona Sebastiana aprendeu e criou táticas de sobrevivência para enfrentar a sociedade à sua volta. Ela apresentava-se como líder de comportamento polêmico. Tratava-se do equilíbrio entre alegria, angústia e lutas constantes. Tiana definiu-se como “nêga véia de senzala”. Era uma alma plural, múltipla, que representava um universo curioso de sabedoria. O filme marcou ao mostrar, com bela fotografia, as danças, cantigas, rezas, bençãos, entre tantos outros elementos da cultura popular afro-brasileira. A figura desta mulher inspirou o equilíbrio entre a fé nos milagres, bem como e a triste luta da vida sem esperar por eles. O dilema entre a sabedoria dos santos e a realidade de nunca ter tido a oportunidade de aprender a ler e escrever, retomando aquele debate de Dona Fiota no documentário Eu Tenho a Palavra: Tiana tinha a palavra, o belo discurso e o conhecimento da tradição, mas não tinha o domínio da cultura letrada.

Saulin du Corte: A Importância de Apoiar Nossos Jovens

Saulin du Corte: A Importância de Apoiar Nossos Jovens Recentemente, tivemos e ainda teremos fatos relevantes para a cultura bom-despachense. Estou fazendo aulas de pintura com Carlos Madeira e estarei expondo e vendendo meus quadros em uma exposição no Espaço do Hipermercado Fidélis São José nos dias 10, 11, 12 e 13 de abril. Bem como o lançamento do livro “Doce Vida” de Toninho Saudade, dia 10 de abril, 19 horas, na Biblioteca Pública local. Nos dias 11 e 12 de abril, uma feira literária no Mineirão da Praça da Matriz. Estou otimista com a abertura de novos espaços como Coliseu (antigo Austin), Oie, pizzaria Maragon, bem como ocorreu uma festa preparatória para a Parada LGBTT de Bom Despacho na STA Floricultura: a Parada desse ano promete. Os organizadores afirmaram que a Parada desse ano promete. Nessa conjuntura, é muito importante dar apoio a novos estabelecimentos e iniciativas dos jovens. Há anos dei uma entrevista para o amigo Gustavo Menezes no youtube, muito antes de que eu tivesse um canal nesse meio de comunicação como tenho agora (canal Professor Lúcio Júnior). Nele eu falei dos nomes curiosos de alguns estabelecimentos comerciais em Bom Despacho: a barbearia do Leninho (escreve-se Lênin, o que faz pensar numa homenagem ao revolucionário russo, mas na verdade é apenas um diminutivo carinhoso), a finada “Borracharia do Amor”, dentre outros. E eis que surge o “Saulin du Corte” que é uma barbearia fundada por um jovem barbeiro: Saulo César de Paula Mendonça nasceu em 30 de maio de 2007. O pai chama-se Washington Couto e é mecânico, a mãe chama-se Elaine Silva. Saulo começou em casa a cortar cabelo sozinho. Os pais apoiaram a ideia da barbearia. O primeiro curso foi o que fez com Gleisson Junio Silva, “Sô Gleisson”, barbeiro do São José (Arraial). O curso chamava-se “Fade pigmentação freestyle tesoura e finalizações. O barbeiro educador foi esse mesmo Gleisson, a quem Saulo admira muito. Depois fez curso em Nova Serrana, com Mateus Nogueira. Foi um workshop: “barbearia, um negócio de sucesso”, ministrada por Matheus, Lucas Andrade, Renato Silva, realizado em dezembro de 2023. Saulinho é muito criativo e a barbearia tem uma página no instagram. Gostei bastante de um “reel” de humor que Saulinho fez com um amigo sobre os pensamentos contraditórios do barbeiro e de seu cliente adolescente, o barbeiro quer cobrar um preço que julga baixo e o adolescente acha muito caro e o “reels”, que teve mais de 4000 visualizações, mostra de forma muito bem humorada esse conflito. E fizeram uma produção “ficcional” bem sucedida nessa rede social. A barbearia de Saulin, mais do que um local de prestação de serviços, tornou-se um ponto de encontro. A maioria dos clientes de Saulo são jovens. Saulo sabe fazer os cortes de cabelo da moda, com riscos e desenhos na sobrancelha. A primeira barbearia foi no Jardim dos Anjos, próxima da cadeia. E a segunda, a atual, está no Shopping Assunção. A toda comunidade: apoiar a luta de nossos jovens, apoiar novos estabelecimentos é fundamental. A esse meu jovem amigo, todo sucesso em sua empreitada!

sábado, 8 de março de 2025

O Arquiimperialismo: O Novo Paradigma do Imperialismo

O professor César Aprile da Silva Aprile definiu, nesse livro publicado pelo próprio autor em 2023, um conceito que julgo muito importante: o arquiimperialismo. O livro, editado pelo próprio autor e que comprei na internet, traz reflexões extremamente necessárias. A tese dele é que, depois da Segunda Guerra Mundial, o que emergiu não foi meramente um império convencional do capital, mas algo mais complexo e abrangente, que expandiu a definição do imperialismo, a fase superior do imperialismo. É uma forma de imperialismo nunca antes vista. É um arquiimperialismo, um imperialismo que comanda os outros imperialismos. Isso não acontecia no tempo de Lênin e mesmo no de Stálin não foi identificado com essa intensidade, pois Stálin temia uma revanche de Japão e Alemanha ainda depois da II Guerra Mundial. Curiosamente, o arquiimperialismo impediu que isso acontecesse e inclusive mantêm até hoje tropas yankees nesses dois países. A situação de um imperialismo depender de outra potência imperialista é inédito. Os Estados Unidos não se unem a outros imperialismos para dividir o mundo, são autossuficientes, o que é intrigante. Igualmente César avança bastante ao caracterizar a China como social imperialista usando autores chineses que caracterizaram a União Soviética dessa forma. Ele explica o papel de Cuba em aterrorizar os militares latino-americanos com o perigo do comunismo, focando no exemplo de Cuba, que aliás é bastante eficaz por ter surgido de uma conjuntura aparentemente ingênua de populismo e terminou numa aliança com o social-imperialismo soviético. Cuba é caracterizada como capitalismo burocrático pintado de vermelho. Laos e Vietnã teriam menos conflito com o arquiimperialismo. Coreia Popular seria país de capitalismo burocrático vermelho com uma relação de dependência semicolonial em relação ao capital chinês. César Aprile desmistifica os Brics, explicando que estão, em diversos graus, ainda submetidos ao arquiimperialismo. A Rússia ainda tem contradições internas ligadas ao capitalismo burocrático. O debate sobre a desdolarização ganha relevância, mas não é uma ameaça real para a hegemonia norte-americana. Além da pressão que os Estados Unidos podem fazer ao dominar o dólar, eles também têm um aparato repressivo internacional que exerce poder sem recorrer a uma forma direta. Em determinada altura, Aprile chega a conclusões opostas às de Jabbour: a China ainda não está pronta para eclipsar os EUA como maior economia do mundo em breve. Para superar a hegemonia norte-americana, ela precisaria tornar-se um arqui-social-imperialismo. A China ainda não é uma superpotência no entender de Aprile. Ela também obedece ao arquiimperialismo, aceitando implantar sanções contra Coreia do Norte, prejudicando seus próprios interesses, mas satisfazendo o arquiimperialismo norte-americano. Um conflito entre os USA e a China terminaria em prejuízo econômico para os dois países, mas para a China especialmente. A superação dos Estados Unidos pela China é uma tarefa monumental e incerta. Jabbour, ao exaltar essa situação iminente, foca apenas em dados econômicos e cai no revisionismo. Exalta que a URSS produziu Kruschev, mas a China produziu Deng Siaoping (para ele, esse último seria um salto de qualidade incomparável, um desenvolvimento admirado por ele do revisionismo). Jabbour defende o modelo de capitalismo de estado degenerado chinês como a única saída.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Sobre Cuba

Sobre Cuba O presidente Lula comentou que os operários não participaram nem da revolução cubana e nem da russa e sim classe média. Lula voltou ao velho “obreirismo” que, inclusive, é um problema que ainda retorna nas posturas de um Galo de Luta, que acaba recaindo em algo semelhante: colocar que classe trabalhadora é só o operário industrial e esse setor seria privilegiado em relação aos demais. O fato de Galo de Luta retomar esse mesmo tema em outra clave mostra a incrível persistência desse tópico. Galo de Lula, em debate com Ian Neves, retoma esse obreirismo, chamando Ian Neves, que é professor, de “playboy”, tendo ao lado Chavoso da Usp. Chavoso, posteriormente, retoma o mesmo tema e pondera que pior do que o pobre de direita é o playboy de esquerda. Difícil debater com essa criação tipológica hegeliana pobre sob a égide de Jessé de Souza, cuja ciência social é enviesada para o lulismo e para o âmbito eleitoral. A revolução russa, inclusive, foi puxada pela classe trabalhadora de Leningrado e Moscou, já farta da guerra e das condições insuportáveis derivadas dela. A ela juntaram-se soldados e camponeses, mas foi uma revolução puxada pela classe trabalhadora que chegou a seu limite, já extenuada com o esforço da Primeira Guerra Mundial. Ou seja, Lula errou. E errou mais uma vez a respeito da revolução cubana. Em Santa Clara, episódio lembrado no filme Che, os ferroviários, simpatizantes da revolução, atrasam o trem e conseguem que o grupo de Che intercepte a ajuda para o grupo de Batista em Havana, tornando praticamente impossível a defesa de Havana, que logo a seguir caiu. Poderíamos elencar outros exemplos: a greve geral de 1958, importante ainda que fracassada, o apoio do movimento citadino de Frank País ao foco de Che e Castro, dentre outros exemplos. Che e Castro apagaram a importância do movimento nas cidades depois da revolução, mas há muito registro da importância desse movimento nas cidades. Podemos supor que o movimento de Castro seria esmagado se o Diretório Revolucionário não tivesse atacado o palácio presidencial em 1957. O governo não podia deslocar tropas para o campo depois desse episódio. Chavoso pensa o conceito de playboy de esquerda como o personagem que advoga transformações, mas na prática aceita e pratica neoliberalismo. Ou seja, tem o liberalismo pautando sua mente –no entanto, essa tipologia não se aplica a Ian Neves. A problemática de Ian Neves é o ecletismo, bem como o de João Carvalho.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Jabbour: Uma Resenha de Socialismo do Século XXI

De início, Jabbour e Gabriele não conceituam socialismo conforme Marx definiu em Crítica do Programa de Gotha: ditadura do proletariado (o termo não aparece!). Nem o termo imperialismo parece lhe agradar. Para Jabbour, a referência para socialismo não são os planos quinquenais da URSS dos anos 30, uma forma de democracia direta (os sovietes e guardas vermelhas) nem as cooperativas socialistas; nem a Grande Revolução Cultural Proletária e nem o Grande Salto Adiante. Parece preciosismo, mas Jones Manoel, por exemplo, é da opinião de que existem vários socialismos –e que não é a opinião de Marx e Engels no Manifesto. Aliás, para Jabbour, há tensão entre o Marx militante político e o cientista social. Creio que há, porém, tensão ou mesmo oposição entre o projeto revolucionário de Marx com o que Jabbour pratica e teoriza. Tanto que para ele, não é preciso preocupar-se com a revolução, uma vez que existe a China (?) Essa conclusão é no mínimo mirabolante para um marxista, mas Jabbour a repetiu em uma live com Dilma Rousseff – está presente nesse livro. Talvez não seja para um “marxiano” –mas “marxiano” é, por excelência, um acadêmico que não acredita no projeto. Ou para um marxólogo de Boitempo. Contrariado nesse ponto importante por Jones Manoel, chamou o militante do PCBR de “delinquente político”. O termo “socialismo de mercado” já é inexato. O sistema mercantil sempre existiu na China maoista, ou seja, antes do marco da “modernização” de 1978. O mercado existe desde a antiguidade. Jabbour parece confundir mercado com capitalismo, um equívoco primário, diga-se de passagem. O correto é supor que na China existe um arranjo social-imperialista semelhante à URSS de Kruschev até Gorbachev. Socialismo de boca, imperialismo de fato. Esse arranjo mostrou-se historicamente frágil: quando se destrói o socialismo, restaura-se o capitalismo, aumenta o mal-estar e o sofrimento das massas. Volta a desigualdade social entre regiões, causando choques entre as etnias e grupos religiosos, etc. Ao mesmo tempo em que prossegue o clima de hostilidade com o mundo capitalista e o estado supercontrolador não impondo ditadura do proletariado, mas da burguesia ligada ao estado contra o proletariado. Para poder fazer frente ao risco de desmoronamento e implosão desse arranjo, que a era Gorbachev mostrou, o capitalismo de estado chinês parece ter colocado em primeiro lugar a criação de um ambiente de estar de bem estar social, com oportunidades de emprego. Jabbour tem um título em que diz algo como “não voltamos à estaca zero depois de 1989”. Esse parece ser mesmo o problema. Difícil encarar que não existem países socialistas hoje, bem como Lula não é de esquerda. Postular o oposto é não aceitar a derrota de 1989, é ser nostálgico. Jabbour, na verdade, liga-se a burguesia burocrática, elogia o desenvolvedor do capitalismo burocrático que foi Vargas e outro expoente que representa essa burguesia burocrática, Lula. Jabbour inicia citando Deng Siaoping falando em “forças produtivas”, jogada usada também por Liao Shiao Chi para fazer a contrarrevolução. Em suma, Deng Siaoping pega a frase “desenvolver as forças produtivas e fazer a revolução”, corta a frase e fica apenas nas forças produtivas, desenvolvendo a contrarrevolução graças à prosperidade econômica que lhe permite agir. No decorrer de suas explicações, não há ruptura entre Deng e Mao, ele deixa de lado o golpe de Hua Kuaofeng em 1976, a prisão da velha guarda maoista. Em 1976, no noticiário da época, era bastante corrente a ideia de que não era apenas a esposa de Mao quem estava sendo condenada e sim as ideias de Mao. Essa informação é correta, mas Jabbour passa simplesmente ao largo dela. Jones Manoel também. Jones Manoel teoriza que existe uma virada à esquerda na China de Xi Jinping e que os intelectuais terão, a partir de Losurdo, considerar que a China é socialista novamente. O partido, no entanto, rejeita o conceito de luta de classes. Pode parecer exagero, mas Jabbour em determinado momento considera que Cuba e Costa Rica estão “próximas do ideal do comunismo” porque a expectativa de vida das pessoas dobrou, não há escassez e foi erradicado o analfabetismo. Cuba, realmente, não tem analfabetismo, mas escassez com certeza sim. O racionamento começou em 1961 e nunca acabou. Jabbour, inclusive, considera Cuba socialista e de economia planificada, mas desde 64 a Juceplan, Junta Central de Planificação, foi extinta e unificada com o Ministério da Economia e Planificação. Conforme João Pedro Fragoso, Cuba seguiu o caminho da URSS revisionista de Kruschev, com empresas autônomas, buscando a rentabilidade, sem planificação central. Jabbour, inclusive, considera que a iniciativa privada em Cuba “está prosperando”. Em Cuba, no entanto, como diz o sociólogo Frank Garcia, o modelo chinês não funcionou porque os USA não aceitaram o país no sistema financeiro internacional e não investiram capital como fizeram na China e no Vietnã. O estado tem investido em hotéis, que é rentável, enquanto o país vivencia crise em praticamente todos os domínios. Ao invés de socialismo, levanta a hipótese de que um capitalismo burocrático “vermelho”. Para Jabbour, não existem condições de debater o “socialismo” cubano –na verdade, o revisionismo cubano muito influente no Brasil. Não sei por quê. Não se debate porque a universidade não quer debater, a intelectualidade não quer debater. O que motiva o debate sobre o socialismo chinês são as constantes denúncias de que as leis trabalhistas lá são frouxas, as jornadas de trabalho exaustivas, as denúncias de trabalho escravo constantes. Para piorar, uma denúncia aconteceu recentemente numa empresa chinesa na Bahia, não tendo sido comentada pelos entusiastas da China como Jones Manoel, Humberto Matos e outros revisionistas, tendo virado assunto apenas para o marxólogo anticomunista Luiz Felipe Miguel atacar Jabbour, que responda alegando que não se pode tomar o todo pela parte e voltando a uma habitual sinofilia (e não sinologia), ao algo estilo: “Não precisamos fazer revolução, afinal temos a China, podemos ficar na prostração colonial e neoliberal, apoiar Lula, mesmo se este aprofunda a condição semicolonial e semifeudal do país, afinal, essa prostração também beneficia o social-imperialismo chinês que favoreço”. Sobre semifeudalidade, um escândalo: Jabbour alega que ela existe em áreas atrasadas do Vietnã e da China ainda hoje. Ele não a nomeia, mas fala em “formas pré-capitalistas” que existem no campo até hoje nesses países. Muito surpreendente, pois possivelmente, se existem, foram restauradas na restauração socialista, pois tinham sido extintas com Mao Tsé Tung. O dirigente estatal, na prática, tinha os mesmos poderes de um burguês. Os dirigentes estatais, junto aos militares, são a classe dirigente de Cuba. Cuba não construiu, portanto, o socialismo, é apenas um capitalismo de estado. O conceito é detestado por Jabbour, mas ele existe em Lênin. Igualmente, Jabbour considera países socialistas a República Democrática do Congo, a Venezuela e o Cambodja, que é uma monarquia constitucional! Seria a primeira monarquia socialista do mundo. Jabbour não define socialismo e considera o ideal de comunismo algo irrealizável. Quando se anula essa ideia de avançar para o comunismo, utilizando conceito frouxo de socialismo, fica difícil postular que China está numa “etapa avançada do socialismo”. Se o ideal comunista é irrealizável, se está avançando para onde mesmo? Aí se verifica o problema de retirar, como Cuba retirou de sua Constituição de 2019, o termo “comunismo”. Se não existe esse parâmetro de recuo e avanço, como considerar que avançou? O que é realmente inédito é um exemplo raro de socialismo em termos e imperialismo de fato, algo raro historicamente –e bem diferente da outra experiência em termos de sucesso econômico. O paradigma disso foi a União Soviética de Kruschev até Gorbachev. Jabbour admite que a China exporta capital (um ponto que Lênin que define como uma das características do imperialismo). Mas há mais. A China tomou uma ilha das Filipinas recentemente, em disputas na região. A ilha historicamente é filipina. O país também avançou sobre territórios em litígio no vizinho Nepal. Um impasse presente no livro é a questão de que a base material influencia a política. Se existem estruturas capitalistas, elas teriam de ter um reflexo na superestrutura, na política –e essa Jabbour nega. Bem como nega o aprofundamento das lutas de classe no socialismo –no que ele segue o revisionismo soviético de Kruschev em diante. Ao tratar das privatizações no Laos e no Vietnã, que são linha soviética, Jabbour supõe que acontecem como na Chjina devido a “leis mecânicas”, não cópia ou imitação, seriam leis que atuam no caminho do socialismo. Supomos, no entanto, que é o revisionismo de linha chinesa que tomou um caminho semelhante ao de linha soviética, aprendendo com ele, por exemplo, a não atacar uma figura como Mao como fizeram com Stálin. Mao é refutado na prática, mas nas aparências segue como uma inspiração. Isso tem sido bastante eficaz para esconder a restauração capitalista.