Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
quarta-feira, 16 de julho de 2025
O Náufrago do Socialismo
O livro Náufrago da Utopia (editora Geração Editorial), publicado em 2005 pelo ex-integrante da Vanguarda Popular Revolucionária de Lamarca, Celso Lungaretti não tem um título muito bom, pois ele não é um náufrago do socialismo utópico, não é “utopia” e sim ciência, mas do socialismo cientifico. Os pontos mais interessantes do livro estão na parte especificamente da militância revolucionária do autor, bem como suas considerações sobre teoria e prática. Se sua reconstrução como jornalista dos monopólios é pouco interessante, sem dúvida nesse livro ele provou um ponto, uma obsessão: a área da guerrilha rural teria sido entregue para ele, enquanto ele entregou aos militares, sob tortura, apenas uma área desativada, mas que, por azar, tinha voltado a ser utilizada por Lamarca. Por mais que Celso tenha fraquejado ao passar informações e aceitar o arrependimento público, de forma alguma creio que é justificável a atitude de Lamarca de dar entrevista para a imprensa estrangeira condenando a ele e a Massafumi. Trata-se de uma grotesca confusão entre frustrações pessoais e os interesses do grupo revolucionário. O fato é que há lições históricas a tirar dessa situação. Justiça seja feita, Lungaretti acertou ao prever nos anos 90 que Lula no poder desembocaria em um golpe militar (ainda que frustrado, por hora). Lungaretti tem o mérito de ter continuado na esquerda, o que não aconteceu com muitos de seus contemporâneos, como, por exemplo, o economista burguês Pérsio Arida.
Depois da fase revolucionária, a voltagem do livro baixa e Celso passou a trabalhar em antros como O Estado de São Paulo, foi chamado de “traidor da revolução” em partidos oportunistas e eleitoreiros, esteve em agências de publicidade vendendo porcarias, perdeu-se nas drogas em comunidades alternativas onde delirava com conspirações contra ele por parte de um “Stálin” imaginário, entre outras trapalhadas e desastres. Altamente desastroso é Lungaretti, além de defender sua inocência, defender a de Trotsky (conforme pesquisas do professor Grover Furr, comprovadamente um traidor). Em outros textos, ele vai além, elogiando um Hermínio Sachetta, figura suspeita e elogiada até por Boris Casoy (que na revista O Cruzeiro saiu como um integrante do Comando de Caça aos Comunistas, mau jornalismo, segundo Casoy, que processo Lungaretti por bafejar essa matéria ainda hoje). A parte mais valiosa e atual, que são as discussões numa organização revolucionária, é importante porque apresenta dilemas que até hoje não enfrentamos e resolvemos.
Em determinado momento, Lungaretti queixa-se de que Lamarca “não sabia o beabá do marxismo”. Mas será que Lungaretti não falha nesse mesmo ponto, exatamente? Leia-se o seguinte:
Se percebesse onde desemboca o conceito de ditadura do proletariado, decerto ficaria conflitado. Mas, acredita que a posição marxista seja exatamente a defendida por Lênin no mais libertário dos seus textos, sem imaginar que a prática do mestre tenha sido bem diferente nos primeiros anos da URSS (LUNGARETTI, 2008, p. 67).
Lungaretti, como Gabeira, parece o tempo todo investir na ideia de ter tido uma “visão” de que a luta armada estava perdida, o marxismo ortodoxo era apenas a saída disponível, etc. Mas onde desemboca esse conceito de ditadura do proletariado? Lungaretti parece pensar que camarilhas como a de Castro, Kruschev e Brejnev são na verdade produto do conceito de ditadura do proletariado. Aí existe a ideia de que: 1) Lênin seria contra a ditadura do proletariado em O Estado e a Revolução e que esse texto seria passível de uma leitura anarquista, propondo o fim do estado após a revolução; 2) a prática de Lênin nos primeiros anos da URSS (1917-24) seria diferente de sua teoria (no mau sentido, no sentido de traí-la). Lungaretti elencou O Estado e a Revolução ao lado de Fantasma de Stálin de Sartre e A Rússia Depois de Stalin, de Isaac Deutscher, dois livros trotskistas e antileninistas, misturando alhos e bugalhos. Sartre tinha acabado de voltar da URSS, onde diz ter experimentado “total liberdade de expressão”, mas por oportunismo, dizendo que sua filosofia é situacional, escreveu um livro trotskista e rompeu com o PC francês. E a partir daí ele prosseguiu: “De Deutscher a Sartre vem a visão de como o Estado se desvirtuara na União Soviética, subjugando a classe operária em vez de libertá-la. Júlio percebe que a URSS antevista nesses livros é tão odiosa quanto o ogro norte-americano” (LUNGARETTI, 2008, p. 67).
O erro acima é situar em que momento histórico o estado tornou-se estado burguês; Lungaretti erra ao situar no período Stálin, pois foi a partir do revisionismo de 56 com Kruschev; só que justamente quando isso aconteceu o discurso antistalinista de Deutscher e Sartre chegou ao poder, ainda que não atribuído a eles; um discurso bastante semelhante. Lungaretti afirma que a VPR foi a primeira organização brasileira a considerar a União Soviética uma potência imperialista. No entanto, não avançou na compreensão de que Cuba era linha soviética também.
Lamarca adaptou o foquismo, mas não fez a crítica necessária da teoria cubana original. Os quadros permaneceram nas cidades, onde a repressão é sempre maior. Sem essa guerrilha, talvez não tivéssemos nem o efêmero milagre brasileiro. Sem resistência, o neoliberalismo veio nos anos 90 e enraizou-se no poder, estando até hoje.
Ele demonstrou saber que a vitória não advém de um grupo de guerrilheiros armados, salvadores da pátria, mas da convergência de todas as lutas, não da guerrilha rural em si, que ele pensava como algo móvel tal como o cangaço ou coluna Prestes. No entanto, surgem vários problemas, tais como qual seria a base de apoio dessa coluna, já que ele não pensa em “embasamento na região” –ele menosprezou, então, como no foquismo, as bases de apoio. Outros erros estão em pensar que o Brasil é país capitalista avançado e não existem relações feudais no campo. São erros fatais inspirados por um não- marxista chamado Gunder Frank e outros da nociva “teoria da dependência”, pois levaram a deixar os quadros nas cidades, não atacando o já doente semifeudalismo, a serem esmagados onde a repressão sempre era maior. Esse debate não deixou de ser atual, pois o país mais e mais se reprimarizou e está nas mãos de latifundiários, fazendo nascer reflexos macabros como o oito de janeiro. Outro momento rico é o debate entre militaristas e massistas, no qual ocorre o péssimo manejo da luta das duas linhas, resolvida com o racha. Lungaretti associou-se aos militaristas, os que desejam fazer a guerrilha rural e abandonar o trabalho de massas, trabalho esse bastante fraco e que poderia fazer cair todo o restante da organização. Não entregou comida de nenhum supermercado sequer, nem lutou ao lado dos que lutavam pela terra no campo. Seus gestos eram espetaculares, mas sem resultados efetivos para a continuidade da luta.
O debate das Teses do Jamil, de autoria do professor Ladislau Dowbor, levantou um ponto interessante: mesmo a luta por nacional-desenvolvimentismo no Brasil sempre será barrada e será colocada a questão do desenvolvimento no socialismo. Em suma, estado de bem-estar social brasileiro, seja inspirado em Vargas ou Saint-Simon, sempre será um fracasso e ficará numa encruzilhada: ou radicaliza para o socialismo ou retrocede aderindo a perspectiva de apenas gerenciar a situação colonial, negando sua natureza reformista em ambos os casos. Uma vez ao assumir como gerente semicolonial, o nacional-desenvolvimento será barrado; o período Vargas foi uma exceção histórica com data de vencimento.
O texto de Lungaretti valeu, então, por trazer à luz pontos ainda hoje não resolvidos no pensamento marxista brasileiro: a inviabilidade do nacional-desenvolvimentismo, que fatalmente evoluirá, diante das circunstâncias, para um socialismo ou abrirá mão de seu programa por inaplicável. Lungaretti confunde leninismo com trotskismo, sem saber que mesmo Sartre também mudou de uma posição simpática à URSS para uma próxima dos trotskistas; ele jamais chega a avaliar que trotskismo é errôneo e o faz descrer do marxismo e o levou a um anarquismo muito ultrapassado. A teorização equivocada de “Brasil feudal” e “capitalista completo” é equivocada, mas o debate que introduz, de militaristas (que queriam guerrilha rural) e massistas (queriam luta de massa nas cidades), trouxe uma questão chave, fora a necessidade de manejo da luta entre duas linhas. Igualmente importante é assinalar a desconfiança que Brizola deve sempre inspirar na esquerda revolucionária, nunca se iludindo que o trabalhismo possa ser vanguarda numa luta da esquerda revolucionária, nunca se deve acreditar neles tomando a dianteira. A formulação da guerrilha rural, ao ser abordada por Lungaretti, deixou totalmente de lado a questão do latifúndio e da condição semifeudal. O foquismo foi criticado de forma insuficiente: não se sabia que era a linha soviética mesmo assim que se estava seguindo, acreditou-se ingenuamente numa “linha cubana” — e estava-se também ligando-se a uma potência capitalista tão detestável quanto o imperialismo yankee. Os métodos de Lamarca eram ruins, como dar entrevistas expondo chagas internas da guerrilha, seu manejo da luta de duas linhas, insuficiente.
terça-feira, 15 de julho de 2025
A Campanha das Cem Flores: Educação e os Intelectuais na China entre 1951-57
A Campanha das Cem Flores: Educação e os Intelectuais na China entre 1951-57
Bruna Barbara Silva Basílio
Resumo
Esse artigo busca debater a educação e os intelectuais na China nos anos 50, período anterior ao Grande Salto Adiante. O artigo irá debater a relação controversa e entre o Partido Comunista Chinês e os intelectuais, em especial, em relação a escritores: Wu Xun, Yu Pingbo e Hu Feng, escritores que acabaram combatidos pelo partido e associados ao liberalismo. Esses escritores chineses foram combatidos por campanhas do partido. Wu Xun é hoje considerado o pioneiro da educação pública chinesa. Igualmente, iremos falar sobre como essa Campanha ficou ligada à chamada Campanha dos Cem Flores (conhecida na China como Campanha da Retificação), seguida pela Campanha Antidireitista. Especialmente interessante é a trajetória dos indivíduos criticados pelo partido, tais como Wu Xun. Ele é um dos símbolos do liberalismo chinês e por isso é um filme inspirado em sua vida foi o primeiro filme proibido na República Popular da China. Há todo um contexto envolvendo essa radicalização, como a participação da esposa de Mao e de Mao mesmo no processo. Wu foi pioneiro da educação pública chinesa e hoje teve sua reputação restaurada, após um período de banimento durante a revolução cultural chinesa. A ´partir daí, podemos entender como formou-se a moderna pedagogia chinesa.
Palavras-chave: China, educação, escritores, intelectuais, pedagogia
Summary
This article seeks to discuss education and intellectuals in China in the 1950s, the period before the Great Leap Forward. The article will discuss the controversial relationship between the Chinese Communist Party and intellectuals, especially in relation to writers: Wu Xun, Yu Pingbo and Hu Feng, writers who ended up being fought by the party and associated with liberalism. These Chinese writers were opposed by party campaigns. Wu Xun is now considered the pioneer of Chinese public education. Likewise, we will talk about how this Campaign became linked to the so-called Campaign of the Hundred Flowers (known in China as the Rectification Campaign), followed by the Anti-Rightist Campaign. Especially interesting is the trajectory of individuals criticized by the party, such as Wu Xun. He is one of the symbols of Chinese liberalism and so it is a film inspired by his life, it was the first film banned in the People's Republic of China. There is a whole context surrounding this radicalization, such as the participation of Mao's wife and Mao himself in the process. Wu pioneered Chinese public education and has now had his reputation restored after a period of banishment during the Chinese Cultural Revolution. 'From there, we can understand how the modern Chinese pedagogy was formed.
Keywords: China, education, writers, intellectuals, pedagogy
1.Introdução
O interesse desse período chinês e o dessa pesquisa deve-se ao fato de que existe muito pouco material em português. Nesse período surgiram grandes campanhas de caráter educativo, campanhas essas que marcam a política educativa do estado chinês até hoje, daí a importância em estudá-las.
A educação chinesa da República Popular da China foi marcada pelas grandes campanhas populares de caráter educativo. Campanhas como essa existem até hoje, mas em menor escala. Hoje em dia o cidadão é menos estimulado a criticar autoridades. Na história da China, a tendência é ocorrer uma abertura de crítica ao sistema e, logo a seguir, um fechamento. O último movimento nesse sentido ocorreu nos anos 80. O sistema, no entanto, não estimulou tanto a crítica ás autoridades como nos anos 60.
Testadas em menor escala nos anos 50, com a Campanha de Retificação e a Campanha Antidireitista, as grandes campanhas educativas, com grande participação da população, mostraram a vitalidade e a capacidade dos socialistas chinesas de conseguirem grandes feitos. De certa forma, as campanhas dos anos 50 foram um embrião da Grande Revolução Cultural Proletária que ocorreu a partir dos anos 60.
2. Campanha Contra Wu Xu
A primeira controvérsia na década de 50 foi em torno de Wu Xu, educador chinês que viveu entre 1838 e 1896. O livro A Vida de Wu Xu, filme lançado em 1950, contou a vida desse educador e fez grande sucesso na China. Inicialmente, as recepções foram calorosas.
Wu originalmente era Wu Qi. Nasceu em Wuzhuang, hoje parte do condado de Guan. Depois da morte de seu pai, Wu ficou só e muito pobre, sem poder frequentar a escola local. Wu, então, passou a defender publicamente a educação gratuita universal. Ele pedia contribuições, vivendo como um mendigo sem endereço fixo. No entanto, mesmo assim, estudou por contra própria e reuniu algum dinheiro e mostrou grande talento para empreendimentos comerciais. Tornou-se, então, um empresário. Ao tornar-se grande fazendeiro, criou suas próprias escolas, todas beneficentes, voltadas para a caridade. O nome Xun foi uma homenagem da corte imperial a ele (dinastia Quing), ocorrida posteriormente.
Wu Xun foi venerado com um templo memorial no condado de Guan e ele foi celebrado como um herói adepto das ideias do sábio chinês Confúcio. O espírito de Wu Xun virou sinônimo de ideal de progresso através da educação, bem como as ideais tradicionais de serviço confucionistas.
Após recepção positiva, surgiram críticas ao filme sobre a vida de Wu Xun, que foi tida como contrarrevolucionária por intelectuais do partido. A esposa de Mao, posteriormente uma líder que presidiu o país, iniciou uma campanha contra o filme e contra o reformismo burguês representado por Wu Xu. Mao, inspirado por Jiang Qing, foi denunciado como promotor da cultural feudal. Os críticos ligados ao Partido Comunista Chinês diziam que a história tinha sido falsificada e que Wu era, na verdade, um latifundiário que estava sendo mistificado, o que resultava na promoção da cultura feudal. Por fim, o filme acabou proibido. Na Revolução Cultural, houve novamente uma tentativa de destruir o culto de Wu. Ele foi julgado como contrarrevolucionário e seus restos mortais, queimados publicamente pelos Guardas Vermelhos. Depois da morte de Mao e da derrubada da esposa em 1976, a reputação de Wu foi restaurada. O jornal Diário do Povo tocou no assunto em 1985, ajudando Wu a recuperar seu prestígio como educador e ídolo do liberalismo chinês. Na atualidade, com a reputação de Wu restaurada, o filme foi exibido em sessão privada em 2005 lançado em DVD em 2012.
Mao Tsé pessoalmente criticou Wu como sendo um liberal em cujo programa de alfabetização considerava-se que a revolução não era necessária. Foi o primeiro caso de uma campanha contra um filme na República Popular da China, e isso depois do filme ter entrado entre os dez melhores filmes daquele ano de 1950.
A partir daí, o partido passou a interferir na indústria do cinema chinesa. A reputação do filme e de Wu Xun só foram completamente restauradas em 1986.
3. Campanha contra Yu Bingbo
Outro caso de uma campanha ocorreu contra Yu Pingbo (1900-1990), um ensaísta, poeta, historiador e crítico literário. Foi um estudioso seguidor de Hu Shih, que não era apoiador do comunismo, o que comprometeu Yu Pingbo posteriormente, pois Hu Shih chegou a escrever contra os comunistas.
Depois da revolução de 49, quando Yu Pingbo estava como professor em Pequim, a ordem era reinterpretar os clássicos do pensamento e da cultura chinesa com as ideias de Marx e do materialismo histórico.
Em 1923, Yu publicou uma crítica a Sonho do Quarto Vermelho, dando força à interpretação de que os primeiros oitenta capítulos do original Sonho do Quarto Vermelho tinham sido escritos por Cao Xuegin e os demais por Gao. Ele estabeleceu, então, um novo campo de estudo que, basicamente, reforçou o movimento de Nova Cultura que substituiria a antiga cultura chinesa por uma versão ocidentalizada. O texto Águas de Primavera, publicado ao lado de “Diário de um Louco” de Lu Xun no jornal A Juventude, foi considerado uma das primeiras composições a serem escritas em vernáculo chinês contemporâneo.
Uma crítica ao estudo de Li Pingbo foi promovida por Mao Tsé Tung de dois estudantes recém-formados para poder criticar o idealismo de Hu Shih, grande mestre de Pingbo. Mao escreveu pessoalmente uma carta aos dois estudantes, elogiando sua coragem ao criticar uma autoridade estabelecida, “uma grande peruca burguesa”, no entender de Mao. A Revolução Cultural Chinesa foi muito marcada por atitudes como essa: alguém, mesmo num estrato inferior, numa perspectiva hierarquicamente mais baixa, sem efetivamente estar consolidado profissionalmente e sendo jovem, podia ativamente criticar uma autoridade estabelecida. O critério da origem de classe e da necessidade da classe operária dirigir tudo era muito levado em conta, para além dos meros critérios técnicos.
Para o entendimento pedagógico maoísta, que influencia o moderno sistema educacional e pedagógico chinês, como se pode ver no filme Rompendo com Velhas Ideias (1976) e no Livro Vermelho de Mao Tsé, a teoria não pode ser dissociada da prática, ambas sempre devem andar juntas.
Uma grande intensidade dramática é o que podemos encontrar em Rompendo com Velhas Ideias, um filme da República Popular da China -que foi um país socialista até 1976- e cuja filmagem ocorreu durante o Grande Proletariado Revolução Cultural daquela nação (1966-1976), liderada pelo ex-presidente Mao Tse Tung. Lançado em 1975, sob a direção de Wenhua Li, é considerado uma das poucas obras cinematográficas que ampliou a visualização da importância de transformar o antigo ensino em uma educação proletária, científica a serviço do povo. No decorrer da história, destaca-se o tema central, a reforma da educação e em seu caráter essencial e peremptório pôr fim aos problemas da classe trabalhadora da cidade e do campo, onde esta última é a que apresenta com mais dificuldades, que são muito diversas, tanto para aquele contexto quanto para o momento atual.
Resistir na busca por métodos populares de ensino para construir tijolo por tijolo a nova sociedade foi a missão dos líderes, que apesar das incessantes barreiras impostas pela burguesia, levantaram essa luta aplicada unindo a teoria à prática. Ressaltando o título deste filme, segue-se que devemos romper com velhas ideias.
4. Campanha contra Feng Xuefeng
Feng Xuefeng (1903-1976) foi um escritor e ativista chinês que, após ter contribuído significativamente para a crítica literária socialista, era membro importante do partido comunista chinês, era também especialista no escritor Lu Xun, mas foi acusado de contrarrevolucionário e passou o final da vida sob perseguição.
Como Feng era um militante antigo e consagrado do partido comunista chinês, redigiu editoriais críticos ao governo e, a seguir, foi rotulado de contrarrevolucionário. Foi, então, pego na Campanha Antidireitista e obrigado a passar por reeducação pelo trabalho. Posteriormente, em 61, foi absolvido. Não conseguiu, no entanto, terminar o romance que ambicionava escrever sobre a Longa Marcha. Viveu até 1976, quando morreu de câncer no pulmão. Igualmente, o escritor e crítico literário Hu Feng (1902-1985), militante histórico do Partido Comunista, tinha uma teoria literária própria e que recusava as formas nacionais, consideradas historicamente ligadas ao confucionismo. Nisso, ele entrava em choque com Mao Tse Tung e outras autoridades. Ele foi, no entanto, reabilitado parcialmente em 1980 e, postumamente, totalmente reabilitado em 1988.
5. Campanha da Retificação ou das Cem Flores
O nome da campanha foi tirado de uma fala histórica, ainda do tempo da monarquia, quando foi proclamada a liberdade de pensamento e de religião e, por fim, prevaleceram o confucionismo e o taoísmo.
Depois das campanhas contra escritores e intelectuais em geral, pode-se dizer que o partido viu que foi longe demais e proclamou que todos apresentassem suas críticas. Muitas eram apresentadas nas escolas em grandes murais chamados dazibaos. Os intelectuais estavam, devido ás campanhas anteriores, muito afastados do partido. Como as críticas foram ganhando força, o partido lançou, logo a seguir, a Campanha Antidireitista, que prendeu e processou muitos intelectuais, educadores e escritores entre 1957-59. Mao, ao abrir a Campanha das Cem Flores, fez uma alusão ao período da história chinesa chamada período dos reinos combatentes.
A Campanha Antidireitista direcionou-se muito contra as críticas que supostamente não eram construtivas. Afetaram muito os educadores chineses que tinham estudado e permanecido ligado a instituições ocidentais. Muitos deles foram processados e punidos, por vezes reenviados para campos de reeducação no campo. Por essa época, Mao Tsé Tung afirmou, em frase posteriormente recolhida no Livro Vermelho:
A única via para resolver as questões de natureza ideológica ou as controvérsias no seio do povo é o uso do método democrático, da discussão, da crítica, persuasão e educação, e nunca o uso de métodos de coerção ou repressão (MAO TSE TUNG, 2004, p. 49).
Como explicou Mao, a educação do povo tem que ter em vista que surgem contradições entre os comunistas e o povo, mas que devem ser resolvidas de forma que os comunistas possam distinguir entre si mesmos e a burguesia, bem como entre a verdade e o erro. Pode-se dizer que, se não forem sanadas, essas contradições tornam-se, de não-antagônicas, em antagônicas. Essa era a explicação de Mao para o fenômeno do levante popular contra um governo de democracia popular como a Hungria em 1956: essas contradições não haviam sido identificadas e tratadas a tempo.
A explicação que Mao deu é que, mesmo nas sociedades socialistas, apresentam-se as ideias burguesas e pequeno-burguesas. O dilema passa ser entre continuar com a ditadura do proletariado ou restaurar o capitalismo e a burguesia. A resposta dada, e que norteou as campanhas e a educação chinesa dos anos 60 até 1976, mas ainda com reflexos hoje em dia, foi a necessidade do debate democrático. A ideologia burguesa não deveria ser impedida de manifestar-se, deve ser dada a oportunidade, para então ser combatida com argumentos e críticas apropriadas. As ideias errôneas são como as ervas daninhas, devem ser arrancadas e, para isso, deve ser usado o método dialético, com análise científica e argumentação convincente.
6. Conclusão
Pode-se dizer que, através dessa pesquisa, ficamos sabendo mais sobre uma tema a respeito do qual há muito pouco material em português: as campanhas movidas contra intelectuais considerados contrarrevolucionários no período 1951-57. Especialmente interessante para nossa área de atuação foi a história da vida de Wu Xu, educador chinês considerado o ídolo dos reformistas burgueses e liberais chineses, filme proibido em 1950 na República Popular da China. Posteriormente, nos anos 80, Wu Xu teve sua reputação restaurada e o filme saiu em DVD e passou a passar em sessão privada na China.
As questões envolvendo a educação, literatura e pedagogia chinesas, como pudemos observar nessa pesquisa, envolvem a opção realizada por grandes campanhas nacionais de caráter educativo desde os anos 50. Aqui foi analisada a primeira dessas campanhas, a campanha de Retificação, conhecida também como Campanha das Cem Flores. Ela foi seguida pela Campanha Antidireitista. Os intelectuais acima citados foram todos criticados e punidos na Campanha Antidireitista. A Campanha dos Cem Flores evocava uma raiz histórica, um período onde floresceram várias linhas de pensamento no tempo da monarquia. Há também a hipótese de que Mao e seu grupo desejavam, com isso, saber quem eram os inimigos do comunismo. Sendo assim, deixar as cobras saírem de suas tocas seria um objetivo dessa campanha, daí a punição logo a seguir. No entanto, através dos dazibaos (grandes cartazes com jornais) sem dúvida a crítica chegou às massas. O período da Campanha Antidireita coincide com a leitura do Relatório Kruschev na URSS e o levante húngaro de 1956, eventos que o partido julgou ameaçadores. No entanto, houve um consenso de que havia contradições no seio do povo e que deveriam ser resolvidas através da educação e não da repressão. A Revolução Cultural, ocorrida nos anos 60, foi um desdobramento que gerou novas grandes campanhas educativas, campanhas que existem até hoje. Essas campanhas marcam uma grande diferença entre o socialismo tecnocrático da União Soviética e o socialismo chinês. Os chineses sempre convocavam as massas para suas realizações.
7. Referências:
AUDREY, Francis. China: 25 anos, 25 séculos. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1976.
BUENO, André. A visão chinesa do passado em Beltrão, Cláudia (org.) A busca do antigo. Rio de Janeiro: Nau, 2011, p.19-23.
LINK, Perry. 23 de julho de 2007. Legado de uma injustiça maoísta. O Washington Post . pág. A19.
MA, Ron. Art for Politics’ Sake: The Reasons and Progress of the Criticism Campaign Against The Life of Lu Xun. >. <>,
MITTER, Rana. China Moderna. Porto Alegre: L&PM, 2011.
SHU, Sheng. Os intelectuais e a China maoísta. Curitiba: Apris, 2019.
SINOBABBLE. Let the Hundred Flowers Blossom? >. <>,
SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
TUNG, Mao Tsé. O Livro Vermelho. São Paulo: Martin Claret, 2004.
segunda-feira, 14 de julho de 2025
Cuba: Contrapunto al Mito
Cuba: contrapunto al mito
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
Cuba: contrapunto al mito
Primera edición - 2025
Escrito por: Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
Revisión: Lúcio Emílio do Espírito Santo Junior
Proyecto gráfico: Gabriel Dos Anjos
Diseño: Gabriel dos Anjos
Para mi madre, mi padre y amigos Márcio, Gabriel y los demás del grupo de estudio del profesor Lúcio Junior.
ÍNDICE
1. Introducción: Socialismo ficticio ............................................................... 8
2. La dolorosa lección de Cuba ................................................................. 13
3. Del focismo al bolivariismo .................................................................... 51
4. ¿Qué nos proporciona Youvarismo ....................................................... 58
4.1-Cuál es la teoría del guevarismo? ............................................ 59
4.2-¿Cuáles son las enseñanzas? .................................................. 60
4.3-¿Qué dicen tus seguidores? ..................................................... 62
4.4-¿Quién hace la revolución? ..... ................................................ 65
4.5-Las fuerzas del movimiento ...................................................... 68
4.6-Idealismo y verdades eternas.................................................... 68
4.7-Fochismo: "Eje principal" de la lucha armada ........................... 71
4.8-El focismo no tiene nada en común con la guerra Popular ........ 73
4.9-¿La organización de la vanguardia armada o de clase? ........... 75
5- Pluralismo ideológico o hegemonía proletaria? ...................................... 78
6- sobre el estado: ¿Quién? Anarquistas o Revisionistas? ........................ 80
6.1- Los "creadores marxistas" ................................................................... 82
6.2- Pequeño internacionalismo burgués o Internacionalismo proletario.... 84
6.3- Nacionalismo como programa ..............................................................89
7- Economía política: la dulce forma del neocolonialismo ........................ 118
7.1- La concentración del poder político……………………………………. 121
7.2- Cómo el imperialismo soviético mantiene a Cuba en la línea............ 126
7.3- La composición social del Partido………………………………………137
7.4- ¿Dónde están las mujeres? ¿Dónde están los negros? ................... 140
7.5- El papel de los trabajadores en la planificación y la gestión141
7.6- Cuba: arma alquilada para imperialismo social Soviet ..................... 145
7.7- El papel de Cuba en Etiopía ............................................................. 151
7.8- más cerca de casa: Cuba y los sandinistas ...................................... 157
8- Inversión estratégica en Cuba: Castro aumenta La tapa.......................161
8.1- Castro apoya a los fascistas argentinos .......................................... 163
8.2- El neocolonialismo del imperialismo social Soviet ............................ 233
9- La transformación del camino socialista de la liberación nacional En una ruta capitalista................................................................................................... 241
10-La humillación de Cuba por ser un apéndice para el Social-Imperialismo .................................................................................................................... 243
11-Conclusión ............................................................................................ 251
12- Bibliografía ........................................................................................... 254
13-videografía .............................................. 259
"No creemos nada más que ciencia, significa que no es necesario tener mitos. Ya sea para los chinos o extranjeros, son los vivos y los muertos, lo que es justo es justo, lo que está mal está mal, de lo contrario tienes el mito.
Mao tsetung
Introducción: socialismo ficticio
En julio del 2021, se publica por primera vez en televisión, la presencia de una izquierda, demostraciones de protesta cubana en las calles, engran parte, jóvenes pidiendo "libertad" y resultó ser noticia el arresto de varias de ellas. La manifestación había escalado en violencia y terminó en el desfalco de algunas tiendas.
El blog de uno de los prisioneros nombrado “El blog Comunista” publicó que en 2023 hubo una migración de 90 000 cubanos, en su mayoría jóvenes, la mayor migración desde 1981. Es a esta coyuntura que este libro busca responder, criticando la línea cubana por la línea china. Cuba respondió mejor que la mayoría de los países a Coronavirus Public Health Wires-Cov-2, que se originó en China en diciembre de 2019. Sin embargo, cuando Cuba cerró las puertas a los turistas como con la propagación del virus potencialmente mortal, su economía ya asombrosa salió de las vías y el PIB se desplomó 11 por ciento para 2020, según datos gubernamentales.
Para empeorar las cosas, a fines de 2020, la administración Trump impuso nuevas sanciones económicas, incluidas las limitaciones en el uso del dinero de los Estados Unidos, un elemento clave para su economía. A pesar de que tienen estos tiempos inciertos, Raúl Castro siguió siendo fiel a su palabra y renunció como el Secretario General del Partido en el octavo Congreso del Partido Cubano en abril de 2021, diciendo que se estaba retirando con la sensación de "cumplir su misión y seguro en el futuro de la patria". Fue reemplazado como Secretario General por Díaz-Canel. En 2021, varios factores se combinaron con una tormenta perfecta en Cuba: Trump evitó el dinero de Cuba, la pandemia y la falta de turismo durante dos años comprometieron la economía del país: el desempleo, la escasez de alimentos, entre otros temas, mostraron que el problema no es solo el embargo estadounidense.
Los jóvenes, por su parte, muestran actitudes de jactancia hacia el régimen, ya que se producen los géneros primarios y los recortes de energía frecuentes. ¿Cómo llegaron a esta situación?; las exportaciones de Cuba son productos principales.
Esto manifiesta una situación semi-colonial. ¿Cómo se puede transitar del semicolonialismo a una revolución supuestamente socialista?. En Cuba, miles de jóvenes asocian la ideología comunista con represión y pobreza. Paradójicamente, la propaganda de la burguesía burocrática estatal cubana ha sido efectiva para hacer que las personas crean que el desastre económico actual y la política represiva contra todos los tipos de disidencia es parte del socialismo. Desafortunadamente, incluso frente a estos hechos, un sector considerable de la juventud cubana está decidido a asumir una postura neoliberal frente a este escenario, con la esperanza de que después de eso habrá tiempos de abundancia. "Nada puede ser peor que esto", es una frase común entre los jóvenes cubanos que les resulta imposible existir una Cuba con una crisis económica de megamagnitud y un gobierno peor. La prohibición expresa de otras organizaciones, la imposibilidad de difundir físicamente la propaganda política y crítica, de reunirse legalmente para articular propuestas independientes, o ejercer críticas en medios abiertos: periodistas privados de medios privados para los medios oficiales, se exponen a una fuerte presión y acoso por los mecanismos estatales, los mecanismos estatales, significa que cualquier intento de lucha revolucionaria contra el supuesto socialismo dominante, se produce en un escenario clandestino.
Por otro lado, décadas de burocratización política y los factores enumerados anteriormente desmovilizaron a la clase trabajadora cubana, causando el crecimiento de la apatía y el miedo a cualquier propuesta de oposición. Existe la hipótesis de que la razón principal por la cual Cuba no es socialista (y nunca lo fue) radica en que nunca se regía por un proletariado revolucionario decidido a transformar la economía del capitalismo en el comunismo. Es decir, la importancia de este aspecto (o principio) de lo que realmente es el socialismo, este principio maoísta. Por supuesto, las condiciones objetivas significaban que una transformación completa para el comunismo solo en Cuba estaba fuera de discusión. (Por lo general, los marxistas creemos que esto solo puede completarse en todo el mundo). Sin duda, muchos más pasos en esta dirección podrían haberse tomado. La oposición de Castro a la gran revolución cultural proletaria en China y su apoyo al capitalismo estatal soviético habla por sí mismos. Y todos los cambios en la sociedad cubana apuntan a la dirección del capitalismo monopolístico de estilo occidental, nunca en el comunismo. En nuestro libro debatimos algunos tabúes sobre Cuba: ¿cómo fue el proceso de aprobar la revolución democrática a la revolución socialista en Cuba, si el socialismo desaparecía desde 56 en la Unión Soviética? Nuestra hipótesis es que esta transición no sucedió. Suponemos que la revolución cubana era un embrión de una revolución democrática, sí, pero de tipo antiguo, es decir, que no pasó al socialismo. Esto contradice la comprensión de casi todo hegemónico que queda en Brasil. ¿Cómo explicar? Nuestra hipótesis es la del presidente Gonzalo: Cuba es un estado burgués más evolucionado donde un paso de la revolución democrática (no se completó) por lo que no es socialismo. Y también debemos una explicación de cómo el revisionismo cubano ha pasado de la teoría de los pies al bolivariismo.
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El presidente Gonzalo es el seudónimo de la cabeza del partido Comunista de Perú, que fue reconstituido por él en 1978-1979. Abimael Guzmán Reynoso [nombre original] ha sido responsable de la deposición de elementos directitas y revisionistas del Partido Comunista del Perú desde 1960, cuando el revisionismo soviético ha aumentado al poder, predicando el cretinismo parlamentario y el desglose de la lucha revolucionaria. Además, en su viaje revolucionario incluso visitó la China maoísta de la época de la gran revolución cultural proletaria para tomar un curso de formación político-ideológico. Incluso asume que el marxismo-leninismo pensó que Mao Tsetung como la mayor expresión del marxismo de esa época. Más tarde, definirá el maoísmo como la "tercera etapa nueva y superior del marxismo-leninismo". De hecho, demostró la universalidad del maoísmo en la guerra popular prolongada peruana, que ocurrió en la década de 1980-1990, enfrentando el estado reaccionario peruano y contó como el apoyo incluso de la URSS socialista, Alemania Oriental y Corea del Norte con armas, suministros y mucho más. - NE.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
Rosemberg Rodrigues de Castro: “Todo Anjo é Terrível”
Rosemberg Rodrigues de Castro: “Todo Anjo é Terrível”
Eu, infelizmente, tive pouco contato com essa curiosa figura, Rosemberg, falecido em março passado aos 64 anos de pneumonia, curiosamente pouco tempo antes do amigo Célio Luquini. Esse amigo tão bem definido por essa frase de Rilke, citada pelo poeta hondurenho Fabricio Estrada: “todo anjo é terrível”. Célio e Rosemberg parecem ter combinado a partida. Rosemberg foi uma figura que faz lembrar Pantagruel, o gigante comilão da peça de Rabelais, como o amigo Laender, também já falecido. Triste isso. A gente vai envelhecendo e os amigos vão morrendo. É como Millôr Fernandes falou: “caminho aflito: tantos amigos já granito”. Anos atrás, em 2009, quando o presidente de Honduras, pequeno país da América Central, foi deposto num golpe e escondeu-se na embaixada do Brasil, criando uma crise diplomática para o presidente Lula, indiquei ao Rosemberg um blog da resistência ao golpe em Honduras, o “Bitácora del Párvulo”. Rosemberg reproduziu postagens desse blog, de autoria do poeta Fabricio Estrada, ativista “melista” (o nome do presidente era Mel Zelaya). Algum tempo depois, o presidente Zelaya saiu do país, mas tempos depois voltou e sua esposa Xiomara é hoje a presidenta do país. O poeta e dono do blog mandou o seguinte recado para mim nessa ocasião, no ano de 2009: “Lúcio: Quanto mais espalharmos a nossa voz, mais conseguiremos resistir. O Brasil precisa entender perfeitamente que Honduras é seu litoral mais próximo, um território livre que busca se aproximar a cada dia de uma América Latina praticamente fragmentada.”
Rosemberg era radialista autodidata e personalidade destacada da diminuta esquerda local. Ele no passado foi do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) junto com Célio Luquini e atualmente era lulista. Durante muito tempo trabalhou na prefeitura junto ao meu tio Bil, no tempo do Célio, bem como na rádio Difusora. Tínhamos muitas diferenças. Revendo seus vídeos e blog lembro-me que Rosemberg era apaixonado por Bom Despacho e sua política, ele a vivia intensamente. Rosemberg criticava-me dizendo que eu não tinha a paixão pela política de Bom Despacho como ele, ficava mais interessado na revolução na Nicarágua. O que não deixa de ser excelente observação! Eu retruquei chamando Rosemberg de “Montanha”, pois em alemão seu nome significa “Montanha de Rosas”. Eu queria fazer um blog que fosse Observatório da Imprensa local, assumindo o papel da odiada figura do “ombudsman”. Obtive muitas reclamações de muita gente. Ele puxou-me a orelha. Rosemberg, então, contou-me que existia uma regra de ouro de comportamento não escrita no jornalismo local: eu poderia fazer qualquer coisa, menos criticar ou fazer alguma coisa que contrariasse o professor Tadeu de alguma forma (!)
Rosemberg tinha uma forma muito curiosa de escrever. Ele fazia umas enumerações assim: “Lúcio + Tadeu + Roberta – Vander =Jornal de Negócios”. Nosso querido “Montanha de Rosas” queixou-se a todo mundo no PT, em esfera estadual, que eu falava só no imperativo, dando ordens. Rosemberg me deu o mesmo apelido de Fidel Castro, o “comandante”. Em 2015, nosso amigo, então jornalista da Câmara, gravou uma participação minha lá e falou de mim como se eu fosse vereador. Na época, por incrível que pareça, estávamos discutindo a vereança gratuita em cidades de menos de 100 mil habitantes, proposta então presente no Plano de Aceleração do Crescimento de Dilma Rousseff. Diante dos acontecimentos recentes, a proposta agora pareceu-me incrível.
A participação a favor da vereança gratuita, muito oportuna, continua no youtube (pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=LZio7O3MCyQ). Curiosamente, colegas de escola mandaram mensagens extasiadas comentando que “cheguei à vereança”, equivocados com a legenda amalucada do vídeo –colocada, como sempre, pelo amigo Rosemberg!
No facebook, a atuação de Rosemberg era destacada, era novamente o gigante guloso: quando curtíamos algo que ele postava, prontamente ele dominava nossa rede, ele nos marcava em tudo. O nosso facebook passava a ser praticamente dele, só dava ele. Rosemberg tinha tanta admiração pelo Papa Francisco que seu retrato na rede era o Papa dando uma boa risada. Bem a propósito, certa feita enviei a Rosemberg uma entrevista do antigo cardeal Bertone (publicado no site eleconomistaamerica.com.br em 2013) onde o futuro Papa, ainda cardeal Jorge Mario Bergoglio, dizia: “O império da dependência criada por Hugo Chávez, com falsas promessas, mentindo para eles ajoelharem-se diante de seu governo. Dando-lhes o peixe sem deixá-los pescar. Se alguém aprende a pescar na América Latina, é punido e seus peixes confiscados pelos socialistas. Liberdade é punida. A região é controlada por um bloco de regimes socialistas, como Cuba, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e Nicarágua. Quem os salvou dessa tirania?” O companheiro Rosemberg até sapateou de raiva, mas eu prezo por perder o amigo, mas não a piada. O tempo dos blogs passou, o do amigo Rosemberg também, mas fica a saudade. O poeta do Bitácora del Párvulo, do qual tanto gostou Rosemberg e até fez postagens a partir dele em seu blog, fez um belo poema que eu reproduzo em homenagem ao amigo falecido, Sou um Homem Morto:
Muito bem: como é um homem morto?
Quem é que vê e prefere ver um homem morto?
Sou um homem morto.
Um poeta aniquilado.
Um poeta esfumado (bela conquista de Da Vinci - sfumato)
Muito bem: tenho poucas horas. Me procuram.
Sou uma espiral galáctica que se encerra e busca o núcleo, que se desfaz sobre si mesma, que se contém e logo explode.
Sou um homem morto e todos esperam a notícia. Apenas feito menor pela pobreza dos detalhes, a pobreza do obituário...me arde a pouca beleza do meu epitáfio.
Não mandarei cartas e revisarão de maneira póstuma o que agora escrevo.
Pouca profundidade deu o tempo ao fóssil e assim, os ossos foram pasto de museus, estudo para os sábios, folclore para os humanóides.
Levanto cedo e simulo ser cidadão. Mostro a todos a cicatriz dos cravos. Santo Tomás toma de novo sua lança, escava e apenas crê que a morte é o final de uma ilusão.
Sou um homem morto.
E ninguém acredita.
terça-feira, 13 de maio de 2025
Dona Sebastiana
O documentário A Filha de São Sebastião (Caturra digital, disponível no youtube no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=6nHORCY-EEE), datado de 2013, focalizou Dona Tiana (Sebastiana Geralda Ribeiro da Silva) matriarca do Quilombo “Carrapatos da Tabatinga”, falecida há alguns anos (2019), na fase madura de sua trajetória. A equipe que realizou o filme foi: Juliana Braga, Luciana Katahira, Larissa Cardoso, José Francisco Duarte e Ana Paula Ferreira de Lima. O documentário contou também com a colaboração de Sandra Maria da Silva, Gabriela Gois, bem como de toda a comunidade Carrapatos da Tabatinga.
Em Bom Despacho existem três matrizes afro-brasileiras: Dona Fiota (já falecida) e Marquinhos Bacará com a Língua do Negro da Costa (pesquisada mais a fundo por Benício Cabral e Sônia Queiroz), a matriz de Tiana, Sandra e Graça Epifânio e a de Zé Geraldo. Um dos indicativos de que existiu um quilombo aqui na região é a presença, bastante rara, da Língua do Negro da Costa, a chamada “língua da Tabatinga”. Anos atrás, eu, Tânia Nakamura e equipe da antiga UNIPAC (hoje grupo UNA) e colocamos Dona Tiana em contato com a Fundação Palmares, que já existia desde 1988. Foi uma sintonia maravilhosa, com a comunidade seguindo adiante com suas próprias pernas e prescindindo de nós pesquisadores e intelectuais para travar suas próprias lutas. Sandra, em especial, está organizando um museu em homenagem a Tiana, já foi candidata a deputada pelo PSOL e foi objeto de estudo de dissertações. A Fundação Palmares parte do pressuposto de que todo lugar onde há resistência negra pode ser chamado de quilombo. Desde 2008 ela reconheceu a região da Tabatinga como um território quilombola. Uma das dissertações que enfocou a comunidade é a de Ana Carolina Oliveira Teixeira Vertelo em sua dissertação O Processo de Constituição Identitária dos Moradores do Quilombo Carrapatos da Tabatinga.
Em 1966, convidada por Dona Elisa Queiroz, chegou em Bom Despacho no longínquo ano de 1966, em uma das antigas “jardineiras” (antigos ônibus). Ela tinha vindo fazer trabalho de assistência social e sentiu carência de eventos culturais. Passou a morar aqui e montou peças teatrais e grupos de dança. Fundou o corte de reinado Moçambique de São Benedito, bem como uma escola de samba que em 1988 obteve o primeiro lugar no carnaval de Bom Despacho.
Esta mulher chamava-se Sebastiana Geralda Ribeiro da filha de São Sebastião, sincretizado na umbanda como orixá Oxóssi. Oxóssi é o grande orixá das florestas e das relações entre o reino animal e vegetal. Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar os corações dos cristãos, enfraquecidos diante das torturas. Por volta do ano 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas, que se tornaram símbolo constante na sua iconografia.
Dona Sebastiana recebeu o seu nome em homenagem ao guerreiro mártir, foi batizada pelos seus avós como filha de Oxóssi. Ela era também capitã da guarda de Moçambique, posto que, segundo ela, era apenas ocupado por homens. Dona Sebastiana era mãe-de-santo, revelava verdades sem meias palavras. A fé e a terra eram fontes de força para o dia-a-dia da sua comunidade, que hoje ainda vive com poucos recursos financeiros.
Sua primeira atitude foi construir a casa para abrigar seu santo de proteção: São Sebastião, ou Oxóssi, senhor das matas. Dona Tiana alegou que precisou ir até o bispo em Belo Horizonte para poder participar da festa de Reinado local da Igreja Católica (tudo indica, motivado pelo fato de que ela fundou o seu próprio centro espírita de orientação afro), conforme ela alegou em seu depoimento no documentário. Quem teria enfim revertido a situação teria sido Dom Serafim Fernandes de Araújo, que finalmente deu a autorização para que ela pudesse rezar onde queria. A ideia do documentário foi recolher histórias como essa e mostrar a cultura do povo de Tiana através da luta política e assistência social, além da religião, canto e dança.
O filme mostrou como Dona Sebastiana aprendeu e criou táticas de sobrevivência para enfrentar a sociedade à sua volta. Ela apresentava-se como líder de comportamento polêmico. Tratava-se do equilíbrio entre alegria, angústia e lutas constantes. Tiana definiu-se como “nêga véia de senzala”. Era uma alma plural, múltipla, que representava um universo curioso de sabedoria. O filme marcou ao mostrar, com bela fotografia, as danças, cantigas, rezas, bençãos, entre tantos outros elementos da cultura popular afro-brasileira.
A figura desta mulher inspirou o equilíbrio entre a fé nos milagres, bem como e a triste luta da vida sem esperar por eles. O dilema entre a sabedoria dos santos e a realidade de nunca ter tido a oportunidade de aprender a ler e escrever, retomando aquele debate de Dona Fiota no documentário Eu Tenho a Palavra: Tiana tinha a palavra, o belo discurso e o conhecimento da tradição, mas não tinha o domínio da cultura letrada.
Saulin du Corte: A Importância de Apoiar Nossos Jovens
Saulin du Corte: A Importância de Apoiar Nossos Jovens
Recentemente, tivemos e ainda teremos fatos relevantes para a cultura bom-despachense. Estou fazendo aulas de pintura com Carlos Madeira e estarei expondo e vendendo meus quadros em uma exposição no Espaço do Hipermercado Fidélis São José nos dias 10, 11, 12 e 13 de abril. Bem como o lançamento do livro “Doce Vida” de Toninho Saudade, dia 10 de abril, 19 horas, na Biblioteca Pública local. Nos dias 11 e 12 de abril, uma feira literária no Mineirão da Praça da Matriz. Estou otimista com a abertura de novos espaços como Coliseu (antigo Austin), Oie, pizzaria Maragon, bem como ocorreu uma festa preparatória para a Parada LGBTT de Bom Despacho na STA Floricultura: a Parada desse ano promete. Os organizadores afirmaram que a Parada desse ano promete. Nessa conjuntura, é muito importante dar apoio a novos estabelecimentos e iniciativas dos jovens.
Há anos dei uma entrevista para o amigo Gustavo Menezes no youtube, muito antes de que eu tivesse um canal nesse meio de comunicação como tenho agora (canal Professor Lúcio Júnior). Nele eu falei dos nomes curiosos de alguns estabelecimentos comerciais em Bom Despacho: a barbearia do Leninho (escreve-se Lênin, o que faz pensar numa homenagem ao revolucionário russo, mas na verdade é apenas um diminutivo carinhoso), a finada “Borracharia do Amor”, dentre outros. E eis que surge o “Saulin du Corte” que é uma barbearia fundada por um jovem barbeiro: Saulo César de Paula Mendonça nasceu em 30 de maio de 2007. O pai chama-se Washington Couto e é mecânico, a mãe chama-se Elaine Silva. Saulo começou em casa a cortar cabelo sozinho. Os pais apoiaram a ideia da barbearia. O primeiro curso foi o que fez com Gleisson Junio Silva, “Sô Gleisson”, barbeiro do São José (Arraial). O curso chamava-se “Fade pigmentação freestyle tesoura e finalizações. O barbeiro educador foi esse mesmo Gleisson, a quem Saulo admira muito. Depois fez curso em Nova Serrana, com Mateus Nogueira. Foi um workshop: “barbearia, um negócio de sucesso”, ministrada por Matheus, Lucas Andrade, Renato Silva, realizado em dezembro de 2023.
Saulinho é muito criativo e a barbearia tem uma página no instagram. Gostei bastante de um “reel” de humor que Saulinho fez com um amigo sobre os pensamentos contraditórios do barbeiro e de seu cliente adolescente, o barbeiro quer cobrar um preço que julga baixo e o adolescente acha muito caro e o “reels”, que teve mais de 4000 visualizações, mostra de forma muito bem humorada esse conflito. E fizeram uma produção “ficcional” bem sucedida nessa rede social. A barbearia de Saulin, mais do que um local de prestação de serviços, tornou-se um ponto de encontro. A maioria dos clientes de Saulo são jovens. Saulo sabe fazer os cortes de cabelo da moda, com riscos e desenhos na sobrancelha. A primeira barbearia foi no Jardim dos Anjos, próxima da cadeia. E a segunda, a atual, está no Shopping Assunção.
A toda comunidade: apoiar a luta de nossos jovens, apoiar novos estabelecimentos é fundamental. A esse meu jovem amigo, todo sucesso em sua empreitada!
sábado, 8 de março de 2025
O Arquiimperialismo: O Novo Paradigma do Imperialismo
O professor César Aprile da Silva Aprile definiu, nesse livro publicado pelo próprio autor em 2023, um conceito que julgo muito importante: o arquiimperialismo. O livro, editado pelo próprio autor e que comprei na internet, traz reflexões extremamente necessárias.
A tese dele é que, depois da Segunda Guerra Mundial, o que emergiu não foi meramente um império convencional do capital, mas algo mais complexo e abrangente, que expandiu a definição do imperialismo, a fase superior do imperialismo. É uma forma de imperialismo nunca antes vista. É um arquiimperialismo, um imperialismo que comanda os outros imperialismos. Isso não acontecia no tempo de Lênin e mesmo no de Stálin não foi identificado com essa intensidade, pois Stálin temia uma revanche de Japão e Alemanha ainda depois da II Guerra Mundial. Curiosamente, o arquiimperialismo impediu que isso acontecesse e inclusive mantêm até hoje tropas yankees nesses dois países. A situação de um imperialismo depender de outra potência imperialista é inédito. Os Estados Unidos não se unem a outros imperialismos para dividir o mundo, são autossuficientes, o que é intrigante.
Igualmente César avança bastante ao caracterizar a China como social imperialista usando autores chineses que caracterizaram a União Soviética dessa forma. Ele explica o papel de Cuba em aterrorizar os militares latino-americanos com o perigo do comunismo, focando no exemplo de Cuba, que aliás é bastante eficaz por ter surgido de uma conjuntura aparentemente ingênua de populismo e terminou numa aliança com o social-imperialismo soviético. Cuba é caracterizada como capitalismo burocrático pintado de vermelho. Laos e Vietnã teriam menos conflito com o arquiimperialismo. Coreia Popular seria país de capitalismo burocrático vermelho com uma relação de dependência semicolonial em relação ao capital chinês.
César Aprile desmistifica os Brics, explicando que estão, em diversos graus, ainda submetidos ao arquiimperialismo. A Rússia ainda tem contradições internas ligadas ao capitalismo burocrático. O debate sobre a desdolarização ganha relevância, mas não é uma ameaça real para a hegemonia norte-americana. Além da pressão que os Estados Unidos podem fazer ao dominar o dólar, eles também têm um aparato repressivo internacional que exerce poder sem recorrer a uma forma direta.
Em determinada altura, Aprile chega a conclusões opostas às de Jabbour: a China ainda não está pronta para eclipsar os EUA como maior economia do mundo em breve. Para superar a hegemonia norte-americana, ela precisaria tornar-se um arqui-social-imperialismo. A China ainda não é uma superpotência no entender de Aprile. Ela também obedece ao arquiimperialismo, aceitando implantar sanções contra Coreia do Norte, prejudicando seus próprios interesses, mas satisfazendo o arquiimperialismo norte-americano. Um conflito entre os USA e a China terminaria em prejuízo econômico para os dois países, mas para a China especialmente. A superação dos Estados Unidos pela China é uma tarefa monumental e incerta. Jabbour, ao exaltar essa situação iminente, foca apenas em dados econômicos e cai no revisionismo. Exalta que a URSS produziu Kruschev, mas a China produziu Deng Siaoping (para ele, esse último seria um salto de qualidade incomparável, um desenvolvimento admirado por ele do revisionismo). Jabbour defende o modelo de capitalismo de estado degenerado chinês como a única saída.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Sobre Cuba
Sobre Cuba
O presidente Lula comentou que os operários não participaram nem da revolução cubana e nem da russa e sim classe média. Lula voltou ao velho “obreirismo” que, inclusive, é um problema que ainda retorna nas posturas de um Galo de Luta, que acaba recaindo em algo semelhante: colocar que classe trabalhadora é só o operário industrial e esse setor seria privilegiado em relação aos demais. O fato de Galo de Luta retomar esse mesmo tema em outra clave mostra a incrível persistência desse tópico. Galo de Lula, em debate com Ian Neves, retoma esse obreirismo, chamando Ian Neves, que é professor, de “playboy”, tendo ao lado Chavoso da Usp. Chavoso, posteriormente, retoma o mesmo tema e pondera que pior do que o pobre de direita é o playboy de esquerda. Difícil debater com essa criação tipológica hegeliana pobre sob a égide de Jessé de Souza, cuja ciência social é enviesada para o lulismo e para o âmbito eleitoral.
A revolução russa, inclusive, foi puxada pela classe trabalhadora de Leningrado e Moscou, já farta da guerra e das condições insuportáveis derivadas dela. A ela juntaram-se soldados e camponeses, mas foi uma revolução puxada pela classe trabalhadora que chegou a seu limite, já extenuada com o esforço da Primeira Guerra Mundial. Ou seja, Lula errou.
E errou mais uma vez a respeito da revolução cubana. Em Santa Clara, episódio lembrado no filme Che, os ferroviários, simpatizantes da revolução, atrasam o trem e conseguem que o grupo de Che intercepte a ajuda para o grupo de Batista em Havana, tornando praticamente impossível a defesa de Havana, que logo a seguir caiu. Poderíamos elencar outros exemplos: a greve geral de 1958, importante ainda que fracassada, o apoio do movimento citadino de Frank País ao foco de Che e Castro, dentre outros exemplos. Che e Castro apagaram a importância do movimento nas cidades depois da revolução, mas há muito registro da importância desse movimento nas cidades. Podemos supor que o movimento de Castro seria esmagado se o Diretório Revolucionário não tivesse atacado o palácio presidencial em 1957. O governo não podia deslocar tropas para o campo depois desse episódio.
Chavoso pensa o conceito de playboy de esquerda como o personagem que advoga transformações, mas na prática aceita e pratica neoliberalismo. Ou seja, tem o liberalismo pautando sua mente –no entanto, essa tipologia não se aplica a Ian Neves. A problemática de Ian Neves é o ecletismo, bem como o de João Carvalho.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
Jabbour: Uma Resenha de Socialismo do Século XXI
De início, Jabbour e Gabriele não conceituam socialismo conforme Marx definiu em Crítica do Programa de Gotha: ditadura do proletariado (o termo não aparece!). Nem o termo imperialismo parece lhe agradar. Para Jabbour, a referência para socialismo não são os planos quinquenais da URSS dos anos 30, uma forma de democracia direta (os sovietes e guardas vermelhas) nem as cooperativas socialistas; nem a Grande Revolução Cultural Proletária e nem o Grande Salto Adiante. Parece preciosismo, mas Jones Manoel, por exemplo, é da opinião de que existem vários socialismos –e que não é a opinião de Marx e Engels no Manifesto. Aliás, para Jabbour, há tensão entre o Marx militante político e o cientista social. Creio que há, porém, tensão ou mesmo oposição entre o projeto revolucionário de Marx com o que Jabbour pratica e teoriza. Tanto que para ele, não é preciso preocupar-se com a revolução, uma vez que existe a China (?) Essa conclusão é no mínimo mirabolante para um marxista, mas Jabbour a repetiu em uma live com Dilma Rousseff – está presente nesse livro. Talvez não seja para um “marxiano” –mas “marxiano” é, por excelência, um acadêmico que não acredita no projeto. Ou para um marxólogo de Boitempo. Contrariado nesse ponto importante por Jones Manoel, chamou o militante do PCBR de “delinquente político”.
O termo “socialismo de mercado” já é inexato. O sistema mercantil sempre existiu na China maoista, ou seja, antes do marco da “modernização” de 1978. O mercado existe desde a antiguidade. Jabbour parece confundir mercado com capitalismo, um equívoco primário, diga-se de passagem.
O correto é supor que na China existe um arranjo social-imperialista semelhante à URSS de Kruschev até Gorbachev. Socialismo de boca, imperialismo de fato. Esse arranjo mostrou-se historicamente frágil: quando se destrói o socialismo, restaura-se o capitalismo, aumenta o mal-estar e o sofrimento das massas. Volta a desigualdade social entre regiões, causando choques entre as etnias e grupos religiosos, etc. Ao mesmo tempo em que prossegue o clima de hostilidade com o mundo capitalista e o estado supercontrolador não impondo ditadura do proletariado, mas da burguesia ligada ao estado contra o proletariado. Para poder fazer frente ao risco de desmoronamento e implosão desse arranjo, que a era Gorbachev mostrou, o capitalismo de estado chinês parece ter colocado em primeiro lugar a criação de um ambiente de estar de bem estar social, com oportunidades de emprego.
Jabbour tem um título em que diz algo como “não voltamos à estaca zero depois de 1989”. Esse parece ser mesmo o problema. Difícil encarar que não existem países socialistas hoje, bem como Lula não é de esquerda. Postular o oposto é não aceitar a derrota de 1989, é ser nostálgico. Jabbour, na verdade, liga-se a burguesia burocrática, elogia o desenvolvedor do capitalismo burocrático que foi Vargas e outro expoente que representa essa burguesia burocrática, Lula.
Jabbour inicia citando Deng Siaoping falando em “forças produtivas”, jogada usada também por Liao Shiao Chi para fazer a contrarrevolução. Em suma, Deng Siaoping pega a frase “desenvolver as forças produtivas e fazer a revolução”, corta a frase e fica apenas nas forças produtivas, desenvolvendo a contrarrevolução graças à prosperidade econômica que lhe permite agir. No decorrer de suas explicações, não há ruptura entre Deng e Mao, ele deixa de lado o golpe de Hua Kuaofeng em 1976, a prisão da velha guarda maoista. Em 1976, no noticiário da época, era bastante corrente a ideia de que não era apenas a esposa de Mao quem estava sendo condenada e sim as ideias de Mao. Essa informação é correta, mas Jabbour passa simplesmente ao largo dela. Jones Manoel também. Jones Manoel teoriza que existe uma virada à esquerda na China de Xi Jinping e que os intelectuais terão, a partir de Losurdo, considerar que a China é socialista novamente. O partido, no entanto, rejeita o conceito de luta de classes.
Pode parecer exagero, mas Jabbour em determinado momento considera que Cuba e Costa Rica estão “próximas do ideal do comunismo” porque a expectativa de vida das pessoas dobrou, não há escassez e foi erradicado o analfabetismo. Cuba, realmente, não tem analfabetismo, mas escassez com certeza sim. O racionamento começou em 1961 e nunca acabou. Jabbour, inclusive, considera Cuba socialista e de economia planificada, mas desde 64 a Juceplan, Junta Central de Planificação, foi extinta e unificada com o Ministério da Economia e Planificação. Conforme João Pedro Fragoso, Cuba seguiu o caminho da URSS revisionista de Kruschev, com empresas autônomas, buscando a rentabilidade, sem planificação central. Jabbour, inclusive, considera que a iniciativa privada em Cuba “está prosperando”. Em Cuba, no entanto, como diz o sociólogo Frank Garcia, o modelo chinês não funcionou porque os USA não aceitaram o país no sistema financeiro internacional e não investiram capital como fizeram na China e no Vietnã. O estado tem investido em hotéis, que é rentável, enquanto o país vivencia crise em praticamente todos os domínios. Ao invés de socialismo, levanta a hipótese de que um capitalismo burocrático “vermelho”.
Para Jabbour, não existem condições de debater o “socialismo” cubano –na verdade, o revisionismo cubano muito influente no Brasil. Não sei por quê. Não se debate porque a universidade não quer debater, a intelectualidade não quer debater. O que motiva o debate sobre o socialismo chinês são as constantes denúncias de que as leis trabalhistas lá são frouxas, as jornadas de trabalho exaustivas, as denúncias de trabalho escravo constantes. Para piorar, uma denúncia aconteceu recentemente numa empresa chinesa na Bahia, não tendo sido comentada pelos entusiastas da China como Jones Manoel, Humberto Matos e outros revisionistas, tendo virado assunto apenas para o marxólogo anticomunista Luiz Felipe Miguel atacar Jabbour, que responda alegando que não se pode tomar o todo pela parte e voltando a uma habitual sinofilia (e não sinologia), ao algo estilo: “Não precisamos fazer revolução, afinal temos a China, podemos ficar na prostração colonial e neoliberal, apoiar Lula, mesmo se este aprofunda a condição semicolonial e semifeudal do país, afinal, essa prostração também beneficia o social-imperialismo chinês que favoreço”.
Sobre semifeudalidade, um escândalo: Jabbour alega que ela existe em áreas atrasadas do Vietnã e da China ainda hoje. Ele não a nomeia, mas fala em “formas pré-capitalistas” que existem no campo até hoje nesses países. Muito surpreendente, pois possivelmente, se existem, foram restauradas na restauração socialista, pois tinham sido extintas com Mao Tsé Tung.
O dirigente estatal, na prática, tinha os mesmos poderes de um burguês. Os dirigentes estatais, junto aos militares, são a classe dirigente de Cuba. Cuba não construiu, portanto, o socialismo, é apenas um capitalismo de estado. O conceito é detestado por Jabbour, mas ele existe em Lênin. Igualmente, Jabbour considera países socialistas a República Democrática do Congo, a Venezuela e o Cambodja, que é uma monarquia constitucional! Seria a primeira monarquia socialista do mundo.
Jabbour não define socialismo e considera o ideal de comunismo algo irrealizável. Quando se anula essa ideia de avançar para o comunismo, utilizando conceito frouxo de socialismo, fica difícil postular que China está numa “etapa avançada do socialismo”. Se o ideal comunista é irrealizável, se está avançando para onde mesmo? Aí se verifica o problema de retirar, como Cuba retirou de sua Constituição de 2019, o termo “comunismo”. Se não existe esse parâmetro de recuo e avanço, como considerar que avançou? O que é realmente inédito é um exemplo raro de socialismo em termos e imperialismo de fato, algo raro historicamente –e bem diferente da outra experiência em termos de sucesso econômico. O paradigma disso foi a União Soviética de Kruschev até Gorbachev.
Jabbour admite que a China exporta capital (um ponto que Lênin que define como uma das características do imperialismo). Mas há mais. A China tomou uma ilha das Filipinas recentemente, em disputas na região. A ilha historicamente é filipina. O país também avançou sobre territórios em litígio no vizinho Nepal.
Um impasse presente no livro é a questão de que a base material influencia a política. Se existem estruturas capitalistas, elas teriam de ter um reflexo na superestrutura, na política –e essa Jabbour nega. Bem como nega o aprofundamento das lutas de classe no socialismo –no que ele segue o revisionismo soviético de Kruschev em diante.
Ao tratar das privatizações no Laos e no Vietnã, que são linha soviética, Jabbour supõe que acontecem como na Chjina devido a “leis mecânicas”, não cópia ou imitação, seriam leis que atuam no caminho do socialismo. Supomos, no entanto, que é o revisionismo de linha chinesa que tomou um caminho semelhante ao de linha soviética, aprendendo com ele, por exemplo, a não atacar uma figura como Mao como fizeram com Stálin. Mao é refutado na prática, mas nas aparências segue como uma inspiração. Isso tem sido bastante eficaz para esconder a restauração capitalista.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
Paráfrase
PARÁFRASE
Lúcio Emílio do Espírito Santo
Faculdade de Direito
SE CORRER O BICHO PEGA...
O cadáver de Universino Soares dos Reis, vigilante bancário,
casado, filho de Indalécio Soares dos Reis e Ana Serafina de
São José, jaz sobre a mesa gelada de aço inoxidável da sala
de autópsias.
£ quase meia-noite e a chuva não pára, como também não
param de chegar camburões com outros corpos que vão sendo
rotulados de acordo com a ordem de entrada.
Universino trabalhava na Companhia de Segurança «FORTEX» Ltda e, na manhã de hoje, ao repelir o assalto à Agência
do Banco Alvorada S/A, em Osasco, recebeu um tiro na cabeça,
falecendo antes de receber socorros médicos.
Mineiro de Bom Despacho, há tempos sonhava regressar à
terra natal, já que não suportava mais as condições de vida
na capital paulista, a miséria crescente e o dinheiro cada vez
mais curto para pagar as contas.
Universino já tinha até arrumado a casa em Bom Despacho
e só esperava juntar algum dinheiro para fazer a mudança e ir
embora de uma vez, deixar aquele inferno.
Parece que estava até adivinhando.
— Você quer saber por quê eu quero ir embora? — dizia
ele a um amigo. Eu ganho apenas sessenta mil para criar cinco
filhos. Além disso, o emprego não é garantido. Amanhã posso
ser despedido e cair na rua da amargura, como milhares de
outros trabalhadores por aí. Preciso dizer mais? Olha aqui, meu
chapa, já estou cansado dessa vida estúpida, dar um murro
danado e no fim ganhar um pontapé no trazeiro.
— Mas, no interior a coisa deve estar pior, sô...
— Engano seu. Quando meu pai mudou para cá com a
família, achava que São Paulo era o paraíso. Ele veio achando
que sua vida ia melhorar, aqui ia ter trabalho, bons salários,
escola para os filhos e casa para morar. Pois bem. Um ano
depois, ele morreu atropelado no Sumaré, deixando cinco filhos
totalmente desamparados. Minha mãe, sem condições de susten
tar a casa, entregou meus irmãos ao Juizado de Menores e eu
fui para a casa de um tio, pois era o mais novo, com apenas
dois anos de idade. Onde andam eles agora? Ninguém sabe. E
muito triste, não é?
— A vida é assim em todo lugar, companheiro. Não se
iluda não...
— Mas, em São Paulo é pior. Pra começar, não há empregos.
Quando a gente consegue um, os salários são baixíssimos, de
fome mesmo. As distâncias são enormes. A gente vive perma
nentemente amedrontado, tenso, acuado, tudo nesta cidade é
dor e sofrimento...
Na sala de espera, a viúva Marluce não chora. Cadê lágrimas?
Em seu semblante se estampa apenas o ríctus amargo de tortu
rante angústia. Seu olhar oblíquo percorre os ladrilhos sujos
da sala mal iluminada.
Enquanto não liberam o corpo do marido, bailam em sua
mente passado e futuro. Conheceu Universino num dia de chuva
como este. Ele era carteiro, ela, empregada doméstica. Todo
molhado, Universino resolveu pedir-lhe um guarda-chuva em
prestado.
32
— Guarda-chuva não tenho. Tenho sombrinha, serve?
— Se for bonita como você, serve.
A partir de então tornaram-se íntimos. Alguns meses depois
estavam casados. Sempre achou perigoso o trabalho de Univer
sino, mas os encargos de família e esses tempos difíceis não
permitiam o luxo de escolher trabalho. Era o que aparecesse.
Apareceu o de vigilante, Universino não se fez de rogado. Ia
guardar o dinheiro dos outros. Ia se sacrificar dia e noite pela
riqueza de gente que nem conhecia. Mariuce jamais imaginara
que o marido terminaria assim, apesar de conhecer os riscos
do trabalho de guarda bancário. A esperança de um dia sair
daquela penúria não lhe deixava entrever estes riscos.
O corpo de Universino já está vestido e vai ser entregue à
viúva. Na pressa, Mariuce apanhara o terno nupcial e acha
que não deveria ter feito isso. Não vai restar nada, nem a
melhor lembrança dele, pensava. Mas agora é tarde. Abre-se
a porta da sala de necrópsias, o funcionário de plantão chama
Mariuce.
— Aqui está a sua sacola e isso aqui é a certidão de
óbito. Se a senhora desejar, o velório poderá ser feito na capela
do próprio Instituto Médico-Legal.
A viúva recebe o carrinho contendo o caixão.
Alguns voluntários se oferecem para conduzi-lo à capelavelório. Mariuce prorrompe em choro convulso, baqueia, mas é
logo amparada por pessoas desconhecidas. Abrindo o cortejo,
segue uma belíssima coroa de flores, onde se lê:
«Ao Universino, com a gratidão dos clientes do Banco
Alvorada S/A».
II
...SE FICAR O BICHO COME.
O corpo de Geraldino da Silva, vinte e cinco anos, assaltante,
casado, filho de Geraldo da Silva e Maria das Dores, jaz inerte
sobre o mármore frio da sala de necrópsias.
33
Já passa da meia-noite. Lá fora a chuva fina e persistente
não pára de cair. O barulho dos camburões que chegam a cada
momento se mistura com o tilintar dos instrumentos de autópsia,
manipulados com certo descaso pelo legista e seus auxiliares.
Geraldino, desempregado há quase dois anos, recebeu um
balaço no peito e outro na testa, ao trocar tiros com o vigia
do Banco Alvorada, em frustrada tentativa de assalto à agência
do banco em Osasco.
Cearense de Quixadá, nunca escondera os propósitos de
retornar à terra natal. Pensava em pegar um pau-de-arara, ele
mais a mulher e os seis filhos, e se abalar para a terra de
nascença. Ainda ontem esteve com o dono de um caminhão de
transportes de carga e sondou preço de passagem para a
família.
— Tu tá querendo voltar pro Ceará, bicho?
— Pois já vai pra dois anos que estou parado, companheiro,
pegando biscates daqui e dali, ganhando patavina, a Maria doente
dos rins, menino chorando com fome. Não, não agüento mais
essa vida, não. Não nasci pra pedir esmola, não, bicho. E
muito menos pra engolir esta vida pai-d'égua...
— Olha, num vai fazer besteira, viu? No sertão a seca
tá braba...
— Lá me arranjo sem me humilhar. Aqui num tem saída:
ou tu vê os filho morrer de fome ou você parte pro crime...
— Num diz besteira, cabra da peste. Tu vai te arruina
de vez...
Na sala de espera a viúva Aparecida não tem pressa em
rever o marido. Em seu semblante se desenha o ríctus amargo
de torturante vergonha. Não ousa erguer o rosto, encarar as
pessoas. £ viúva de um ladrão. Os filhos são filhos de um
bandido. Na ocorrência policial está registrado: profissão: assal
tante. Ora Geraldino é pedreiro e bom pedreiro. Posso mostrar
as construções em que trabalhou. Era azulejista, um verdadeiro
34
artista. Porém, o que ganhava não lhe permitia dar de comer
aos filhos. Ele era bom marido, mas as dívidas crescendo
sempre, o dinheiro cada vez mais curto, começamos a descer
uma perambeira sem fim, em que o próprio humor se azedava
e despontavam acusações mútuas. Aparecida estranhava seu
homem, agora carrancudo e rude, enturmado com cheia de
má-bisca, encafuado nos botequins, procurando quem lhe pagasse
uma pinga. Acreditava que a salvação era voltar para Quixadá,
ir embora de uma vez, deixar aquele inferno.
O corpo de Geraldino está vestido e vai ser entregue à
viúva. A mulher se adianta, postando-se nas proximidades da
sala de necrópsias, que permanece fechada. Aparecida está ansio
sa, não sabe o que vai sentir quando deparar com Geraldino
morto, a única pessoa no mundo em que confiava, com quem
se sentia plenamente segura e em quem encontrava forças para
levar essa vida cada vez mais atribulada e difícil. Pensa nos
filhos. Acha que deve trazê-los para despedirem-se do pai. Afinal
somos uma família. Não posso roubar-lhes o direito de ver pela
última vez aquele que lhes deu a vida. Só porque era assaltante?
Quantos pais de família estão virando assaltantes?
Abre-se a porta da sala de autópsias, o funcionário de plantão
chama Aparecida.
— Aqui estão os pertences do morto. Isso é a certidão
de óbito. O velório será feito na Capela do Instituto Médico-Legal.
Os funcionários do Instituto conduzem o carrinho de metal,
contendo a urna. Visto o marido, Aparecida vai se refazendo de
sua angústia e de sua vergonha. No seu íntimo, ama Geraldino,
aprova sua atitude e sibila entre os lábios, comovida, «estou
contigo, amor, estou contigo»
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
A Hora das Fornalhas
A Hora das Fornalhas (La Hora de Los Hornos, 1968)
O filme de Fernando Solanas e Octavio Getino é um dos filmes mais famosos da Argentina. É um documentário que foi feito entre 1966-68, quando as tensões internas cresciam, pois havia eleições, civis no poder, mas uma grande opressão e insatisfação, uma vez que o peronismo estava proibido. A primeira parte inicia com uma frase de San Martín. Faz um uso muito criativo dos sons e das músicas, que parece tratar com o distanciamento crítico brechtiano; a música dialoga com as imagens apresentadas. Ele escolhe uma agradável música pop enquanto mostra um matadouro de ovelhas e bezerros. Apoia o Vietnã, apresenta os meios de comunicação de massas como alienantes, exprime a oposição que eles demonstram frente aos sindicatos e movimentos sociais. Eles ensinariam a pensar em inglês.
A primeira parte que explica a situação semicolonial da Argentina é muito boa. A Argentina é grande exportadora de alimentos, mas suas populações vivem na miséria e fome, há enorme peso do latifúndio. A indústria é muito concentrada em Buenos Aires. A seguir, apresenta o peronismo como despertar da classe operária e renega os “stalinistas” como Rodolfo Ghioldi. No entanto, podemos dizer que esses intelectuais comunistas tinham razão, uma vez que Perón traiu essa esquerda revolucionária nos anos 70. Os acontecimentos posteriores o desmentiram, pois o governo Perón nesse novo mandato democrático foi reacionário. Depois da volta de Perón em 1973, peronistas de esquerda e os de direita mais e mais conflitavam entre si, matando-se uns aos outros. Rivadavia foi o primeiro a tomar empréstimos com a Inglaterra. A Inglaterra substituiu a Espanha como metrópole da Argentina e de toda a América Latina. No entanto, experimentou-se uma forma de colonização nova: o neocolonialismo. A Argentina vendia carne e comprava pianos de cauda, vendia lã e comprava manufaturas.
Depois da morte de Perón, o peronismo armado foi destroçado na brutal ditadura militar que subiu ao poder em 1976. Ele cita o intelectual Jorge Abelardo Ramos como um apoiador do peronismo armado, mas esse intelectual posteriormente mudou de posição. A intelectualidade em peso rejeitou o peronismo, o que o próprio filme analisa que deixou o movimento sem uma intelectualidade revolucionária. O filme cita Leon Hirszman (cena do filme Maioria Absoluta) e Vargas (diz que suicidou-se culpando o imperialismo). É dedicado ao proletariado peronista. Cita Fanon, Perón, termina com a imagem de Che Guevara.
domingo, 2 de fevereiro de 2025
Gustavo Machado e Suas Mentiras : A Contrarrevolução de Veludo
Gustavo Machado do PSTU, marxólogo da trupo de Chasin e Ester Vaismann, apresenta certo sucesso debatendo com ancaps na internet. Gustavo domina bem a crítica da economia capitalista, ele vê o capitalismo com realismo e os seus opositores são, por excelência, ideólogos que propagandeiam o capitalismo em sua ideologia mais senso comum e desconhecedora da crítica. Aí fica fácil para o trotskismo de Gustavo brilhar.
1) O que Gustavo tem a oferecer é marxologia acadêmica e blá blá blá eleitoreiro do PSTU. Gustavo quer a revolução sem etapas, mas o que está fazendo PSTU há uns trinta anos na fase de eleger representantes para o processo eleitoral? Isso deve-se perguntar também aos antietapistas do PCB e da UP. Não estão ocupando espaços, fazendo acúmulo de forças como fala o PT, numa eterna etapa eleitoral que não leva a nada? Por que, afinal, o esforço parece contraproducente e o liberalismo é que acaba se impondo entre nossas fileiras?
2)TROTSKISMO NÃO É MARXISMO. Embora Gustavo Machado esconda isso muito bem, noto que alguns pontos surgem evidências disso. Gustavo não ressalta nem que somos colônia do imperialismo norte-americano, ele fala em imperialismo citando o texto de Lênin, mas de forma parcimoniosa. Marx ele adora, desbunda ao falar e faz da voz de Marx a sua voz, fazendo ventriloquismo e como se Marx não falasse em revolução democrática e somente sem etapas. Lênin o humor já salga. Stálin já chama de monstro e tudo o que faz é barbaridade. Machado parece conhecer melhor times de futebol argentinos do que Nahuel Moreno, inspirador da linha do PSTU, que ele jamais cita. Moreno, em determinado momento, apoiou peronismo e a revolução cubana, depois voltou atrás. Resta explicar.
3) Gustavo parece não ressaltar que Marx não conheceu os monopólios (que vigora hoje) e sim o capitalismo de livre concorrência. Se ele admitir isso, talvez terá que admitir que não basta ser especialista em Marx, Marx é insuficiente nesse ponto.
4) Machado pouco conhece de China e alega que é uma revolução que já começou burocratizada. Há relatos de que o PSTU foca em sindicatos ricos, da aristocracia do proletariado. E atua neles de forma a criar uma burocracia sindical. A perceção do senso comum a respeito é muito, mas muito ruim. Por isso convidei Adauto, um pstuísta que muito costumeiramente fluda os grupos de zap, a debater o filme "Sindicato de Ladrões".
Gorbachev esteve aí para mostrar o que é realmente um burocrata no poder. Pergunta-se muito o que seria Trotsky no poder, talvez fosse algo semelhante a Gorbachev, que no passado os trotskistas chegaram a chamar de trotkista, como mostrou Ludo Martens em A Contrarrevolução de Veludo. Expressão aliás ótima para defini-lo, contrarrevolucionário de punhos de renda, contrarrevolucionário de sorriso de canto de boca, sorriso mineiro, de veludo.
5) Machado diz mentiras quando diz que Stálin perguntou se uma usina atômica poderia funcionar sem falar em relatividade e física quântica. É burrice afirmar isso. Lênin já falava no tema em Materialismo e Empirocriticismo. Lênin adiantou, inclusive, a problemática de aquilo seria usado para detonar o materialismo. Gustavo aceita toda tranqueira anticomunista, até o HOLODOMOR, que acaba de ser desmistificado pelo maior especialista em fome no mundo, Mark Tauger, PARTICIPANDO NO BRASIL DE UM CANAL MAOISTA E REAFIRMANDO: A FOME NA UCRÃNIA OCORREU POR CAUSAS NATURAIS. Gustavo Machado sai agregando Soljenitisin, a quem ele considera ficção fonte primária em História (enquanto até a mulher de Soljenitisin já admitiu que é anedota e folclore de campo, tamanho o dano realizado contra a Rússia no Ocidente por esse livro). E olha que Machado estudou História!!!
6)Adauto do PSTu indica Frank Garcia, que e´um membro do PCC cubano, como teórico trotsko --na verdade, posadista. E que stalinismo é esse de Cuba que permite até encontro internacional apologético de trotskos? E que é um verdadeiro ninho de trotskos, tanto que até vocês do PSTU estavam lá no encontro mas não puderam falar? Que stalinismo é esse? Existe stalinismo soft?
7) Mesmo como economista, o trotskismo e esse trotsko são capengas. Já vi inúmeros problemas nos vídeos dele. Ele afirma que não existe teoria universal da história. E vc pode ler lá no Manifesto que existe, a história tem sido a história da luta de classes. Machado diz que não há método em Marx, mas no Ideologia Alemã vc pode ler que é o materialismo histórico. Machado diz que fetichismo da mercadoria não tem aspecto psicológico e sim somente social, mas é evidente que, sim, existe, reflete-se na valorização das coisas contra as pessoas, aspecto da mente reificada, chega ao ponto de sacrificar as coisas às pessoas. Mas há mais, há mais. Gustavo Machado debate-se com o desafio de manter a mentirada a respeito de Stálin e estudar os livros editados no período Stálin, nos anos 30 (Ideologia Alemã e outros). Para justificar, diz que não houve deturpação (ain, Stálin resistiu a deturpar?) e a deturpação teria partido do Editorial Vitória que publicou os textos aqui no passado e que agora estaria tudo resolvido com as traduções da Boitempo! É muita mistificação o tempo todo. Em outro vídeo, só porque Marx não escreveu:"está é minha teoria do valor-trabalho", Machado acredita que Marx não tem teoria do valor trabalho (aff). Ele devaneia pensando que Marx apenas postula que a teoria dele é a do Ricardo, o que o torna um vulgar liberal (loucura desmentida até nos próprios comentários do vídeo, olha o absurdo). Esse tipo de pensamento o filia diretamente a José Chasin, que nega o tríplice amálgama (o socialismo francês, economia inglesa e filosofia alemã como fundamento do marxismo). Sim, Chasin nega que esses sejam os fundmaentos do marxismo!!! Em outros momentos, vi Gustavo até utilizando o vocabulário de Chasin, falando em abstração irrazoável. Chasin e Ester Vaismann, nos anos 90, chamavam o PSTU de marxistmo gnóstico, ou seja, falso marxismo, seita religiosa e fanática de alienados organizada em torno do marxismo. Mudou o natal ou mudou o PSTU???
Sumarizando: para Gustavo Machado ter sido aceito como marxólogo, como outros do grupo de Chasin, primeiro beijou a cruz do anticomunismo. Um exemplo a sempre ser lembrado é Rubens Enderle, um do grupo mais saliente que, depois de traduzir O Capital e muitos textos para a Boitempo, indicado como pessoa de confiança de Ester Vaismann (segundo Ivana Jinkings em nota publicada na web), escreveu tese sobre Marx e, mesmo assim, converteu-se a filosofia anticomunista vulgar e fascistóide de Olavo de Carvalho. Ou não aprendeu absolutamente nada ou evoluiu para um anticomunista liberal assumido, jogando o palavrório de marxólogo acadêmico no lixo. E fez isso em vista de obter lugarzinhos rendosos, em prol de um individualismo burro, porque não é preciso de muito para saber como o vomitório fascista de Olavo é danoso.
Críticas a "Por que não sou marxista, de Frederico Krepe": A Épica dos Impotentes
1) Qum perguntou? Sabemos que Frederico Krepe é trabalhista do PDT lulista e adepto do Ciro por outro lado. Um homem que vive com os pés em duas canoas, duas variantes de oportunismo eleitoreiro. Por que diabos pipocaria na cabeça de alguém esta questão?? Krepe quer, na melhor das hipóteses reformas para o país. Na pior, algum cargo bem remunerado.
2)Toda a argumentação é construída em cima da ideia de "se o marxismo me satisfizesse filosoficamente, eu seria marxista." Isso é falso, visceralmente. A questão é vivência política no gerenciamento semicolonial, no oportunismo eleitoreiro, isso tudo lhe parece satisfatório. Não é problema filosófico do marxismo não levar Krepe a um orgasmo.
3)Krepe propõe uma loucura: ele quer cientificidade e abertura para o simbólico e a mística ao mesmo tempo. Ele cobra isso do marxismo. Krepe postula que sua mente tem apenas acesso indireto ao real. Para Krepe, a coisa em si é incognoscível, o númeno não coincide com o fenômeno (falta ler materialismo e empirocriticismo do Lênin). Outros revisionistas eleitoreiros oportunistas dão razão em parte a suas elocubrações, destas bestagens tão bestas (Jones Manoel, Heribaldo Maia). Heribaldo pensa que é correto ainda dizer que não temos acesso ao real e a coisa em si é incognoscível. Jones acredita que Lucien Goldmann e outros revisionistas resolveram esses problemas e que o simples evocar de seus nomes já traz algum tipo de exorcismo ou benção --e solução de alguma coisa. Jones devaneia, elocubra, mas não consegue entender o básico: o problema de Krepe é sua opção por reformar o capitalismo, mas se você ler O Capital você verá que ele não é reformável. Tudo o que é feito de bom em termos de reformas no tempo da bonança (direitos trabalhistas, aumento da classe média, estado de bem estar social) é desfeito no tempo da crise (com o agravante que agora, no século XX, crise redunda em fascismo por parte da burguesia).Krepe é, portanto, o liberal progressista que quer reformar o capitalismo selvagem em tempos de crise, em tempos em que ele será mais e mais selvagem. Ou seja, Krepe fracassará miseravelmente, quem sabe até em seu intento de adquirir lugares rendosos.
4) Quando está reclamando de pouca cientificidade, Krepe reclama que Marx debate ditadura do proletariado. Hora, hora, ela foi aplicada nos anos 30/50 por Mao e Stálin, logo procede sim, debater.
5) Isso no primeiro vídeo. No segundo, o mito do dogmatismo. Para Krepe, seria possível um físico dizer: sou ptolomaico, isso satisfaz minha crença de que estou no centro do mundo, minha visão de mundo. Ou Galileu dizer algo como: "não quero ser dogmático, então não posso dizer que a terra gira. Estou aberto aos argumentos de quem diz que está parada ou é plana". Krepe quer só amoitar a ideia de que todo cientista trabalha com uma hipótese e batalha por ela. E ao defendê-la, se ela for derrubada, outra pode ser criada a partir das críticas apresentadas.
6)Não tem nada, mas nada a ver não ser materialista e não ser marxista. Se você não é materialista, se você supõe que existem forças além da matéria, você pode especular sobre o sobrenatural. A dúvida que paira é se você pode exigir cientificidade se você em parte deixa de lado a possibilidade seriamente de conhecer a realidade objetiva. Krepe acredita que afasta essa ideia falando que é diferente ser naturalista e ser materialista. Mas creio que o ponto de Krepe é outro, é especular até que ponto o mundo que vemos é apenas criação de sua mente e das formas e predisposições da mente, se existe matéria anterior a ela ser aprendida pela nossa mente e outras considerações. Ou Krepe pode especular que, se pular da janela, alguma forma extramaterial pode te pegar pelo pé e te colocar de novo na janela. Por que não? Felizmente Krepe não é empirista ao ponto de experimentar algo assim, ele recusa o empirismo.
7) Krepe já se mostrou antistalinista ferrenho e recusa o Stálin com base na acusação lukacsiana de que ele é empirista. Mas Krepe parece confundir empirismo (a supremacia da experimentação sensível sobre o intelecto) com a capacidade efetiva de atuar e conhecer sobre o real a partir da experiência sensível, uma vez que existe a tal coisa em si misteriosa, o númenom não coincide com fenômeno. KREPE APENAS REPETE UMA ACUSAÇÃO A MARX QUE JÁ É FEITA A STALIN! Marx e Stálin, tudo a ver. Fica mais difícil negar que Stálin seja marxista e, além de ferrenho antistalinista, Krepe esteja agregando trotskismo para assim melhor negar o marxismo.
8) Acuado, Krepe recorre ao truque de separar Engels de Marx (em seus vídeos só há desses truques). Isso possibilita que tudo o que eu julgo errado atribua a Engels, o que está certo a Marx, sendo assim que me preservo de eu, euzinho, insignificante, estar tentando refutar o gênio. Estou como Trotsky, usando Marx de boneco de ventríloquo.
Enfim, Frederico Krepe não é marxista, é apenas um liberal progressista no tempo dos monopólios e do capitalismo apodrecido. É a famosa Épica dos Impotentes.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
Uma Carta para Elizabeth: Breve Romance de Sonho
Minha tia e madrinha Elizabeth Madeira Morais, para nós, da família, simplesmente Beth, fazia aniversário no natal. As belas luzes de natal em Bom Despacho esse ano me lembram dela e das luzes do filme De Olhos Bem Fechados, aliás baseado num romance chamado Breve Romance de Sonho, título que define bem a curta vida de minha tia Elizabeth. Beth era admiradora do cinema, com ela vi várias vezes o filme Sonhos, de Akira Kurosawa. Um tempo depois de seu falecimento, tive um sonho semelhante ao sonho do túnel apresentado no filme, onde eu e Beth nos encontrávamos e eu, de repente, tive de lhe explicar que não podíamos estar conversando, pois ela tinha morrido, o que a deixou assustada e constrangida.
Elizabeth foi professora de francês aqui na cidade e trabalhou, inclusive, na escola Wilson Lopes onde eu estou hoje, jornada que era uma longa caminhada para um bairro ermo. Muito tempo depois, meu tio Bil Morais investigou a origem de nossa família e encontrou, ligada a história do Major da Piraquara, uma suposta filha de Padre Belchior, nascida na França, Júlia, a francesa. Ela teria nascido de uma relação furtiva do padre e foi mencionada como uma figura importante da cidade de Bom Despacho em seus primórdios. Beth também era uma admiradora da cultura francesa. Ela deixou o magistério em francês para tornar-se bancária concursada na Minas Caixa, seguindo a carreira do pai, Mário Morais. Sendo assim, comprou apartamento em Belo Horizonte, mudou-se definitivamente para lá, num lugar bastante próximo da Praça da Liberdade. A decisão mostrou-se trágica devido aos desdobramentos: com o fim da Minas Caixa em 1990, saqueada por governantes inescrupulosos, o banco findou como quase todos os bancos estaduais (sobraram somente o Banestado e o Banrisul). E Beth foi transferida para uma repartição pública onde não se adaptou, fato que a angustiou e pode ter sido um gatilho para sua doença. Beth chegou a viajar para a França, deixando a respeito um diário, tema de uma crônica minha aqui. No diário da viagem da Europa, ela comenta que trouxe roupas da França para mim (eu tinha então dois anos). No texto ela devaneia se ainda voltaria mais vezes à França, mas nunca voltou, sua vida mostrou-se curta.
Beth faleceu já há trinta anos, aos quarenta e três anos; eu já vivi mais que ela. Sua vida foi cheia de tragédias, coincidências e de mistério. Na juventude, apaixonou-se por um amigo e o amigo morreu, logo em seguida, da mesma doença (câncer no cérebro) que anos depois a levaria. Beth acompanhou corajosamente todo o trágico processo. Foi um de seus únicos grandes amores; ela morreu solteira. Um de seus pedidos era que queimássemos seu diário íntimo (o da Europa felizmente ela permitiu que existisse) e assim foi feito, junto da amiga Madalena, naquela casa ali na Vigário Nicolau que, demolida, infelizmente deu lugar a um lote vago. Foi muito doloroso para nós da família, infelizmente: foi como ela se morresse ali de novo, naquele momento. Um dos discos que ela tinha acabado de comprar, em 1991, ano em que descobriu ter um câncer no cérebro, foi o álbum Burguesia, de Cazuza, que também é canto de cisne desse poeta e músico, também morto de uma doença incurável. Algumas canções, Cazuza gravou até na cama do hospital, para que vocês possam ter ideia. Ele cantou na canção Azul e Amarelo:
Senhores deuses me protejam, de tanta mágoa
Tô pronto para ir ao teu encontro
Mas não quero, não vou, eu não quero
Não quero, não vou, não quero
Existem também drogas pra dormir
E ver os perigos no meio do mar
O sono pesado, tudo meio drogado
Existem pessoas turvas, pessoas que gostam
E eu tô de azul e amarelo
azul e amarelo
Reencontrei, em um livro de poesia que ainda não editei (Violetas de Aleluia), um poema para Beth datado daquela época, com o mesmo nome que dei para essa coluna:
Uma Carta para Elizabeth
Então você caiu de cama,
Naquele dia em que o rei imaginário
Exibia seu pálido sorriso.
Vieram avalanches luminosas
Dominar a cidade...
Meu aniversário foi estranho,
Música e musgo na noite.
Mais cadáver do que nunca,
Não vejo novidade em viver nem em morrer,
O natal foi frio.
Você já esteve apaixonada em outros tempos,
Agora quando sente a leveza insustentável da pluma
Sabe que somos personagens da peça.
Tigres de papel sorrindo o tempo todo,
Todos estamos só ensaiando para quando cair o pano.
Mas por que só você não sai do palco e ri?
As lágrimas emudecem o sofá?
Sombras furtivas no eclipse
Procuram seu nome...
Minha tia Maria Lúcia Duarte Mateus definiu muito bem a Beth: “a Beth, ainda que tendo uma breve passagem por aqui, deixou marcante presença em muitas pessoas que passaram algum tempo com ela... Passava o ano inteiro escolhendo pequenos mimos pra distribuir na festa de Natal entre grandes e pequenos, idosos e crianças etc... Pessoa humilde e gigante em tudo que fazia.
Henrique Lelles: Luzes Para Um Campeão Aluno de escola pública em Bom Despacho é destaque na OBMEP
Henrique Lelles: Luzes Para Um Campeão
Aluno de escola pública em Bom Despacho é destaque na OBMEP
Henrique Lelles é meu aluno na escola Wilson Lopes do Couto. Há muito queria entrevistá-lo para o jornal, para tratarmos de suas vitórias. Enfim, sentamos, ele, eu, a mãe e a professora Miriam; a seguir está a nossa entrevista.
Sua história mostra como há males para que vem para bem. No caso, o mal foi a pandemia. Em 2021, Henrique, estudando no isolamento, estava no sétimo ano do Ensino Fundamental, tendo aulas com a dedicada professora Miriam. Ela continuou atendendo e tirando dúvidas pela internet. De início, não estávamos tendo aulas online. Empolgado com o apoio e sentindo facilidade, Henrique inscreveu-se na Olimpíada Brasileira das Escolas Públicas (OBMEP). E viu o trabalho conjunto dar frutos: foi aprovado e passou para a segunda fase. Rosimar Lelles Santos, a mãe, notando a importância da olimpíada, empenhou-se em que Henrique continuasse. E Henrique obteve, então, uma medalha de ouro na OBMEP e o direito de fazer o Projeto de Iniciação Científica Júnior (PIC). Foi bolsista durante um ano. Na foto, Henrique Lelles aparece junto a Sene Gebara Neto (coordenador regional da OBMEP). Em 2023, ano passado, Henrique já estava há dois anos fazendo o PIC e obteve novamente uma medalha de bronze na OBMEP nacional. Eles fizeram uma reclassificação e nosso aluno exemplar ganhou medalha de prata regional. Henrique ganhou então, uma viagem para Florianópolis, uma vez que ocorreu uma cerimônia de premiação nacional nessa cidade e depois, também, em uma regional em Divinópolis.
Em 2024 foram três novas medalhas, todas no mês de outubro (ouro e bronze nacional e prata regional). Ele também ganhou um troféu no curso de Oratória (Acibom). Ele e outro aluno, o Pedro Henrique Costa, ganharam o prêmio de melhor site no projeto Desenvolve (site para a padaria São Vicente). Parabéns, portanto, a todos os envolvidos: a dedicada professora Miriam, a mãe Rosimar, ao amigo Pedro e ao Henrique!
Eu Ainda Estou aqui --Ou não!
A esquerda revolucionária é a grande ausente ali --e ainda faz falta aqui. Os tempos heroicos da contracultura --outra ausência. Não é preciso mais ir para Londres para não virar revolucionária --como foi a intenção de Rubens Paiva fez com a filha Veroca. Rubens não era a favor da esquerda revolucionária.
Essa também é uma situação ausente hoje em dia: um trabalhista que radicaliza ao ponto de em alguma medida apoiar a esquerda revolucionária. O PTB, em parte, evoluiu para o fascismo --como Roberto Jefferson nos prova.
A sólida classe média do pai engenheiro --outra ausência. Ou se fazia a revolução ou se obtinha um emprego --se você fosse classe média --Outra ausência.
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